A GRANDE MENTIRA DO SÉCULO: O DIABO NÃO EXISTE.
Neste
século, durante o período da chamada guerra fria, a tática
utilizada pelos serviços secretos dos diversos países
envolvidos, foi a de acima de tudo, passarem despercebidos.
Tudo
feito no maior segredo, todas as operações levadas a cabo
debaixo do maior sigilo. Os agentes secretos, usando falsas
identidades, passando por aquilo que não eram, simulando não
existirem, puderam desenvolver as suas ações, muitas das
quais ainda nem sequer tomamos conhecimento, mas de fato
foram eficazes e minaram o terreno adversário de uma forma
sub-reptícia. Se feitas às claras, rapidamente teriam sido
descobertas. Da mesma forma, os responsáveis por estas
operações secretas, sempre desmentiram qualquer envolvimento
e afirmaram de que elas nem sequer alguma vez tenham
ocorrido.
Enfim,
numa palavra, usaram a táctica de desaparecerem da
comunicação social e dos noticiários, desaparecerem do
conhecimento público, dos arquivos e dos relatórios,
desapareceram dos olhos do público, transformaram-se em
criaturas indetectáveis aos olhos daqueles que eram os seus
adversários. Só os peritos e os acostumados a estas lidas
sabiam da sua existência e os podiam detectar e identificar.
Todas estas manhas foram utilizadas pelo demônio durante
toda a história da humanidade e muito em especial neste
século. Todas as artimanhas foram utilizadas, minando
meticulosamente todo o campo a destruir.
Destruiu sem deixar rastro, e ainda por cima jogou as culpas
sobre os outros, muito em especial sobre Deus, que segundo
ele, seria um Deus distante que abandonara a criação ao seu
próprio destino, sem apelo e sem agravo.
Onde o demônio jogou mais forte e com grande sucesso, foi em
fazer crer aos homens de que não existia! De fato conseguiu
fazer crer à humanidade quase inteira, de que não existe.
Assim pôde trabalhar à vontade, sem ser detectado e destruir
tudo o que era importante para derrotar as Forças do bem e
levar à condenação o maior número de almas.
Esta, de fato, foi a grande e a maior mentira do século: O
diabo não existe!
Para além desta mentira medonha, aterradora e perigosíssima,
o diabo faz crer à humanidade de que tudo vai bem, dando a
sensação de que os problemas que enfrentamos, sempre
existiram e de que a ciência e a técnica tudo remediarão e
solucionarão.
Mas a
guerra ainda não acabou, tal como ainda não acabou o século.
E se este século foi e é de alguém, certamente o foi e é do
vencedor, pelo menos até o momento. Então, este século nunca
foi nem é o século do povo, mas sim, o século do
diabo, pois ele até o presente momento é o grande vencedor!
O diabo, durante este século venceu o povo de Deus. O povo
de Deus está desbaratado, ainda com vida mas enfraquecido.
Mas a Igreja de Cristo também está em maus lençóis, mas de
maneira nenhuma vencida. A Igreja de Cristo não está nem
nunca estará vencida. Jesus Cristo assim o prometeu na sua
vida terrena.
Como o demônio se protege,
infiltrando-se na Igreja
Católica?
Entrevista ao Pe. Gabriele Amorth no dia 6 Junho de 2001.
A fumaça de Satanás na casa do Senhor.
Passaram-se 29 anos desde aquele 29 de Junho de 1972. Era a
festa de São Pedro, príncipe dos apóstolos, aquele que
trouxe o Evangelho de Cristo até o extremo Ocidente. E
naquele 29 de Junho, festa dos santos protetores de Roma, o
sucessor de Pedro que assumira nome de Paulo lançou um
dramático alerta. Paulo VI falou do inimigo de Deus
por antonomásia, daquele inimigo do homem que se chama
Satanás. O inimigo da Igreja. "Através de algumas fissuras",
denunciou Paulo VI, "a fumaça de Satanás entrou na Igreja".
Um grito angustiado, que deixou muita gente surpresa e
escandalizada, mesmo dentro do mundo católico.
E hoje, 29 anos depois? Aquela fumaça foi afastada, ou
invadiu outros cômodos?
