O QUE É
O
MALEFÍCIO?
Falamos já do malefício como sendo um
fenômeno pelo qual uma pessoa inocente pode ser incomodada
pelo demônio. Sendo este caso o mais vulgar, convém
tratá-lo a parte. Esforçar-me-ei igualmente por precisar os
termos usados; não existe terminologia universalmente
aceita: cada autor deve, portanto precisar o sentido que dá
às palavras.
Para mim a palavra malefício é um
termo genérico. Designa normalmente o fato de
prejudicar outras pessoas através da intervenção do demônio.
É uma definição exata que, no entanto não especifica
de que forma é que tal mal é provocado. Daí as
confusões; por isso alguns autores consideravam o
malefício como sinônimo de bruxaria ou de feitiçaria.
Penso,
pelo contrário que a bruxaria e a feitiçaria
constituem duas formas diferentes de realizar um malefício.
Sem pretender fazer um estudo exaustivo, e fundamentando-me
unicamente sobre casos com que me defrontei, analisarei as
seguintes formas de malefício:
1º a
magia negra.
2º as
maldições.
3º o
mau olhado.
4º os
bruxedos (também chamados trabalhos ou despachos).
Trata-se de formas diferentes, mas não completamente
distintas, porque as interferências entre elas são inúmeras.
1º - A magia negra, a feitiçaria, os ritos satânicos que tem
o ponto culminante nas missas negras.
Reagrupo estas práticas por causa das analogias que existem
entre elas; na verdade enumerei-as por ordem de gravidade.
Tem como características comuns fazer malefício a uma
pessoa determinada por intermédio de fórmulas ou ritos, por
vezes muito complexos, invocando o demônio, mas não fazendo
uso de objetos particulares. Aquele que se dedica a
tais práticas torna-se servidor de Satanás, mas por
sua própria culpa; só nos referiremos a eles como meios para
realizar malefícios com o fim de prejudicar outras pessoas.
Já a Sagrada Escritura é muito peremptória
na proibição destas práticas as quais considera como um
renegar a Deus para se entregar ao demônio:
não haja ninguém no meio de ti que faça passar pelo fogo
(sacrifícios humanos) o seu filho ou a sua filha ou se dê a
práticas de encantamentos, ou se entregue a augúrios, a
adivinhação ou a magia, ao feiticismo, ao espiritismo, aos
sortilégios ou a invocação dos mortos. Porque o Senhor
abomina aqueles que se entregam a semelhantes práticas
(Dt 18,10-12).
Não vos dirijais nunca aos adivinhos, nem aos bruxos; para
que não vos contamineis por meio deles. Eu sou Senhor, vosso
Deus
(Lv 19,31).
Todo o homem ou mulher que evoque os espíritos ou se
entregue a adivinhação será morto; será apedrejado, merece
castigo
(Lv 20,27; cf Lv 19,26-31).
O livro do Êxodo também é muito severo: não deixarás viver
os feiticeiros
(22,17).
Também noutros povos a magia era punida com a morte.
Mesmo se nestes extratos os termos em questão foram
traduzidos de várias formas (e variam segundo as traduções),
o conteúdo é muito claro. Voltaremos a falar de magia num
capítulo posterior.
2º - As maldições.
São agouros de mal e a origem do mal está no demônio; quando
são realizados com verdadeira perfídia e existe uma ligação
de sangue entre o que maldiz e o maldito, as conseqüências
poder ser horríveis.
Os
casos mais freqüentes e mais graves que me foram dados
encontrar são as maldições dirigidas pelos pais ou avôs aos
seus filhos ou netos. Tem-se verificado que a maldição é
muito grave se se refere a sua existência ou se é feita por
ocasião de acontecimentos particulares como por exemplo no
dia do casamento. A ligação e autoridade dos pais para
com os filhos é única.
Vejamos três exemplos típicos:
1-
Acompanhei um jovem que tinha sido amaldiçoado pelo pai
desde o nascimento (claro que não suspeitava) e que
tinha sido alvo de maldições toda a sua infância e no
período em que viveu em casa dos pais.
