O que é a magia?
É um dos principais frutos do ocultismo, dos mais
difundidos, porventura, aquele que mais incidência tem sobre
os povos. Falo de povos porque encontramos a magia em todos
os tempos e em todas as populações.
É
difícil falar sobre a magia, pois é um tema bastante
extenso: podiam se encher bibliotecas inteiras com os livros
que já foram escritos e este respeito. Por outro lado, não
desejo repetir tudo aquilo que já escrevi sobre a magia no
meu primeiro livro, Um exorcista conta, embora não possa
deixar de insistir sobre um ou outro conceito fundamental.
O
porquê da magia
Por que razão a magia prospera tanto nos nossos
dias?
Devido
aos três motivos que a alimentam e que vamos recordar;
porque é uma das principais formas de superstição e, jamais
me cansarei de repetir, é lógico que quando se
perde a fé aumenta a superstição; porque a
magia, por causa dos três motivos de que falaremos,
encontra-se enraizada em todos os cantos, independentemente
do desenvolvimento cultural e científico, do progresso
econômico dos indivíduos ou de uma ação.
As
pessoas que freqüentam magos não são pessoas ingênuas,
desprevenidas e analfabetas; pertencem a todas as categorias
de cidadãos: profissionais liberais, grandes industriais,
políticos, campeões esportivos, apaixonados desiludidos,
pobres coitados. Não falta ninguém; nem sequer padres!
Por que razão encontramos a magia em todas as
épocas e em todas as culturas? O que estimula as pessoas a
consultarem os magos?
Sim,
claro: quando se tem fé, nas várias
vicissitudes da vida, dirigimo-nos a Deus.
Mas, nos casos em que a fé está ausente ou é tão frágil, que
tem de dividir espaço com as superstições, que coisa atrai
as pessoas a darem crédito a indivíduos, como se estes
tivessem um poder misterioso sobre a natureza, sobre os
acontecimentos, sobre as pessoas, mediante fórmulas, rituais
e amuletos?
Podemos reagrupar os motivos em três palavras: o
medo, a curiosidade, o poder. São motivos duradouros,
que não conhecem o limite.
O
medo.
Existe
o mal, existem doenças físicas e psíquicas para as quais a
medicina oficial não encontra remédio, existe a falha, o
azar.
No
campo dos afetos, dos negócios e da saúde, pode-se passar de
uma situação boa para uma situação ruim, num abrir e fechar
de olhos. Podem acontecer desgraças em cadeia, dificuldades
insuperáveis. Onde encontrar remédios contra o azar?
No que
me respeita, nunca encontrei o azar pela rua, mas já
encontrei muitas pessoas a quem a vida corre mal desde
sempre, ou durante algum tempo. Quando uma pessoa sente tudo
indo mal (no trabalho, na família, no campo da saúde);
quando uma pessoa vê que todos os remédios aos quais
recorreu foram inúteis, sente-se quase que obrigada a
virar-se para os chamados meios alternativos: expressão
elegante que muitas vezes esconde a estupidez.
E
entre esses tais meios alternativos encontram-se
precisamente os magos, que conseguem compreender onde está o
mal ou o malefício (Fizeram um feitiço contra você, é um
dos diagnósticos mais freqüentes), sabem explicar por
que razão tudo corre mal e prometem um remédio mágico.
Disse que as pessoas cultas também freqüentam os
magos: porque quando um homem se deixa abater pelas
desgraças, encontra-se num estado psicológico em que deixa
de raciocinar; aceita tudo o que lhe aparece, só para se ver
livre dos problemas.
É o
caso do engenheiro especializado em eletrônica que é capaz
de pagar uma quantia absurda, por um amuleto feito de
quinquilharia, que deve trazer sempre pendurado ao pescoço;
quando o vi diante do nariz, não pude deixar de lhe dizer:
“Desculpe-me, mas não se sente um pouco idiota ao ter
acredito em semelhante baboseira?”
É o
caso também daquele rapaz loucamente apaixonado que perdeu a
namorada e quer recuperá-la a todo o custo. E que, perante o
conselho que lhe dão – dar três voltas ao redor de uma
mesa, arrastando a língua pelo chão – não hesita em
colocar em prática semelhante palhaçada.
A
curiosidade.
Da
curiosidade quase inocente (Só quero ver o que me vai
dizer) à vontade de conhecer, por vias mágicas, aquilo
que é obscuro: é um dos pontos fortes do ocultismo.
