Jesus Crucified

Jesus Crucified
Jesus Christ have mercy on us

Holy Tridentine Mass - Santa Missa Tridentina.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA-SEGUNDA MEMÓRIA-Aparições de Nossa Senhora

MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA-SEGUNDA MEMÓRIA
4. Aparições de Nossa Senhora
Não me detenho a descrever a aparição do dia 13 de Maio. É
de V. Ex.cia bem conhecida e, por isso, seria perdido o tempo que
nisto gastaria. É também bem conhecido de V. Ex.cia Rev.ma o modo como minha mãe se informou do acontecimento e os esforços que fez para me obrigar a dizer que tinha mentido. As palavras que a Santíssima Virgem nos disse em este dia e que combinámos nunca revelar, foram: Depois de nos haver dito que íamos para o Céu, perguntou:
– Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos
que Ele quiser enviar-vos, em acto de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dospecadores?

– Sim, queremos – foi a nossa resposta.
– Ides, pois, ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o
vosso conforto.

No dia 13 de Junho celebrava-se, na nossa freguesia, a festa em honra de St.o António. Era costume, nesse dia, abrir os rebanhos
de madrugada cedo, e às 9 horas cerravam-se nos currais para se ir à festa. Minha mãe e minhas irmãs, que sabiam quanto eu era amiga de festas, diziam-me, então:
– Sempre estou para ver se tu deixas a festa para ires para a
Cova de Iria falar lá com essa Senhora!

Em esse dia ninguém me dirigiu palavra, portando-se, a meu
respeito, como quem diz: Deixá-la! vamos a ver o que faz! Abri,
pois, o meu rebanho de madrugada, cedo, no intento de o cerrar
no curral às 9, ir à Missa das 10 e, em seguida, ir para a Cova de
Iria. Mas eis que pouco depois do romper do sol me vai chamar
meu irmão: que viesse para casa, pois estavam várias pessoas
que me queriam falar. Ficou, pois, ele com o rebanho e eu vim ver
o que me queriam. Eram algumas mulheres e homens que vinham
dos sítios de Minde, dos lados de Tomar, Carrascos, Boleiros, etc., e que desejavam acompanhar-me à Cova de Iria. Disse-lhes que ainda era cedo e convidei-os a ir comigo à Missa das 8. Depois, voltei para casa. Esta boa gente esperou por mim, no nosso pátio, à sombra das nossas figueiras.
Minha mãe e minhas irmãs mantiveram a sua atitude de desprezo
que, na verdade, me era mais sensível e me custava tanto
como os insultos. Aí pelas 11 horas, saí de casa, passei por casa
de meus tios, onde a Jacinta e o Francisco me esperavam, e lá
vamos para a Cova de Iria, à espera do momento desejado. Toda
aquela gente nos seguia, fazendo-nos mil perguntas. Em este dia,
eu sentia-me amarguradíssima. Via minha mãe aflita, que queria a
todo o custo obrigar-me, como ela dizia, a confessar a minha mentira.
Eu queria satisfazê-la e não encontrava maneira sem agora mentir. Ela tinha, desde o berço, infundido em seus filhos um grande
horror à mentira e castigava severamente aquele que dissesse
alguma.
– Sempre – dizia ela – consegui que meus filhos dissessem a
verdade; e agora hei-de deixar passar uma coisa destas na mais
nova?! Se ainda fosse uma coisa mais pequena...; mas uma mentira
destas que traz aí enganada já tanta gente!..
.
Depois destas lamentações, voltava-se para mim e dizia:
– Dá-lhe as voltas que quiseres! Ou tu desenganas essa gente,
confessando que mentiste, ou eu te fecho em um quarto onde
não possas ver nem a luz do Sol. A tantos desgostos, faltava-me
que se viesse juntar uma coisa destas!

Minhas irmãs tomavam o partido de minha mãe e em volta de
mim respirava uma atmosfera de verdadeiro desdém e desprezo.
Lembrava-me, então, dos tempos atrasados e perguntava-me a
mim mesma: Onde está o carinho que, há tão pouco ainda, a minha
família me tinha? E o meu único desafogo eram as lágrimas
derramadas diante de Deus, enquanto Lhe oferecia o meu sacrifício.
Em este dia, pois a SS. Virgem, como que adivinhando o que
se passava, além do que já narrei, disse-me:
– E tu? Sofres muito? Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O
Meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te
conduzirá a Deus.