Este
infeliz conheceu toda a espécie de adversidades:
problemas de saúde, dificuldades incríveis no setor
profissional, infelicidade no casamento, aparecimento de
doenças nos seus filhos... segundo a minha opinião, as
bênçãos trouxeram-lhe um alivio espiritual, mas não me
parece que tenhamos conseguido mais do que isso.
2-
os pais eram contra o casamento da filha com o rapaz que
ela amava; dando-se conta da inutilidade dos seus
esforços, resignaram-se e assistiram ao casamento. No dia
da celebração o pai chamou a filha sob um pretexto qualquer;
na verdade ele amaldiçoou-a desejando-lhe a ela, ao marido e
aos filhos as piores infelicidades que, efetivamente se
verificaram, apesar de intensa oração e bênçãos.
3- um dia, um senhor veio ver-me; levantando
as calças, mostrou-me as pernas terrivelmente marcadas por
uma serie de operações. Começou a contar-me como é que isso
aconteceu. O pai era muito inteligente; a mãe, sua avó
portanto, queira muito que ele fosse sacerdote mas ele não
se sentia a altura. As discussões eram de tal ordem que o
jovem teve que sair de casa; prosseguiu com sucesso os
estudos superiores, foi muito apreciado no seu trabalho,
casou-se, teve filhos, mas tudo isto depois de ter cortado
relações com a mãe que não queria voltar a vê-lo, fosse sob
que pretexto fosse. Quando um dos filhos, que era este que
me falava, fez oito anos, tiraram-lhe uma fotografia que
trazia consigo e que me mostrou: um belo rapaz com um
sorriso encantador, usando uns calções, joelhos a mostra,
meias altas, segundo a moda da época. O pai teve uma idéia
infeliz. Pensando que esta imagem iria tocar a mãe e que ela
se reconciliaria com ele, enviou-lhe a fotografia. A mãe
respondeu-lhe com estas palavras: Que as pernas desta
criança sejam para sempre amaldiçoadas e se tu alguma vez
voltares à terra, fica sabendo que morrerás na cama em que
nasceste. Tudo isso aconteceu.
O pai voltou a terra somente alguns anos depois da
morte da sua mãe; mas de repente adoeceu e foi levado
provisoriamente para a sua casa natal onde morreu nessa
mesma noite.
3º - O mau olhado.
Trata-se de um malefício feito a uma pessoa por intermédio
do olhar. A idéia de certas pessoas transmitirem malefício
ao olhar para alguém de esguelha não constitui como algumas
pessoas pensam um mau olhado; isso são histórias.
O mau olhado é um verdadeiro malefício que supõe a intenção
de prejudicar uma pessoa com intervenção do demônio.
O que tem de específico é o meio utilizado para levar a cabo
esta ação nefasta: o olhar.
Só fui
confrontado com alguns casos raros e pouco claros; quer
dizer, o efeito maléfico era claro,
embora não fosse claro nem o autor , nem como é que o meio
utilizado é suficiente, isto é, um simples olhar.
Aproveito esta ocasião para dizer que muitas vezes não se
consegue identificar o autor do malefício nem conhecer a
origem do mal. O importante é que a vítima não comece a
suspeitar desta ou daquela pessoa mas que perdoe de
todo o coração e reze por aquele que lhe fez mal, quem quer
que tenha sido.
No que diz respeito ao mau olhado, concluo dizendo
que o fenômeno em si é possível, mas que nunca encontrei
casos seguros.
4º - O bruxedo.
(também chamado trabalho ou despacho).
É de longe o meio mais empregue para fazer malefícios.
É a ação de fazer ou confeccionar um objeto com a ajuda dos
mais estranhos e variados materiais; este objeto reveste-se
assim de um valor quase simbólico: é um sinal sensível
da vontade de prejudicar e um meio oferecido a Satanás para
que imprima nele a sua força maléfica.
