Os
exorcistas acreditam no diabo?
O título deste capítulo pode parecer provocador.
Mas para quem vive e trabalha neste campo, com a
possibilidade de incursões internacionais, a pergunta tem
contexto.
Aceito
e recebo convites para encontros de toda a Europa; já falei,
por várias vezes, em quase todas as televisões européias; o
meu primeiro livro Um exorcista rac-conta (Um exorcista
conta), que na Itália ultrapassa a décima terceira edição e
já foi traduzido em oito línguas.
Apresento estes dados para justificar uma
observação: nas outras nações em que está presente a
Igreja Católica, os exorcismos ainda são menos praticados do
que na Itália.
Em seguida, apresento um aspecto da situação
francesa, recuperando um artigo que publiquei na revista
mensal Vita Pastorale (Vida Pastoral), de agosto-setembro de
1993.
A
França é, sem dúvida, a nação estrangeira de quem recebo o
maior número de pedidos. Já me confirmaram que a situação
tem melhorado desde que a Conferência Episcopal Francesa
encarregou um novo bispo para a direção dos encontros anuais
de exorcistas. Espero realmente que assim seja; entretanto,
quem ler estas páginas poderá verificar pessoalmente se as
coisas estão mesmo assim. É que os três séculos de
segregação foram demasiados. Aquilo que direi não tem a
intenção de ser uma crítica ao clero francês; seria injusto.
Quero,
sim, descrever uma situação sintomática com que a totalidade
da Igreja Católica se debate atualmente.
Desde os primeiros anos do meu ministério de
exorcista, sempre me admirei com o grande número de
franceses que vinham para a Itália em busca de ajuda de um
exorcista. Tive também a oportunidade de conhecer dois
exorcistas franceses muito competentes, com os quais troquei
experiências e ainda mantenho contato. Por eles, e por
outros, prezados amigos dessa nação, recebi as informações
que descreverei e que são particularmente importantes pela
validade que têm ainda hoje.
Talvez a Franca seja a única nação católica na qual
os exorcistas se reúnem todos os anos em assembléia, num
congresso de atualização promovido pela própria Conferência
Episcopal, desde 1977. De início, participavam cerca de
quinze pessoas; atualmente, superam oito dezenas. Um fato
bonito, em si, no entanto “nem tudo o que reluz é ouro”.
Nos primeiros tempos, os encontros eram muito
proveitosos e, mesmo na diferença de opiniões, satisfaziam
os participantes. Tanto o secretário, padre Chenesseau, como
também o exorcista Paris, padre Gesland, eram muito ativos
na administração do sacramental e procuravam infundir
confiança aos novos exorcistas.
A partir de 1984, as coisas mudaram radicalmente.
Em Paris, o exorcista padre Gesland foi substituído pelo
padre Gauthier, uma pessoa que nunca tinha feito
exorcismos e que só acreditava na psiquiatria. Para
a secretaria, foi nomeado o padre Isidoro Froc, exorcista de
Rennes, conhecido pelo ministério pastoral que desenvolvia
num hospital psiquiátrico.
O novo
secretário passou a ter uma influência fundamental sobre a
assembléia e sobre a formação dos novos exorcistas.
Além de nunca ter feito exorcismos, era deplorável,
e ainda é, no plano de suas exegeses evangélicas. Com
efeito, segue as idéias do padre Emile Morin, que em 1984,
escrevia que, na época de Cristo, se colocavam no
mesmo plano as doenças, o pecado e o
demônio; Jesus adaptou-se a mentalidade dos Seus
contemporâneos, por isso, os Evangelhos descrevem nos fatos
segundo a sensibilidade cultural do tempo.
É
inútil dizer que, com estes critérios debulhados ao máximo,
acaba-se por renegar a historicidade dos Evangelhos,
reduzida a “linguagem cultural da época”.
O padre Froc preocupou-se muito com os novos
exorcistas, instruindo-os para que nenhum deles
fizesse exorcismos. Por exemplo, na Bretanha não se
encontra ninguém que faça exorcismos, a não ser o padre
Jean, monge cistercense de Tiamdeuc, possuidor de grande
autoridade e, por isso, capaz de se opor ao padre Froc;
quando procurei informações sobre este monge, que recebe
seis pessoas por dia, soube que já tinha encontros marcados
para os três meses que se seguiam e uma enorme lista de
espera.
São poucos os exorcistas franceses que fazem exorcismo;
os outros, mais de setenta, seguem as idéias do padre Froc,
que tem a plena confiança dos bispos, e é sempre escolhido
para falar na televisão, onde declara abertamente que nunca
fez exorcismos.
Eu mesmo já falei muitas vezes na televisão
italiana, na francesa e nas de várias outras nações; mas
expressei bem outras convicções sobre este tema, uma vez que
já fiz mais de trinta mil exorcismos. E, no entanto, sigo
apenas e somente as Sagradas Escrituras e as leis
eclesiásticas.
Mas a situação não para por aqui. Nas assembléias
dos exorcistas franceses, quem apresenta conferências são
prevalentemente psiquiatras e psicólogos. Com
efeito, qualquer problema apresentado é avaliado pelo ponto
de vista psicológico, psiquiátrico e sociológico.
Em vão se poderia procurar a citação de um exorcista levado
ao fim, com sucesso, ou um ensinamento sobre os métodos a
serem seguidos na administração dos exorcismos.
Tive casos de pessoas que me foram enviadas
por psiquiatras. Exatamente o contrário daquilo que
fazem o padre Froc e seus adeptos, apenas preocupados em
mandar as pessoas aos psiquiatras. Acrescento outro fato
significativo: nas assembléias dos exorcistas franceses,
os psiquiatras e os psicólogos falam e ditam a lei.
Mas na Itália não é assim.