Na
maior parte das vezes, pede-se ao mago que prediga o futuro:
o que vai acontecer à própria pessoa, encontrará trabalho,
encontrará marido... Outras vezes, pedem informações sobre o
presente e sobre a causa dos males de que se sofre (é
necessário encontrar um culpado a qualquer custo),
procuram o esclarecimento de dúvidas (É verdade que a
minha mulher me é infiel, ou não?), ou sobre o
comportamento a ser adotado num determinado caso (Se deve
participar ou não de um certo concurso, se é o caso de
insistir numa determinada relação, se deve tomar ou não um
certo medicamento...).
Curiosidade estimulada pelos veículos de comunicação, que
apresentam espetáculos de magos a todas as horas e aguçam o
apetite para consultá-los, até mesmo daqueles que nunca
sentiram a necessidade de se dirigir até eles.
O
poder.
Neste
termo englobo os ganhos materiais, o sucesso, o protagonismo
a qualquer preço. Portanto, a vitória sobre os rivais:
concorrentes comerciais, políticos, rivais na carreira, etc.
Neste
caso, entra-se no campo de querer prevalecer a todo o custo,
mesmo prejudicando os outros; e é o terreno da chamada magia
negra. Por vezes, as pessoas sentem-se impelidas pelo desejo
de alcançar, por via mágica, resultados ou poderes que não
se consegue obter por via natural: inteligência, estudo,
capacidades, o amor de uma pessoa; recorre então a forças
ocultas, sabe-se lá quais, que garantem o sucesso.
As pessoas freqüentam os magos por causa de um
deste três motivos; e há quem estude a magia e suas práticas
com o intuito de se tornar bruxo. Em ambos os casos, existe
a vontade de recorrer a forças ocultas, não bem
identificadas, ou a rituais, filtros e outras coisas mais,
para adquirir os conhecimentos que, de outra maneira, não
conseguem obter (mesmo que depois se revelem enganadas);
para dominar as forças da natureza ou dos acontecimentos,
para influenciar os outros e defender-se deles.
É superstição e idolatria porque se trata de uma
busca de solução para os problemas completamente fora de
Deus e das Suas leis, que não satisfazem ou em que não se
acredita; por isso, procuram outras vias, outras leis,
outras divindades que venham em auxílio da pessoa.
Toda a
história sagrada ilustra bem esta alternativa, que não diz
respeito apenas ao povo judeu, mas que é emblemática para
toda a humanidade de todos os tempos.
Os
judeus encontravam-se no meio de povos pagãos que tinham
esta mentalidade: cada povo tem os seus deuses protetores,
cada território tem os seus deuses. Eis, então, a contínua
tentação do povo judeu: deviam acreditar no verdadeiro Deus
que se revela a Abraão, a Moisés, aos profetas, e que os
tinha libertado da escravidão dos egípcios, ou então, pelo
contrário, deviam acreditar nos deuses dos povos, no meio
dos quais habitavam e nos deuses dos lugares por onde
passavam.
Quem
merecia mais confiança, quem é que mais os protegeria, quem
mais interessava seguir? E, deste modo, alternavam a
fidelidade com a traição, as fugas de Deus com o regresso a
Ele, num contínuo sobe e desce de decisões e promessas
contraditórias.
O mesmo se passa com o cristão dos nossos
dias; o mesmo se passará com o cristão de amanhã.
Salvo por Deus, da escravidão, de Satanás, por meio do
Batismo, confiando aos planos de Deus sobre a vida e sobre o
destino humano que bem conhece, o cristão, de qualquer
maneira, sente-se continuamente tentado a seguir as idéias
do mundo, os caminhos do mundo, correndo o perigo de se
perder.
Também o recurso à magia é um sinal claro de que não se quer
recorrer a Deus para resolver os próprios problemas,
preferindo escolher caminhos que parecem mais fáceis e mais
cômodos, embora sejam desvios.
Para compreender o boom de magos no nosso
tempo, acrescento, com particular insistência, o papel
desempenhado pelos meios de comunicação, particularmente a
televisão, que transmitem espetáculos e pessoas que são uma
contínua mentira para prejuízo nos espetáculos.
