MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA -PRIMEIRA MEMÓRIA
Primeira Aparição
Eis aqui, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, um pouco mais ou
menos, como se passaram os sete anos, que tinha a Jacinta,
quando apareceu belo e risonho, como tantos outros, o dia 13 de
Maio de 1917. Escolhemos nesse dia, por acaso, se é que nos
desígnios da Providência há acasos, para pastagem do nosso
rebanho, a propriedade pertencente a meus pais, chamada Cova
de Iria. Determinámos, como de costume, qual a pastagem do dia,
junto do Barreiro de que já falei a V. Ex.cia Rev.ma e tivemos, por
isso, que atravessar a charneca, o que nos tornou o caminho
dobradamente longe. Tivemos, por isso, que ir devagar, para que
as ovelhinhas fossem pastando pelo caminho; e assim chegámos
cerca do meio-dia.
Não me detenho agora a contar o que se passou nesse dia,
porque V. Ex.cia Rev.ma já sabe tudo e seria perder tempo, como
perdê-lo me parece, a não ser por estar a obedecer, todo o que
levo a escrever isto, pois não vejo que utilidade V. Ex.cia Rev.ma
possa tirar daqui, a não ser o conhecimento da inocência da vida
desta alma.
Antes de começar a contar-vos, Ex.mo e Rev.mo Senhor, o que
me lembro do novo período da vida da Jacinta, tenho que dizer
que há algumas coisas, nas manifestações de Nossa Senhora,
que nós tínhamos combinado nunca dizer a ninguém e talvez agora
me veja obrigada a dizer alguma coisa disso, para dizer onde a
Jacinta foi beber tanto amor a Jesus, ao sofrimento e aos pecadores,
pela salvação dos quais tanto se sacrificou. V. Ex.cia Rev.ma não
ignora como foi ela que, não podendo conter em si tanto gozo,
quebrou o nosso contrato de não dizer nada a ninguém. Quando,
nessa mesma tarde, absorvidos pela surpresa, permanecíamos
pensativos, a Jacinta, de vez em quando exclamava com entusiasmo:
– Ai! que Senhora tão bonita!
– Estou mesmo a ver – dizia-lhe eu. – Ainda vais dizer a alguém.
– Não digo, não! – respondia. – Está descansada.
No dia seguinte, quando seu irmão correu a dar-me a notícia
de que ela o tinha dito, à noite, em casa, a Jacinta escutou a acusaçãosem dizer nada.
– Vês? Eu bem me parecia! – disse-lhe eu.
– Eu tinha cá dentro uma coisa que não me deixava estar calada
– respondeu, com as lágrimas nos olhos.
– Agora não chores; e não digas mais nada a ninguém do que
essa Senhora nos disse.
– Eu já disse!
– O que disseste?!
– Disse que essa Senhora prometeu levar-nos para o Céu!
– E logo foste dizer isso!
– Perdoa-me; eu não digo mais nada a ninguém!
Meditação sobre o Inferno
Quando, nesse dia, chegámos à pastagem, a Jacinta sentou-se pensativa, em uma pedra.
– Jacinta! Anda brincar!
– Hoje não quero brincar.
– Por que não queres brincar?
– Porque estou a pensar. Aquela Senhora disse-nos para
rezarmos o Terço e fazermos sacrifícios pela conversão dos
pecadores. Agora, quando rezarmos o Terço, temos que rezar a
Ave Maria e o Padre Nosso inteiro. E os sacrifícios como os
havemos de fazer?
O Francisco discorreu em breve um bom sacrifício:
– Demos a nossa merenda às ovelhas e fazemos o sacrifício
de não merendar!
Em poucos minutos, estava todo o nosso farnel distribuído pelo
rebanho. E assim passámos um dia de jejum, que nem o do mais
austero cartuxo! A Jacinta continuava sentada na sua pedra, com
ar de pensativa e perguntou:
– Aquela Senhora disse também que iam muitas almas para o
inferno. E o que é o inferno?
– É uma cova de bichos e uma fogueira muito grande (assim
mo explicava minha mãe) e vai para lá quem faz pecados e não se
confessa e fica lá sempre a arder.
– E nunca mais de lá sai?
– Não.
– E depois de muitos, muitos anos?!
– Não; o inferno nunca acaba. E o Céu também não. Quem vai
para o Céu nunca mais de lá sai. E quem vai para o inferno também não. Não vês que são eternos, que nunca acabam?
Fizemos, então, pela primeira vez, a meditação do inferno e
da eternidade. O que mais impressionou a Jacinta foi a eternidade.
Mesmo brincando, de vez em quando, perguntava:
– Mas, olha. Então, depois de muitos, muitos anos, o inferno
ainda não acaba?
Outras vezes:
– E aquela gente que lá está a arder não morre? E não se faz
em cinza? E se a gente rezar muito por os pecadores, Nosso Senhor
livra-os de lá? E com os sacrifícios também? Coitadinhos!
Havemos de rezar e fazer muitos sacrifícios por eles!
Depois, acrescentava:
– Que boa é aquela Senhora! Já nos prometeu levar para o Céu!
Este blogue é tradicional e também fiel á verdadeira Religião Una, Católica, Apostólica, Romana e tem por objectivo a divulgação da Missa Tridentina em Portugal e no Brasil,e preservar a sua Doutrina original. Dedico este blog á Virgem Santíssima, ao Sagrado Coração de Jesus,a São José e as Almas do Purgatório,como reconhecimento e gratidão por me terem tirado do Paganismo. Evangelização Tradicional e Apostolado de Oração no Porto.