Jesus Crucified

Jesus Crucified
Jesus Christ have mercy on us

Holy Tridentine Mass - Santa Missa Tridentina.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA-SEGUNDA MEMÓRIA-Comunhão no sofrimento

MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA-SEGUNDA MEMÓRIA
3. Comunhão no sofrimento
A Jacinta e o Francisco poucas vezes tomavam parte em estes
mimos que o Céu nos enviava, porque seus pais não consentiam
que ninguém Ihes tocasse. Mas sofriam por me ver sofrer e não
poucas vezes as lágrimas Ihes banharam as faces, por me verem
aflita ou mortificada.
Um dia, a Jacinta dizia-me:
– Quem me dera que meus pais fossem como os teus, para
que esta gente também me pudesse bater, porque, assim, tinha
mais sacrifícios para oferecer a Nosso Senhor.

No entanto, ela sabia bem aproveitar as ocasiões de se mortificar. Tínhamos também, por costume, de vez em quando, oferecer a Deus o sacrifício de passar uma novena ou um mês sem beber. Fizemos uma vez este sacrifício em pleno mês de Agosto, em que o calor era sufocante. Voltávamos, um dia, de haver ido rezar o nosso Terço à Cova de Iria e, ao chegar junto duma lagoa, que fica à beira do caminho, diz-me a Jacinta:
– Olha: tenho tanta sede e dói-me tanto a cabeça! Vou beber
uma pouquita desta água.

– Desta, não – Ihe respondi. – Minha mãe não (quer) que bebamos
daqui, porque faz mal. Vamos ali pedir uma pouquita à ti
Maria dos Anjos.
(Era uma nossa vizinha que há pouco se tinha
casado e vivia aí em uma casita).
– Não! Dessa água boa não quero. Bebia desta, porque, em
vez de oferecer a Nosso Senhor a sede, oferecia-Lhe o sacrifício
de beber desta água suja.

Na verdade, a água desta lagoa era sujíssima. Várias pessoas
aí lavavam a roupa e os animais iam aí beber e banhar-se;
por isso, minha mãe tinha o cuidado de recomendar a seus filhos
que não bebessem dessa água.
Outras vezes, dizia:
– Nosso Senhor deve estar contente com os nossos sacrifícios,
porque eu tenho tanta, tanta sede! Mas não quero beber;
quero sofrer por Seu amor.

Um dia, estávamos sentados no portal da casa de meus tios,
quando notamos que se aproximam várias pessoas. O Francisco,
comigo, sem tempo para mais, corremos cada um para seu quarto
a esconder-nos debaixo das camas. A Jacinta diz:
– Eu não me escondo. Vou oferecer a Nosso Senhor este sacrifício.
Essas pessoas aproximaram-se, falaram com ela, esperaram
largo tempo, enquanto que nos procuravam e, por fim, foram embora.
Saí, então, do meu esconderijo e perguntei-lhe:
Que respondeste, quando te perguntaram se sabias de nós?
–Não respondi nada. Baixei a cabeça, pus os olhos no chão e
não disse nada. Faço sempre assim, quando não quero dizer a
verdade; e mentir também não quero, porque é pecado mentir.

 
Na verdade, ela tinha muito o costume de proceder assim e era
escusado cansarem-se a fazer-lhe perguntas, que não Ihe obtinham
a mínima resposta. Sacrifícios desta espécie, por ordinário, se nos
podíamos escapar, não nos dispúnhamos a oferecê-los.
Um outro dia, estávamos sentados a alguns passos da casa
deles, à sombra de duas figueiras que caem sobre o caminho. O
Francisco afastou-se um pouco, brincando. Notando que se aproximavam várias senhoras, corre a dar-nos a notícia. Como em esse tempo se usavam uns chapéus com umas abas quase do tamanho duma peneira, pensámos que, com semelhante cartapácio, elas não nos veriam; e, sem mais, subimos para cima das figueiras.
Logo que as senhoras passaram, descemos apressadamente e,
em precipitada fuga, fomo-nos esconder entre um campo de milho.
Esta nossa maneira de escapar, sempre que podíamos, constituía
também uma queixa do Senhor Prior; e, em especial, Sua
Rev.cia queixava-se de que nos escapávamos em especial dos Sacerdotes.
Era certo, e Sua Rev.cia tinha razão. Mas era porque também,
em especial os Sacerdotes, nos interrogavam reinterrogavam
e tornavam a interrogar. Quando nos víamos em presença dum
Sacerdotes, já nos dispúnhamos para oferecer a Deus um dos
nossos maiores sacrifícios.