Jesus Crucified

Jesus Crucified
Jesus Christ have mercy on us

Holy Tridentine Mass - Santa Missa Tridentina.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA-SEGUNDA MEMÓRIA-Proibição da peregrinação

MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA-SEGUNDA MEMÓRIA
4. Proibição da peregrinação
Entretanto, o Governo não se conformava com os progressos
dos acontecimentos. Tinham posto, no local das aparições,
uns paus, à maneira de arco, com umas lanternas que algumas
pessoas tinham o cuidado de conservar acesas. Mandaram, pois,
uma noite, alguns homens com um automóvel, para derribar os
ditos paus, cortar a carrasqueira onde se tinha dado a aparição e
levá-la de rasto atrás do automóvel. Pela manhã, espalhou-se,
rápida, a notícia do acontecido. Lá fui correndo, para ver se era
verdade. Mas qual não foi a minha alegria, quando notei que os
pobres homens se tinham enganado e que, em vez da carrasqueira,
tinham levado uma das azinheiras contíguas! Pedi, então, a Nossa
Senhora perdão para esses pobres homens e rezei pela sua
conversão.
Passado algum tempo, em um dia 13 de Maio, não me lembro
se de 1918 se 19 (31), ao amanhecer, correu a notícia que, em
Fátima, estava uma força de cavalaria, para impedir ao povo a ida à Cova de Iria. Toda a gente meia assustada me ia levar a notícia,
dizendo que, decerto, era aquele dia o último da minha vida. Sem
fazer caso do que me diziam, pus-me a caminho para a Igreja. Ao
chegar a Fátima, passei por entre os cavalos que cobriam o adro,
entrei na Igreja, ouvi Missa que celebrou um Sacerdote desconhecido, fiz a Sagrada Comunhão e, depois de dar graças, em
paz voltei para casa, sem que ninguém me dissesse uma palavra.
Não sei se me viram, se me não ligaram importância.
À tarde, apesar das notícias que constantemente chegavam
de que a tropa fazia esforços por afastar o povo, sem o conseguir,
lá fui também para rezar lá o meu Terço. No caminho, juntou-se a
mim um grupo de mulheres que tinham vindo de fora.
Quando me aproximava já do local, vêm ao encontro do grupo
dois militares, fustigando apressadamente os seus cavalos, para
nos alcançarem. Ao chegar junto de nós, perguntam para onde
vamos. Ao ouvirem a resposta ousada das mulheres – que não
Ihes importava – fustigaram os cavalos, fazendo menção de querer
atropelar-nos. As mulheres deitaram a fugir, cada uma para seu
lado e, em um momento, encontrava-me só, em presença dos dois
cavaleiros. Perguntaram-me, então, o meu nome, o que eu disse
sem hesitar. Perguntaram-me se era, então, a tal vidente. Respondi
que sim. Deram-me, então, ordem de passar para o meio da
estrada e de caminhar no meio dos dois cavalos, indicando o caminho para Fátima.
Ao aproximar-se da lagoa de que já tenho falado aí atrás, uma
pobre mulher que aí vivia, de quem há pouco também falei, ao
avistar-me a alguma distância, assim entre os cavalos, sai para o
meio da estrada e, como se fora outra Verónica, procura incutir-me
coragem. Os soldados obrigam-na a retirar-se sem perca de tempo
e a pobre mulher fica em um pranto desfeito, lamentando a
minha desgraça. Alguns passos adiante, mandam-me parar e perguntam- me se aquela mulher é minha mãe. Respondi que não.
Eles não acreditaram e perguntaram se aquela casa não era a
minha. De novo Ihes disse que não. Eles, então, parecendo não
acreditarem, mandaram-me seguir um pouco adiante, até à casa
de meus pais.
Ao chegar a um terreno que fica um pouco antes de se entrar
em Aljustrel, perto duma pequena fonte, ao verem aí abertas umas covas para tanchões, mandaram-me parar e, talvez para me assustar, disseram um para o outro:
– Aqui estão covas abertas. Com uma das nossas espadas
cortamos-lhe a cabeça e aqui a deixamos, já enterrada. Assim acabamos com isto duma vez para sempre.

Ao ouvir este discurso, julguei-me realmente chegada ao meu
último momento; mas fiquei tanto em paz como se nada fosse comigo.
Passado um momento, em que pareceu ficarem pensativos,
o outro respondeu:
– Não, não temos autorização para isso.
E mandaram-me continuar o meu caminho. Atravessei, assim,
a nossa pequena aldeia, até chegar à casa de meus pais. Toda a
gente vinha às janelas e portas ver o que se passava. Uns riam de
troça, outros lamentavam, com pena, a minha sorte. Ao chegar a
minha casa, mandaram-me chamar meus pais. Não estavam. Um
apeou-se, então, para ver se estavam escondidos. Deu uma busca
à casa e, depois, não os encontrando, deu-me ordem de não
sair dali mais, aquele dia; e, montando no seu cavalo, foram-se
embora.
Ao cair da tarde, correu a notícia de que a tropa se tinha retirado,
vencida pelo povo; e ao pôr do sol, eu rezava o meu Terço na
Cova de Iria, acompanhada por centenas de pessoas. Segundo
contaram depois, quando eu ia assim presa, foram algumas pessoas
avisar minha mãe do que se passava. Ela respondeu:
– Se é certo que ela viu Nossa Senhora, Nossa Senhora a
defenderá; e se ela mente, é bem que seja castigada.

E permaneceu, como antes, em paz. Agora, perguntar-me-á
alguém:
– E enquanto se passou tudo isso, que foi feito dos seus companheiros?
– Não sei. Não (me) lembro nada deles neste momento. Talvez
que os pais, em vista das notícias que corriam, os não deixassem
sair de casa neste dia.