MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA-SEGUNDA MEMÓRIA
7. Família de Lúcia
Este retiro conseguia-o poucas vezes, porque, além de ser
encarregada da guarda das crianças que as vizinhas nos confiavam,
como já disse a V. Ex.cia Rev.ma, minha mãe costumava também
fazer por ali como que de enfermeira.
Vinham consultar o seu parecer, quando tinham alguma coisa
de menor importância e pediam-lhe para ir às suas casas, quando
o doente não podia sair. Ela passava então os dias e às vezes as
noites em casa dos doentes. E se as doenças se prolongavam e o
estado dos enfermos assim o exigia, mandava as minhas irmãs
passar também algumas noites junto deles, para que os membros
das famílias pudessem descansar. E se o enfermo era alguma mãe
de família que tivesse crianças, cujo barulho que fizessem estorvasse a doente, trazia essas crianças para nossa casa e eu era a
encarregada de as entreter. Distraía-as, então, ensinando-as a dobar,
com o desandar da dobadoura, com o rolar do caneleiro, com os
movimentos do sarilho a formar as meadas e a guiar os novelos na
urdideira. Disto tínhamos sempre muito que fazer, porque, por ordinário, havia sempre em nossa casa várias raparigas de fora que
vinham aprender a tecedeiras ou costureiras. Estas raparigas pelo
regular (regularmente) ficavam testemunhando sempre um grande
afecto pela nossa família e costumavam dizer que os melhores dias
da sua vida tinham sido os que tinham passado em nossa casa.
Como minhas irmãs, em algumas épocas do ano, tinham que
durante o dia trabalhar no campo, teciam e costuravam ao serão.
Depois da ceia e da reza que se Ihe seguia, entoada por meu pai,
começava-se a trabalhar. Todos tinham que fazer: minha irmã Maria ia para o tear; meu pai enchia-lhe as canelas; a Teresa e a
Glória iam para a costura; minha mãe fiava; a Carolina e eu, depois
de arrumar a cozinha, éramos empregadas a tirar alinhavos, pregar
botões, etc.; meu irmão, para espalhar-nos o sono, tocava harmónio, ao som do qual cantávamos várias coisas. Os vizinhos vinham, não poucas vezes, fazer-nos companhia e costumavam dizer que, apesar de os não deixarmos dormir, se sentiam alegres e Ihes passavam todas as arrelias com ouvirem a festa que nós fazíamos. A várias mulheres ouvi dizerem a minha mãe:
– Que feliz que tu és! Que encanto de filhos que Nosso Senhor
te deu!
Tínhamos ainda, no seu tempo, as escamisadas ao luar. Sentavam-
me, então, no cimo do monte do milho e era a encarregada de dar a todos os assistentes o abraço-chi, quando aparecia alguma espiga carocha.
Este blogue é tradicional e também fiel á verdadeira Religião Una, Católica, Apostólica, Romana e tem por objectivo a divulgação da Missa Tridentina em Portugal e no Brasil,e preservar a sua Doutrina original. Dedico este blog á Virgem Santíssima, ao Sagrado Coração de Jesus,a São José e as Almas do Purgatório,como reconhecimento e gratidão por me terem tirado do Paganismo. Evangelização Tradicional e Apostolado de Oração no Porto.