No dia
26 de abril de 1993 fui convidado a apresentar uma
conferência a cerca de quarenta psiquiatras. O tema que me
foi pedido era o seguinte:
“Como se distinguem os malefícios das doenças psíquicas”.
O encontro foi interessantíssimo, sobretudo, pelo debate que
se seguiu. Confesso que encontrei naqueles especialistas,
muitos dos quais descrédulos, interesse e crédito superiores
aos encontrados quando falo a grupos de sacerdotes. Num dos
capítulos que se seguem, apresento a conferência que fiz aos
psiquiatras.
Mas voltemos ao tema. O leitor poderá pensar que
exagerei um pouco no que disse sobre a situação francesa.
Pois bem, saiu um livro do padre Isidoro Froc intitulado
Esorcisti, chi sono e cosa fanno (Exorcistas, quem são e o
que fazem) (Ed. Piemme) que nada ensina sobre os exorcismos.
É apenas um espelho fiel das idéias do autor, que tanta
influência tem sobre os exorcistas franceses, e que tem
difundido as suas idéias por todos os lados.
Limito-me às principais observações.
1- Nunca se descreve um único exorcismo e
nunca se fala de exorcismos; são coisas que não devem ser
feitas e que não merecem uma palavra a respeito.
2- Qual é então, a missão de um exorcista?
Ei-la: Acolher e ouvir as necessidades do outro (p.
186); acolher e ouvir (p. 135); acolhimento,
compaixão, caminho espiritual, oração de libertação (p.
142); convidar a rezar e a ter fé em alguém (p. 159);
o objetivo é educar para a fé e oração (p. 170);
os exorcistas dedicam-se ao acolhimento, à compaixão, ao
aconselhamento, para tal os exorcistas ainda servem (p.
185). Nunca se diz que, na presença de determinadas
condições, um exorcista tem a tarefa de fazer exorcismos.
No fundo, trata-se apenas de doenças psíquicas!
3- Em compensação não faltam expressões que
procuram desacreditar os exorcismos que o
próprio Jesus realizou, e põem em dúvida o fundamento
escriturístico.
Os
exorcismos referidos pelos Evangelhos são considerados
concepções da época, fatores culturais (p. 62 e
132). Não foram verdadeiras libertações do poder do demônio,
mas apenas narrações feitas em consonância com a mentalidade
dos contemporâneos de Jesus (p. 133). Jesus atua em
conformidade aos usos e à cultura do seu tempo (p. 135).
Poderia continuar com estas citações que, a meu ver,
estão em contraste com a Bíblia e a Tradição, como
claramente exprimiu o documento do Vaticano: Fede
cristiana e demonologia (Fé cristã e demonologia),
de 26 de junho de 1975, onde se evidencia a grande
importância das libertações do demônio, levadas a cabo
por Jesus Cristo. O contraste é bastante evidente.
Para confirmar as suas convicções, o padre Froc
cita a conferência que o padre René Marlé, a seu convite,
apresentou aos exorcistas franceses em 1992. O espanto é
enorme! Nessa conferência, o diabo não é pessoa, mas
uma máscara (p. 120). Satanás não é um ser
individual, mas é visto por Jesus de acordo com o
costume do seu tempo (p. 120. Se Satanás é visto como
personificação do mal universal, pouco importa (p. 121). Na
Bíblia, o demônio representa as forças do mal, que induzem à
tentação (p. 122). E o próprio padre Froc acrescenta:
perante a pergunta sobre a existência ou inexistência do
diabo, nem sempre é possível dar uma resposta precisa (p.
132). Todas estas afirmações são condenadas pelo
famoso discurso sobre o demônio, pronunciado pelo Papa Paulo
VI no dia 15 de novembro de 1972, no qual afirma que quem as
apóia “está fora do quadro do ensinamento bíblico e
eclesiástico”.
Mas vamos à conclusão.
Infelizmente, as idéias do padre Froc procuram se difundir.
No seu livro, procura derrubar o Ritual ainda em vigor, com
frases do tipo: o exorcismo é um gesto mágico
(p.142 e 159); os três sinais de possessão diabólica
indicados pelo Ritual perderam o seu valor para os dias de
hoje; o espiritismo é apenas um perigo do ponto de vista
psicológico e espiritual (p.76); a magia é um
fenômeno cultural (p.77). Por isso, quem erra é a Bíblia
e o Catecismo da Igreja Católica, pois condenam a magia!
E podíamos continuar.
Em
compensação, o autor elegia incondicionalmente o Novo
Ritual, como se fosse definitivo, quando é apenas adínterim.
O padre Froc teria feito melhor se não fizesse referência a
ele: tanto pelo que revelam, infelizmente, as idéias
francesas de quem o redigiu, mas sobre tudo porque é um
documento ainda reservado, sujeito às observações dos bispos
e, portanto, sujeito a alterações.
Existe também uma compensação final para todos os
que são pró-exorcistas, que é uma verdadeira obra-prima. O
padre Froc reconhece, bondade a sua, que Jesus fez dois
exorcismos. O “Amame”, dirigido por três vezes a São Pedro,
e que nós, pobres ignorantes, considerávamos um tríplice
atestado de amor em reparação da tríplice renegação; é, pelo
contrário, um autêntico exorcismo (p.138). Ainda mais
assombroso é o beijo de Judas, que nós
ignorantes considerávamos a consumação da sua traição, e que
em vez disso é um verdadeiro exorcismo, porventura, não
muito bem sucedido (p.140).
Sinceramente, fica a dúvida se o padre Froc sabe o que é ser
moderno e, como afirma, a obra de um exorcista do século XXI
resume-se a “acolher e ouvir” (p.86). Nada mais.
Escrevo estas linhas com amargura, mas também
convencido de estar prestando um serviço. O exorcismo
está bem fundamentado nas Sagradas Escrituras, em toda a
Tradição da Igreja, nas leis eclesiásticas. E, no
entanto, também na Itália existem exorcistas que se limitam
a acolher e ouvir. É melhor do que nada, é certo, mas não
chega. É melhor do que o comportamento daqueles... que
mandam para o diabo. Mas, dos exorcistas, espera-se muito
mais!
