O Encobrimento do Terceiro Segredo
por Christopher A. Ferrara
Esta parte da alocução do Sr. Ferrara explora e analisa as declarações públicas continuadas e enganadoras do Cardeal Bertone em relação ao Terceiro Segredo. O Sr. Ferrara demonstra uma vez mais que o Cardeal Bertone está deliberadamente a esconder parte do Terceiro Segredo de Fátima. Embora o Cardeal Bertone o faça com grande charme pessoal na televisão, quem analisar as suas palavras vê claramente que o Cardeal reconhece de facto que há mais no Terceiro Segredo do que ele insiste que é tudo. Esta é uma transcrição revista da maior parte da alocução do Sr. Ferrara feita em 21 de Agosto de 2007 na Conferência Fátima: O Único Caminho para a Paz Mundial, realizada em Botucatu, Brasil.
Chegamos agora ao ano 2000, altura em que o Vaticano publicou a visão do Terceiro Segredo. Temos agora que nos concentrar no papel do então Arcebispo Bertone, que hoje é o Cardeal Bertone, Secretário de Estado do Vaticano. Naquela altura era Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé.
Em 2000 o Vaticano foi confrontado com os seguintes factos: Havia aquele “etc.” que toda a gente sabia que era o começo do Terceiro Segredo. Havia palavras de Nossa Senhora. O próprio Vaticano referiu-se em 1960 a palavras de Nossa Senhora. Toda a gente sabia, desde o tempo de Pio XII em 1931 até ao ano 2000, que aquelas palavras deviam referir-se a uma crise da fé. E até mesmo a acontecimentos apocalípticos para o mundo em geral.
Em 2000, em grande parte devido à pressão exercida pelo apostolado do Padre Gruner e por milhões de fiéis de todo o mundo, o Vaticano publicou finalmente a visão do bispo vestido de branco. Mas, confrontado com os factos que acabei de referie, o Vaticano não publicou nada que contivesse uma referência a esses factos. A visão não diz nada sobre o que se segue ao “etc.”. A visão não contém quaisquer palavras de Nossa Senhora. A visão não diz nada sobre uma crise da fé na Igreja. De facto, a visão não diz absolutamente nada sobre as palavras de Nossa Senhora. A Virgem está em silêncio.
Isto não pode ser tudo
Os fiéis em todo o mundo disseram imediatamente: “Isto não pode ser tudo o que há no Terceiro Segredo”. A Madre Angélica, não tinha ainda passado um ano desde a publicação da visão, disse ao vivo no seu programa de televisão perante milhões de pessoas, o que passo a citar: “Acontece que sou uma dessas pessoas que pensam que não nos comunicaram tudo”. Ora esta freira é muito leal – totalmente leal ao Papa, totalmente leal ao Vaticano. E mesmo assim, disse casualmente na televisão nacional que não nos tinham comunicado tudo. Porque milhões de pessoas acreditavam, tal como ela, que esta visão não pode, de modo nenhum, ser a totalidade do Terceiro Segredo.
Nossa Senhora não tem nada a dizer?
Antes de mais, como é que Nossa Senhora nos podia ter deixado uma visão tão ambígua que o Arcebispo Bertone e o Cardeal Sodano tiveram que a interpretar para nós? É inconcebível, porque, como sabem, quando os videntes viram o inferno, Nossa Senhora explicou-lhes imediatamente o que tinham visto, embora fosse óbvio de que se tratava. Tinham visto as almas a arder e a agitar-se no inferno como se fossem carvões, segundo contou a Irmã Lúcia. E apesar disso, Nossa Senhora disse-lhes: “Viram o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores”. Disse-lhes o que tinham acabado de ver.
Mas agora, esperam que acreditemos no ano 2000 que Nossa Senhora não tinha absolutamente nada a dizer sobre como é que um Papa vem a ser executado por um grupo de soldados fora de uma cidade destruída e cheia de cadáveres! Nada a dizer sobre isto! Teríamos que compreender por nós próprios. Ninguém realmente acreditava nisso. Era evidente que faltava qualquer coisa.
