Jesus Crucified

Jesus Crucified
Jesus Christ have mercy on us

Holy Tridentine Mass - Santa Missa Tridentina.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA -PRIMEIRA MEMÓRIA-Amor aos pecadores

MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA -PRIMEIRA MEMÓRIA

Amor aos pecadores
A Jacinta tomou tanto a peito os sacrifícios pela conversão
dos pecadores, que não deixava escapar ocasião alguma. Havia
umas crianças, filhos de duas famílias da Moita, que andavam
pelas portas a pedir. Encontrámo-las, um dia, quando íamos com o
nosso rebanho. A Jacinta, ao vê-los, disse-nos:
– Damos a nossa merenda àqueles pobrezinhos, pela conversão
dos pecadores?
E correu a levar-lha. Pela tarde, disse-me que tinha fome. Havia
ali algumas azinheiras e carvalhos. A bolota estava ainda bastante
verde, no entanto disse-lhe que podíamos comer dela. O Francisco
subiu a uma azinheira para encher os bolsos, mas a Jacinta
lembrou-se que podíamos comer da dos carvalhos, para fazer o
sacrifício de comer a amarga. E lá saboreámos, aquela tarde, aquele
delicioso manjar! A Jacinta tomou este por um dos seus sacrifícios
habituais. Colhia as bolotas dos carvalhos ou a azeitona das
oliveiras.
Disse-lhe um dia:
– Jacinta, não comas isso, que amarga muito.
– Pois é por amargar que o como, para converter os pecadores.
Não foram só estes os nossos jejuns. Combinámos, sempre
que encontrássemos os tais pobrezinhos, dar-lhes a nossa merenda;
e as pobres crianças, contentes com a nossa esmola, procuravam
encontrar-nos e esperavam-nos pelo caminho. Logo queos víamos, a Jacinta corria e levar-lhes todo o nosso sustento dessedia, com tanta satisfação, como se não Ihe fizesse falta. Era,então, o nosso sustento, nesses dias: pinhões, raízes de campainhas
(é uma florzinha amarela que tem na raiz uma bolinha do
tamanho duma azeitona), amoras, cogumelos e umas coisas que
colhíamos na raiz dos pinheiros, que não me lembro agora como
se chamam; ou fruta, se a havia perto, em alguma propriedade
pertencente a nossos pais.
A Jacinta parecia insaciável na prática do sacrifício. Um dia,
um vizinho ofereceu a minha mãe uma boa pastagem para o nosso
rebanho; mas era bastante longe e estávamos no pino do Verão.
Minha mãe aceitou o oferecimento feito com tanta generosidade e
mandou-me para lá. Como havia perto uma lagoa, onde o rebanho
podia ir beber, disse-me que era melhor passarmos lá a sesta, à
sombra das árvores. Pelo caminho, encontrámos os nossos
queridos pobrezinhos e a Jacinta correu a levar-lhes a esmola. O
dia estava lindo, mas o sol era ardente; e naquela pregueiraárida e seca, parecia querer abrasar tudo. A sede fazia-se sentir e não havia pinga d’água para beber! A princípio, oferecíamos o sacrifício com generosidade, pela conversão dos pecadores; mas, passada a hora do meio-dia, não se resistia.
Propus, então, aos meus companheiros, ir a um lugar, que
ficava cerca, pedir uma pouca de água. Aceitaram a proposta e lá
fui bater à porta duma velhinha que, ao dar-me uma infusa com
água, me deu também um bocadinho de pão que aceitei com reconhecimento e corri a distribuir com os meus companheiros. Em
seguida, dei a infusa ao Francisco e disse-lhe que bebesse.
– Não quero beber – respondeu.
– Por quê?
– Quero sofrer pela conversão dos pecadores.
– Bebe tu, Jacinta!
–Também quero oferecer o sacrifício pelos pecadores!
Deitei, então, a água em a cova duma pedra, para que a bebessem
as ovelhas e fui levar a infusa à sua dona. O calor tornava-
-se cada vez mais intenso. As cigarras e os grilos juntavam o seu
cantar ao das rãs da lagoa vizinha e faziam uma grita insuportável.
A Jacinta, debilitada pela fraqueza e pela sede, disse-me, com
aquela simplicidade que Ihe era habitual:
– Diz aos grilos e às rãs que se calem! Dói-me tanto a minha
cabeça!
Então, o Francisco perguntou-lhe:
– Não queres sofrer isto pelos pecadores?!
A pobre criança, apertando a cabeça entre as mãozinhas, respondeu:
– Sim, quero. Deixa-as cantar.