SOBRE O ESPIRITISMO.
Outra ramificação do ocultismo é o espiritismo ou
necromancia.
Falar
de espiritismo significa enfrentar um tema muito difícil,
que coloca em evidência um mal atualmente em grande
expansão, especialmente entre os jovens: encontramos-nos
frente a um mal que, mais uma vez, é fruto da falta de
fé; é um modo de buscar a verdade por caminhos
desviados, bem distantes do recurso ao único Mestre.
Trata-se, também, de um tema que tem muitos aspectos
envolvidos, muitas conseqüências; por isso, nosso discurso,
embora limitado ao que nos parece de maior utilidade
prática, implicará também a algumas divagações sugeridas
enquanto formos expondo.
O
que é o espiritismo?
É
evocar os falecidos ou os espíritos, para interrogá-los.
Evocar, ou seja, apelar para a sua presença, quase sempre em
formas não visíveis e não sensíveis, mas sempre com o
objetivo de lhe requerer uma resposta. Evocar os falecidos,
ou seja, as almas dos mortos é um conceito claro. O mesmo
não podemos dizer dos espíritos.
Conhecemos os espíritos puros, os anjos, criados bons por
Deus; também sabemos que uma parte deles se revoltou contra
Deus, transformando-se em demônios. Nada mais sabemos. Os
espíritas falam também de um espírito-guia, de entidades não
muito bem identificadas, ou citam outros nomes que cheiram a
filmes de terror; ou seja, trata-se de invenções humanas,
totalmente inconsistentes.
Digamos desde já que o espiritismo existe
desde que o homem existe. Em todos os povos, mesmo
nos mais antigos, encontramos este desejo, esta tentativa de
falar com os mortos, utilizando métodos e pessoas de acordo
com a mentalidade sócio-cultural da época e do povo.
E
gostaria de ressaltar um aspecto positivo destas tentativas,
importante e, em parte, justificado pela humanidade privada
da luz da revelação: pode se notar uma convicção inata da
imortalidade da alma, muito antes dos grandes
filósofos terem fornecido demonstrações racionais.
Qual o
motivo desta ânsia de querer falar com os falecidos?
Quais os motivos principais? Parece-me que podemos
resumi-los da seguinte maneira.
1- A curiosidade ou o desejo de conhecer. A
curiosidade de ver se a tentativa resulta e que coisa se
aprende, o que é que é dito, ou melhor, respondido. Ou,
então, o desejo de saber se existe realmente o além, como é
que é feito, como se vive nele.
2-
Um segundo motivo pode ser o afeto para com a pessoa
falecida, de quem a pessoa não se quer separar; o desejo
de falar com ela, de saber como está, de senti-la viva e
próxima.
3-
Um
outro motivo muito forte é o interesse em saber
informações sobre acontecimentos futuros, supondo que os
falecidos os conhecem; ou, então, o interesse em eventuais
conselhos que possam nos dar momentos de dúvida e de
decisão.
4-
Acrescento um outro motivo, sobretudo no caso da invocação
dos espíritos: o desejo de proteção da própria pessoa,
ou o desejo de obter poderes particulares que os dominem ou
que possam ser utilizados em proveito próprio.
Parece-me que, para
quem tem fé e recebeu o grande dom de conhecer as
verdades reveladas, são bastante claros os motivos pelos
quais a Bíblia, na sua totalidade, Antigo e Novo
Testamentos, e a autoridade da Igreja, proíbem todas
as formas do espiritismo.
Quem tem fé
procura e encontra respostas às suas dúvidas nas palavras
divinas.
Deus falou. Querer procurar as verdades no mundo terreno,
não se dirigindo a Deus, mas seguindo os desvios dos
expedientes humanos, é uma culpa grave contra o
primeiro mandamento, é mergulhar na superstição, é
desviar-se da verdade para aderir ao erro.
Quem é
que responde nas sessões de espiritismo? Podem ser truques,
sugestões, fenômenos paranormais, intervenções diabólicas...
É por isso que as condenações da Bíblia são tão fortes:
“Quem invocar os mortos é abominável para Deus”
(cf. Dt 18,12). E igualmente claras são as condenações
eclesiásticas.
Limito-me a citar algumas: “Não é permitido
participar, com médium ou sem médium, servindo-se ou não do
hipnotismo, em sessões ou manifestações de espiritismo,
mesmo que tenham aparência honesta e piedosa, quer se
interroguem as almas ou os espíritos, quer se escutem as
respostas; quer mesmo se limitem a observar” (Santo
Ofício, 24 de abril de 1917).
