MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA-TERCEIRA MEMÓRIA
3. Forte impressão para a Jacinta
Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Bispo: disse já a V.
Ex.cia Rev.ma, em os apontamentos que enviei depois de ler o livro
«Jacinta», que ela se impressionava muito com algumas coisas
reveladas no segredo. Realmente, assim era. A vista do inferno
tinha-a horrorizado a tal ponto, que todas as penitências e mortificações lhe pareciam nada, para conseguir livrar de lá algumas almas.
Bem; agora respondo já ao segundo ponto de interrogação
que, de várias partes, aqui me tem chegado.
Como é que a Jacinta, tão pequenina, se deixou possuir e
compreendeu um tal espírito de mortificação e penitência?
Parece-me que foi: primeiro, por uma graça especial que Deus,
por meio do Imaculado Coração de Maria, lhe quis conceder; segundo, olhando para o inferno e desgraça das almas que aí caem.
Algumas pessoas, mesmo piedosas, não querem falar às
crianças do inferno, para não as assustar; mas Deus não hesitou
em mostrá-lo a três e uma de 6 anos apenas e que Ele sabia se
havia de horrorizar a ponto de, quase me atrevia a dizer, de susto
se definhar.
Com frequência se sentava no chão ou em alguma pedra e,
pensativa, começava a dizer:
– O inferno! o inferno! que pena eu tenho das almas que vão
para o inferno! E as pessoas lá vivas a arder como a lenha no fogo!
E meio trémula ajoelhava, de mãos postas, a rezar a oração
que Nossa Senhora nos tinha ensinado:
– Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai
as alminhas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem.
Agora, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, já V. Ex.cia Rev.ma compreenderá por que a mim me ficou a impressão de que as últimas palavras desta oração se referiam às almas que se encontram em maior perigo ou mais iminente de condenação.
E permanecia assim, por grandes espaços de tempo, de joelhos,
repetindo a mesma oração. De vez em quando, chamava por
mim ou pelo irmão (como que acordando dum sono):
– Francisco, Francisco, vocês estão a rezar comigo? É preciso
rezar muito, para livrar as almas do inferno. Vão para lá tantas!
tantas!
Outras vezes, perguntava:
– Por que é que Nossa Senhora não mostra o inferno aos
pecadores? Se eles o vissem, já não pecavam, para não irem para
lá! Hás-de dizer àquela Senhora que mostre o inferno a toda aquela gente (referia-se aos que se encontravam na Cova da Iria, no momento da aparição). Verás como se convertem.
Depois, meio descontente, perguntava-me:
– Por que não disseste a Nossa Senhora que mostrasse o
inferno àquela gente?
– Esqueci-me – respondia.
– Também me não lembrei! – dizia com ar triste.
Às vezes, perguntava ainda:
– Que pecados são os que essa gente faz, para ir para o
inferno?
– Não sei. Talvez o pecado de não ir à Missa ao Domingo, de
roubar, de dizer palavras feias, rogar pragas, jurar.
– E só assim por uma palavra vão para o inferno?!
– Pois! É pecado!
– Que lhes custava estar calados e ir à Missa!? Que pena eu
tenho dos pecadores! Se eu pudesse mostrar-lhes o inferno!
Repentinamente, às vezes, agarrava-se a mim e dizia:
– Eu vou para o Céu; mas tu que ficas cá, se Nossa Senhora
te deixar, diz a toda a gente como é o inferno, para que não façam
mais pecados e não vão para lá.
Outras vezes, depois de estar um pouco de tempo a pensar,
dizia:
– Tanta gente a cair no inferno, tanta gente no inferno!
Para a tranquilizar dizia-lhe:
– Não tenhas medo; tu vais para o Céu.
– Pois vou – dizia com paz –, mas eu queria que toda aquela
gente para lá fosse também.
Quando ela, por mortificação, não queria comer, dizia-lhe:
– Jacinta! Anda, agora come.
– Não. Ofereço este sacrifício pelos pecadores que comem
demais.
Quando, já na doença, ia algum dia à Missa, dizia-lhe:
– Jacinta, não venhas; tu não podes. Hoje não é Domingo!
– Não importa. Vou por os pecadores que nem ao Domingo
vão.
Se calhava de ouvir algumas dessas palavras que alguma
gente parece fazer alarde de pronunciar, encobria a cara com as
mãos e dizia:
– Ó meu Deus! Esta gente não saberá que por dizer estas
coisas pode ir para o inferno? Perdoa-lhes, meu Jesus, e converte-
os. Decerto não sabem que, com isto, ofendem a Deus. Que
pena, meu Jesus! Eu rezo por eles.
E lá repetia a oração ensinada por Nossa Senhora:
– Ó meu Jesus, perdoai-nos, etc.
Este blogue é tradicional e também fiel á verdadeira Religião Una, Católica, Apostólica, Romana e tem por objectivo a divulgação da Missa Tridentina em Portugal e no Brasil,e preservar a sua Doutrina original. Dedico este blog á Virgem Santíssima, ao Sagrado Coração de Jesus,a São José e as Almas do Purgatório,como reconhecimento e gratidão por me terem tirado do Paganismo. Evangelização Tradicional e Apostolado de Oração no Porto.