Jesus Crucified

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Jesus Christ have mercy on us

Holy Tridentine Mass - Santa Missa Tridentina.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA -QUARTA MEMÓRIA- Francisco, o pequeno moralista

MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA -QUARTA MEMÓRIA

11. Francisco, o pequeno moralista
Ao som do animado descante, foram-se juntando as vizinhas;
e, ao terminar, pediram uma nova repetição. Mas o Francisco
aproximou-se de mim e disse-me:
– Não cantemos mais isso. Nosso Senhor decerto agora não
gosta que cantemos essas coisas.

E lá nos escapámos como pudemos, por entre a outra criançada,
para o nosso poço predilecto.
Na verdade, eu, agora, que por obediência acabo de o escrever,
cubro a cara com vergonha. Mas V. Ex.cia Rev.ma, a pedido
do Senhor Dr. Galamba, achou por bem mandar-me escrever os cantares profanos que sabíamos. Aí vão! Não sei para quê. Mas
basta-me saber que é para cumprir a vontade de Deus.
Entretanto, aproximou-se o Carnaval de 1918. As raparigas e
rapazes juntaram-se, ainda esse ano, para a costumada cozinhada
e brincadeira desses dias. Cada um levava de sua casa uma coisa:
uns, azeite; outros, farinha; outros, carne; etc. e junto tudo em
uma casa, para isso destinada, as raparigas aí cozinhavam um
faustoso banquete. E nesses dias era comer e bailar até que horas
da noite, em especial no último dia.
As crianças de 14 anos para baixo tinham a sua festa noutra
casa, à parte. Vieram, pois, várias a convidar-me para com elas
organizar a festa. Recusei, a princípio; mas, levada por uma covarde condescendência, cedi às instâncias de várias, em especial duma filha e dois filhos dum homem da Casa Velha, José Carreira, que punha a sua casa à nossa disposição. Ele mesmo, com sua mulher, insistiam para que fosse. Cedi, pois, e lá fui com um bom rancho a ver o local: uma boa sala ou quase salão para a brincadeira e um bom pátio para o jantar. Combinou-se tudo e de lá vim, exteriormente em grande festa, mas, no íntimo, com a consciência a dar-me gritos de reprovação. Ao chegar junto da Jacinta e do Francisco, disse-lhes o que se tinha passado.
– E tu voltas a essas cozinhadas e brincadeiras? – me
perguntou, com seriedade, o Francisco. – Já te esqueceste que
prometemos nunca mais lá voltar?!

– Eu não queria ir; mas como bem vês que me não deixam, a
pedir-me que vá; e não sei como fazer.

Na verdade, as instâncias eram muitas, e as amigas que, para
brincar comigo, se juntavam, não eram menos. Vinham até de várias aldeias bem distantes: da Moita, uma Rosa e Ana Caetano e
Ana Brogueira; da Fátima, duas filhas de Manuel Caracol; de
Boleiros, duas filhas de Manuel da Ramira e duas de Joaquim
Chapeleta; da Amoreira, duas de Silva; dos Currais, uma Laura
Gato; Josefa Valinho e várias outras, cujos nomes não recordo, de
Boleiros, da Lomba, da Pederneira, etc.; e isto fora as que se juntavam da Eira da Pedra, Casa Velha e Aljustrel. Como, assim
repente, desenganar tudo isto, que parecia não saber divertir-se
sem mim, e fazer-lhes compreender que era preciso acabar para
sempre com tais reuniões?! Deus inspirou-o ao Francisco:
– Sabes como vais a fazer? Toda a gente sabe que Nossa Senhora
te apareceu; por isso, dizes que Lhe prometeste não tornar
mais a bailar e que, por isso, não vais.
Depois, nesses dias,
escapamo-nos para a Lapa do Cabeço; lá ninguém nos encontra.
Aceitei a proposta; e dada a minha decisão, ninguém pensou
mais em organizar tal assembleia. Era Deus a abençoar. E essas
amigas, que antes me procuravam para se divertir, agora
seguiam-me e vinham procurar-me a casa, aos Domingos pela tarde, para ir com elas rezar o terço à Cova da Iria.