É uma
resposta particularmente completa e adequada ao nosso tempo.
Por exemplo, quando diz com médium ou sem médium, parece
antecipar os nossos dias, em que as sessões de espiritismo
são, sobretudo, feitas mediante o jogo do copo ou da moeda,
com o gravador, com a televisão, com o telefone, com o
computador e, sobretudo, com a psicografia. E quando afirma
“mesmo que tenham aparência honesta e piedosa”,
parece prever certas formas e certos movimentos, tipo o
Movimento da Esperança, a que faremos referência mais
adiante.
Agora,
queremos também recordar, brevemente, a parte positiva, ou
seja, tudo aquilo que a revelação nos diz a respeito dos
mortos. Antes de mais nada, sabemos que as almas dos mortos
vão de imediato, ou para o Paraíso, ou para o
Purgatório, ou para o Inferno.
É
verdade também afirmada por dois concílios ecumênicos: o de
Lião e o de Florença. Podem surgir novos aprofundamentos,
mas o pensamento expressado pela Bíblia é claro e abundante
de conseqüência práticas. Cito o principal. Só temos esta
vida como período de prova: não há outra solução. O
Evangelho tem expressões que não deixam dúvidas.
Por
isso, a fábula de reencarnação, em que
acreditam as religiões orientais e, atualmente, pelo menos
um quarto dos italianos, é inadmissível e em clara
contradição com a fé da ressurreição,
que está na base do cristianismo. Os descrentes
podem ter motivos de justificação e, talvez, a reencarnação
lhes seja sugerida pela intuição de que a alma é imortal.
Mas é um erro imperdoável a quem recebeu a
revelação e acredita na ressurreição da carne, merecida pela
ressurreição de Cristo.
A fé
diz-nos ainda mais qualquer coisa sobre a atividade das
almas dos falecidos. Pensemos no grande dogma da
comunhão dos santos. Diz-nos que as almas do Paraíso
podem acolher as nossas orações e interceder por nós; as
almas do purgatório podem receber os nossos sufrágios e
obter-nos graça. Tudo isso acontece, não por vida direta,
mas através de Deus.
Deste
modo, podemos pensar que, mediante Deus, os nossos queridos
falecidos acompanham as nossas atividades. Notemos um
pequeno detalhe, na parábola do rico glutão: mesmo vendo
Lázaro no seio de Abraão (que representa Deus), ele nunca se
dirige diretamente a Lázaro, mas sempre a Abraão: “Manda
Lázaro...” Porque entre nós e os falecidos existe uma
separação insuperável; vivem numa outra dimensão; só por
meio de Deus pode existir relação.
Pode
aparecer que pouco foi dito a respeito da atividade das
almas dos falecidos. E nós, exorcistas, encontramo-nos
freqüentemente diante de problemas que gostaríamos de
aprofundar – dedicaremos um capítulo a isso.
Creio
que, quando os teólogos voltarem a amar mais a
teologia do que a sociologia, poderemos enriquecer o
nosso patrimônio de conhecimentos contidos na Bíblia
explícita e implicitamente. Mas é sempre na revelação que
devemos nos basear. Quem quiser seguir os desvios do
espiritismo afasta-se de Deus e da verdade.
Alguém
pode torcer o nariz e pensar que tudo o que se disse é
insignificante e que a fonte da revelação não é suficiente.
Recordemos, então, que nos encontramos no campo do
sobrenatural, em que a ciência humana não consegue penetrar,
tal como não penetrarão jamais as demonstrações científicas:
estas valem somente para o homem viver sobre esta terra fará
sempre novas descobertas.
Mas as
verdades sobrenaturais, aquelas que dizem respeito ao mundo
invisível, nunca serão submetidas à demonstração científica
ou aos aprofundamentos científicos: a imortalidade da alma,
a existência dos anjos e dos demônios, a existência do
Paraíso-Purgatório-Inferno, a própria existência
de Deus. Neste campo, apenas a revelação nos dá a certeza, e
a fé é um dom do Espírito Santo, não é fruto do esforço
humano.
É
possível contatar com os falecidos?
Existe
uma diferença radical entre a vida terrena e a Vida Eterna.