Diz-se muitas vezes que satanás é o macaqueador de Deus;
neste caso, podemos estabelecer a analogia com os
sacramentos, que são caracterizados por uma matéria tangível
(como por exemplo a água do Batismo) como instrumento de
graça. No caso da bruxaria, o material é
utilizado com a finalidade de prejudicar.
Existem duas formas distintas de aplicar o bruxedo
a pessoa designada: de um modo direto, que
consiste em preparar propositadamente para a vítima uma
bebida ou um alimento em que foi misturado o bruxedo. Este é
composto pelos ingredientes mais diversos: sangue de
menstruação, ossos de mortos, diversos pós geralmente negros
(queimados, órgãos de animais, - essencialmente o coração -
, ervas especiais... contudo o efeito maléfico não depende
tanto dos materiais utilizados, como da vontade de
prejudicar através da intervenção do demônio; e essa vontade
vem refletida nas fórmulas ocultas pronunciadas durante a
preparação destas misturas.
É
característico que a vítima dum tal malefício sofra quase
sempre, entre outras coisas, de dores de estômago, bem
conhecidas dos exorcistas, e que só se curam depois de se
ter libertado o estômago por meio de vômitos repetidos ou de
muita evacuação, em que são expelidas as coisas estranhas.
Outro modo que podemos chamar indireto
(utilizo aqui os termos empregues pelo Pe. La Grua no seu
livro, citado na Introdução), consiste em fazer um malefício
sobre os objetos que pertencem a pessoa designada como
vítima (fotografias, roupas ou outras coisas pessoais), ou
sobre figuras que a representam: bonecos, estatuetas,
animais, outras vezes assinalam pessoas vivas do mesmo sexo
e idade.
Trata-se de material de trespasse que é marcado com os males
correspondentes aos que se desejam infligir à pessoa em
questão. O fato de espetar espinhos na cabeça duma boneca
constitui um exemplo clássico deste rito satânico.
A
vítima sofre de dores de cabeça horríveis a propósito das
quais declara: È como se minha cabeça tivesse sido
atravessada por espinhos pungentes. Podem igualmente espetar
pregos, facas nos locais do corpo que se quer martirizar. E
a pobre vítima sente sistematicamente dores lancinantes
precisamente nesses locais.
Os
sensitivos (de que falaremos mais a frente) dizem muitas
vezes: Você tem um grande espinho que a atravessa dali até
ali e em seguida indicam o ponto exato.
Conheci casos em que as pessoas foram libertadas desses
males depois de lhe terem sido retirados espinhos longos e
estranhos, constituídos por uma matéria semelhante ao
plástico ou por madeira flexível, saídos das partes
designadas. Na maioria dos casos a libertação é acompanhada
das coisas mais diversas: fios de algodão coloridos, fitas,
pregos, fios de ferro retorcidos.
O bruxedo realizado sob a forma de amarração
merece uma explicação a parte. Neste caso, a figura
utilizada no trespasse recebe amarração especial com cabelos
ou de tiras de tecidos de diferentes cores (essencialmente
branco, negro, azul ou vermelho, consoante o tipo de mal a
infligir). Damos um exemplo: uma boneca foi ligada com crina
de cavalo, desde o pescoço até ao umbigo com a finalidade de
prejudicar o bebe de uma mulher grávida.
Esta
operação tinha por objetivo fazer nascer um ser disforme,
isto é, que não se desenvolvesse naquela parte do corpo
compreendida na amarração. As conseqüências, contudo, foram
menos graves do que se teria querido provocar. As amarrações
exercem ação especialmente sobre o desenvolvimento de várias
partes do corpo, mas sobretudo sobre o desenvolvimento
mental: algumas vítimas sentem-se incapacitadas nos seus
estudos ou no trabalho, e não podem adotar um comportamento
normal porque receberam influência de amarrações a nível do
cérebro. E os médicos tentam em vão identificar e
curar esta doença.
Também vou fazer referência breve a um outro caso
muito freqüente. A existência de bruxedos é muitas
vezes atestada pela descoberta de objetos estranhos nas
almofadas e nos colchões. Poderia descrever um nunca
mais acabar de fatos de que fui testemunha e nos quais não
teria acreditado se eu próprio não os tivesse visto.