Fomos perguntar a uma pessoa que lida todos os dias com
satanás e suas astúcias. Quase como profissão. É o exorcista
mais famoso do mundo: Padre Gabriele Amorth, fundador
e presidente ad honorem da Associação Internacional dos
Exorcistas. Fomos falar também com ele porque
algumas semanas atrás, dia 15 de Maio, foi aprovada pela
Conferência Episcopal Italiana (CEI) a tradução italiana do
novo Ritual dos Exorcismos. Para entrar em uso, espera
somente o placet da Congregação para o Culto Divino e a
Disciplina dos Sacramentos.
- Padre Amorth, finalmente está pronta a tradução italiana
do novo Ritual para os Exorcistas.
Pe. Amorth
- Sim, está pronta. No ano passado a Conferência Episcopal
Italiana recusou-se a aprová-la porque havia erros na
tradução do latim. E nós, exorcistas, que temos de
utilizá-la, aproveitamos para assinalar mais uma vez que não
concordamos com muitos pontos do novo Ritual. O texto básico
em latim, nesta tradução, continua inalterado. E um Ritual
tão esperado, no fim, torna-se um blef. Uma "amarra"
inacreditável, que pode impedir o nosso trabalho contra o
demônio.
- É uma acusação muito grave. A que o senhor se refere?
- Dou
apenas dois exemplos. Bem evidentes.
No ponto número 15, fala-se de malefícios e sobre a maneira
de se comportar diante deles.
O malefício é um mal causado a uma pessoa recorrendo ao
diabo. E pode ser feito de várias formas, com trabalhos,
maldições, maus olhados, vudu e macumba. O Ritual Romano
explicava como enfrentá-lo. O Novo Ritual, por sua vez,
afirma categoricamente que há proibição absoluta de fazer
exorcismo nestes casos.
Absurdo. Os malefícios são na grande maioria das vezes
a causa mais freqüente das possessões e dos males causados
pelo demônio: nada menos de 90% das vezes. É como
dizer aos exorcistas que não ajam mais.
Já o ponto 16 afirma solenemente que não se deve fazer
exorcismos se não se tem a certeza da presença diabólica.
É uma obra-prima da incompetência: a certeza de que o
demônio está presente em uma pessoa só pode ser obtida
fazendo o exorcismo. E tem mais: os redatores não se deram
conta de que contradiziam, em ambos os pontos, o Catecismo
da Igreja Católica, que indica a realização do exorcismo
tanto no caso das possessões diabólicas quanto no dos males
causados pelo demônio. Da mesma forma como indica que deve
ser feito tanto nas pessoas quanto nas coisas. E nas
coisas nunca há a presença do demônio, há apenas a sua
influência. As afirmações presentes no Novo Ritual
são muito graves e prejudiciais, fruto de ignorância e
inexperiência.
- Mas não foi redigido por especialistas?
Pe. Amorth
- Não, absolutamente. Nestes dez anos, duas comissões
trabalharam no texto do Ritual: a composta por cardeais, que
organizou os Prenotanda, ou seja, as disposições iniciais, e
a comissão que organizou as orações. E posso afirmar com
certeza que nenhum dos membros das duas comissões jamais fez
exorcismo nem assistiu a exorcismos, assim como não tem a
menor idéia de como sejam os exorcismos. Esse é o erro, o
pecado original, desse Ritual. Nenhum dos colaboradores que
participaram era especialista em exorcismos.
- E como isso é possível?
Pe. Amorth
- Não pergunte para mim. Durante o Concílio Ecumênico
Vaticano II cada comissão tinha a colaboração de um grupo de
especialistas que ajudavam os bispos. E este costume se
manteve também depois do Concílio, todas as vezes que foram
feitas alterações no Ritual. Mas não neste caso. E se há um
assunto sobre o qual há a necessidade de especialistas, é
esse.
- E como foi neste caso?
Pe. Amorth
- Neste caso nós, exorcistas, não fomos jamais consultados.
E as sugestões que fizemos também foram recebidas de má
vontade pelas comissões. A história é paradoxal. Posso
contá-la?
- Claro.
Pe. Amorth
- À medida que, como solicitara o Concílio Vaticano II, as
várias partes do Ritual Romano eram revistas, nós,
exorcistas, esperávamos que fosse tratado também o título
XII, isto é, o Ritual dos Exorcismos. Mas
evidentemente não era considerado um assunto importante, já
que passavam os anos e não acontecia nada.