Dissemos anteriormente que as almas dos falecidos vão de
imediato, ou para o Paraíso ou para o Purgatório ou
para o Inferno. A revelação dá-nos os dados
essenciais, aquilo que é necessário conhecer para a nossa
salvação. Ter fé é
não só acreditar nesses dados, mas também contentar-se com
eles; não há fé se não houver humildade, é a
própria Bíblia que nos avisa quando diz: “não
investigueis coisas que superam as tuas forças” (Eclo
3,21).
É de
tal maneira grande a diferença entre esta vida e a outra que
quem dela fez experiência, como São Paulo, se limita a dizer
que a língua humana não pode expressar aquilo que viu
e ouviu (2Cor 12,4).
Por exemplo, os teólogos questionam se o Paraíso é
um estado, um modo de ser ou um lugar. Deste modo,
certamente que as duas dimensões terrenas de espaço e tempo
têm um significado totalmente diferente nesta vida ou na do
além; embora para os homens e para os anjos existam sempre
limites, porque só Deus é infinito.
Acrescento também que a condição dos falecidos e, até, dos
próprios demônios é provisória, até o fim do mundo. O
homem é formado por alma e corpo; este conjunto foi
dividido pelo pecado que conduziu à morte (“Se comerdes,
morrereis”, tinha dito Deus a Adão e Eva).
Com a
sua ressurreição, Cristo mereceu a ressurreição da carne,
que só se realizará para a humanidade, excetuando Nossa
Senhora, no fim dos tempos. É por este motivo, para dar um
exemplo, que a felicidade do tempo presente experimentada
por São Francisco é incompleta; só será completa depois do
fim do mundo, quando também o seu corpo for glorificado
juntamente com a alma.
Até
para os demônios, a situação presente é provisória, embora
seja irreversível a sua decisão e sorte. São Pedro e São
Judas dizem-nos que, entretanto, os demônios estão
encarcerados no Tártaro, à espera do juízo final; é um fato
que, até o último dia, têm poder para utilizar a sua
atividade maléfica de ódio contra Deus e contra o homem.
Como se vê, quando falamos do além, gaguejamos.
Sabemos tão pouca coisa que o próprio São Tomás nos convida
a levar em consideração as revelações privadas dos santos.
Tinha de fazer esta premissa, embora com todas as questões
que levanta, para valorizar ao máximo os dados da revelação
e as regras de comportamento que a revelação nos sugere, sem
nos espantarmos demasiado com o que não conhecemos. É só com
base nestas considerações que se pode falar da invocação dos
falecidos; é esta a forma mais difundida, embora aquilo que
dizemos também valha para a invocação dos espíritos.
Já dissemos que o espiritismo está se difundindo, e
muito. Se no século passado era quase só atributo dos
adultos, que costumavam convidar um médium para que
invocasse os mortos, atualmente predominam outras formas,
que já enumeramos e que conhecem ampla difusão.
Monsenhor Casale, Arcebispo de Foggia e presidente do CESNUR,
realizou uma sondagem na sua diocese. Os resultados finais
dizem que 36% da juventude das escolas secundárias já
experimentou, algumas vezes, o espiritismo; 17% dos mesmos
jovens estão realmente convencidos de ter estado em contato
com os falecidos.
Baseado nos dados parciais que me chegaram de outras partes
da Itália, creio que estes resultados podem ser
generalizados a todos os países. Acrescento o fato de que,
com os novos sistemas (gravador, telefone, computador,
televisão, psicografia...) o espiritismo pode ser feito
individualmente, sem necessidade da junção de um grupo.
Antes de continuar, que me seja permitida mais uma
divagação. Uma influência indireta que estimula a prática do
espiritismo provém de outra fonte, que nada tem a ver com o
espiritismo.
Após a
publicação do livro R.A. Moody, La vita oltre la vita ( A
vida para além da vida), Ed. Mondadori, foram publicados
outros livros análogos que relatam testemunhos de pessoas
em coma, clinicamente mortas, mas que depois recuperaram.
São relatos muito semelhantes entre si e otimistas; as
pessoas contam que se acharam envolvidas por um ambiente
luminoso, circundadas por uma sensação de amor, que as levou
a experimentar quase que um certo desprazer quando
perceberam que estavam regressando à vida terrena.
É
claro que, nestes casos, as pessoas ainda não estavam mortas
(não é fácil estabelecer o momento exato da morte!); são
casos que devem ser estudados do ponto de vista cientifico;
e, repito, mesmo que tenham revigorado o desejo de conhecer
aquilo que se passa depois da morte, não têm qualquer
relação com o espiritismo.
Que
devemos dizer às pessoas que se dedicam ao espiritismo?