Encontra-se de tudo: fitas coloridas atadas, mechas de
cabelo atados apertadamente, cordas cheias de nós, lã
fortemente entrançada por uma força sobre-humana, em forma
de coroa ou de animal, (especialmente ratos) ou de figuras
geométricas; ou ainda coágulos de sangue, pedaços de madeira
ou de ferro, fios de ferro enrolados, bonecas cobertas de
marcas ou de feridas, etc. Acontece que, por vezes, se
formam nos cabelos de mulheres ou de crianças nós muito
enrijados. Todos estes fenômenos não se explicam sem a
intervenção de uma mão invisível.
Também acontece, por vezes, que estes objetos
estranhos não se encontram logo depois de se terem aberto as
almofadas ou os colchões; mas depois de se aspergir com a
água exorcizada ou introduzir qualquer imagem benzida (um
crucifixo ou uma imagem da Virgem Maria, por exemplo), então
é que aparecem os objetos mais estranhos.
Antes de concluir, insisto de novo nas
recomendações feitas pelo Pe. La Grua na sua obra citada
anteriormente. Embora o que eu escrevi se fundamente
na minha experiência direta, não é necessário acreditar
ingenuamente nos malefícios, particularmente nos que são
feitos sob a forma de um feitiço. Trata-se sempre de casos
raros. Um exame atento aos fatos revela muitas vezes que
causas psíquicas, sugestões, falsos medos estão na
origem de inconvenientes lamentáveis.
Acrescentaria que,
muitas vezes, os malefícios não atingem a sua finalidade por
várias razões: porque Deus não o permite; porque a pessoa
visada está bem protegida por uma vida de oração e de união
com Deus;
porque um grande número de bruxos são incapazes ou
simples aldrabões; porque o demônio é o mesmo mentiroso
desde o principio e engana os seus próprios seguidores.
Seria
um gravíssimo erro viver no terror de receber um malefício.
Não está indicado em nenhum lugar na Bíblia que é preciso
ter medo de um demônio. Diz que devemos resistir-lhe,
ficando com a certeza de que ele fugirá de nós;
diz que devemos estar vigilantes
contra os seus ataque se sólidos na fé.
Beneficiamos da
graça de Cristo que esmagou Satanás com a Sua Cruz; temos a
intercessão de Maria Santíssima, INIMIGA de satanás
desde o início da humanidade; temos o apoio dos anjos e dos
santos. Sobretudo temos o sinal da Trindade que nos foi
impresso no Batismo. Se vivermos em comunhão com Deus, o
demônio e o inferno inteiro é que tremem diante de nós.
A não ser que lhe abramos a porta...
Uma vez que o malefício é a forma de
influencia diabólica mais clássica, enunciarei
alguns conceitos suplementares fundamentados na minha
experiência.
O malefício pode revestir várias formas em função
do seu objetivo. Pode tratar-se de um malefício de divisão
se a sua finalidade é separar esposos, noivos ou dois
amigos. Fui várias vezes confrontado com separações de
noivos sem motivos aparentes; na verdade não se voltaram a
aproximar apesar de se amarem; um dos seus pais, hostil a
idéia do casamento confessou que procurou um bruxo para os
fazer separar.
Pode-se tratar também dum malefício de amarração
(também chamado de encantamento ou de paixão) se o objetivo
é fazer com que duas pessoas se casem. Lembro-me de uma
jovem que se apaixonou pelo noivo de uma das suas amigas;
depois de esforços frustrados, recorreu a um bruxo; os
noivos separaram-se e o rapaz casou com a rapariga que tinha
encomendado o malefício. É inútil dizer que o
casamento foi um desastre: o marido que nunca tinha amado a
mulher, não teve coragem para a deixar e tinha sempre a
sensação de que o casamento lhe tinha sido imposto.
Outros malefícios são dirigidos no sentido da
doença, isto é, são feitos deforma a que a vítima esteja
sempre doente; outros visam a destruição (os chamados
malefícios de morte).