Depois, inesperadamente, em 4 de Julho de 1990, saiu o
Ritual ad interim, experimental. Para nós foi uma verdadeira
surpresa, pois nunca tínhamos sido consultados antes. Embora
tivéssemos já há muito tempo feito pedidos, em vista de uma
revisão do Ritual. Entre outras coisas, solicitávamos:
retoques nas orações, acrescentando invocações a Nossa
Senhora que faltavam completamente, e um aumento das orações
especificamente exorcistas. Mas fomos completamente
excluídos da possibilidade de dar qualquer contribuição.
Não
nos desencorajamos: o texto era feito para nós. E dado que
na carta de apresentação o então Perfeito da Congregação
para o Culto Divino, cardeal Eduardo Martinez Somalo
solicitava às conferências episcopais que enviassem, no
prazo de dois anos, "conselhos, sugestões dadas pelos
sacerdotes que utilizarão este texto", começamos a
trabalhar.
Reuni dezoito exorcistas escolhidos entre os maiores
especialistas do planeta. Examinamos o texto com muita
atenção.
Utilizamo-lo. Logo elogiamos a primeira parte, na qual
estavam resumidos os fundamentos evangélicos do exorcismo. É
o aspecto bíblico-teológico, no qual certamente não falta
competência. Era uma parte nova, com relação ao Ritual de
1614, composta sob o papado de Paulo V: de resto, na época,
não havia necessidade de lembrar destes princípios, que eram
reconhecidos e aceitos por todo mundo.
Hoje,
ao contrário, é indispensável lembrá-los. Mas quando
examinamos a parte prática, que requer o conhecimento
específico do assunto, percebe-se claramente a total
inexperiência dos redatores. As nossas observações foram
eloqüentes, artigo por artigo, e enviamos a todos os
interessados: a Congregação para o Culto Divino, a
Congregação para a Doutrina da Fé, as Conferências
Episcopais. Também foi entregue uma cópia diretamente nas
mãos do Papa.
- E essas observações, como foram acolhidas?
Pe. Amorth
- Péssima acolhida, nenhuma eficácia. Tínhamos nos inspirado
na Lumen gentium, na qual a Igreja é descrita como um
"Povo de Deus". No número 28, fala-se da colaboração
dos sacerdotes com os bispos, e no número 37 é dito com
clareza, chegando até mesmo a referir-se aos leigos, que
"segundo a ciência, a competência e o prestígio de que
gozam, têm a faculdade, aliás, algumas vezes até mesmo o
dever, de apresentar o seu parecer sobre coisas atinentes ao
bem da Igreja".
Era
exatamente o nosso caso. Mas tínhamos nos iludido,
ingenuamente, de que as disposições do Vaticano II tivessem
chegado às congregações romanas. Em vez disso, tínhamos nos
visto diante de uma muralha de recusa e desprezo. O
Secretário da Congregação para o Culto Divino fez um
relatório à comissão cardinalícia no qual dizia que seus
únicos interlocutores eram os bispos, e não os sacerdotes ou
os exorcistas. E acrescentava textualmente, a propósito da
nossa humilde tentativa de ajuda como especialistas que
expressam seu parecer: "Tivemos de constatar o fenômeno
de um grupo de exorcistas e chamados demonólogos, reunidos
em uma Associação Internacional, que orquestravam uma
campanha contra o rito". Uma acusação indecente: nós
jamais orquestramos nenhuma campanha! O Ritual era dirigido
a nós, e nas comissões não tinham convocado nenhuma pessoa
competente; era mais do que lógico que tentássemos dar a
nossa contribuição.
- Mas então quer dizer que para vocês o Novo Ritual não pode
ser utilizado na luta contra o demônio?
Pe. Amorth
- Sim, queriam nos entregar uma espada sem fio. Foram
canceladas as orações eficazes, orações com 12 séculos de
história, e foram criadas novas, ineficazes. Mas,
felizmente, foi-nos dada na última hora uma possibilidade de
salvação.
- Qual?
Pe. Amoth
- O novo Perfeito da Congregação para o Culto Divino, o
cardeal Jorge Medina, acrescentou ao Ritual uma Notificação.
Na qual se afirma que os exorcistas não são obrigados
a usar esse Ritual, mas, se quiserem, podem utilizar ainda o
antigo, com prévia solicitação ao bispo. Os bispos,
por sua vez, devem pedir a autorização à Congregação, que,
porém, como escreve o cardeal, "concede-a sem problemas".