Que
devemos dizer aos pais que, despedaçados pela morte
repentina de um filho, se refugiaram no conforto das
mensagens que o morto envia através do gravador ou da
psicografia? Nesta situação, nos encontramos diante de uma
escolha voluntária: se quisermos viver na verdade e não
correr atrás de fábulas, devemos seguir aquilo que a
fé nos sugere. Se, pelo contrário, quisermos o falso
conforto, de quem engana ou se auto-engana, os caminhos
desviados são inúmeros.
Uma vez que considero que o leitor procura a
verdade, apresentarei três afirmações fundamentais, sobre as
quais procurarei ser claro:
1-
“Quem interroga os mortos é abominável aos olhos de Deus”;
Deus pode permitir que um morto apareça ou se faça presente,
de uma maneira ou de outra. A bondade objetiva das mensagens
não é suficiente para deduzir a bondade da origem.
Em vez de apresentar muitas citações bíblicas,
prefiro repetir, martelar, esta dura condenação do
Deuteronômio: “Quem interroga os mortos é abominável
aos olhos de Deus” (Dt 18,2), na esperança de que
fique gravada na mente. Para compreender plenamente o valor
destas palavras, é necessário acreditar em Deus;
acreditar que Deus é Pai, infinitamente bom, que quer o
nosso bem; acreditar que todas as proibições que Deus
nos exige (tal como as obrigações do Decálogo)
são para o nosso bem.
Deus ama todas as suas criaturas, as vivas e as
mortas. Se o diálogo com os falecidos fosse útil, se fosse
um bem, Deus seria o primeiro a favorecê-lo. Se o proíbe de
modo tão duro é porque sabe que é um mal, que desvia o
homem, afastando-o da verdade, prejudicando a fé.
Para quem recebeu o dom da revelação é suficiente saber que
Deus não quer, para evitar aquilo que proíbe.
A
pessoa que não conhece a verdade não desobedece a Deus se
praticar o espiritismo; contudo, não fica preservada de suas
conseqüências nocivas.
2-
Deus pode permitir
que um morto se apresente a uma pessoa viva ou que lhe fale,
ou que, de um modo ou de outro, tenha contato direto com
ela. Confirmamos este pensamento através dos inúmeros
exemplos da Bíblia e da vida dos santos. Trata-se de
casos extraordinários, logo, muito raros. Mas,
sobretudo, existe uma diferença substancial que é necessário
esclarecer.
Em
todos estes casos, o fato se dá por livre iniciativa de
Deus; nunca como fruto de habilidade ou de recursos humanos.
É como no caso das aparições: Bernadete nada fez para
provocar a aparição da Virgem Imaculada na gruta de
Massabielle, os três pastorinhos de Fátima não fizeram nada
para conseguirem ter a aparição de Nossa Senhora na Cova da
Iria. Os fatos desenrolaram-se por pura iniciativa divina,
nas circunstâncias e nos limites estabelecidos por Deus.
Que meios Deus pode utilizar para conceder um
contato extraordinário com um morto? Pode usar os meios que
quiser, com absoluta liberdade. Pode se servir de uma
aparição, como fez com São João Bosco; ou de vozes, como
aconteceu com Santa Joana d’Arc; ou de sonhos, como
freqüentemente se lê na Bíblia e na vida dos santos. Poderá
se servir de um médium? Sim. Deus pode se servir de tudo. É
o único caso que a Bíblia nos relata, quando Saul se serve
de uma médium para invocar a alma do profeta Samuel.
Foi um fato absolutamente extraordinário, permitido por Deus.
Confirmado pelo grito da médium, que se encontra diante de
um caso totalmente novo; mas, depois, veio a reprovação de
Samuel e a sua dura profecia: “amanhã, tu e os teus
filhos irão morrer” (cf. 1Sm 28,19).
3-
A bondade objetiva da mensagem não justifica a sua origem,
ou seja, não é suficiente para nos elucidar se a sua
proveniência é boa ou má. Mais do que uma vez, fá fiz notar
que Moisés, com a potência de Deus, realiza diante do Faraó
os mesmos prodígios que os magos realizam com a força do
diabo.
Mas,
sobretudo, gostaria de ressaltar que o demônio sabe falar
muito bem quando encontra Cristo na vida pública:
“Sabemos quem tu és: Tu és o filho de Deus!” (Mc
3,11) e outro reconhecimentos semelhantes. É interessante
verificar aquilo que acontece com São Paulo quando pregou em
Filipo. Uma endemoninhada seguia-o por todos os lados e o
demônio gritava: “Estes homens não são servos do Deus
Altíssimo, que vos anunciam o caminho da salvação” (At
16, 17).