A Jacinta, quando me via chorar, consolava-me, dizendo:
– Não chores. Decerto são estes os sacrifícios que o Anjo disse
que Deus nos ia enviar. Por isso, é para O reparar a Ele e converter
os pecadores que tu sofres.
5. Dúvidas da Lúcia
Por este tempo, o Pároco da minha Freguesia soube do que
se passava e mandou dizer a minha (mãe) que me levasse a sua
casa. Esta sentia-se respirar, julgando que o Senhor Prior iria tomar
a responsabilidade dos acontecimentos. Por isso, dizia-me:
– Amanhã vamos à Missa logo de manhãzinha. Depois, vais a
casa do Senhor Prior. Ele que te obrigue a confessar a verdade,
seja como for; que te castigue; que faça de ti o que quiser; como
que te obrigue a confessar que tens mentido, eu fico contente.

Minhas irmãs tomaram também o partido de minha mãe e inventaram um sem número de ameaças, para assustar-me com a
entrevista do Pároco. Informei a Jacinta e seu irmão do que se
passava, os quais me responderam:
– Nós também vamos. O Senhor Prior mandou também dizer
a minha mãe para nos levar lá, mas minha mãe não nos disse
nada destas coisas. Paciência! Se nos baterem, sofremos por amor
de Nosso Senhor e pelos pecadores.

No dia seguinte, lá fui atrás de minha mãe que, pelo caminho,
não me disse nem uma palavra. Durante a Missa ofereci a Deus o
meu sofrimento; e depois atravesso o adro atrás de minha mãe e
subo as escadas da varanda da casa do Pároco. Ao subir os primeiros degraus, minha mãe volta-se para mim e diz-me:
– Não me rales mais! Agora diz ao Senhor Prior que mentiste,
para que ele possa, no domingo, dizer na Igreja que foi mentira e
assim acabar tudo. Isto tem lá jeito! Toda a gente a correr para a
Cova de Iria, a rezar diante duma carrasqueira!

Sem mais, bate à porta. Vem a irmã do bom Pároco que nos
manda sentar em um banco e esperar um pouco. Por fim, veio o
Senhor Prior. Manda-nos entrar no seu gabinete, faz sinal a minha
mãe que se sente em um banco e chama-me para junto da sua
escrivaninha. Quando vi Sua Rev.cia interrogando com toda a paz e
até com amabilidade, fiquei admirada. No entanto, conservava a
expectativa do que viria. O interrogatório foi muito minucioso e,
quase me atrevia a dizer, maçador. Sua Rev.cia fez-me uma pequena advertência, porque, dizia:
Não me parece uma revelação do Céu. Quando se dão
estas coisas, por ordinário, Nosso Senhor manda essas almas a
quem Se comunica, dar conta do que se passa a seus confessores
ou párocos e esta, ao contrário, retrai-se quanto pode. Isto também
pode ser um engano do Demónio. Vamos a ver. O futuro nos dirá
o que havemos de pensar.

 6. Jacinta e Francisco encorajam-na
Quanto esta reflexão me fez sofrer, só Nosso Senhor pode
saber, porque só Ele pode penetrar o nosso íntimo. Comecei, então,
a duvidar se as manifestações seriam do Demónio que procurava,
por esse meio, perder-me. E, como tinha ouvido dizer que o
Demónio trazia sempre a guerra e a desordem, comecei a pensar
que, na verdade, desde que via estas coisas, não tinha tido mais
alegria nem bem-estar em nossa casa. Que angústia que eu sentia!
Manifestei a meus primos a minha dúvida. A Jacinta respondeu:
– Não é o Demónio, não! O Demónio dizem que é muito feio e
que está debaixo da terra, no inferno; e aquela Senhora é tão bonita! E nós vimo-La subir ao Céu.

