Jesus Crucified

Jesus Crucified
Jesus Christ have mercy on us

Holy Tridentine Mass - Santa Missa Tridentina.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA-Outros casos

MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA
15. Outros casos
Como já disse, minha tia vendeu o seu rebanho primeiro que
minha mãe. Desde aí, pela manhã, antes de sair, avisava a Jacinta
e o Francisco do lugar da pastagem para onde ia, e eles, logo que
se podiam escapar, lá iam ter.
Um dia, quando cheguei, já lá estavam à minha espera.
– Ah! Como viestes tão cedo?
– Vim
– respondeu o Francisco –, porque não sei como é:
antes, não me importava muito de ti, vinha por causa da Jacinta
mas agora, pela manhã, já nem posso dormir com a pressa de vir
para o pé de ti.

Passados os dias 13 das aparições, nas vésperas dos outros
dias 13, dizia-nos:
– Olhem: amanhã, logo pela manhãzinha, escapo-me pelo quintal
para a Lapa do Cabeço e vocês, logo que possam, vão lá ter.

 
Ai, meu Deus! Eu estava já a escrever as coisas da sua doença,
tão próxima à morte, e agora vejo que voltei aos alegres tempos da
Serra, entre o meigo chilrear dos passarinhos. Peço desculpa.
Escrevo para aqui o que me vai lembrando, à maneira do caranguejo que anda para trás e para diante, sem se preocupar com o termo da jornada. O trabalho deixo-o para o Senhor Dr. Galamba, se por acaso quiser daqui aproveitar alguma coisa. Suponho que pouco ou nada será.
Volto, pois, à sua doença. Mas, antes, ainda uma outra coisa
do seu breve tempo de escola.
Saio, um dia, de casa, e encontro-me com minha irmã Teresa,
casada, então, havia pouco tempo, na Lomba. Vinha a pedido duma
outra mulher, dum lugarejo vizinho, a quem tinham prendido um
filho, acusando-o não me lembro de que crime, pelo qual, se não
se justificava a sua inocência, seria condenado ao desterro ou,
pelo menos, a um considerável número de anos de prisão.
Pedia-me, pois, com insistência, em nome da pobre mulher a quem
ela desejava comprazer, que lhe alcançasse esta graça de Nossa
Senhora. Recebido o recado, parti para a escola e, pelo caminho,
contei a meus primos o que se passava. Ao chegar a Fátima, diz-me
o Francisco:
– Olha: enquanto que vais à escola, eu fico com Jesus escondido
e cá Lhe peço isso.

Ao sair da escola, fui chamá-lo e perguntei-lhe:
– Pediste aquela graça a Nosso Senhor?
– Pedi. Diz à tua Teresa que daqui a poucos dias ele vem para
casa.

Efectivamente, daí a alguns dias, o pobre rapaz estava em casa e, no dia 13, estava, com toda a família, a agradecer a Nossa
Senhora a graça recebida.
Um outro dia, ao sair de casa, notei que o Francisco andava
muito devagar.
Que tens? – lhe perguntei – Parece que não podes andar!
– Dói-me muito a cabeça e parece que vou a cair.
– Então não venhas; fica em casa.

– Não fico! Quero antes ficar na Igreja, com Jesus escondido,
enquanto que tu vais à escola.

Num desses dias que o Francisco, já doente, conseguiu ainda
dar os seus passeios, fui com ele à Lapa do Cabeço e aos Valinhos.
Na volta, ao chegar a casa, encontramo-la cheia de gente e uma
pobre mulher que, junto duma mesa, fingia que benzia inúmeros
objectos de piedade: terços, medalhas, crucifixos, etc. A Jacinta
comigo fomos logo cercadas por numerosas pessoas que nos queriam interrogar. O Francisco foi apanhado por essa benzadeira que o convidou a ajudá-la.
– Eu não posso benzer – lhe respondeu com seriedade – e
vossemecê também não! São só os Senhores Padres.

A frase do pequeno espalhou-se imediatamente por entre a
multidão, como se ecoasse por meio dalgum porta-voz e a pobre
mulher teve que se retirar imediatamente, entre os insultos dos
que Ihe exigiam os objectos que acabavam de Ihe entregar.
Já disse, no escrito da Jacinta, como ele conseguiu ainda ir
alguma vez à Cova de Iria, como usou e entregou a corda, como,
num sufocante dia de calor, foi o primeiro a oferecer o sacrifício de
não beber e como, por vezes, recordava à irmã a ideia de sofrer
por os pecadores, etc. Suponho que não é por isso necessário
repeti-lo aqui.
Estava um dia a fazer-lhe um pouco de companhia, junto de
sua cama, com a Jacinta que se tinha levantado um pouco. De
repente, vem sua irmã Teresa avisar que, pela estrada, vem uma
multidão de gente que decerto vem à nossa procura. Logo que ela
saiu, digo-lhes:
– Bem! Vocês atendam-nos cá; eu vou a esconder-me.
A Jacinta conseguiu ainda correr atrás de mim, e lá nos fomos
meter dentro duma dorna que estava tombada junto da porta que
dá para o quintal. Não tardamos a ouvir o ruído das pessoas que,
andando a ver a casa, saíram para o quintal e estiveram mesmo
encostadas à dita dorna que nos salvou, por ter a boca voltada
para o lado oposto.
Quando sentimos que tinham ido embora, saímos do nosso
esconderijo e lá fomos ter com o Francisco que nos informou do
que se tinha passado.
– Era muita gente e queriam que eu lhes dissesse onde vocês
estavam, mas eu também o não sabia. Queriam ver-nos e pedir-nos
muitas coisas. Era também uma mulher do Alqueidão que queria
a cura dum doente e a conversão dum pecador. Por esta
mulher peço eu; vocês peçam lá por os outros que são muitos.

 
Esta mulher apareceu pouco depois da morte do Francisco.
Pediu-me para Ihe ir dizer qual era a sua campa, pois queria ir lá
agradecer-lhe as duas graças que Ihe tinha pedido.
Íamos, um dia, a caminho da Cova de Iria e, ao sair um pouco
de Aljustrel, fomos surpreendidos por um grupo de gente, em uma
curva da estrada, que, para nos verem e ouvirem melhor, puseram
a Jacinta comigo em cima duma parede. O Francisco recusou
deixar-se colocar lá em cima, como se tivesse medo de cair. Depois,
foi-se escapando, pouco e pouco, e encostou-se a um velho
muro que estava em frente. Uma pobre mulher e um rapaz, ao
verem que não conseguiam falar-nos em particular, como desejavam, foram ajoelhar-se diante dele, a pedir-lhe que alcançasse de Nossa Senhora a cura do pai e a graça de não ir para a guerra (era mãe e filho). O Francisco ajoelha também, tira o carapuço e pergunta se (querem) rezar com ele o terço. Dizem que sim e começam a rezar; dentro em pouco, toda aquela gente, deixando-se de perguntas curiosas, está também de joelhos a rezar. Depois, acompanham-nos à Cova de Iria. Pelo caminho, rezam connosco outro terço e, lá no local, outro e despedem-se satisfeitos. A pobre mulher promete voltar ali a agradecer a Nossa Senhora as graças que pede, se as alcança. E voltou várias vezes, acompanhada não só do filho, mas também do marido, já bem de saúde. (Eram da
freguesia de S. Mamede e chamávamo-lhes os Casaleiros).