Jesus Crucified

Jesus Crucified
Jesus Christ have mercy on us

Holy Tridentine Mass - Santa Missa Tridentina.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA-SEGUNDA MEMÓRIA-Doença da Jacinta e do Francisco

MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA-SEGUNDA MEMÓRIA
7. Doença da Jacinta e do Francisco
Por este tempo, a Jacinta e o Francisco começaram também
a piorar. A Jacinta dizia-me, às vezes:
– Sinto uma dor tão grande no peito! Mas não digo nada a
minha mãe; quero sofrer por Nosso Senhor, em reparação pelos
pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria, pelo
Santo Padre e pela conversão dos pecadores.

Quando, um dia, pela manhã, cheguei junto dela, perguntou-me:
– Quantos sacrifícios ofereceste, esta noite, a Nosso Senhor?
– Três: levantei-me três vezes a rezar as orações do Anjo.
– Pois eu ofereci-Lhe muitos, muitos; não sei quantos foram,
porque tive muitas dores e não me queixei.

O Francisco era mais calado. Fazia, por ordinário, tudo que
nos via fazer a nós e raras vezes sugeria coisa alguma. Na sua
doença, sofria com uma paciência heróica, sem nunca deixar escapar um gemido, nem a mais leve queixa. Perguntei-lhe, um dia,
pouco antes dele morrer:
– Francisco, sofres muito?
– Sim; mas sofro tudo por amor de Nosso Senhor e de Nossa
Senhora.

Um dia, deu-me a corda, de que já falei e disse-me:
– Toma; leva-a, antes que minha mãe a veja. Agora já não sou
capaz de a ter à cinta.

Tomava tudo o que a mãe Ihe levava e não cheguei a saber se
alguma coisa Ihe repugnava.
Assim chegou ao dia feliz de partir para o Céu. Na véspera,
disse(-me) a mim e à sua irmãzinha:
– Vou para o Céu, mas lá hei-de pedir muito a Nosso Senhor e
a Nossa Senhora que as levem também para lá, depressa.

Parece-me que já descrevi, no escrito sobre a Jacinta, quanto
esta separação nos custou. Por isso, não o repito agora aqui.
A Jacinta ficou, pois, já na sua doença que pouco a pouco se
foi agravando. Tão-pouco vou agora a descrevê-la, porque também
já o fiz. Apenas vou contar um ou outro acto de virtude que Ihe
vi praticar e que me parece que ainda não descrevi.
Sua mãe sabia quanto Ihe repugnava o leite. Um dia, levou-Ihe, junto com a xícara do leite, um belo cacho de uvas.
– Jacinta – Ihe disse – toma lá. Se não puderes tomar o leite,
deixa-o ficar e come as uvas.

– Não, minha mãe, as uvas não as quero; leve-as. Dê-me antes
o leite que o tomo.

E, sem mostrar a mínima repugnância, tomou-o. Minha tia retirou-
se contente, pensando que o fastio da sua filhinha ia desaparecendo.
Depois voltou-se para mim e disse-me:
– Apeteciam-me tanto aquelas uvas e custou-me tanto tomar
o leite! Mas quis oferecer este sacrifício a Nosso Senhor.

Um outro dia, pela manhã, encontrei-a muito desfigurada e
perguntei-lhe se se achava pior.
Esta noite – respondeu ela – tive muitas dores e quis oferecer
a Nosso Senhor o sacrifício de não me voltar na cama, por isso
não dormi nada.

Outra vez disse-me:
– Quando estou só, desço da cama para rezar as orações do
Anjo; mas agora já não sou capaz de chegar com a cabeça ao
chão, porque caio. Rezo só de joelhos.

Um dia, tive ocasião de falar com o Senhor Vigário, Sua Rev.cia
perguntou-me pela Jacinta e como estava. Disse o que me parecia
do seu estado de saúde e depois contei a Sua Rev.cia, como ela me
tinha dito, que já não era capaz de se inclinar até ao chão, para
rezar. Sua Rev.cia mandou-me, então, dizer-lhe que não queria que
descesse mais da cama para rezar; que deitada, rezasse só o que
pudesse, sem se cansar. Dei-lhe o recado, na primeira ocasião
que tive, e ela perguntou:
– E Nosso Senhor ficará contente?
– Fica – lhe respondi. – Nosso Senhor quer que a gente faça o
que o Senhor Vigário nos manda.

– Então está bem; nunca mais me torno a levantar.
Eu gostava, sempre que podia, (de) ir ao Cabeço, à nossa
lapa predilecta rezar. Como a Jacinta gostava tanto de flores, à
volta colhia um ramo, na encosta, de lírios e peónias, quando os
havia, e levava-lho, dizendo:
– Toma! São do Cabeço.
Ela pegava nelas e, às vezes, dizia, com as lágrimas a banhar-
lhe as faces:
– Nunca mais lá torno! Nem aos Valinhos, nem à Cova da Iria!
E tenho tantas saudades!

– Mas que te importa, se vais para o Céu ver a Nosso Senhor
e a Nossa Senhora?

– Pois é! – respondia.
E ficava contente, desfolhando o seu ramo de flores e contando
as pétalas de cada uma.
Poucos dias depois de adoecer, entregou-me a corda que usava,
dizendo:
– Guarda-ma, que tenho medo que a minha mãe ma veja. Se
eu melhorar, quero-a outra vez.

Esta corda tinha três nós e estava algo manchada de sangue.
Conservei-a escondida até sair definitivamente de casa de minha
mãe. Depois, não sabendo o que Ihe fazer, queimei-a, com a de
seu Irmãozinho.


Nota:Francisco e Jacinta adoecem quase ao mesmo tempo, em fins de Outubro de 1918.
 Francisco morre em casa dos pais, em Aljustrel, a 4 de Abril de 1919.