E o
Ministério da Saúde não se preocupa com a situação, embora
os charlatões prometam curar todos os males (menos o
cancro), “da trombose às artrites, da diabetes à dor
ciática” (faço uso das palavras do professor Sílvio
Garattini, diretor do Instituto Mário Negri, corajoso e
solitário denunciante destes charlatões públicos).
O
mesmo se passa com a magistratura que, muito ocupada durante
meses e meses com a estátua de Nossa Senhora que chora, não
percebe que corre o risco de ser ridícula; mas, em
compensação, não diz absolutamente nada em relação a pessoas
que publicam feitiços mortais, ou seja, que podem
assassinar.
Nem os padres se ocupam destas situações, que neste campo
são, de um modo geral, verdadeiros analfabetos.
Cito apenas a seguinte afirmação, que retirei da nota
pastoral do Episcopado da Campânia (região de Itália),
publicada em 2 de abril de 1995: “O mau-olhado, o
feitiço e o malefício são atos resultantes da ingenuidade e
da fragilidade da fé”. Não! São muito mais do que
isso!
E, no entanto, a Bíblia não suporta
absolutamente a magia.
Sabemos que também outros povos, contemporâneos dos judeus,
condenavam os magos à morte. Isto quer dizer que havia uma
intuição difusa de que a magia continha algo de maléfico, de
diabólico e, por isso, tinha de ser eliminada.
Naturalmente que falo do tipo de magia mais negativo, aquele
que a Bíblia condena cerca de trinta vezes.
Já o
Deuteronômio afirma: “Não se ache no meio de ti quem
faça passar pelo fogo seu filho ou sua filha, nem quem se dê
à adivinhação, à astrologia, aos agouros, ao feiticismo, à
magia, ao espiritismo, à adivinhação ou â invocação dos
mortos, porque o Senhor, teu Deus, abomina aqueles
que se dão a essas praticas, e é por causa dessas
abominações que o Senhor, teu Deus, expulsa diante de ti
essas nações” (Dt 18,10-12).
O
Levítico afirma: “Não praticareis a adivinhações nem a
magia” (Lv 19,26).
E o
Êxodo: “Não deixarás viver aquele que pratica a magia”
(Ex 22,18).
O
Levítico especifica: “O homem ou mulher que pratica a
necromancia ou adivinhação é réu de morte. Será apedrejado,
e o seu sangue cairá sobre ele” (Lv 20,27).
Métodos bastante enérgicos! O Catecismo da Igreja Católica,
no nº 2117, se pronuncia da seguinte maneira: “Todas
as práticas de magia ou de feitiçaria com as quais a pessoa
pretende domesticar os poderes ocultos, para colocá-los a
seu serviço e obter um poder sobrenatural sobre o próximo –
mesmo que seja para proporcionar a este a saúde – são
gravemente contrárias à virtude da religião. Essas práticas
são ainda mais condenáveis quando acompanhadas de uma
intenção de prejudicar a outrem, ou quando recorrem ou não à
intervenção dos demônios. O uso de amuletos também é
repreensível. O espiritismo implica freqüentemente práticas
de adivinhação ou de magia. Por isso a Igreja adverte os
fiéis a evitá-lo. O recurso aos assim chamados remédios
tradicionais não legitima nem a invocação dos poderes
maléficos nem a exploração da credulidade alheia”.
Reprova-se o uso de amuletos (que os magos distribuem com
abundância de promessas e de... proveitos!), e é claramente
afirmado no nº 2116: “Todas as formas de adivinhação
hão de ser rejeitadas: recurso a Satanás ou aos demônios,
evocação dos mortos ou outras praticas que erroneamente se
supõe “descobrir” o futuro. A consulta aos horóscopos, a
astrologia, a quiromancia, a interpretação de presságios e
da sorte, os fenômenos de visão, o recurso a médiuns
escondem uma vontade de poder sobre o tempo, sobre a
história e, finalmente, sobre os homens, ao mesmo tempo que
um desejo de ganhar para si os poderes ocultos. Essas
práticas contradizem a honra e o respeito que, unidos ao
amoroso temor, devemos exclusivamente a Deus”.
Não
existe uma forma única de magia.
Até
agora, falamos da magia em geral, que se diferencia em magia
alta e magia baixa, em magia branca e magia negra, que é a
mais perigosa porque recorre à intervenção do demônio e pode
causar malefícios e provocar mesmo a possessão diabólica.
É a magia, na sua globalidade, que a Bíblia condena.
Mas existe também uma magia rural terapêutica: o
mago do campo ou a anciã que conhecem determinadas ervas,
recitam orações e não querem ser pagos por isso. Nestes
casos, o perigo é nulo e não temos que nos deixar enganar
pelas palavras; por exemplo, quando estas pessoas são
tratadas como o mago ou a maga lá da terra.
E existe também a magia-charlatã, aquela que é
noticiada nas páginas dos jornais e nas televisões.
Atualmente, este tipo de magia está bem mais difundido,
razão pela qual merece uma dissertação à parte.
A
magia-charlatã
Para desmascarar esta forma de magia, difundida com
todos os meios publicitários em uso, o estudioso Armando
Pavesse escreveu um livro repleto de bom senso e de
elementos concretos: Come difendersi daí maghi (Como
defender-se dos magos), Ed. Piemme, 1994.
A meu
ver, Pavesse desmascarou os truques dos magos, mais ou menos
como fez Gerard Maya, ilusionista francês, no seu livro que
falava sobre os Charlatões da parapsicologia. Quem se ocupa
seriamente destes temas sabe o quanto é importante ter
cuidado contra os truques. Numa entrevista a uma televisão
alemã, fui perguntado por que existem tantos magos nos dias
de hoje.
Espontaneamente, respondi: “Porque acreditam na Bíblia”. Ao
pedido de explicações, acrescentei: “A Bíblia afirma
que o número dos imbecis é infinito. Os magos também
acreditam nisso”.
Mas apresentemos algumas destas personagens, para
termos uma idéia concreta. Em 1979, Davanzo e Barlotto dão
início aos congressos dos magos e pensam também em criar um
sindicato; em 1980, são suficientes 30.000 liras italianas
(cerca de 15 euros) para obter um diploma de mago ou um
diploma em alquimia, astrologia, cartomancia, ocultismo,
necromancia, espiritismo.
Em
1982, um deputado democrata-cristão chamado Contu apresenta
uma proposta de lei para criar a Ordem Profissional dos
Consultores Operadores do Oculto. Prevaleceu o bom senso dos
deputados, que nunca chegaram a discutir a proposta.
E,
neste campo, o bom senso é um requisito fundamental: com
facilidade, é possível desmascarar um exército inteiro de
charlatões. Refiro-me, por exemplo, a um mago que acende
três velas em forma de triangulo, queima um pouco de
incenso, abençoa um copo de água com uma fórmula misteriosa
de sua autoria e dá para qualquer um beber. Não é preciso
muito para compreender que se trata de uma encenação. E, no
entanto, circulam por lá quantias enormes de dinheiro...
Vejamos o caso de um dos magos que, por causa das
suas intervenções televisivas, é dos mais conhecidos.
Trata-se de Marco Belelli, que se faz chamar o divino Otelma.
Em 1987 fretou o barco de Enrico Costa para realizar o
primeiro cruzeiro mágico, uma iniciativa turística; leitura
das mãos, das cartas, tratamentos hipnóticos, análise de
poderes.
Condenado por charlatanismo, por ter extorquido vinte
milhões de liras italianas (dez mil euros) de um
jovem que sofria de depressão, aceitou responder
a algumas perguntas, submetendo-se ao controle da máquinas
da verdade do doutor Gagliardi. Admitiu que 92% dos magos
não passam de charlatões; o que fez com que lhe pagassem
mais de 500.000 liras italianas (250 euros) por uma poção
mágica; que o seu fluído magnético não é mais do que o
resultado da sugestão.
Vejamos agora Bruno Bassi, chamado o mago Bassin.
Certamente que é um ótimo homem de negócios. Vende cursos de
magia e cartomancia por correspondência com a respectiva
venda de diplomas. Na década de oitenta, publicou um
catálogo de artigos mágicos, satânicos e espirituais, que
vendiam: sangue de dragão, incenso negro para feitiços de
ódio e de morte, pentagrama para comandar os espíritos.
Reparem na seguinte publicidade (certamente paga)
transcrita em uma revista: “Tiziana, grande mestra de
ciências ocultas, astrologia, exorcista, demonóloga, é capaz
de trazer de volta, e em pouco tempo, a pessoa que você ama;
também realiza ligações bissexuais, destrói para sempre
feitiços sobre pessoas ou ambientes; elimina rivais ou
concorrentes. Dará sucesso e riqueza para. Inscrita na ordem
profissional italiana e européia”. Mas não diz que ordem é.
Talvez seja a dos patetas.
Há um outro que também não posso deixar de citar:
Giuseppe Moreno. Debaixo da sua fotografia está escrito em
letras maiúsculas: “O mago benzido pelo Papa”. Repare na
ambigüidade de sua jogada. Para ser abençoado pelo Papa é
suficiente ligar o rádio ou a televisão ao meio-dia (horário
de Roma), todos os domingos.
Mas o
texto em letras maiúsculas, embaixo da sua fotografia,
parece querer dizer que o Papa abençoou não apenas as
pessoas, mas também a sua atividade. E qual é a sua
atividade? Cartomante, médium, rituais, exorcismos,
feitiços, amores impossíveis, magia branca, magia negra. Tem
uma força suprema porque fez um pacto de sangue com o seu
espírito-guia. Que mais pode querer?
Em Turim, no ano de 1993, realizou-se o primeiro
salão de astrologia, esoterismo, artes divinatórias, etc.,
denominado “Mágica”: e de 71 stands de expositores, 26
estavam ocupados por operadores de artes mágicas (leitura da
mão, consulta astrológica...) e 37 estavam reservados à
venda de artigos de magia. Quem é que anda por lá? Por
exemplo, a maga Rosanna, que se proclama docente da
Universidade Católica de Milão Uni-Ter.
Também
neste caso, temos um equívoco: ninguém sabe o que é esta
fantasmagoria universidade, mas todas as pessoas conhecem a
Universidade Católica de Milão e pensam que é a mesma coisa.
Também
lá esteve Carina de Valenza (região de Alessandria), que
afirma ser a reencarnação de Cleópatra. E também a
organizadora do evento, Laura Casu, segunda a qual as
religiões só têm valor enquanto os homens necessitarem
delas. No que lhe diz respeito, não necessita de mestres,
porque recebe mensagens de uma entidade superior, Gabriel.
O interessante é que os protagonistas do evento têm
plena consciência da trapaça que representam. O mago Gennaro
Brianzi, presidente europeu dos magos, não hesita em afirmar
que 98% dos magos são charlatões. Um exemplo: o pagamento
depois do resultado assegurado.
Está
comprovado, do ponto de vista estatístico, que de 50% dos
casos que exigem pagamento depois de resultado assegurado, o
resultado positivo se deve a causas naturais, e não a
qualquer influência mágica. Por isso, o mago que concede o
pagamento depois de ver resultado assegurado já sabe que
perde metade dos clientes; mas a outra metade dos clientes;
a outra metade regressa para lhe pagar e agradecer, pelo
nada que fez.
Um outro mérito de Pavese foi o de ter quebrado o
mito do número de magos que existe, um pouco como fez
Massino Intovigne a respeito de satanistas. Através de uma
análise das páginas amarelas, na Itália, pode verificar que
os magos que se autopublicam por esse meio são cerca de
1.300. Mesmo admitindo que existam outros tantos, mais
modestos ou mais escondidos, o número não deixa de ser pouco
relevante; por isso, não é correto atribuir um número ao
acaso, sem qualquer ponto de referência.
Há ainda a questão da magia-charlatã, fato
deplorável que Armando Pavesse enfrenta com firmeza no seu
livro, quando a designa como o consumismo do milagre
mariano.
Infelizmente, não é novidade que se pode misturar o
sagrado e o profano, a religiosidade e a magia, por puro
interesse econômico. E também é desta maneira que as
pessoas, depois de se sentirem enganadas, deixam de saber em
quem acreditar, preferindo não acreditar em mais ninguém.
Por
vezes, trata-se de medos infantis. Freqüentemente,
interrogam-me a respeito dos terços do Rosário de plástico,
em que algumas pessoas costumam ver sinais de malefício. Não
é verdade; trata-se apenas de terços econômicos, feitos em
série segundo um modelo, motivo que faz com que não se
perceba bem o que representam determinadas imagens
(especialmente nas extremidades do pequeno crucifixo). Mas
não é preciso ter medo: não se trata de nenhuma enganação.
O verdadeiro mal é quando o mago charlatão se
aproveita da sua habilidade comercial e sugestiva e as
mistura com elementos do sagrado.
É
exemplar o caso do contabilista Bandinelli, que realiza
milagres infalíveis em nome de Nossa Senhora de Medjugorje.
Publica a capacidade de obter curas instantâneas de vinte e
três tipos de doenças; o sistema rende tanto que já se pode
dar ao luxo de pagar duas páginas inteiras da TELECON, tem
18 linhas telefônicas e 12 residências no exterior. Julgo
que supera qualquer chefe de Estado.
O seu
método de cura é simplicíssimo: olha para a estátua da
Virgem, abre os braços, agita os dedos e a pessoa fica
curada. Mas apressa-se a dizer que a pessoa fica
curada, mesmo que ele mantenha as mãos no bolso. E o
interessante é que as pessoas, em massa, acreditam nele,
dado que recebe trezentas pessoas por semana (mais do que um
exorcista a vida toda), mediante o singelo honorário de 25
euros, que lhe rendem 7.500 euros por semana.
Pavese apresenta-nos também Marella Merani, que
todas as segundas-feiras, numa televisão do Piemonte,
mostrava uma imagem de Jesus que emanava um fluído curativo:
era suficiente olhar para a imagem pela televisão. Mas
depois, naturalmente, acontecia o mais interessante: vendia
água-luz e, depois de ter exposto uma Nossa Senhora da
Graça, vendia uma loção para cabelos.
Durante uma transmissão, um espectador telefonou para dizer
que aquele fluído de Jesus causava-lhe coriza, por causa da
constipação. A resposta dela: “Como podem verificar, o
fluído existe”. Se, depois, faz crescer os cabelos ou
provoca a constipação já não é importante.
A maga
Merani confessa que começou a sua atividade a partir da
psicografia, sentindo-se por isso investida de um carisma
particular; tanto mais que também tem um espírito-guia que
lhe dita as palavras a dizer e os ritos a realizar.
Confrontada com a pergunta se tem consciência, ou não, de
praticar magia, ela respondeu indignada que não. Mas, ao
contrário, é mesmo um caso de magia-charlatã, que
utiliza o sagrado a fim de proveito econômico.
Muito conhecida na Itália é a figura de Ebe
Giorgini, chamada Mamã Ebe. Na década de 70 em São Baronto (Pistóia),
tinha mosteiro próprio com cerca de 38 irmãs e 17
seminaristas, hospedados na sua pequena obra: Jesus
misericordioso; repare no nome sugestivo, hoje bastante
comum em “obras menores”.
A
pequena aldeia encheu-se de hotéis e restaurantes,
exatamente junto aos santuários. Curandeira, estigmatizada,
taumaturga... A Mamã Ebe tinha três iates, muitos
alojamentos, casacos de pele, jóias. Em outras palavras,
pode-se dizer que soube pôr a fé em Deus para render...
dinheiro. Também havia dois sacerdotes ligados a ela, mas em
1994 foi condenada a dez anos de prisão.
Mas,
para os seus muitos imitadores e devotos, ainda é
considerada santa. De vez em quando, a magistratura vai
resolvendo um ou outro caso de magia-charlatã. Gostaríamos
que estes casos fossem muito mais numerosos, especialmente
quando um mago faz sua própria publicidade para fazer magia
negra e feitiços mortais; é sempre um engano evidente, mesmo
que não tenha feito nada.
Magia
verdadeira, magia-charlatã, consumismo do milagre mariano:
talvez a impressão mais desconfortável seja o número de
milhões de italianos que recorrem a estas práticas.
Procuram a verdade e remédios que não provêm de Deus;
não se recorre ao único Mestre e único Salvador.
Motivo pelo qual, mais do que nunca, o verdadeiro remédio é
a nova evangelização, ou seja, a formação religiosa e a
busca sincera da verdade.
É útil
invocar as palavras de São Paulo, quase o seu testamento, ao
fiel Timóteo: “Eu te conjuro em presença de Deus e de
Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, por sua
aparição e por seu Reino: prega a palavra, insiste oportuna
e importunamente, repreende, ameaça, exorta com toda
paciência e empenho de instruir. Porque virá tempo em que os
homens já não suportarão a sã doutrina da salvação. Levados
pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades,
ajustarão mestres para si. Apartarão os ouvidos da verdade e
se atirarão às fábulas” (2Tm 4,1-4).
Fonte: Extraído do Livro
"Exorcistas e Psiquiatras" - Pe. Gabriele Amorth - Ed.
Palavra & Prece.