A interpretaçã
o pessoal de Sodano
Ora o Vaticano divulgou uma interpretação “oficial” chamada A Mensagem de Fátima. É um folheto, publicado em 2000, que segue o texto da visão. Parece que o Vaticano decidiu neste folheto que iria seguir uma interpretação da visão subscrita, não pelo Papa, nem sequer pela Congregação para a Doutrina da Fé, mas pelo então Secretário de Estado do Vaticano, o Cardeal Sodano.
O folheto da Mensagem de Fátima declara quatro vezes que vai seguir a interpretação do Cardeal Sodano. E o Cardeal Sodano diz neste folheto que a visão do bispo vestido de branco refere-se à perseguição da Igreja no Século XX e culmina com a tentativa de assassínio de João Paulo II em 1981.
O disparate de Sodano
Pensemos nisto por um momento. Ponhamos de lado a tentativa de assassínio e consideremos isto: Se a visão é sobre os acontecimentos do Século XX, a 2ª Guerra Mundial, a perseguição da Igreja pelo Comunismo e pelo Nazismo, então o que o Cardeal está a dizer é que o Segundo Segredo é igual ao Terceiro Segredo e o Terceiro Segredo é igual ao Segundo Segredo. Ambos falam das mesmas coisas, e portanto não há realmente um Terceiro Segredo.
Ora bem, se de facto não há um Terceiro Segredo — se o Terceiro Segredo, segundo o Cardeal Sodano, não passa de uma visão que ilustra o Segundo Segredo — então por que razão a Irmã Lúcia não conseguia escrevê-lo? E por que razão não revelou a visão imediatamente, em vez de esperar até 1944? E se o Segundo Segredo e o Terceiro Segredo são a mesma coisa, porque é que se falou de um Terceiro Segredo de Fátima?
Mais ainda, se a visão se refere a coisas que já tinham acontecido antes do ano 2000, que razão tinha o Vaticano para a conservar secreta desde 1960? O que tinha este documento de tão explosivo que não podia ser revelado, se se referia a acontecimentos já sucedidos, como disse o Cardeal em 2000? É que não faz sentido.
A visão do Terceiro Segredo
não pode ser de João Paulo II
Vejamos agora a ideia de que a visão se refere à tentativa de assassínio. Ninguém acredita nisso, por um instante que seja. É absurdo, porque o Cardeal está a dizer que uma visão de um Papa a ser executado com balas e flechas por um grupo de soldados é a ilustração de João Paulo II a não ser morto em 1981 por um só assassino — que foi capturado, julgado e condenado!
Temos que acrescentar que o Papa, graças a Deus, restabeleceu-se das suas feridas e retomou uma vida muito activa. Regressou às pistas de ski. Nadou na sua piscina de Castelgandolfo. Passaram-se vinte e cinco anos desde 1981 até que ele morreu. Portanto, é ridículo o Cardeal dizer que o Papa que cai e morre na visão é o Papa que volta às pistas de ski e vive mais vinte e cinco anos. Ninguém acreditou nisso. Nem sequer a imprensa secular acreditou.
Bertone/Sodano tentaram
“enterrar” Fátima
Mas o folheto da Mensagem de Fátima do Vaticano diz-nos uma e outra vez que a visão do bispo vestido de branco e toda a Mensagem de Fátima — e esta é a frase-chave, usada repetidamente — “pertence ao passado.” Querem que pensemos no ano 2000 que a Mensagem de Fátima já chegou ao fim. É tudo passado: a Rússia foi consagrada, o Papa escapou à morte e Fátima acabou. E pronto, toca a dormir. Podemos esquecer-nos de Fátima.