Creio que o ocultismo é a verdadeira
religião de Satanás, aquilo que mais se opõe ao verdadeiro
Deus e á verdadeira religião; e aquilo que mais se opõe ao
homem, com as suas aspirações espirituais e a sua
racionalidade, que o estimula a estudar e procurar uma
explicação racional de tudo quanto é objeto do seu
conhecimento.
Para tomarmos consciência destas afirmações, temos
de partir dos fundamentos da nossa fé, baseada na revelação,
e que tem um claro ponto de partida: “Ouve, ó Israel!
O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás o Senhor, teu
Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas
as tuas forças” (Dt 6,4-5). É o enunciado que está
na base do Decálogo: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te
fez sair do Egito, da casa da servidão. Não terás outros
deuses diante de minha face”. (Ex 20,2-3). É o
grande início que antecede a explosão da revelação, com a
Encarnação de Cristo, único Salvador e único Mestre.
“Tirai Deus e o mundo encher-se-á de ídolos”.
Não se trata apenas da observação de um escritor
contemporâneo, que espelha uma constatação recorrente em
toda a história. O Santo Cura d’Ars exprimia o
mesmo conceito, mas por outras palavras: “Tirai o
pároco de uma paróquia e em menos de dez anos adorarão as
bestas”.
Gosto
muito de me referir ao Livro Sagrado por experiência, a
Bíblia de onde provém todo e qualquer ensinamento sobre o
homem. O Antigo Testamento é a história da fidelidade de
Deus e da infidelidade de Israel. De todas as vezes
que o povo hebraico vira as costas a Deus, entrega-se à
idolatria.
É
matemático que, na proporção em que se verifica um
decréscimo da religião, dá-se um aumento da
superstição; e, deste modo, permite-se a entrada do
ocultismo e todas as suas ramificações. É o nosso mundo que,
deste modo, se afastou de Deus e de todas as formas
religiosas, e se enterrou até o pescoço na
idolatria, na superstição, no ocultismo.
O
que é ocultismo
Não é fácil definir o ocultismo. Há quem amplie o
conceito e quem o restrinja (pessoalmente, prefiro a
concepção mais extensa); os próprios termos utilizados para
defini-lo são, muitas vezes, substituíveis e não exprimem
conteúdos claramente delimitados.
Substancialmente, ocultismo é acreditar na existência
de entes ou forças não experimentáveis no plano normal da
sensibilidade, mas através dos quais é possível
dominar tudo, utilizando práticas específicas que são
aprendidas mediante a investigação, a iniciação e o
exercício.
Quem
se dedica ao ocultismo julga adquirir conhecimentos e
poderes que os outros não tem e que estão além das leis
físicas ou racionais: leitura do pensamento,
materialização de objetivos, conhecimento do futuro,
influências benéficas ou maléficas sobre quem quiser,
domínio sobre as forças naturais, contato direto com os
espíritos (quais? Nunca se diz!),
relacionamento com os mortos e – por que não? -
como os OVNIS, com os extraterrestres e outras forças do
gênero.
É explícita a rejeição da religião e da razão. Da
religião porque se trata de entidades, de forças, de poderes
que não provêm de Deus: nem na sua existência nem no seu
uso. Da razão porque se trata de seres e de poderes que
estão totalmente fora de qualquer possibilidade de estudo ou
de controle racional, que escapam de qualquer possibilidade
de exame científico. Só por isso se vislumbra uma relação
direta com a magia, a adivinhação, a astrologia, o
espiritismo, o satanismo e certos aspectos da maçonaria.
Mais
do que relação, diria que o ocultismo é o tronco a partir da
qual se ramificam todas estas conseqüências, como seus
frutos. Quem faz dele religião, entra numa seita, entendendo
este termo no seu pior sentido.
Será possível que toda esta construção tenebrosa se
agüente de pé, sem sequer procurar uma origem, um ponto de
partida? Foram várias as tentativas nesse sentido, fato que
revela a sua inconsistência.
Atualmente é moda apelar-se a práticas orientais antigas,
especialmente tibetanas ou indianas, ou, então, à cabala
israelita. Outros preferem apelar a tradições antiqüíssimas,
sabe-se lá quais, que se perderam nos tempos e cujo
conhecimento exige iniciação.
Eis
então o esoterismo, ou seja, a iniciação, que procura
descobrir aquilo que se esconde por detrás de antigas
tradições, mitos ou símbolos, para se apoderar e utilizar de
tais segredos: deste modo, os cultores do esoterismo afirmam
que conseguem descobrir os segredos de certas plantas, de
certas pedras, de certos cristais, e por aí adiante.
O
ocultismo também quer se apoderar de poderes escondidos,
depois de conhecê-los, muitas vezes, a custo das pessoas se
tornarem dependentes de seres superiores: homens já há muito
conhecedores destes segredos, ou entidades não muito bem
identificadas. Ou, então, deixando-se guiar por espíritos
que não sabe bem o que são.
Atualmente, é moda encontrar magos, cartomantes, videntes
que se
dizem auxiliados por um espírito-guia. O que é isso? Não
sabem, mesmo quando revelam seu nome. Que seria do ocultismo
se as coisas fossem claras? De minha parte, limito-me
a aconselhar a proteção do Anjo da Guarda e, sobretudo, a
obediência à contínua ação do Espírito Santo.
Concluindo, podemos dizer: o esoterismo é o
ensinamento daquilo que está escondido; o
ocultismo é a descoberta de entidades e de forças secretas
e a aquisição de práticas necessárias para a conquista de
maiores poderes. Os dois termos são de tal maneira
semelhantes, que muitos livros combinam os dois e falam de
ocultismo esotérico.
As
definições e as palavras podem ser rebuscadas o quanto
quiser, mas os frutos são atualmente muito procurados.
Acrescento também que, neste campo, os meios de comunicação
têm feito um péssimo serviço. É um tema que dá espetáculo e
dinheiro; e as pessoas, perdidas como está a religião, andam
sedentas de palhaçadas.
Mas,
antes, vejamos como defender-nos do ocultismo, para
podermos “brilhar como os astros, no meio de uma geração má
e perversa” (cf. Fl 2,15).
É fácil especificar como defender-se do ocultismo.
Mais difícil é agir de acordo. Implica três pontos
fundamentais: nova evangelização, informação, ouvir as
pessoas.
1- A nova evangelização. O Papa
insiste continuamente, e com razão, neste tema. Se o
ocultismo nasce de negação de Deus e da sua revelação,
para escravizar o homem ligando-o a entidades e ritos
totalmente ambíguos, a antítese do ocultismo é o regresso a
Deus. Só assim se derruba o castelo de idolatria e das
superstições, sobre o qual se apóia o ocultismo.
Por várias vezes, já me aconteceu de dizer e
escrever que o povo italiano é um povo de pagãos batizados,
que vive com pagãos e sabe tanto de religião como os pagãos.
É suficiente olhar para as famílias separadas, para a
desonestidade que reina em todos para as famílias separadas,
para a desonestidade que reina em todos os setores, para o
triunfo do divórcio e do aborto, para o decréscimo da
natalidade, para as igrejas desertas.
Creio
que, no que diz respeito à decadência, podemos
comparar a nossa situação com a do Império Romano, tal como
aparece descrito, criticamente, por São Paulo na Carta aos
Romanos, ou como é narrado no popular romance histórico Quo
Vadis? Um estado de decadência que, certamente, não existia
no período da República. Qual o motivo desta
decadência dos valores e deste abandono maciço e progressivo
da fé, a partir do pós-Segunda Guerra Mundial?
As causas são muitas, mas algumas são
particularmente evidentes. O filosofo Augusto del Noce
escreveu que a história do mundo moderno é a história da
humanidade: o ateísmo manifestado nas massas
populares. Nunca tinha ocorrido algo do gênero.
Eventualmente, havia o culto a falsos deuses mentirosos,
como lhes chama Dante; ou o culto do Imperador ou culto
conforme à mentalidade sócio-cultural de um povo e de uma
época. Mas só o comunismo marxista inventou a
propaganda do ateísmo com métodos científicos, que também
encontrou terreno fértil no mundo ocidental, já minado pelo
racionalismo, pelo secularismo
e, mais tarde, pelo consumismo e pela diferença
religiosa.
Nossa Senhora tinha previsto tudo isso em
Fátima, em 13 de julho de 1917 (o famoso dia das
mensagens com os três segredos), ou seja, antes da Revolução
Bolchevique, de finais de outubro: “A Rússia espalhará
pelo mundo os seus erros, suscitando guerras e perseguições
à Igreja”.
Em
Moscou, até 1990, na universidade, havia o Instituto
Superior do Ateísmo, para formar os quadros do partido.
Ensinavam também o método a ser seguido para destruir a fé,
qualquer tipo de fé, numa nação religiosa. E em várias
cidades da Rússia havia os museus do ateísmo, sempre
colocados em igrejas desconsagradas; eram os únicos museus
de ingresso gratuito.
E não
é difícil demonstrar a eficácia da propaganda do ateísmo em
todo o mundo; especialmente na Itália, onde havia, e ainda
há (não se sabe como, depois da queda do chamado comunismo
real) o partido comunista mais numeroso do mundo ocidental.
Do
comunismo, se passa, infalivelmente com já destacamos, para
a superstição, para a idolatria, para o ocultismo esotérico,
que é o grande tronco do qual brotam a magia, a adivinhação,
os cultos orientais, o satanismo, as seitas... Ou Deus ou
Satanás; não é por acaso que já foram feitos interessantes
estudos sobre a ligação entre o marxismo e a demonologia,
e sobre a provável consagração satânica de vários chefes
históricos do comunismo: Marx, Engels, Lenine, Stanlin...
Certamente que as causas são muitas. Quando o
Papa João Paulo II, na Carta Apostólica de preparação para o
Jubileu, quis resumir a situação religiosa do nosso tempo,
ressaltou quatro aspectos:
1- O primeiro sintoma é a indiferença
religiosa. As pessoas já não se interessam pela
religião, e assumem-na como uma espécie de verniz exterior,
sem qualquer tipo de eficácia. São típicas a este respeito,
três expressões que ouvimos serem repetidas constantemente:
“Tenho fé à minha maneira”, ou seja, penso e atuo
como quero; “Acredito, mas não sou praticante”, ou
seja, faço aquilo que quero e gosto, não me interessando com
a vontade de Deus; “Acredito em Jesus Cristo, mas não nos
padres”, ou seja, acredito naquilo que eu quero, embora
Jesus tenha dito claramente: “Quem vos ouve, a mim
ouve; quem vos rejeita, a mim rejeita” (Lc 16,10).
2- O segundo sintoma evidenciado pelo
Papa é a confusão no campo da ética. Já não existe lei
moral; já não existe valores. O colégio cardinalício, que
pela primeira vez na história da Igreja se reuniu, não para
nomear um novo Papa, mas para preparar o programa em vista
do ano 2000, chegou mesmo a falar de noite ética: a
escuridão completa a respeito do comportamento moral.
3- O terceiro sintoma são as correntes
teologias errôneas. Quantas coisas foram escritas por
teólogos e biblistas, que perturbaram profundamente o clero,
os sacerdotes e bispos; e, conseqüentemente, também o povo
cristão? Dou um exemplo.
Todas
as pessoas que encontrei, que passaram por uma situação de
confissão habitual, para outra de perigo, descuido em
relação ao Sacramento da Penitência, me disseram que houve
um sacerdote que as tinham aconselhado a confissão apenas em
caso de pecado mortal seguro. O melhor é não falar aqui da
minha tarefa de exorcista (não me faltam certamente as
ocasiões); vi teólogos e biblistas – e, por detrás deles,
bispos e padres – que já não acreditam na ação do
demônio, não acreditam nos exorcismos, dizem que
tudo isto é um regresso à Idade Média, chegando mesmo a
negar os exorcismos no Evangelho. A confusão no clero tem
sido assustadora, quer no ensinamento quer, infelizmente,
repetidas vezes, na vida pessoal.
4- Como quarto sintoma, o Papa destaca: a
crise de obediência ao Magistério da Igreja. Não posso
deixar de evocar o famoso terceto de Dante: Avete il Vecchio
e il Nuovo Testamento – e il Pastor della Chiesa vi guida –
questo vi basti a vostro salvamento (Tendes o Antigo e Novo
Testamento – e o Pastor da Igreja a vos guiar – isto seja
suficiente para a vossa salvação).
Depois
acontece que, quando não se obedece ao magistério da Igreja,
infalivelmente, acaba-se obedecendo aos outros magistérios:
ao dos jornais e da televisão: às visões dos chamados
videntes; quando não, mesmo aos gurus ou outros líderes que
nada têm a ver com o Cristianismo.
Informação. O segundo meio que indico
como defesa contra o ocultismo é a informação correta.
Não se pode ensinar aquilo que não se sabe. Se nos
seminários já não se fala de ocultismo, de sessões de
espiritismo nas formas atuais, dos vários cultos orientais,
de todas aquelas formas atualmente na moda e que contêm
perigos?
Muitas
pessoas me contam que foram a magos, para serem libertadas
de certos inconvenientes, depois de terem se aconselhado com
o próprio pároco. Conheço muitos casos de sessões de
espiritismo feitas por estudantes, sem que o professor de
Religião e Moral os tenha alertado dos perigos, mesmo quando
foi explicitamente induzido a respeito.
Não é
de se admirar que os livros que relatam interrogatórios aos
falecidos sejam publicados com a recomendação inicial de
eminentes sacerdotes. E quem prega a proibição de freqüentar
os magos? Ou os perigos de ver espetáculos de magia na
televisão?
Ouvir as pessoas. É o terceiro grande
meio de defesa contra o ocultismo. As pessoas têm problemas,
dúvidas, sofrimentos. Necessitam de ser ouvidas e
aconselhadas. Necessitam de quem as ouça com atenção e
competência.
Monsenhor Gemma escrevia na sua Carta Pastoral de 29 de
junho de 1992, na qual institui grupos de oração de
libertação: “Considero que faz parte do ministério
sacerdotal ouvir todos os fiéis com grande, grande
paciência. Tudo deve ser submetido a um saudável
discernimento por parte dos pastores. Mas nunca, nunca uma
alma aflita, porventura, inconscientemente abatida pelo
maligno – não é este, por acaso, o seu ofício? – pode ser
tratada com superficialidade, minimizando os seus problemas
ou, pior ainda, recusando ouvi-la. Jesus não atuava desta
maneira”.
E
continua com uma observação realmente espantosa: “Os
ministros sagrados não sabem que é precisamente a
indiferença por parte deles que, freqüentemente, induzem os
simples e desprevenidos a recorrerem a magos e bruxarias, ou
a outras práticas aberrantes, que são instrumentos
privilegiados de intervenção por parte do demônio e do seu
triunfo? Não vos cansai de manter os vossos fiéis afastados
dele!”.
Este é um aspecto fundamental, que está na base da
difusão do ocultismo em todas as suas formas. A oferta
existe: os anúncios nos jornais, na televisão, nos meios de
comunicação social em geral, são mais do que muitos. Como já
vimos, calcula-se que, na Itália, os freqüentadores destes
charlatões e satanistas são mais de doze milhões. E não é só
isso.
Também
há a oferta de acolhimento e compreensão por parte de outros
grupos religiosos, de seitas, de organizações equívocas. Não
hesito em afirmar: se perdermos a batalha do acolhimento
pessoas, perderemos a batalha da evangelização. Não conheço
e julgo que não existem alternativas.
Eis, então, os três grandes remédios contra o
ocultismo, em todas as suas formas: nova
evangelização, informação e ouvir as pessoas.
Sobre
o primeiro aspecto, que é fundamental porque a fé nasce e é
alimentada da escuta da Palavra de Deus,
gostaria ainda de acrescentar que o século XXI e o terceiro
milênio, herdam dois importantes documentos que fundam a
nova evangelização. É necessário apresentar ao homem de
hoje, Jesus Cristo e Sua obra, de maneira integral e
adequada aos tempos: é este o esforço e o conteúdo dos
documentos do Vaticano II.
E é
urgente dar, de novo, também aos povos de antiga tradição
cristã, aquela cultura religiosa de base que já não possuem.
Do ponto de vista religioso, são analfabetos; nem
sequer sabem o Decálogo, não vão à Missa, não se confessam.
É este o esforço e o conteúdo do Catecismo da Igreja
Católica. Os instrumentos existem; cabe aos cristãos
utilizá-los.
Defender-se do ocultismo. O francês M. Lallemand,
estudioso do ocultismo, não hesita em afirmar que,
atualmente, os adeptos do ocultismo são bem mais numerosos
que os adoradores do verdadeiro Deus. É uma afirmação forte
que nos faz refletir. Mas que, a meu ver, é uma conseqüência
direta ao abandono em Deus: enfraquece a fé, cresce a
superstição; não se acredita em Deus, acredita-se nos
ídolos. E, para os batizados, que valor tem serem
cristãos e, em sua maioria, se não já se lembram das leis de
Deus e em compensação, se entregam ao ocultismo?
Começo por este tema, embora não seja o mais
perigoso, nem o mais consistente em termos numéricos; mas é
o fenômeno mais chamativo, aquele que até o momento mais tem
preocupado as autoridades eclesiásticas, se lermos os
documentos oficiais.
A
designação seitas é pejorativo e, certamente, não engloba
apenas movimentos enraizados no ocultismo. Foi por isso que
se procurou utilizar uma nova terminologia: novos movimentos
religiosos ou mágicos. Para falar sobre eles, inspiro-me
amplamente em quatro documentos: as Atas do Consistório
Extraordinário, que se realizou em abril de 1991; a
pesquisa a nível mundial e, depois, o documento
conclusivo de quatro dicastérios do Vaticano, coordenados
pela Secretaria de Estado, em 1986; o estudo que o
monsenhor Casale, arcebispo de Foggia, realizou na
qualidade de presidente do CESNUR (Centro de Estudos das
Novas Religiões), em 1993, intitulado Nuove religiositá e
nuova evangelizzazione (Nova religiosidade e nova
evangelização) (editora Piemme); o documento da CEI
(Conferência Episcopal Italiana), também de 1993: L’impegno
pastorale della Chiesa di fronte ai nouvi movimenti
religiosi o sètte (O empenho pastoral da Igreja perante os
novos movimentos religiosos ou seitas).
O Consistório de 1991 ressalta que nestes
movimentos podem ser distinguidos quatro níveis: A
rejeição da Igreja (Cristo sim, Igreja não); A
rejeição de Cristo (Deus sim, Cristo não); A
rejeição de Deus (Religião sim, Deus não). Não
havendo mais nada de transcendente, chega-se às últimas
conseqüências: deus sou eu; nada mais existe
além de mim; só eu conto, independentemente de qualquer
outro ser, regra ou autoridade. E o Consitório afirma:
“A fragmentação em mais de dez mil movimentos religiosos
é também fruto do demônio, embora as pessoas não notem isso”.
Diabolos significa aquele que divide.
O problema é muito sério e de conseqüências
práticas chamativas. Por exemplo, na América Latina, a cada
dia que passa, entre seis a oito mil católicos abandonaram a
Igreja católica para aderirem às seitas. É claro que a
autoridade eclesiástica se preocupou com a situação.
Em
proporção aos seus habitantes, à Itália é o país que
tem o maior número de Testemunha de Jeová, seita das
mais recentes, que tem uma doutrina e faz profecias sem pés
nem cabeça. Mas foram difundidas devido à ignorância dos
italianos em matéria de religião e, sobretudo, de cultura
bíblica; devido à insistência asfixiante dos seus métodos de
conversão; devido ao tom apocalíptico utilizado, embora
periodicamente desmentido pelos fatos: anunciaram que o fim
do mundo ocorreria em 1874 – ainda mal tinham nascido como
grupo; adiaram a data para 1914; como também nesse ano nada
aconteceu, adiaram para 1925, outro ano em que não se deu o
fim do mundo; foi então que anunciaram nova data para 1975
e, depois, 1986. Não obstante as minhas banais contradições,
o movimento difundiu-se pelo mundo e continua a crescer.
As pessoas vivem inquietas, num mundo
que mete medo porque é privado de qualquer garantia de
segurança. As pessoas vivem problemas de todos os tipos;
onde podem encontrar respostas? Os padres não as ouvem.
Preferem ir aos magos, aos cartomantes, aos adivinhos, aos
curandeiros, aos videntes. Ou, então, mudam-se para as
religiões orientais; ou dedicam-se ao ocultismo propriamente
dito.
As pessoas vivem pressionadas pelos seus próprios problemas,
que deu um modo ou de outro é preciso resolver. Encontram
alguém que as ouvem, alguém que demonstra compreensão; e é
deste modo que entram para uma seita. Para um cristão entrar
numa seita significa procurar a verdade fora do único
Salvador; significa procurar a verdade fora do único Mestre.
Por vezes, significa querer dominar o futuro, o além, a vida
mortal, seguindo o caminho indicado pelos ocultistas.
O documento dos quatro dicastérios do Vaticano tem
a característica de olhar para as seitas com respeito;
considero-as um “desafio pastoral”, ou seja, ocasião de
exame de consciência, para ver que auxílios as seitas
prometem ou oferecem, e nós, pelo contrário, não oferecemos;
o que é que as pessoas procuram e encontram nas seitas, já
não encontrando na Igreja aquilo de que necessitam.
A
sondagem preparatória, de abrangência mundial, acentua os
aspectos que as pessoas procuram nas seitas: amor,
comunidade, comunicação, amizade, afeto, fraternidade,
auxílio, diálogo, compreensão, participação, segurança,
proteção. Surge uma pergunta espontânea: a comunidade
paroquial tradicional oferece tudo isto? E ainda nos
admiramos com o abandono, de fato?
O documento considera também outros aspectos
importantes, de origem evangélica certa, de auxílio às
pessoas. Refere-se à possessão diabólica, mais insiste,
sobretudo, na cura: as pessoas querem ser curadas no corpo.
O Evangelho afirma claramente: “uma grande multidão de
pessoas (...) tinha vindo para ouvi-lo e ser curada das suas
enfermidades” (Lc 6,17).
Nós
nos tornamos, por demasiado, espiritualistas no sentido
errado. O homem é alma e corpo. É por isso que
o ministério de cura e libertação está bem fundamentado nas
palavras do Senhor, que deu este poder aos Apóstolos, depois
aos discípulos e, por fim, estendeu-o a todos os que
acreditam nEle: “Estes milagres acompanharão os que
crerem (homens ou mulheres, jovens e velhos; o único
requisito é a fé): imporão as mãos aos enfermos e eles
ficarão curados” (Mc 16, 17-18).
É claro que estas palavras não contrastam, mas
devem ser harmonizadas com todos os outros ensinamentos
evangélicos sobre o valor do sofrimento, da necessidade de
pegar na própria cruz para poder seguir o Mestre; a fé
valoriza o sofrimento, digo mesmo, que só a fé dá
plena explicação ao maior problema do homem, que é a
presença do sofrimento no mundo.
Completar “o que falta aos sofrimentos de Cristo”, como se
expressa Paulo (cl 1-24), é uma contribuição que todos devem
dar em função da Salvação. Mas este fato não deve nos fazer
esquecer o desejo natural de sermos curados, o poder de
Cristo sobre o mal e a ininterrupta série de milagres que a
história da Igreja nos apresenta: pensemos também nas
beatificações e canonizações de santos, que exigem sempre a
presença de um milagre minuciosamente verificado.
Não é de se espantar, portanto, a insistência do
documento do Vaticano: “Atenção especial deve ser prestada
ao ministério da cura (...). A nossa pastoral não deve ser
unidimensional; não deve estender-se apenas à dimensão
espiritual, mas também à dimensão física, psicológica,
social, cultural, econômica e política”.
Pensemos também, independentemente dos milagres de
cura, na imensa contribuição dada pelos homens da Igreja
para a cura dos doentes e na fundação de hospitais.
Vários Sínodos diocesanos foram concluídos com uma
escolha, uma declaração que tem um propósito: a escolha dos
pobres. Também foi a escolha da Conferência Episcopal
Italiana, no documento La Chiesa italiana e lê preospettive
del Paese ( A igreja italiana e as perspectivas do País), em
23 de outubro de 1981.
Certamente que deram origem a iniciativas louváveis. Mas
também receio a retórica, quando vejo, no meu serviço de
exorcista, tantas pessoas que não são compreendidas, nem
mesmo pelos familiares, nem pelos médicos, nem pelos
sacerdotes, e não sabem a quem se dirigir.
Gostaria que em todas as Igrejas se repetisse a oração dos
primeiros cristãos: “Senhor, olhai para as suas
ameaças e concedei aos vossos servos que com todo o
desassombro anunciem a vossa palavra. Estendei a vossa mão
para que se realizem curas, milagres e prodígios pelo nome
de Jesus, vosso santo servo!” (At 4,29-30).
Há também um outro tema no documento do Vaticano
que mereceria uma dissertação à parte: os carismas, o papel
profético e carismático das pessoas. Que grande regresso às
origens genuínas! Até o passado recente, ensinava-se que há
a Igreja docente (o Papa e os bispos) e a Igreja discente
(todos os outros), que nada tem a dizer e tudo tem a
aprender.
Mas
não era assim na Igreja dos Apóstolos, ensinada por São
Paulo quando fala dos carismas (e que põe, na hierarquia dos
carismas, os pastores em quarto lugar, quando não chega
palavra, mas não a única palavra); e também não é assim na
Igreja apresentada pelo Vaticano II, se lermos o nº 12 da
Lúmen gentium e o nº 3 da Apsotolicam actuositatem.
Também não há dúvida de que uma maior valorização das
pessoas em termos individuais, especialmente das mulheres,
contribuiu para a expansão dos novos movimentos religiosos
ou mágicos.
A
nova religiosidade
É uma
expressão que está na moda. Foi escolhida para indicar
aquelas pessoas que se consideram cristãs, mesmo aceitando
idéias teológicas ou morais incompatíveis com o
cristianismo.
Um dos
italianos é o de acreditar na reencarnação,
crença totalmente incompatível com a ressurreição e,
portanto, com a fé cristã. Ou então: freqüentar
sessões de espiritismo, magos, cartomantes e outras coisas
parecidas. Entre as formas de superstição, também
englobo quem corre atrás de presumíveis aparições,
revelações privadas, pretensiosos carismáticos. Todas estas
formas sempre são acompanhadas por uma total ignorância da
Bíblia, da doutrina cristã, dos ensinamentos da Igreja.
Já não se acredita no Deus único, no único Salvador, no
único Mestre. Quer se conciliar tudo. Todas as
religiões são iguais.
No que respeita o comportamento moral, considera
legítimo o divórcio, o aborto, as relações sexuais antes do
Matrimônio. Mais grave ainda é freqüentar ambientes ou
pessoas totalmente contrárias ao cristianismo: grupos de
religiões orientais, pessoas como Sai Baba, que considero o
filho primogênito de Satanás.
É
inútil dizer que só a nova evangelização, ou seja, só um
sério aprofundamento do cristianismo pode remediar estes
freqüentíssimos casos de nova religiosidade.
É talvez o ponto culminante da aberração humana e
do afastamento do homem em relação a Deus, seu Criador: dEle
nascemos, pra Ele voltaremos.
Uma primeira afirmação: o satanismo existe na sua
horrenda realidade. Não é necessário a confirmação dos meios
de comunicação, que o reduzem à esfera do sensacionalismo e
ora o apresentam assustador, ora dramático, ora ridículo:
apenas se interessam em dar espetáculo.
Satanás existe e o satanismo também, mas foi vencido por
Cristo, que veio precisamente para destruir as obras de
Satanás. Se o satanismo existe, vamos olhá-lo de frente.
Costuma se apresentar sob duas forma.
1- o Satanismo impessoal. Para muitas
correntes de pensamento, ultimamente para a New Age, Satanás
não é uma pessoa, mas indica ser o homem contra Deus, contra
a moral, contra qualquer autoridade, contra qualquer freio
ou limite à vontade própria e ao prazer. Podemos expressá-lo
da seguinte maneira: eu sou deus, eu sou o absoluto,
livre e independente de qualquer lei ou vínculo.
É desta maneira que se expressa grande parte do
rock satânico nas suas mensagens subliminares. E que a
inspiração é satânica não restam dúvidas; onde Satanás está
mais presente é precisamente lá, onde é negado. Efeito:
destruição total. Perceba que este é o resultado final do
ocultismo: o homem passa a viver sem leis, sem freios, sem
controle, sentindo-se patrão absoluto e dominador das leis
naturais, dos poderes cósmicos, fora do espaço e do tempo.
2- Satanás visto como aquele que se opõe a
Deus. Este é um segundo aspecto bastante mais difundido,
desde sempre (por exemplo, o culto da Shiva, na Índia, é um
culto satânico). Satanás pretende ser mais forte do que Deus
e dar ao homem a sua felicidade, apresentando a ele o fruto
proibido.
Mas para isso exige um culto, sacerdotes,
consagrados, sacrifícios. O leitor já deve ter, pelo menos,
ouvido falar de missas negras, de profanação de tabernáculos,
de profanação de cemitérios. São raras na Itália as formas
de culto com sangue com estupro e vítimas humanas (mas são
tantas as moças que desaparecem, especialmente as crianças,
ou seja, aquelas que mais facilmente pode se supor que são
virgens), sinal de que cada vez mais se contentam com o
sacrifício de animais.
Na Itália existem quatro seitas satânicas bem
conhecidas, às quais podem ser acrescentados cerca de
seiscentos grupos satânicos; em geral, pouco numerosos,
muitos móveis, fáceis de desagregar e de agregar novamente
em pouco tempo.
O que oferece o satanismo? Por que
tem tanto sucesso no meio dos jovens, que buscam satisfações
imediatas, e dos não jovens, pouco realizados e desiludidos?
Oferece a satisfação das três paixões: o poder,
a riqueza e o prazer. Foi nestas três paixões que o
próprio Jesus também foi astutamente tentado. Em seguida,
apresento um exemplo que cito da revista mensal da Renovação
Carismática (Itália), de abril de 1993.
“Um jovem indagava sobre a relação que existe
entre o satanismo e o ocultismo. Perguntei o que continha em
uma pequena bolsa que ele trazia pendurada ao pescoço.
Extraiu uma pequena ampola cheia de um líquido amarelo e
acrescentou: quando encontro uma moça de quem gosto, coloco
um pouco deste líquido nas mãos, recito uma oração ao
demônio e estendo a mão a ela. Assim que me toca na mão, é
atingida pelo encanto e torna-se minha” (p.33).
Duvido muito que o malefício funcione; certamente
não funciona se a moça estiver “encouraçada”:
se viver na graça de Deus, se
rezar, se tiver um estilo de vida autenticamente cristão.
As moças não precisam ficar assustadas, nem de pensar em
deixar de dar a mão aos rapazes... Mas aquilo que realmente
me interessa, neste episodio, é a mentalidade do jovem:
a imbecilidade de se consagrar a Satanás e de
rezar para obter um favor; a estupidez de quem vende a alma
ao diabo para obter uma satisfação passageira.
Como defender-se do satanismo?
Especialmente os jovens, que muitas vezes se sentem sós,
incompreendidos e sem respostas para os seus problemas.
Repito mais uma vez, os três meios citados no início:
nova evangelização manter-se informado, saber ouvir.
Olho para o exemplo do Papa, que aceita o diálogo
direto com as multidões de jovens e que sabe arrebatar a
juventude, apresentando as respostas exigentes de Cristo, os
convites heróicos do Evangelho, com um calor e um amor que
atraem. Sem reticências, nem concessões. Não somos nós a
conquistar os jovens: é Cristo. A nossa tarefa é
apresentá-lo: “Ide, pois, ensinai todas as nações,
batizando-as (...). E eu estarei sempre convosco, até ao fim
do mundo” (Mt 28,19-20).
São palavras de esperança, de certeza. A Bíblia
não diz, em parte alguma, para termos medo do demônio; é um
disparate ter medo de um derrotado, de um derrotado por
Cristo. A Bíblia diz que devemos temer o pecado,
temer quem pode matar a alma. É tão forte a
frase se São João: “Sabemos que nasceu de Deus não
peca; mas o que é gerado de deus se acautela, e o Maligno
não o toca” (1Jo 5,18).
É importante recordar que o satanismo,
infelizmente, está em grande crescimento em todo o mundo,
especialmente entre os jovens, sobre os quais tem enorme
influência certas músicas de rock, ou entre as crianças,
para as quais são utilizados tantos meios que parecem
inocentes, tais como desenhos animados, jogos, cromos.
Está na hora de os sacerdotes, educadores e pais
abrirem os olhos. Apesar de já terem sido descobertos muitos
delitos, nos Estados Unidos o satanismo é considerado
legítimo como qualquer outra religião. É um verdadeiro
absurdo; é como dizer que, numa democracia, todos os
movimentos têm o direito de existir, até aqueles que
promovem a ditadura, ou seja, a destruição da democracia.
Para quem quiser aprofundar a verdadeira realidade
da democracia. Para quem quiser aprofundar a verdadeira
realidade do satanismo contemporâneo, aconselhamos a
mensagem do filme L’adorazione del diavolo (A adoração do
diabo), da Ed. Dehoniane, Roma. Como avisa o editor, o filme
tem imagens e informações horripilantes (isto é dito para
alertar as pessoas que querem ver o filme); mas a realidade
é assim, e ainda pior.
Aos exorcistas presentes na reunião internacional
de 1994, em Roma, foram dadas informações ainda mais
assustadoras por parte de psiquiatras e exorcistas
americanos, em particular, a respeito da tortura de
crianças. Naturalmente que também foi falado sobre tudo
aquilo que o exorcista pode fazer para
libertar da influência maléfica ou da possessão.
Fonte: Extraído do Livro
"Exorcistas e Psiquiatras" - Pe. Gabriele Amorth - Ed.
Palavra & Prece.