Basta que a vítima se coloque sob a proteção da Igreja, isto
é, basta que comece a receber os exorcismos, ou a rezar e a
pedir que rezem intensamente por ela, para que a morte não a
atinja.
Segui um grande número destes casos; e, como já disse,
o Senhor interveio de forma
miraculosa, ou pelo menos de forma humanamente inexplicável,
para salvar a vida destas pessoas dos perigos mortais e
especialmente das tentativas de suicídio.
Quase
sempre (eu diria mesmo sempre, pelo menos nos muitos casos
que me apareceram) a vexação diabólica, ou o
encaminhamento para a possessão, estão ligados a malefícios
de uma certa gravidade; é a razão pela qual o exorcismo é
necessário. Os malefícios feitos a uma família inteira,
eventualmente para a destruir, tem igualmente efeitos
terríveis.
O ritual, no nº 8 das regras, em primeiro
lugar põe a vítima de sobreaviso para que, em caso de
malefícios, não vá a bruxos ou a feiticeiros, ou a outras
pessoas deste gênero, que não sejam
ministros da Igreja; que não recorra a
nenhuma forma de superstição nem a outras práticas ilícitas.
A experiência prova que este conselho é
indispensável.
Os
bruxos são muitos enquanto os exorcistas são pouquíssimos.
Admira que um especialista como Mons. Corrado Balduci
aconselhe nos seus três livros que se consulte um bruxo em
caso de malefício, ainda que este seja suscetível de fazer
um outro malefício. É um erro imperdoável num
autor que se distinguiu tanto noutros assuntos das suas
obras.
Mas é
particularmente importante esta advertência porque a
tendência para recorrer aos bruxos, feiticeiros, santarrões
e similares é tão velho como o mundo.
O
progresso cultural, científico, social, não tem a mínima
influência neste hábito, que convive tranquilamente com o
nosso mundo do progresso. E estão envolvidas igualmente
todas as classes sociais, até as mais elevadas culturalmente
(engenheiros, médicos, professores, homens da política...).
No que se refere às perguntas a fazer ao
demônio, a regra nº 20 do Ritual, sugere ao exorcista que
pergunte qual a causa da presença do demônio naquele corpo
e, em particular, se é conseqüência de um malefício;
se for o caso, e se a pessoa foi vítima por ter comido ou
bebido substancias maléficas, o exorcista deve ordenar a
vítima que as vomite. Se, pelo contrário, se trata de um
objeto maléfico que foi escondido nalgum lugar fora do
corpo, o exorcista deve perguntar indicações do local,
procurar o objeto e queimá-lo.
Estas indicações são muito úteis. Na
verdade quando uma pessoa é vítima de um malefício, comendo
ou bebendo uma preparação maléfica, quase sempre sofre de
dores de estomago muito específicas, que já mencionamos
várias vezes, e que demonstram a necessidade de libertação
pela via fisiológica ou vomitando.
Nesta caso, é necessário recomendar a vítima que beba água
benta assim como óleo e sal exorcizados, a fim de favorecer
essa libertação.
Pode acontecer, como já dissemos, que certos objetos
maléficos sejam expulsos de forma misteriosa: a pessoa pode,
por exemplo notar subitamente uma dor no estômago, como se
tivesse um pedregulho e em seguida encontrar um pedregulho
no chão e a dor passa.
Pode-se igualmente encontrar fios de diversas cores,
pequenas cordas entrançadas, etc. Todos estes objetos
devem ser abençoados com água benta e queimados ao ar livre;
e as cinzas, assim como os objetos de ferro e os que não
ardem devem ser deitados em água correntes (rios, esgotos).
Não deitar nas casas de banho, porque isso traria imensos
inconvenientes, tais como entupimento de lavabos,
inundações, etc.