Digam,
se não se trata de um anúncio perfeito e sagrado. E, no
entanto, provinha do diabo, que quer sempre atingir os seus
fins, e é por isso que tanto Jesus, como São Paulo o mandam
calar.
Para não cair na mentira
Apresento a seguir, três expressões sobre os quais
convido o leitor a refletir e a colocá-los em prática.
Ouço
dizer: “Mas a mensagem é tão boa e dá tanto consolo!”.
Que interessa se é tão boa se, depois, se revela falsa? É
conhecido o livro da moça que morreu com 22 anos de idade;
mensagens de consolação para a mãe e, no prólogo, a
declaração de cinco sacerdotes que afirmam: “Palavras
do céu!”. Ou, então, aquela mãe que me telefonou
para a Rádio Maria e disse: “O meu filho morreu tinha
dezenove anos. Aquilo que mais me consola, que mais me dá
força para viver, é que me ensinaram a falar com ele; e
todos os dias converso com ele por meio do gravador”.
É mesmo um caso para repetir, mais uma vez, as
palavras de São Paulo: “Eu te conjuro em presença de
Deus e de Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os
mortos, por sua aparição e por seu Reino: prega a palavra,
insiste oportuna e importunamente, repreende, ameaça, exorta
com toda paciência e empenho de instruir. Porque virá tempo
em que os homens já não suportarão a sã doutrina da
salvação. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de
escutar novidades, ajustarão mestres para si. Apartarão os
ouvidos da verdade e se atirarão ás fábulas” (2Tm
4,1-4): cócegas para os ouvidos, fábulas.
Pelo contrário, admiro aqueles pais que, em casos
semelhantes, sabem se voltar
para a fé; deste modo, aprofundam a convicção
de que o filho está realmente vivo (“A vida não é
tirada, mas transformada”, dizemos na introdução da
Missa dos falecidos); sabem que voltarão a vê-lo; rezam por
ele e recomendam-se à sua intercessão; falem com ele, sem
esperar nenhuma resposta extraordinária, mas sabendo que
Deus pode levar as suas palavras até ele.
“Através da psicografia, conforto-me segundo
as minhas aspirações e ajuda-me continuamente a rezar”.
Certo, a psicografia, na maior parte da vezes, é fruto da
criatividade do subconsciente. Por isso, a pessoa
acredita que recebe mensagens de um morto, acredita que fala
com Nossa Senhora ou com Jesus. Mas, pelo contrário, fala
apenas consigo mesmo.
Os
psicólogos bem sabem que podem ser criadas novas
personalidades. A psicografia faz a felicidade de quem
acredita na reencarnação: “Tomei
conhecimento das minhas vidas passadas”. E faz a
felicidade de tantos falsos videntes, que são
consultados e dizem que dão as respostas do Senhor, de Nossa
Senhora, do espírito-guia. Enganam os outros e,
freqüentemente, enganam-se a si próprios.
No dia 30 de março de 1898, foi colocada no Santo
Ofício a seguinte questão: “Fulano, depois de ter excluído
qualquer tipo de dialogo com o espírito maligno (ou seja,
depois de ter declarado que não queria falar com o demônio),
tem por hábito invocar as almas dos falecidos. Procede da
seguinte maneira: fica sozinho e, sem outro preliminar,
dirige uma oração ao chefe da Milícia Celeste para obter
dele o poder de se comunicar com o espírito de uma
determinada pessoa.
Fica
alguns instantes à espera e, depois, de mão pronta para
escrever, sente que ela recebe um impulso que dá a segurança
da presença do espírito. Expõe as coisas que ele deseja
saber e a sua mão escreve as respostas. Estas respostas são
totalmente de acordo com a doutrina da fé católica e com
doutrina da Igreja, a respeito da vida futura. Na sua maior
parte, disseram sobre o estado em que se encontra a alma de
um certo morto, sobre a necessidade que tem de receber
sufrágios, etc. Será lícito este modo de proceder?”
Resposta: “Não. O que está exposto não é permitido”.
À
respeito do Movimento da Esperança, não me prolongarei
porque o que já disse é mais do que suficiente para entender
a sua total desaprovação, embora esteja se difundindo
amplamente na Itália e em outros países. As ervas daninhas
crescem bem depressa. Quem quiser saber mais, leia o
capítulo sobre o assunto, dedicado por Armando Pavese no já
citado livro Como defender-se dos magos, da Ed. Piemme. É
claro e suficiente.