Nosso Senhor serviu-se disto para desvanecer algo a minha dúvida. Mas, no decurso deste mês, perdi o entusiasmo pela prática
do sacrifício e da mortificação e titubeava se acabaria por dizer
que tinha mentido e assim acabar com tudo. A Jacinta e o Francisco
diziam-me:
– Não faças isso! Não vês que agora é que tu vais mentir e
que mentir é pecado?

Em este estado tive um sonho que veio aumentar as trevas do
meu espírito: Vi o Demónio que, rindo-se de me ter enganado, fazia
esforços por me arrastar para o inferno. Ao ver-me nas suas garras, comecei a gritar em tal forma, chamando por Nossa Senhora,
que acordei minha mãe, a qual me chamou, aflita, perguntando-
me o que eu tinha. Não me lembro do que Ihe respondi. O
que me lembro é que em aquela noite não pude mais dormir, pois
fiquei tolhida de medo. Este sonho deixou no meu espírito uma
nuvem de verdadeiro medo e aflição. O meu único alívio era ver-
-me só, em algum canto solitário, para aí chorar à minha vontade.
Comecei por sentir aborrecimento até à companhia de meus primos e por isso comecei a esconder-me também deles. Pobres crianças! Às vezes andavam à minha procura, chamando pelo meu nome, e eu junto deles sem Ihes responder, oculta, às vezes, em
algum canto para onde eles não atinavam a olhar.
Aproximava-se o dia 13 de Julho e eu duvidava se lá iria. Pensava:
se é o Demónio, para que hei-de ir vê-lo? Se me perguntam por
que não vou, digo que tenho medo que seja o Demónio quem nos
aparece e que por isso não vou. A Jacinta e o Francisco que façam
como quiserem; eu não volto mais à Cova de Iria. A resolução estava tomada e eu bem resolvida a pô-la em prática.
No dia 12, pela tarde, começou a juntar-se o povo que vinha
para assistir aos acontecimentos do dia seguinte. Chamei então a
Jacinta e o Francisco e informei-os da minha resolução. Eles responderam-me:
– Nós vamos. Aquela Senhora mandou-nos lá ir.
A Jacinta prontificou-se a falar ela com a Senhora, mas custava-lhe que eu não fosse e começou a chorar. Perguntei-lhe por que chorava.
Por tu não quereres ir.
– Não; eu não vou. Olha: se a Senhora te perguntar por mim,
diz-lhe que não vou, porque tenho medo que seja o demónio.

 
E deixei-os ficar, para me ir esconder e não ter assim, que
falar às pessoas que me procuravam para me interrogar. Minha
mãe, que me julgava a brincar com as crianças do lugar, durante
todo este tempo que passava escondida atrás dum silvado que havia na propriedade dum vizinho que pegava com o nosso Arneiro,
um pouco a leste do poço já várias vezes mencionado, quando eu
à noite chegava a casa, (minha mãe) repreendia-me, dizendo:
– Isto é que é um santinha de pau carunchento! Todo o tempo
que Ihe sobra de andar com as ovelhas passa-o na brincadeira; e
de tal forma que ninguém a encontra!
No dia seguinte, ao aproximar-se a hora em que devia partir,
senti-me de repente impelida a ir, por uma força estranha, a que
não me era fácil resistir. Pus-me, então, a caminho e passei por
casa de meus tios a ver se ainda lá estava a Jacinta. Encontrei-a
no quarto, com seu irmãozinho Francisco, de joelhos ao pé da cama, chorando.
– Então vocês não vão? – Ihes perguntei.
– Sem ti não nos atrevemos a ir. Anda, vem.
– Já cá vou – Ihes respondi.
Então, com um semblante já alegre, partiram comigo. O povo
esperava-nos em massa pelos caminhos e a custo conseguimos lá
chegar. Foi este o dia em que a SS. Virgem se dignou revelar-nos o
segredo. Depois, para reanimar o meu fervor decaído, disse-me:
– Sacrificai-vos pelos pecadores e dizei a Jesus, muitas vezes,
em especial sempre que fizerdes algum sacrifício: Ó Jesus, é
por Vosso amor, pela conversão dos pecadores e em reparação
pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria.