AS
PRIMEIRAS BÊNÇÃOS
Convém
empregar uma linguagem eufêmica com este tipo de pacientes.
Aos exorcismos chamo sempre bênção; às presenças do
Maligno, uma vez estabelecidas, chamo negatividades.
O fato das orações serem em latim constitui uma vantagem,
porque não se deve utilizar uma linguagem alarmista que
poderia ser contraproducente, criando sugestões
enganadoras. Algumas pessoas têm a mania que têm o
demônio; quase que podemos estar certos que não têm nada.
Para o seu espírito confuso, o fato de ser exorcizado, pode
tornar-se a prova segura de que têm um demônio; então já
ninguém vai ser capaz de lhe arrancar esta idéia da cabeça.
Quando eu ainda não conheço bem as pessoas, insisto em dizer
que dou uma benção, mesmo que faça um exorcismo; muitas
vezes, dou apenas a bênção do Ritual para os doentes.
O Sacramental completo
compreende longas orações de introdução seguidas de três
verdadeiros e específicos exorcismos: são diferentes,
complementares e seguem uma sucessão lógica até à
libertação. Pouco me importa a época em que foram
estabelecidos (1614); eles são, indubitavelmente,
fruto duma experiência direta muito longa.
Aqueles que as redigiram, experimentaram-nas bem,
avaliando as repercussões que cada frase exercia sobre as
pessoas endemoninhadas. Ressalve-se, no entanto, algumas
pequenas lacunas que o Pe. Cândido se apressou a preencher;
e eu com ele. Falta por exemplo uma invocação mariana.
Nós juntamo-la em cada um dos três exorcismos, servindo-nos
das palavras usadas no exorcismo de Leão XIII; mas trata-se
apenas de pormenores uma vez que já vêm pelo menos do séc.
IX ou X.
Já
disse que o exorcismo pode durar poucos minutos ou várias
horas.
Quando
se exorciza uma pessoa pela primeira vez, mesmo que seja
notório desde o início que ela apresenta negatividades, é
melhor ser-se breve: uma oração de introdução e um dos três
exorcismos; eu escolho geralmente o primeiro que dá também a
oportunidade de ministrar a Santa-Unção.
O
Ritual não fala disso, como não fala de muitas outras coisas
que nós mencionaremos, mas a experiência ensinou-os
(inspirando-nos na unção que se faz no Rito do Batismo), que
é muito eficaz o uso do óleo dos catecúmenos, pronunciando
estas palavras: “Sit nominis tui signo famulus tuus munitus”.
O
demônio tenta esconder-se, não ser descoberto, para evitar
ser expulso. Por isso pode acontecer que nas primeiras
vezes, manifeste muito pouco ou nada a sua presença. Mas
depois, com a continuação, a força dos exorcismos
obriga-o a pôr-se a descoberto. Existem diferentes
meios de provocar, a unção é um deles.
O
Ritual não especifica a posição que o exorcista deve adotar:
alguns ficam de pé, outras à sua esquerda ou então, atrás. O
Ritual preconiza simplesmente que, a partir da frase:”Ecce
crucem Domini” o sacerdote deve colocar uma parte da estola
no pescoço do paciente e colocar a mão direita sobre a sua
cabeça.
Observamos que o demônio é extremamente sensível aos
estímulos dos 5 sentidos (“é por aí que eu entro”
disse-me um uma vez) e, sobretudo pelos olhos. Por isso, o
Pe. Cândido, os seus alunos e eu, temos o hábito de colocar
dois dedos levemente sobre os olhos da pessoa e levantar as
pálpebras em determinados momentos da oração.
No
caso de presença maléfica, os olhos quase sempre estão
completamente revirados; distingue-se, logo; às vezes, é
necessária a ajuda da outra mão para saber para que lado
estão as pupilas: se para cima se para baixo.
A
posição das pupilas é significativa no que se refere ao
gênero de demônios, e aos distúrbios com que se é
confrontado. Em muitos interrogatórios os demônios são
classificados segundo uma dupla divisão inspirada no
capítulo 9 do Apocalipse: se as pupilas estão para cima,
trata-se de escorpiões, se estão para baixo, trata-se de
serpentes.
Os
escorpiões têm por chefe lúcifer (nome extra-bíblico, mas
profundamente enraizado na tradição), e as serpentes têm por
chefe satanás que dá ordens também a lúcifer (contudo
poderia ser o mesmo demônio) e a todos os demônios.
Gostaria de frisar que na Bíblia a palavra “diabo” não tem
um sentido genérico como demônio, mas indica sempre e só
satanás; o outro nome de satanás é belzebu. Para
muitos, lúcifer é sinônimo de satanás. Não aprofundei a
questão. Segundo a minha experiência pessoal, trata-se de
dois demônios diferentes.
Os
demônios não gostam muito de falar:
é preciso forçá-los e só falam nos casos mais graves, isto
é, naqueles de verdadeira possessão. Por vezes mostram-se
espontâneos muito palradores: é um truque destinado a
distrair o exorcista para o impedir de conseguir a
concentração necessária e também para não responderem às
perguntas necessárias quando são interrogados.
Na
altura do interrogatório é muito importante restringir-se às
regras do Ritual: não fazer perguntas inúteis ou de simples
curiosidade, mas perguntar o nome, se há outros demônios e,
em caso afirmativo: quantos, quando e como é que o Maligno
entrou nesse corpo e quando é que sairá. Se a presença
do demônio tem origem num malefício, pergunta-se em
que moldes é que esse malefício foi feito. Se a pessoa
comeu ou bebeu substâncias maléficas, deve vomitá-las.
Se algum bruxedo foi escondido, é preciso fazê-lo dizer
onde se encontra para o queimar, tomando as devidas
precauções.
Durante o desenrolar dos exorcismos se existe uma presença
maléfica, umas vezes manifesta-se aos poucos outras, em
explosões bruscas. O exorcista vai avaliando a força e a
gravidade do mal: se se trata de uma possessão, de uma
vexação ou de uma obsessão; se o mal é de fraca amplitude ou
está profundamente enraizado.
É
difícil encontrar os textos que forneçam explicações claras
acerca desta matéria. Pessoalmente utilizo o seguinte
critério: se uma pessoa, no decorrer dos exorcismos (note-se
que é este o momento em que o demônio é mais forçado a sair
a descoberto, constrangido pela força do exorcismo; embora
possa também atacar a pessoa noutras ocasiões mas,
geralmente, de modo menos grave); dizia eu, se a pessoa
entra completamente em transe, de modo que, quando fala, é o
demônio que se exprime através da boca dela, se quando ela
se debate é o demônio que se serve dos seus membros e no fim
do exorcismo, ela não se lembra de nada do que aconteceu,
então trata-se de uma possessão diabólica,
isto é, a pessoa alberga um demônio que age de vez em quando
com os membros dela.
Por
outro lado, se um indivíduo durante os exorcismos apresenta
certas reações que revelam um ataque demoníaco, não perde
completamente o conhecimento e no fim se lembra, mesmo que
seja vagamente, do que fez ou ouviu, trata-se então de uma
vexação diabólica: não é um diabo que se
estabeleceu de forma permanente dentro do corpo da pessoa,
mas é um diabo que de tempos a tempos a assalta e provoca
nela distúrbios físicos e psíquicos. No entanto, as coisas
nem sempre se passam assim.
Não me
alongarei sobre a terceira forma (além da possessão e da
vexação) que é a obsessão diabólica, que se
manifesta por pensamentos obsessivos, invencíveis, que
atormentam, sobretudo durante a noite, mas muitas vezes
atormentam também de forma permanente. Tenhamos em conta que
o tratamento é o mesmo em todos os casos: oração,
sacramentos, jejum, vida cristã, caridade e exorcismos.
Prefiro mencionar alguns distúrbios de caráter geral que
possam ser indício de uma causa maléfica, mesmo que não seja
sempre esse o caso: não são suficientes para determinar um
diagnóstico, mas podem ajudar a formulá-lo.
As negatividades,
isto é, os demônios, têm tendência a atacar o homem em cinco
pontos, de modo mais ou menos grave, segundo a gravidade da
causa: ao nível da saúde, da vida afetiva, dos
negócios, do gosto de viver e do desejo de morrer.
Ao nível da saúde:
O
maligno tem o poder de causar distúrbios físicos e
psíquicos. Já fiz alusão aos dois mil males mais
vulgares que afetam a cabeça e o estômago.
Trata-se geralmente de males estáveis. Outros são
passageiros e muitas vezes só se manifestam durante o
exorcismo (arrotos, arremessos, convulsões...).
O
Ritual sugere fazer o sinal da cruz sobre ele e aspergi-los
com água benta; pude também verificar muitas vezes a
eficácia de os cobrir simplesmente com a estola e impor as
mãos. Já recebi muitas vezes mulheres aflitas com a idéia de
em breve serem operadas de cistos nos ovários: pelo menos
era o diagnóstico preconizado em vista das dores e das
ecografias.
Depois
da benção as dores cessavam; uma nova ecografia já não
revelava nenhum cisto e não se falava mais em operação. Ao
Pe. Cândido surgiram-lhe pessoas com doenças graves que
desapareceram depois das suas bênçãos, até tumores na
cabeça, cuja existência já tinha sido confirmada pelos
médicos.
Evidentemente que isto só acontece a pessoas que têm
negatividades e em relação às quais há razões para se
suspeitar que o mal proviesse do Maligno.
Ao nível da vida afetiva:
O
Maligno pode provocar um estado de irritação
incontrolável, sobretudo contra as pessoas a quem
mais se ama. Assim, ele desfaz casamentos, rompe noivados,
provoca discussões acompanhadas de urros e gritaria no seio
de famílias em que realmente todos se querem bem uns aos
outros; e isto sempre por motivos fúteis.
Ele
destrói as amizades; dá a impressão, à pessoa visada, de já
não ser bem aceite em parte nenhuma, que as pessoas a evitam
e que deve isolar-se de toda a gente. Incompreensão,
ausência do amor, completo vazio afetivo; impossibilidade de
se casar.
O caso
seguinte é também extremamente freqüente: cada vez que se
inicia uma relação de amizade susceptível de se transformar
num caso amoroso, ou mesmo quando alguém se declarou
abertamente, tudo desaparece bruscamente como o fumo, sem
razão alguma.
Ao nível dos negócios:
Impossibilidade de encontrar trabalho, mesmo quando se tem
quase a certeza de ter vaga, não encontram motivos ou são
absurdos; ou então, as pessoas que encontram efetivamente um
trabalho, abandonam-no em seguida por razões estúpidas, e,
quando lhes surge outra oportunidade, não comparecem ou
deixam igualmente esse emprego com uma facilidade que parece
aos familiares uma inconsciência ou anormalidade.
Conheci famílias abastadas que caíram na maior miséria por
motivos humanamente inexplicáveis. Foi o caso, por exemplo
de importantes industriais, cujos negócios começaram súbita
e inexplicavelmente a andar à deriva; ou então, grandes
empresários que, de repente, começaram a fazer erros crassos
que lhes causaram um montão de dívidas; ou ainda
comerciantes que geriam armazéns muito afreguesados, que sem
mais nem menos, começaram a ver as suas lojas desertas.
Em
resumo, foram casos que aconteceram relacionados com a
impossibilidade de encontrar qualquer espécie de trabalho ou
com o fato de passar de uma situação econômica normal para
uma situação de miséria, dum trabalho intenso à inatividade.
E sempre sem razões válidas.
Ao nível do gosto de viver:
Parece
lógico que os problemas físicos, o isolamento afetivo e as
dificuldades econômicas originem um tal pessimismo que não
se consegue ver senão o lado negativo da vida. Subvém,
então, uma espécie de incapacidade para o otimismo ou pelo
menos, para a esperança; a vida parece completamente negra,
sem possibilidade de se fazerem projetos, insuportável.
Ao nível do desejo de morrer:
É o objetivo final do Maligno:
conduzir ao desespero e ao suicídio. E devo
especificar que, quando alguém se põe sob a proteção da
Igreja mesmo por uma única bênção, este ponto é eliminado. A
pessoa tem a impressão de reviver o que o Senhor disse ao
demônio a propósito de Job: “Pois que seja! Disse Javé a
satanás, podes dispor dele, mas contudo respeita a sua vida”
(Job 2,6). Poderia contar uma série de episódios em que o
Senhor salvou algumas pessoas do suicídio, por intervenção
miraculosa.
São
muitas as pessoas que, quando eu exponho estes cinco pontos,
se sentem muito tocadas, embora haja graus de gravidade
diferentes. Não me cansarei de repetir que estes casos
podem resultar duma presença maléfica, mas também podem
ter outras causas; por si só não são suficientes
para concluir que uma pessoa está infestada ou possessa do
Maligno.
Sobre
o quinto ponto, o desejo de morrer e tentativa de suicídio,
uma vez que é o aspecto mais grave, gostaria de citar pelo
menos dois exemplos.
Ocupei-me do caso de uma enfermeira diplomada que, em fase
de crise aguda e já não agüentando mais, fez um raciocínio
completamente incorreto. Devendo praticar uma transfusão,
pensou: “Eu injeto um outro grupo sanguíneo: o doente
morre, vou presa e assim refugio-me na prisão”. Pôs
o seu projeto em prática, completamente segura de ter
utilizado um outro grupo sanguíneo para a transfusão.
Depois, refugiou-se no seu quarto e esperou que a viessem
prender. Mas as horas foram passando e nada. A transfusão
desenrolou-se muito bem (ignora-se como), e a enfermeira já
não pensava em mais nada senão em se arrepender da sua
estupidez.
João
Carlos, um belo jovem de 25 anos, parecia cheio de vida e em
perfeita saúde. Entretanto tinha um “hospede” que o
atormentava horrivelmente. Os exorcismos proporcionavam-lhe
um pouco de alívio, mas não o suficiente. Uma noite tentou
pôr fim à vida como já tinha tentado fazer outras vezes.
Caminhou ao longo das linhas duma importante estação de
caminho de ferro, e quando chegou a uma curva larga,
estendeu-se atravessando sobre os carris de uma das duas
linhas. Conseguiu manter-se nesta posição insuportável
durante 4 ou 5 horas porque se meteu num saco-cama de pelo.
Passaram vários comboios nos dois sentidos mas todos na
outra linha. E nenhum maquinista ou ferroviário se apercebeu
da sua presença. Isto aconteceu; é-me impossível dar uma
explicação natural.
Perguntei ao Pe. Cândido se, no decurso da sua longa
experiência, algumas pessoas a quem ele tinha dado a bênção
tinham falecido. Disse-me não ter reconhecimento senão dum
único caso que me relatou. Uma jovem de Roma, já reduzida a
um estado lamentável por causa de uma possessão completa da
parte do Maligno, tinha começado a visitá-lo para ser
exorcizada. Embora registrasse umas certas melhoras, tinha
sempre muita dificuldade em resistir a tentação do suicídio.
A mãe
um dia foi visitar o Pe. Cândido: esta mulher acreditava que
a filha estava obcecada e dirigia-lhe constantemente
acusações. Ela ouvia as explicações do Pe. Cândido, parecia
convencida mas, na realidade, não estava nada. Um dia,
quando a filha lhe falava acerca das suas contínuas
tentações de se suicidar, esta mãe indigna fez-lhe uma das
suas cenas habituais: Tu és uma obcecada, não fazes nada de
jeito nem sequer te sabes matar.
Tenta
então a ver se és capaz! E ao dizer estas palavras abriu a
janela de par em par. A jovem atirou-se e morreu com a
pancada. Este é o único caso de suicídio que o Pe. Cândido
tem a lamentar com um dos seus pacientes. Mas é mais que
evidente a culpa da mãe, que já tinha culpas anteriores pelo
estado em que a filha se encontrava.
Antes
falamos da duração dos exorcismos e da impossibilidade de
prever o tempo necessário a obtenção da libertação. A
colaboração ativa da pessoa é essencial mas, por vezes,
apesar disso, só se obtêm melhoras e não cura. O Pe. Cândido
um dia estava a exorcizar um rapaz grande e forte, daqueles
que fazem suar um exorcista porque requerem também um enorme
esforço físico. Por vezes tem-se a impressão de travar uma
luta a valer.
Desde
o início a adolescente tinha dito ao Pe.: não sei se é boa
idéia exorcizar-me hoje, tenho a impressão de que o vou
magoar. Com efeito, travou-se um verdadeiro combate, sem que
se pudesse prever quem iria vencer. Depois, de repente, o
jovem caiu seguido pouco depois pelo Pe. Cândido que caiu
por cima dele. Disse-me sorrindo: Se alguém tivesse entrado
naquele momento não teria percebido qual de nós os dois é
que era o exorcista ou o possesso.
O
padre recompôs-se e pôs termo ao exorcismo. Alguns dias
depois o Pe. Pio mandou-lhe dizer: Não desperdice o seu
tempo e as suas forças com esse rapaz. É trabalho perdido.
Graças a sua intuição que vinha do alto. O Pe. Pio
compreendeu que não se poderia conseguir nada neste caso.
E os fatos confirmaram as suas palavras.
Gostaria de chamar a atenção para o seguinte: a
possessão diabólica não é um mal contagioso, nem
para a família, nem para os que assistem, nem para os
lugares onde os exorcismos são praticados. É importante
sublinhar isto porque nós, os exorcistas, deparamo-nos
muitas vezes com dificuldades quando precisamos de encontrar
locais onde possamos administrar este sacramental.
E
grande número de recusas derivam precisamente deste medo que
o local fique infestado. É necessário que os padres saibam
que a presença dos possessos e os exorcismos realizados
sobre uma pessoa não deixam a menor conseqüência nos locais
nem nas pessoas que os habitam. Pelo contrário é o pecado
que devemos recear; um pecador endurecido, um blasfemador
pode destruir a sua família, o ambiente de trabalho e os
locais que freqüenta.
Vou
agora relatar vários casos que não figuram entre os
acontecimentos mais espetaculares que sucederam comigo, mas
entre os típicos mais comuns.
1-
Uma adolescente de 16 anos, Ana Maria estava inquieta porque
já há algum tempo que estava a falhar nos seus estudos (contudo
antes nunca tinha encontrado nenhuma dificuldade) e em
casa ouvia barulhos estranhos. Veio procurar-me acompanhada
dos pais e da irmã. Dei-lhe a benção e notei um pequeno
sinal de negatividade. Enquanto eu colocava as
mãos na sua cabeça, ela emitiu um grande urro e deslizou da
cadeira onde estava sentada para o chão.
Mandei
sair as duas irmãs e continuei o exorcismo, ficando o pai a
assistir; notei uma negatividade ainda muito maior nela do
que na filha. Para Ana Maria foram suficientes três bênçãos;
era um caso ligeiro e foi imediatamente resolvido. Quanto a
mãe, durou vários meses, ao ritmo de uma benção por
semana, e ficou completamente curada e bem mais depressa
do que deixavam prever as reações manifestadas durante a
primeira benção.
2-
Joana, uma senhora com cerca de 30 anos, mãe de 3 filhos,
foi-me enviada pelo seu confessor. Sofria de dores de
cabeça, de estomago e de desmaios. Segundo os médicos ela
estava de perfeita saúde. O mal foi-se embora pouco a pouco;
era devido a presença de três demônios, cada um tendo
penetrado nela respectivamente após três malefícios feitos
em três etapas diferentes da sua existência.
O
malefício mais forte tinha-lhe sido feito por uma jovem que,
antes do casamento da Joana, desejava profundamente casar
com o noivo dela. Joana fazia parte de uma família de
intensa oração, o que facilitou os exorcismos; dois demônios
saíram rapidamente, no entanto, o terceiro resistiu mais.
Foram precisos quase três anos de bênçãos ao ritmo de uma
por semana.
3-
Recebi um dia a visita de Marcela, uma jovem muito loura de
19 anos, com um ar descarado. Sofria de dores lancinantes no
estômago e tinha um comportamento que não conseguia dominar
nem em casa, nem no trabalho: dava respostas ofensivas,
ásperas, sem se conseguir segurar. Para os médicos ela
não tinha nada.
Quando
lhe pus as mãos sobre as pálpebras, no início da benção,
ficou com os olhos totalmente revirados, com as pupilas
apenas visíveis viradas para baixo, e deu uma gargalhada
irônica. Só tive tempo de pensar que se tratava de satanás,
quando ouvi dizer: sou satanás! Voltando a dar uma
gargalhada. Marcela intensificou progressivamente a
sua vida de oração, comungou com constância, rezou
diariamente o terço e confessou-se todas as semanas
(a confissão é muito mais
forte que um exorcismo).
O seu estado melhorou progressivamente, excetuando algumas
pequenas recaídas que se verificaram quando diminuía um
pouco o seu ritmo de oração; curou-se ao fim de dois anos.
4-
José, 28 anos foi visitar-me com a mãe e a irmã. Percebi
logo que só tinha vindo para fazer a vontade aos seus
familiares. Cheirava a tabaco que empestava; drogava-se,
passava droga e blasfemava. Inútil falar de oração e
de sacramentos! Esforcei-me por levá-lo a aceitar a
minha benção de boa vontade.
Mas
passados breves momentos, o demônio manifestou-se
imediatamente com violência e eu não insisti. Quando
eu disse ao José o que é que ele tinha, respondeu-me: Já
sabia e estou contente assim; sinto-me bem com o demônio.
Não o
voltei a ver.
5-
Quando a irmã Ângela me veio visitar, ainda era muito jovem,
mas já se encontrava num estado deplorável: já quase
não conseguia falar e muito menos rezar. Sofria
manifestamente em todo o seu corpo, não havia uma única
parte que não demonstrasse sofrimento. As blasfêmias não
paravam de lhe acudir a cabeça e ouvia muitas vezes ruídos
estranhos que as outras religiosas também sentiam.
A maldição
(e por certo a bruxaria) dum padre indigno,
estava na origem de todos estes problemas; a Irmã
Ângela oferecia cada um dos seus sofrimentos pela sua
congregação. Depois de inúmeras bênçãos, que lhe trouxeram
um certo alívio, foi transferida para uma outra cidade.
Espero que ela tenha encontrado um outro exorcista para
prosseguir esta obra de libertação.
6-
Entre os casos horríveis de malefícios feitos a uma família
inteira, vou relatar um.
O pai,
comerciante até ali, cheio de êxito, deixou subitamente de
receber encomendas por razoes inexplicáveis. Os armazéns
estavam cheios de mercadorias, mas os clientes tinham
desaparecido. Uma vez conseguiu colocar um certo número dos
seus produtos mas o caminhão encarregado de retirar a
mercadoria sofreu várias avarias sem conseguir chegar ao
destino, o que ocasionou que o contrato fosse anulado.
Outra
ocasião depois de ter tido imensa dificuldade em concluir
uma venda, o caminhão chegou mas ninguém foi capaz de abrir
o portão de ferro do armazém: este negócio também se
esfumou.
Na
mesma altura, uma das suas filhas, casada, foi abandonada
pelo marido; o noivo da outra filha, nas vésperas do
casamento, quando os preparativos de casa estavam
terminados, deixou-a sem dar qualquer explicação. Não
falando dos problemas de saúde e dos barulhos que se ouviam
na casa, como acontece quase sempre em casos semelhantes.
Parecia não se saber por onde começar.
Além das recomendações habituais referentes a
oração, a freqüência dos sacramentos e a uma vida cristã
vivida de forma coerente, comecei também a abençoar todos os
membros da família. Em seguida exorcizei e
celebrei missa na casa e nos locais de trabalho do pai. Os
efeitos começaram a manifestar-se ao fim de um ano, e
continuaram gradualmente, embora devagar. Que provas
duras para a fé e a perseverança!
7-
Antônia, 20 anos, veio ter comigo acompanhada pelo pai,
pasteleiro. Mais ou menos ao mesmo tempo em que a jovem
tinha assumido o aspecto duma vidente (ouvia vozes
estranhas, não conseguia dormir nem trabalhar) o pai
começou a sofrer de dores de estômago que tanto os
médicos como os medicamentos se mostravam incapazes de
acalmar.
Quando
dei benção a filha, vi que se tratava de uma ligeira
negatividade; disse-lhe que, em princípio, algumas
bênçãos seriam suficientes para a cura. Ao contrário,
quando dei a benção ao pai, este entrou em transe,
ficando completamente mudo e sem manifestar a mais pequena
agitação. Por outro lado percebi que ele não tinha dado
conta de nada. Recomendei a filha que não dissesse nada ao
pai do que se tinha passado para não o assustar, mas que
voltassem os dois.
Ao
voltar a casa, ela não foi capaz de se calar e contou tudo;
o pai, apavorado com a idéia de ter entrado em transe,
foi procurar um bruxo. Sei pela pessoa que os
mandou vir ter comigo que os dois estão mal mas nunca mais
me procuraram.
Não
são os únicos a agir desta forma; soube de outras pessoas
que, desencorajadas pela lentidão da cura,
se voltaram para bruxos, mas com péssimas conseqüências.
Deus criou-nos livres. Somos igualmente livres de nos
destruirmos.
Concluindo este capítulo, tenho que precisar um fato: cada
exorcista tem a sua experiência que por vezes é irrepetível,
e pode acontecer que não tenham tido conhecimento do que
tivesse acontecido a outros exorcistas.
Não me
custa a crer que alguns exorcistas tenham ficado admirados,
sobretudo com o que expus na primeira parte: acerca da
posição dos olhos, das dores de cabeça ou de estomago;
poderia ter reportado outros fatos que me acontecem
constantemente. São reações para as quais sempre ou
quase sempre o Pe. Cândido me alertou e que continuam a
repetir-se com os seus alunos. São
verdadeiras, mesmo que não tenham sido experimentadas por
outros exorcistas.
Penso
que se deve ter em conta, com muito respeito os diversos
métodos e as diversas experiências. Não fica diminuída a
verdade de um fato, ou de um tipo de reação, ou a eficácia
de um método, ainda que se trate de uma particularidade
legada a um determinado exorcista e não verificada por
outros.
Fonte: Extraído do Livro "Um
Exorcista Conta-nos" - Pe. Gabriele Amorth - Ed. Paulinas.