Menciona, inclusive, a atitude de desaprovação que a
autoridade eclesiástica tem assumido, cada vez mais
claramente, medida que aprofunda a natureza deste Movimento.
Devo também avisar que a participação em sessões de
espiritismo pode provocar não só males psíquicos, como
também perturbações maléficas e a própria possessão
diabólica. Várias vezes tive casos de pais que
trouxeram os filhos, alguns ainda adolescentes, que depois
de uma ou duas sessões de espiritismo, “feitas por
brincadeira”, não conseguiam estudar, descansar,
comer, tinham pesadelos e coisas do gênero. Poderia se
tratar de perturbações de foro psicológico, mas, também, de
malefícios que depois se confirmaram com o exorcismo.
Uma senhora dizia-me que, através do gravador,
tinha entrado em contato com o espírito, não muito bem
identificado, que ela considerou bom, sem qualquer
hesitação, uma vez que ele lhe dizia coisas boas e a
ensinava a rezar. Passando alguns anos, quando esta senhora
já se encontrava ligada ao espírito, este começou a dizer
coisas más e a proferir blasfêmias. A interessada percebeu
que tinha de colocar um ponto final na situação e assim o
fez, embora com alguma pena.
Porém,
já tinha absorvido influências maléficas, que ainda hoje
estão ativas. É continuamente perturbada por vozes que não a
deixam trabalhar, que não a deixam dormir. É um daqueles
casos que estudo com o auxílio de um psiquiatra e de um
psicólogo. Por vezes, é necessário algum tempo para
identificar a causa de um mal; e muito mais para descobrir a
cura, e nem sempre se chegará lá, nem com curas médicas, nem
com as orações dos exorcistas.
É bom que as pessoas saibam aquilo que se ganha
quando se metem por determinados caminhos. E quando me dizem
“Recebi mensagens tão boas... Confirmaram-me na fé...
Tiraram-me do desespero...”, penso logo na parábola do rico
glutão (que realmente se tornou solícito para com os seus
familiares), que pede a Abraão que mande Lázaro avisar os
seus irmãos.
Era
evidente que viviam do mesmo modo que ele e percorriam a
mesma estrada de perdição. E Abraão respondeu-lhe:
“Têm Moisés e os Profetas; que os ouçam a eles”. O
glutão: “Não, não lhe vão dar ouvidos. Se um dos
mortos for até eles...”. E Abraão retorquiu:
“Se não escutam Moisés e Profetas, mesmo que um dos mortos
ressuscite, eles não ficarão convencidos” (cf. Lc
16,27-31). Quem não obedece à
palavra de Deus e aos ensinamentos da Igreja
não espere encontrar a verdade no espiritismo.
A meu ver, a grande difusão do espiritismo depende
também de uma total desinformação a respeito da sua natureza
e dos riscos que comporta, para além de denunciar um vazio
ao nível da fé que, como sempre acontece, se procura
conviver com todo o tipo de superstições. Os remédios
para enfrentar esta praga são os já sugeridos a propósito do
ocultismo em geral. E não é perda de tempo
repeti-los.
1-
É necessário formação religiosa, a nova evangelização,
o conhecimento das leis de Deus. Se o homem segue os
próprios caprichos, inevitavelmente cai em erros que
freqüentemente paga duramente também nesta vida. Quem, pelo
contrário, segue as leis do Senhor está protegido do mal, ou
pelo menos de muitos males que procuramos para a nossa vida.
2-
É necessário informação específica. Sobretudo por
parte dos sacerdotes, dos educadores, dos pais. Muitas
pessoas caem em determinados erros, inclusive na
participação em sessões de espiritismo, por não terem sido
avisadas por quem sabia sobre aquilo que estavam fazendo,
mas não sabia que ia contra a lei de Deus e que trazia
perigos. É necessário ser formado para poder formar.
3- É necessário se dispor a ouvir as pessoas,
para dialogar com elas e escutar os seus problemas e as
soluções que tentam para resolvê-los. A caridade é a
rainha das virtudes cristãs, e a caridade da verdade, ou
seja, ensinar a verdade é talvez à forma mais importante e
mais urgente de caridade cristã.
Fonte: Extraído do Livro
"Exorcistas e Psiquiatras" - Pe. Gabriele Amorth - Ed.
Palavra & Prece.