Entretanto, como se pode verificar, a situação do mundo continua a piorar. A imoralidade espalha-se por todas as nações. Fazem-se milhões e milhões de abortos. Há guerras por toda a parte. E no entanto, dizem-nos que Nossa Senhora de Fátima não tem nada a dizer sobre tudo isto. Nada a dizer à Igreja nos tempos que correm. Nada a dizer para avisar que o mundo está a correr para uma catástrofe. Oh não. Estamos no ano 2000 e está tudo no passado. Mas vamos a ver: quem acredita mesmo nisso? Alguém acreditou mesmo nisso? Falei com muitos sacerdotes, simples padres que encontrei pelo mundo fora, e até com bispos. Calcula-se que não nos revelaram tudo, precisamente como disse a Madre Angélica.
Um avanço!
Um pequeno grupo de “traditionalistas” e “Fatimistas” continuou a discutir isto, e o Padre Gruner continuou a dizer a verdade que as pessoas sabiam ou suspeitavam. E foram denunciados como “Fatimistas” e “traditionalistas extremistas” e ridicularizados — tal como foram denunciados e ridicularizados quando disseram que Paulo VI nunca tinha proibido a Missa Tradicional. Tinham razão, mas foram objecto de ridículo. E foram outra vez objecto de ridículo quando se debruçaram sobre isto.
Mas de repente houve um avanço. Em Novembro de 2006, Antonio Socci, uma celebridade de importância na Itália, católico convicto, apresentador de um programa de televisão e conhecido pessoal do Papa Bento XVI e do Cardeal Bertone, publicou um livro. E o que Socci diz no seu livro é que estava do lado dos que faziam troça dos Fatimistas. Pensava que o Vaticano tinha revelado tudo em 2000 e que os Fatimistas não passavam de um grupo de excêntricos que promoviam uma teoria maluca de conspiração. Mas então começou a examinar as provas. Socci é um homem honesto, e escreveu no seu livro: “Por fim, tive de me render”.
Provas irrefutáveis
As provas eram irrefutáveis. A visão do bispo vestido de branco não podia constituir a totalidade do Terceiro Segredo. Diz na introdução do seu livro — O Quarto Segredo de Fátima — que chegou a uma conclusão que é o contrário do que ele acreditava no princípio. Quis destruir os Fatimistas e acabou por se deixar convencer pela evidência de que eles estavam absolutamente certos.
Não ficou por aí; Socci veio a dominar este tema e chegou a algumas observações, incluindo uma hipótese a que me hei-de referir no fim desta palestra, que ajudam a pôr toda esta controvérsia em perspectiva. Mas também fez uma coisa que é muito importante. Para além de apresentar as provas a que já me referi muito sucintamente — e há muito mais a dizer, mas não posso referir-me a tudo — revelou ao mundo o depoimento do Arcebispo Capovilla, depoimento este que foi descoberto por Solideo Paolini, que vos irá falar no decorrer desta conferência. Mostrou ao mundo o que Solideo tinha chamado à sua atenção.
O depoimento de Capovilla!
Socci revelou que, numa conversa telefónica com o Arcebispo Capovilla, Solideo discutiu um documento (ver fotocópia do original na página 25 deste número, e a respectiva tradução na página 27) em que o Arcebispo tinha observado, na década de 1960, que Paulo VI lera um texto do Segredo pela primeira vez em 1963, e não em 1965, como o Vaticano dissera em 2000. E havia uma discrepância aparente: Como podia haver duas datas diferentes? É um erro? E finalmente, durante a conversa, o Arcebispo admitiu a Solideo que há dois envelopes diferentes — o envelope de Capovilla e o envelope de Bertone. Um envelope contem, obviamente, a visão do bispo vestido de branco. O outro envelope é o que estava em Barbarigo, a escrivaninha dos aposentos papais.
E assim, Solideo, como vos irá contar em maior pormenor, perguntou de chofre ao Arcebispo: “Está a dizer que havia dois textos diferentes do Terceiro Segredo de Fátima?” E o Arcebispo Capovilla respondeu: “Per l’appunto” — que significa, exactamente. E Antonio Socci publicou esse depoimento e respondeu assim a todo o mundo, e até hoje o Vaticano não o negou.