Em muitos casos, os objetos estranhos encontrados
nas almofadas e nos colchões, não foram descobertos através
de interrogatório feito ao demônios, mas por indicação de
carismáticos ou de sensitivos. Este discernimento foi o
motivo que deu origem a descoberta do malefício e a razão
pela qual se recorreu a um exorcista. É preciso, também
nestes casos, queimar as almofadas e os colchões no exterior
da casa; depois de os ter aspergido com água benta, as
cinzas devem ser eliminadas como atrás indicado.
É importante que, enquanto se queimam estes
objetos maléficos, se reze. Não se pode agir sem
prudência, especialmente quando os objetos que foram
submetidos a um malefício são descobertos por acaso, ou por
indicação do demônio. Para minha orientação, o Pe.
Candido contou-me um dos seus erros de juventude, ou seja,
uma imprudência que cometeu quando começou a
exorcizar.
Na altura, estava a exorcizar uma jovem, com a
ajuda de uma padre Passionista que, como ele, também
tinha recebido autorização do bispo. Ao interrogar o
demônio, descobriram que esta jovem tinha sido objeto de um
bruxedo. Deixou-os saber que este tinha sido feito
numa caixinha em madeira com cerca de 25cm de comprimento,
enterrada a profundidade de um metro junto de uma árvore,
cujo local exato lhes foi indicado.
Cheios
de zelo, foram armados de enxada e de pá para escavar no
local indicado. Encontraram a caixinha de madeira que
correspondia a descrição; abriram e examinaram o conteúdo.
Uma figura obscena no meio de outras ninharias.
Queimaram imediatamente com álcool a fim de os reduzir a
cinzas. Entretanto, não pensaram na benção antes de deitar
fogo aos objetos, também se esqueceram de rezar sem
interrupção enquanto os queimavam, invocando a proteção do
sangue de Jesus; acontece que tocaram nos objetos
várias vezes sem se lembrarem de lavar as mãos com água
benta.
A conclusão é que Pe Candido ficou 3 meses de cama, com
violentas dores de estomago, que persistiram com uma certa
força durante uma dezena de anos e que se mantiveram nos
anos seguintes. Foi uma dura lição, no entanto teve
utilidade para mim e para todos os que se vierem a encontrar
em situações semelhantes.
Depois perguntei ao Pe. Cândido se depois de todas
estas provas e sofrimentos, a jovem tinha ficado liberta.
Ele respondeu-me negativamente; a jovem não tirou
nenhum proveito disso. Isto prova que os feitiços
muitas vezes exercem todo o seu efeito sobre a pessoa no
momento em que são realizados; encontrá-los e destruí-los
não serve de nada.
Fui
confrontado com diversos casos deste tipo em que muitos anos
se passaram entre a realização do malefício e a descoberta
do bruxedo que, entretanto, já tinha completado a sua ação
maléfica; quando se encontrou e foi destruído, a sua
destruição já foi ineficaz, e já não trouxe nenhum benefício
à pessoa atingida. O
que na realidade é útil são os exorcismos as orações, os
sacramentos e os sacramentais.
Noutros casos, porém, o fato de queimar o objeto
sobre o qual foi feito o bruxedo, interrompe o malefício.
Tive a prova disso em casos de “bruxedo de morte” por
putrefação em que tinha sido enterrada carne amaldiçoada que
foi descoberta e destruída antes de se chegar a decompor.
Por vezes animais, especialmente sapos, são enterrados vivos
embora com um espaço vazio à volta. Nestes casos o malefício
também pode ser interrompido se os animais são descobertos
ainda vivos. Em todo o caso
os exorcismos, as orações, os sacramentos são sempre os
remédios fundamentais.
Nunca será demais
dizer como é importante recorrer aos meios oferecidos por
Deus e nunca aos bruxos mesmo que se
tenha a impressão de que estes meios são mais lentos em
atuar.
O Senhor nos deu a força do
Seu nome, o poder da oração (tanto pessoal
como em grupo) e a
intercessão da Igreja.
O que
acontece quando se recorre aos feiticeiros, àqueles que
dissimulam a sua ação sob a denominação equívoca da
magia branca (que é sempre um recurso ao demônio) é
que, é realizado um outro malefício para suprimir o
anteriormente feito; só serve para agravar o mal.
