Jesus Crucified

Jesus Crucified
Jesus Christ have mercy on us

Holy Tridentine Mass - Santa Missa Tridentina.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA-SEGUNDA MEMÓRIA-Mortificações e sofrimentos

MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA-SEGUNDA MEMÓRIA
12. Mortificações e sofrimentos
Passados alguns dias, íamos com as nossas ovelhinhas por
um caminho, no qual encontrei um bocado duma corda dum carro.
Peguei nela e, brincando, atei-a a um braço. Não tardei a notar que
a corda me magoava. Disse, então, para meus primos:
– Olhem: isto faz doer. Podíamos atá-la à cinta e oferecer a
Deus este sacrifício.

As pobres crianças aceitaram logo a minha ideia e tratámos,
em seguida, de a dividir entre os três. A esquina duma pedra, batendo em cima doutra, foi a nossa faca. Seja pela grossura e aspereza da corda, seja porque às vezes a apertássemos demasiado,
este instrumento fazia-nos por vezes sofrer horrivelmente. A Jacinta deixava às vezes cair algumas lágrimas com a força do incómodo que Ihe causava; e, dizendo-lhe eu, algumas vezes, para a tirar, respondia:
– Não! Quero oferecer este sacrifício a Nosso Senhor, em reparação e pela conversão dos pecadores.
Um outro dia, brincávamos, apanhando em as paredes umas
ervas com as quais se dão uns estalidos ao apertá-las nas mãos.
A Jacinta, ao apanhar estas ervas, colheu, sem querer, juntamente,
umas urtigas, com as quais se picou. Ao sentir a dor, apertou-
-as mais em as mãos e disse-nos:
– Olhem, olhem outra coisa com que nos podemos mortificar!

 
Desde então, ficámos com o costume de, de vez em quando,
dar com as urtigas alguns golpes em as pernas, para oferecermos
a Deus mais aquele sacrifício.
Se me não engano, foi também no decurso deste mês que
adquirimos o costume de dar a nossa merenda aos nossos pobrezinhos, como já contei a V. Ex.cia Rev.ma no escrito sobre a Jacinta.
Minha mãe começou também, no decurso deste mês, a estar
um pouco mais em paz. Ela costumava dizer:
– Se houvesse, nem que fosse uma só pessoa mais, que visse
alguma coisa, eu talvez acreditasse; mas, entre tanta gente, só
eles verem!

Ora, em este último mês, várias pessoas disseram que viram
várias coisas: umas, que tinham visto Nossa Senhora; outras, vários
sinais no Sol, etc., etc. Minha mãe dizia agora:
– Eu, antes, parecia-me que, se houvesse outras pessoas que
também visse, que acreditava; mas, agora, tantas dizem que viram
e eu não acabo (de) crer!

Meu pai começou também, por então, a tomar a minha defesa,
impondo silêncio, sempre que começassem a ralhar comigo; e
costumava dizer:
– Não sabemos se é verdade, mas também não sabemos se é
mentira.

Por este tempo, meus tios, cansados das importunações das
pessoas de fora, que continuamente pediam para nos ver e falar,
começaram por mandar seu filho João a pastorear o seu rebanho
e a ficar com a Jacinta e o Francisco em casa. Pouco depois, acabaram por vendê-lo. Eu, como não gostava doutras companhias,
comecei então a andar só com o meu rebanho. Como já contei a V.
Ex.cia, a Jacinta e seu irmãozinho, quando eu ia para perto, iam lá
ter comigo; e se a pastagem era longe, iam-me esperar ao caminho.
Posso dizer que foram verdadeiramente felizes para mim, esses dias em que, só, no meio das minhas ovelhinhas, desde o cimo dum monte ou das profundidades dum vale, eu contemplava
os encantos do Céu e agradecia a nosso bom Deus as graças que
de lá me tinha enviado. Quando a voz de alguma das minhas irmãs
interrompia a minha solidão, chamando por mim, para me mandar
vir a casa falar a tal ou qual pessoa que me procurava, eu sentia
um profundo desgosto e só me consolava com poder oferecer a
nosso bom Deus mais este sacrifício.
Vieram um dia falar-nos três cavalheiros. Depois do seu interrogatório, bem pouco agradável, despediram-se, dizendo:
– Vejam se se resolvem a dizer esse segredo, se não o Sr. Administrador está disposto a acabar-lhes com a vida.
A Jacinta, deixando transparecer a alegria no rosto, diz:
– Mas que bom! Eu gosto tanto de Nosso Senhor e de Nossa
Senhora e assim vamos vê-l’Os breve.

Correndo o boato de que efectivamente o Administrador queria
matar-nos, minha tia, casada nos Casais, veio a nossa casa
com o intento de nos levar para sua casa, porque, dizia ela:
– Eu vivo em outro concelho e, por isso, este Administrador
não vos pode lá ir buscar.

Mas o seu intento não se realizou, porque nós não quisemos ir
e respondemos:
– Se nos matarem, é o mesmo; vamos para o Céu.