- "Concede-a sem problemas"? É uma concessão bem estranha...
Pe. Amorth
- Quer saber de onde nasce? De uma tentativa feita
pelo cardeal Joseph Ratzinger, Perfeito da Congregação para
a Doutrina da Fé, e pelo próprio cardeal Medina, de
introduzir no Ritual um artigo - na época o artigo 38 - em
que autorizavam o exorcistas a usarem o Ritual precedente.
Sem dúvida, tratava-se de uma manobra in extremis para que
pudéssemos evitar os grandes erros que existem neste Ritual
definitivo. Mas a tentativa dos dois cardeais foi reprovada.
Então o cardeal Medina, que compreendera o que estava em
jogo, decidiu dar-nos de algum modo uma possibilidade de
salvação, acrescentando uma notificação à parte.
- Como vocês, exorcistas, são considerados dentro da Igreja?
Pe. Amorth
- Somos tratados muito mal. Os irmãos sacerdotes
encarregados desta delicadíssima tarefa são vistos como
loucos, como exaltados. Geralmente são apenas tolerados
pelos próprios bispos que os nomearam.
- Que fato mais evidenciou essa hostilidade?
Pe. Amorth -
Quando fizemos uma convenção internacional de exorcistas nos
arredores de Roma. Na ocasião pedimos para ser recebidos
pelo Papa. Para poupar-lhe uma nova audiência, além das
tantas que já tem, pedimos simplesmente que fôssemos
recebidos na audiência pública das quartas-feiras, na Praça
São Pedro. E sem a necessidade de sermos citados nas
saudações.
Fizemos o pedido regularmente, como recordará perfeitamente
monsenhor Paolo de Nicoló, da Prefeitura da Casa Pontifícia,
que recebeu nosso pedido de braços abertos. Porém, um dia
antes da audiência o próprio monsenhor Nicoló nos disse - na
verdade com muito embaraço, o que nos fez ver que a decisão
não dependia dele - que não fôssemos à audiência, que não
tínhamos sido admitidos.
Inacreditável: 150 exorcistas provenientes dos cinco
continentes, sacerdotes nomeados pelos seus bispos em
conformidade com as normas do direito canônico, que requerem
padres de oração, de ciência e de boa fama -
portanto a nata do clero -, pedem para participar de uma
audiência pública com o Papa e são postos para fora.
Monsenhor Nicoló me disse: "Naturalmente, prometo-lhe que
logo enviarei a carta com os motivos". Passaram-se cinco
anos e ainda espero por aquela carta.
Certamente não foi João Paulo II quem nos excluiu. Mas que
seja proibido a 150 sacerdotes de participarem a uma
audiência pública com o Papa na Praça São Pedro explica o
quanto os exorcistas da sua Igreja sofrem oposição, o quanto
são malvistos por muitas autoridades eclesiásticas.
- O senhor combate o demônio quotidianamente. Qual é o maior
triunfo de Satanás?
- Conseguir fazer acreditar que ele não existe.
E quase conseguiu. Mesmo dentro da Igreja.
Temos um clero e um episcopado que não acreditam mais no
demônio, nos exorcismos, nos extraordinários males que o
diabo pode causar, e nem mesmo no poder concedido por Jesus
de expulsar os demônios.
Há
três séculos a Igreja latina - ao contrário da Igreja
ortodoxa e de várias confissões protestantes - abandonou
quase completamente o ministério exorcista. Não praticando
mais exorcismos, não os estudando mais e nunca os tendo
visto, o clero não crê mais. E não crê mais nem mesmo
no diabo. Temos episcopados inteiros contrários ao
exorcismo. Há nações completamente privadas de exorcistas,
como a Alemanha, a Áustria, a Suíça, a Espanha e Portugal.
Uma carência assustadora.
- O senhor não citou a França. Lá a situação é diferente?
Pe. Amorth
- Há um livro escrito pelo exorcista mais conhecido da
França, Isidoro Froc, com o titulo: Os exorcistas,
quem são e o que fazem. Foi escrito a pedido da
Conferência Episcopal Francesa. Em todo livro não é dito nem
uma vez que os exorcistas, em certos casos, fazem
exorcismos. E o autor já declarou várias vezes na televisão
francesa que nunca fez exorcismos e nunca os fará.