O livro de Bertone!
Mas o que aconteceu foi que o Arcebispo Bertone escreveu um livro — e isto é espantoso. Ele é agora Secretário de Estado do Vaticano, e escreve um livro para responder a Socci. Neste livro, que se chama A última vidente de Fátima, o Cardeal parece responder a Socci, mas, como Socci assinalou no seu site da Internet e noutras ocasiões, não se encontra no livro uma só resposta aos problemas que levantou.
Bertone cede ao
recusar-se a responder
Antes de mais, neste livro de 187 páginas, o Cardeal não respondeu ao depoimento do Arcebispo Capovilla. Isto, só por si, responde a todo o caso. Há uma testemunha que diz que há dois textos do Segredo. Um desses textos está nos aposentos papais. O entrevistador, que trabalhou com o Cardeal Bertone no seu livro, chama a atenção para este pormenor e em seguida pergunta ao Cardeal, como parte do livro, e o Cardeal evita responder à pergunta. Nem sequer discute o depoimento do Arcebispo.
Imagine agora que está sob uma investigação criminal. Alguém vai a sua casa para o entrevistar, e você diz: “O seu vizinho da porta ao lado diz que você lhe entrou em casa e roubou jóias do seu cofre e que depois levou tudo para sua casa e ali escondeu as jóias. Que responde às alegações contra si desta testemunha?” E a sua resposta é: “Quer um café?” ou “Não está um dia bonito?” ou “Porque é que não vamos dar um passeio pelo parque?” ou “Tenho agora um encontro muito importante” E este é o fim da entrevista. Nunca falou do testemunho do seu vizinho. Não será razoável o investigador concluir que concorda que o seu vizinho disse a verdade?
Se o Cardeal ia escrever um livro para responder a Socci, a primeira coisa que devia fazer era contrariar o depoimento do Arcebispo Capovilla. Recusou-se a fazê-lo. Portanto, admite que a testemunha tinha dito a verdade.
Bertone cede: Havia, de
facto, um segundo texto
Também ignora, no seu livro, a referência específica à existência de um texto nos aposentos papais. O entrevistador, no livro, chamou-lhe a atenção para isto. E a resposta é mais ou menos esta: “Como é que podem ter a certeza de que o texto ficou sempre nos aposentos papais?” Repare-se que não está a negar que há um texto nos aposentos papais. Tenta desviar-nos a atenção para outra coisa — se esteve sempre nos aposentos papais.
O que quer isto dizer? Basicamente, está a admitir que havia lá um texto, e agora pergunta: “bom, como é que sabem que esteve sempre lá?” Ora bem, ele podia saber se esteve sempre lá. Bastava-lhe perguntar: “Havia um texto nos aposentos papais?” Podia ter perguntado a João Paulo II enquanto este estava vivo. Podia ter perguntado ao Cardeal Ratzinger, que certamente sabia e sabe o que está nos aposentos papais. Podia ter perguntado ao Arcebispo Dziwisz, o fiel secretário do Papa João Paulo II: por acaso havia um texto nos aposentos papais? Podia ter perguntado a várias pessoas se havia ou não um texto nos aposentos papais. Por que razão não perguntou a ninguém? Ou perguntou e não gostou da resposta, ou não perguntou porque não queria saber a resposta. De uma maneira ou outra, admitiu que havia um texto nos aposentos papais.
Bertone cede com
respeitoao “etc.”
O Cardeal também ignora o “etc.”. O entrevistador chama-lhe a atenção propositadamente para o assunto do “etc.”, e diz especificamente a Bertone que os “Fatimistas” e os tradicionalistas dizem que este “etc.” indica as palavras de Nossa Senhora que foram omitidas.