O Evangelho fala-nos dum demônio que sai duma alma
para voltar de novo com sete demônios piores do que ele
(Mt 12,43-45). É o que acontece quando se consultam os
bruxos.
Vamos
falar de três exemplos marcantes de situações em que várias
vezes me vi confrontado.
Primeiro exemplo. Uma pessoa começa a
sentir dores físicas. Consulta vários médicos e
experimenta vários medicamentos, mas a dor cada vez aumenta
mais, em vez de desaparecer. Não se descobre a causa.
Então vai a um bruxo ou a um cartomante, experiente em magia
que lhe diz: “Você foi vítima de um bruxedo.
Se
você quiser, eu livro-o disso. Só vou levar 10 contos”.
Depois de refletir um pouco, decide pagar. É-lhe pedida,
eventualmente, uma fotografia, uma roupa íntima, uma mecha
de cabelo. Alguns dias depois, ele está realmente curado e
satisfeito de ter gastos os 10 contos: o demônio foi-se
embora.
Depois
de um ano, reaparecem os mesmos incômodos. O pobre homem
volta a consultar toda a espécie de médicos mas os
medicamentos não lhe trazem qualquer espécie de alívio, e a
dor cada vez se torna mais forte. É o demônio que
regressa acompanhado por outros sete demônios piores do que
ele. Não agüentando mais o sofrimento, o infeliz
pensa: “Aquele bruxo fez-me pagar 10 contos, mas livrou-me
do mal”. E volta a procurá-lo sem se dar conta de que
foi por causa dele que o mal se agravou.
O bruxo diz-lhe: “Desta vez você foi alvo de um
bruxedo ainda maior. Se você quiser que o livre só o faço
por 50 contos, que é metade do que eu levaria a outra
pessoa”. E assim voltamos ao ponto de partida. Se por
acaso a vítima, por fim, se vai confiar a um exorcista, além
do pequeno incomodo inicial, agora já é preciso libertá-la
também no mal gravíssimo que lhe provocou o bruxo.
Segundo exemplo do mesmo tipo de situação.
O doente paga, é curado pelo bruxo, e fica bem. Mas em
compensação o seu mal passa para a mulher, os filhos, os
pais e os irmãos. Assim, o incomodo também é multiplicado
(ainda que seja sob a forma de ateísmo obstinado, de uma
vida de pecado, de acidentes de carro, de desgraças,
depressões...)
Terceiro exemplo. Mais uma vez, o
mesmo tipo de situação. A pessoa é curada pelo bruxo e não
volta a adoecer. Contudo, neste caso, a doença
tinha sido permitida por Deus para que a vítima expiasse os
seus pecados e voltasse a uma vida de oração e de freqüência
à Igreja e aos sacramentos. A finalidade desta doença era
obter grandes frutos espirituais para a salvação da sua
alma. Com a cura operada pela intervenção
do demônio, que conhecia bem esta finalidade, o objetivo bom
para que tinha sido enviado aquele mal, não foi atingido,
perdeu-se.
Devemos ter
claramente presente que Deus permite o mal, para daí tirar o
bem; permite a cruz, porque é unicamente através dela que
alcançamos o céu. É uma verdade
evidente que se verifica, especialmente, em pessoas dotadas
de carismas particulares, que muitas vezes são atingidas por
sofrimentos, por cuja cura não é preciso rezar.
Todos se lembram do Pe. Pio que suportou duramente cinqüenta
anos as dores lancinantes das cinco chagas; contudo ninguém
pensou em pedir ao Senhor que o libertasse desse sofrimento;
era demasiado evidente que era obra de Deus.
O demônio é esperto; e bem
gostaria que o Pe. Pio não tivesse impressos na carne os
sinais de paixão! Mas, no entanto, fica satisfeito se pelo
contrário, é ele quem provoca os estigmas e suscita falsos
místicos.
Fonte: Extraído do Livro "Um
Exorcista Conta-nos" - Pe. Gabriele Amorth - Ed. Paulinas.