Dos
quase cem exorcistas franceses, somente cinco acreditam no
demônio e fazem exorcismos, todo os outros mandam os que
apelam a eles aos psiquiatras. E os bispos são as
primeiras vítimas desta situação da Igreja Católica, na qual
está desaparecendo a crença na existência do demônio.
Antes que saísse esse novo Ritual, o episcopado alemão
escrevera uma carta ao cardeal Ratzinger na qual afirmava
que não era necessário um novo Ritual, pois não se devem
mais fazer exorcismos.
- É tarefa dos bispos nomear os exorcistas?
Pe. Amorth
- Sim. Quando um sacerdote é nomeado bispo,
encontra-se diante de um artigo do Código de Direito
Canônico que lhe dá autoridade absoluta para nomear os
exorcistas. A qualquer bispo, o mínimo que se deve
pedir é que tenha assistido pelo menos uma vez a um
exorcismo, já que deve tomar uma decisão tão importante.
Infelizmente isso quase nunca acontece. Mas se um
bispo encontra-se diante de um sério pedido de exorcismo -
isto é, que não seja feito por um demente - e não o
providencia, comete um pecado mortal.
- O senhor está dizendo que a maior parte dos bispos
católicos comete pecado mortal?
Pe. Amorth
- Quando eu era criança meu velho pároco me ensinava que os
sacramentos são oito: o oitavo é a ignorância.
E o oitavo sacramento salva mais do que os sete
juntos. Para cometer pecado mortal é preciso uma
matéria grave, mas também a plena advertência e o deliberado
consenso. Esta omissão de ajuda por parte de muitos bispos é
matéria grave. Mas esses bispos são ignorantes: portanto não
há o deliberado consenso e a plena advertência.
- Mas a fé continua intacta, isto é, continua a ser uma fé
católica, se a pessoa não crê na existência de Satanás?
Pe. Amorth
- Não. Conto-lhe um episódio. Quando encontrei pela primeira
vez o padre Pellegrino Ernetti, um célebre exorcista, que
exerceu o seu ofício por 40 anos em Veneza, disse-lhe:
"Se pudesse falar com o Papa, eu lhe diria que encontro
muitos bispos que não acreditam no demônio".
No dia
seguinte, o padre Ernetti veio falar comigo e contou-me que
naquela manhã tinha sido recebido por João Paulo II.
"Santidade", dissera-lhe, "há um exorcista aqui em Roma,
padre Amorth, que se viesse falar com o senhor diria que há
muitos bispos que não crêem no demônio". O Papa
respondeu-lhe claramente: "Quem não crê no demônio não
crê no Evangelho". Eis a resposta que ele deu e que
eu repito.
- Explique-me: a conseqüência é que muitos bispos e muitos
padres não seriam católicos?
Pe. Amorth
- Digamos que não crêem em uma verdade evangélica.
Portanto, no mínimo, eu lhes diria que deixassem de propagar
uma heresia. De qualquer modo, deixemos claro: uma pessoa
pode ser formalmente herética se for acusada de alguma coisa
e se persistir no erro. Mas ninguém, hoje, pela situação que
existe na Igreja, acusaria um bispo de não acreditar no
diabo, nas possessões do demônio, e que não nomeia
exorcistas pois não acredita nisso. Mesmo assim eu poderia
citar muitos nomes de bispos e cardeais que logo depois da
sua nomeação para uma diocese tiraram de seus exorcistas a
faculdade de exercer o ofício.
Ou
então de bispos que afirmam abertamente: "Eu não acredito,
são coisas do passado". Por quê? Infelizmente houve muita
influência de alguns biblistas, e eu poderia citar-lhe nomes
ilustres. Nós que diariamente tocamos com nossas próprias
mãos o mundo do além, sabemos que influenciou em muitas
reformas litúrgicas.
- Por exemplo?
Pe. Amorth
- O Concílio Vaticano II solicitara a revisão de alguns
textos. Desobedecendo a essa ordem, decidiu-se refazê-los
completamente. Sem pensar que se poderia piorar as coisas em
vez de melhorá-las. E muitos ritos foram piorados por esta
mania de querer jogar fora tudo o que havia no passado, e
refazer tudo do início, como se a Igreja até hoje tivesse
sempre nos enganado e só agora tivesse chegado o tempo dos
grandes gênios, dos super-teólogos, dos super-biblistas, dos
super-liturgistas que sabem dar à Igreja as coisas certas. É
uma mentira: o último Concílio solicitara simplesmente a
revisão daqueles textos, não a destruição.
Mas
também o rito do batismo das crianças foi piorado. Foi
completamente alterado, chegando quase a se eliminar o
exorcismo contra Satanás, que teve sempre enorme importância
para a Igreja, tanto que era chamado de exorcismo menor.
Contra este novo rito até Paulo VI protestou publicamente.
Foi piorado o rito da nova bênção. Li minuciosamente todas
as suas 1.200 páginas.
Pois
bem, foi meticulosamente eliminada toda a referência
ao fato de que o Senhor nos deve proteger de Satanás, de que
os anjos nos protegem dos assaltos do demônio. Tiraram
também todas as orações que havia para a bênção das casas e
das escolas. Tudo devia ser abençoado e protegido, mas hoje
não se protege mais do demônio. Não existem mais
defesas e nem mesmo orações contra ele.
O
próprio Jesus tinha nos ensinado uma oração de libertação no
Pai Nosso: "Livrai-nos do Maligno. Livrai-nos da
pessoa de Satanás". Em italiano (e em português,
n.d.t.) foi traduzida de modo errôneo, e agora reza-se
dizendo: "Livrai-nos do mal". Fala-se de um
mal genérico, do qual, no fundo, não se sabe a origem; ao
contrário, o mal que Nosso Senhor Jesus Cristo
tinha-nos ensinado a combater é uma pessoa concreta: é
Satanás.
- O senhor tem um observatório privilegiado: acredita que o
satanismo esteja se difundindo?
Pe. Amorth
- Sim, muito. Quando diminui a fé aumenta a
superstição. Usando a linguagem bíblica, posso
dizer que se abandona a Deus para se dedicar à idolatria;
usando a linguagem moderna, abandona-se a Deus para se
dedicar ao ocultismo.
A
assustadora diminuição da fé em toda a Europa católica faz
com que as pessoas se entreguem nas mãos de magos e
cartomantes, enquanto prosperam as seitas satânicas. O
culto do demônio é celebrado para as grandes massas com o
rock satânico de personagens como Marilyn Manson, e até as
crianças são soterradas de revistas em quadrinhos que
ensinam magias e satanismo.
As
sessões espíritas nas quais se evocam mortos para obter
respostas são muito populares. Hoje se ensina a fazer
sessões espíritas pelo computador, pelo telefone, pela
televisão, com o gravador, mas principalmente com a
escritura automática. Nem se precisa mais do médium: é um
espiritismo "faça você mesmo".
Segundo as pesquisas, 37% dos estudantes participou pelo
menos uma vez do jogo do "cartaz" ou do copo, que é uma
verdadeira sessão espírita. Numa escola a que fui convidado
para fazer uma conferência, os jovens disseram que faziam as
sessões durante a aula de religião com a conivência do
professor.
- E funcionam?
Pe. Amorth
- Não existe distinção entre magia branca e magia negra.
Quando a magia funciona, é sempre obra do demônio. Todas as
formas de ocultismo, como este grande recurso às religiões
do Oriente, com suas sugestões esotéricas, são portas
abertas para o demônio. E o diabo entra. Logo.
- Padre Amorth, o satanismo se difunde cada vez mais. O Novo
Ritual praticamente impede os exorcismos. Os exorcistas são
impedidos de participarem a uma audiência com o Papa na
Praça São Pedro. Sinceramente, o que está acontecendo?
Pe. Amorth
- A fumaça de Satanás entra por tudo. Por tudo!
Talvez tenham nos excluído da audiência com o Papa porque
tinham medo de que a presença de tantos exorcistas
conseguisse expulsar as legiões de demônios que se
instalaram no Vaticano.
- O senhor está brincando, não é?
Pe. Amorth
- Pode parecer uma brincadeira, mas acredito que não seja.
Não tenho a menor dúvida de que o demônio tenta
principalmente as cúpulas da Igreja, assim
como tenta todas as cúpulas, tanto as políticas quanto as
industriais.
- O senhor está
dizendo que neste caso também, como em todas as guerras,
Satanás quer conquistar a fortaleza do inimigo, e aprisionar
os generais adversários?
Escritos do Padre Gabrilele Amorth.