E o que tem a dizer disto o Cardeal Bertone? Diz que é uma hipótese já velha e aproveitada de novo. Mas não a nega. Na verdade, sem sequer a enfrenta. Compreende a sua importância. Mas não responde a algumas perguntas simples: Pediu à Irmã Lúcia que explicasse o “etc.” quando, segundo disse, a entrevistou? O Cardeal afirmou ter entrevistado a Irmã Lúcia por três vezes (num total aproximado de dez horas). Falou-lhe do “etc.” durante alguma destas entrevistas? Pelos vistos não. Socci pergunta, no seu livro, porque é que o Arcebispo Bertone, hoje Cardeal Bertone, não perguntou à Irmã Lúcia o que vem a seguir ao “etc.”. Onde estão as palavras omissas de Nossa Senhora? Porque é que o Cardeal parece não querer saber nada a respeito do “etc.”?
E, já agora, porque é que o Vaticano, na Mensagem de Fátima, não usa a Quarta Memória, em que aparece o “etc.”? Porque é que o Vaticano usa a Terceira Memória, em que a Irmã Lúcia ainda não tinha acrescentado a frase “Em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé, etc.”? Porque é que o Vaticano usa a Terceira Memória e não a Quarta Memória, que é mais completa? Porque é que o Vaticano acrescenta numa nota de rodapé: ah, pois, a propósito, há uma Quarta Memória, e a Irmã Lúcia acrescentou uma nota sobre Portugal e “etc.”?
Não. Não se tratava de uma “nota” da Irmã Lúcia. Eram as próprias palavras de Nossa Senhora! E, mesmo assim, o Vaticano disse em 2000 que essas palavras não passavam de uma “nota” da Irmã Lúcia.
Pergunta Socci no seu livro: Como ousam eles dizer que aquelas palavras da Virgem eram uma nota da Irmã Lúcia, quando era evidente que se tratava de palavras de Nossa Senhora? E porque é que o Cardeal Bertone não fala do “etc.”, nem sequer quando se lhe levanta esta questão? Porque é que continua a ignorar esta questão? Porque é que continua a ignorar o testemunho do Padre Schweigl, de que há duas partes do Segredo: uma parte refere-se ao Papa; a outra é uma continuação lógica das palavras que precedem o “etc.”? Porque é que ignora isso?
Porque é que ignora todos os argumentos dos “Fatimistas,” como lhes chama no seu livro? Porque é que responde a Socci sem lhe responder? Como Socci diz no seu site da Internet: “O Cardeal nunca me respondeu. Não respondeu a uma única questão que apresentei.”
Ora bem, se se fazem acusações a uma pessoa, e essa pessoa responde em 187 páginas que não contêm uma resposta, essa pessoa não estará a admitir as acusações, porque teve uma oportunidade de as enfrentar e não o fez? Gastou 187 páginas e não disse nada.
Preso à opinião pessoal de Bertone!
E há outro assunto que gostaria de tratar. O Papa João Paulo II leu um texto do Terceiro Segredo em 1978. Foi o seu próprio porta-voz, Joaquín Navarro-Valls, quem o admitiu à imprensa. E no livro de Bertone, A última vidente de Fátima, o entrevistador pergunta ao Cardeal Bertone: Que me diz disto? João Paulo II leu um texto do Terceiro Segredo em 1978?
E aqui está o que o Cardeal respondeu: “Na minha opinião, não.” O que quer dizer com “na minha opinião”? Bastava o Cardeal ter perguntado a Navarro-Valls: “Desculpe, o Papa leu um texto do Terceiro Segredo em 1978?” Bastava o Cardeal ter perguntado a João Paulo II enquanto era vivo: “Santo Padre, leu um texto do Segredo em 1978?” Bastava o Cardeal ter perguntado ao Monsenhor Dziwisz, que ainda é vivo e é o presente Arcebispo de Cracóvia: “O Papa leu um texto do Segredo em 1978?” Bastava o Cardeal ter perguntado a qualquer uma de uma centena de pessoas que saberiam responder: “O Papa leu um texto do Segredo em 1978?”
Mas a resposta que dá no seu livro é: “Na minha opinião, não.” Por outras palavras, não perguntou a ninguém — limitou-se a uma opinião — porque não queria saber a resposta. Ou então perguntou, e não quer dar-nos a resposta.
O caso de Bertone depende inteiramente
da sua opinião pessoal
Porque é que o Cardeal está tão hesitante em respondeer se o Papa leu ou não um texto do Terceiro Segredo em 1978? Vou dizer porquê. Se o Papa leu um texto do Segredo em 1978, toda a versão oficial do Vaticano vai por água abaixo.
O Vaticano diz que João Paulo II leu um texto do Segredo em 1981, e que este texto voltou para o arquivo do Santo Ofício. Mas não há registo de que se tirasse um texto do arquivo do Santo Ofício em 1978; portanto, se o Papa leu um texto em 1978, este não veio do arquivo do Santo Ofício nem voltou para o arquivo do Santo Ofício. Então de onde veio ele, e para onde foi? E a resposta é: dos aposentos papais, o que concorda com o depoimento do Arcebispo Capovilla, segundo o qual há um texto nos aposentos papais — depoimento este que o Cardeal Bertone se recusa a considerar.
O público sabe agora que Bertone
está a esconder alguma coisa
Quando o livro do Cardeal Bertone foi publicado e Socci disse: “Não me respondeu,” o Cardeal Bertone ficou a ser objecto de troça. Porque Socci disse que o livro do Cardeal era um desastre, tanto para ele como para o Vaticano. Havia muitas acusações contra o Vaticano. “Teve uma oportunidade de lhes responder. Em vez de responder, fugiu de todas as perguntas sem responder a uma que fosse. E agora tem um problema, porque há cada vez mais pessoas que não acreditam em si.” E Socci acrescentou: “Não estou contente com isto, porque sou católico antes de ser jornalista. Não quero por em causa o Vaticano. Antes queria estar errado.” E mais: “Antes queria que o Cardeal Bertone tivesse demolido a minha argumentação no seu livro, mas ele, em vez disso, não respondeu a nada. E agora toda a gente sabe que o Vaticano deve estar a esconder alguma coisa.”
Bertone aparece na televisão
O que aconteceu a seguir? O Secretário de Estado do Vaticano vai à televisão para tentar novamente responder a Socci. E sabemos que foi à televisão responder a Socci por causa do título daquele episódio do programa Porta a Porta, que era: “O Quarto Segredo de Fátima não existe”. Vê-se que todo o programa era a respeito do título do livro Socci.
Assim, Bertone vai à televisão para falar do quarto segredo. Aparece no programa Porta a Porta, o talk show mais popular da televisão italiana. Toda a gente na Itália vê Porta a Porta. O Cardeal apareceu com o antigo Primeiro Ministro da Itália, o jornalista Marco Politi, uma jornalista cujo nome não me ocorre, o entrevistador – que trabalhou com o Cardeal no seu livro – (Giuseppe De Carli), e o apresentador do programa de televisão, o Sr. Vespa. Estão ali todos juntos para falar do livro de Antonio Socci.
Mas quem é que não está ali? Antonio Socci. Não convidaram Socci para o programa onde se ia falar do livro de Socci. Queriam todos atacar o livro de Socci sem dar a Socci a oportunidade de responder. E, como Socci disse, arranjaram uma baliza vazia para marcar golos. E o que aconteceu durante aquele programa? Socci diz-nos, no seu site da Internet. O Cardeal Bertone marcou um golo na própria baliza neste programa de televisão.
Bertone cede novamente quanto
ao depoimento de Capovilla
Qual foi a primeira coisa a acontecer? Bem, ali estão eles todos para falar do livro de Socci, e a peça importante que Socci introduz no seu livro é o depoimento do Arcebispo Capovilla. Parafraseando o que Capovilla diz: “Olá! Há dois textos. Estou agora a dizer-lhes que há dois textos. Um está nos aposentos papais, na escrivaninha de madeira — a escrivaninha a que chamam Barbarigo — e o outro está no arquivo do Santo Ofício. Estou vivo. Estou bem. Estou a dizer-lhes isto. Toda a gente sabe isto.”
E aqui estão o Cardeal Bertone e quatro convidados, e que dizem eles a respeito de Capovilla? Nada! Eles nunca mencionam o Arcebispo Capovilla, nem uma só vez, durante todo o programa de televisão. É incrível — mas foi o que aconteceu.
E foi assim que se traíram a si próprios. A testemunha falou contra eles. Apareceram na televisão. Nunca se referiram à testemunha. É evidente que a testemunha disse a verdade. Por isso é que não querem falar do seu depoimento. E também é evidente que deve ter havido um acordo entre todos os presentes naquele programa para não embaraçarem o Cardeal, mencionando esta testemunha que pulveriza a história do Cardeal.
Bertone admite agora o
depoimento do Cardeal Ottaviani
Ora, durante a mesma emissão, mencionam o depoimento do Cardeal Ottaviani, de que há um texto do Terceiro Segredo que consiste em vinte a vinte e cinco (25) linhas numa só página, enquanto que, como sabemos, o texto da visão do bispo vestido de branco tem sessenta e duas (62) linhas e quatro páginas. Até o Cardeal Bertone admitiu no programa que o Cardeal Ottaviani declarou “categoricamente” que há apenas vinte e cinco (25) linhas e uma página de texto. Ele admite que o Cardeal disse isso.
E que resposta dá? Não tem resposta. Tenta livrar-se do problema segurando o texto da visão perante as câmaras e sugerindo que o Cardeal Ottaviani não reparou em duas das quatro páginas e em 37 das sessenta e duas linhas!
As últimas provas de Bertone
vão contra o seu próprio encobrimento
Tenho estado a falar de dois envelopes, Passados cinquenta minutos do programa, o Cardeal Bertone apresenta os envelopes que diz que estão referidos no “embrulho” do Terceiro Segredo. Como disse o apresentador: “E agora, Eminência, o envelope.”
E nesta altura o Cardeal puxa deste envelope grande. E do envelope grande, que estava lacrado pelo Bispo de Fátima, tira um envelope mais pequeno que não está lacrado. E neste envelope, segundo o Cardeal, a Irmã Lúcia tinha escrito o nome do Bispo de Fátima. E disse que aquele envelope não estava lacrado porque estava dentro do primeiro, que estava lacrado.
Temos, portanto, um envelope da Irmã Lúcia. Ele abre aquele envelope, de dentro do qual tira um terceiro envelope. Este está lacrado e o lacre foi quebrado. Ora do lado de fora deste envelope — ele mostra-o às câmaras – o que vemos nós? Que ela escreveu no envelope: “Por ordem expressa de Nossa Senhora, este envelope só pode ser aberto em 1960 pelo Cardeal Patriarca de Lisboa ou pelo Bispo de Fátima.”
Regressemos ao ano 2000. Em 2000, o Cardeal Bertone disse que tinha entrevistado a Irmã Lúcia e que ela lhe dissera que Nossa Senhora nunca tinha dado quaisquer instruções para que o Segredo não fosse aberto antes de 1960. Segundo o Cardeal Bertone declarou em 2000, não passava de uma data que ela tinha escolhido ao acaso. E agora, sete anos mais tarde, apresenta perante as câmaras um envelope, escrito com a letra da Irmã Lúcia: Por ordem expressa de Nossa Senhora, este envelope só pode ser aberto em 1960. Já estamos a ver uma contradição importante.
E então o Cardeal tirou um segundo envelope de dentro deste. Outro envelope lacrado, que tem exactamente a mesma coisa do lado de fora — “Por ordem expressa de Nossa Senhora, este envelope só pode ser aberto em 1960 pelo Cardeal Patriarca de Lisboa ou pelo Bispo de Fátima.”
O próprio Bertone mostra
dois envelopes
Ora aqui temos — vejam lá! — dois envelopes com avisos idênticos de que só podiam ser abertos em 1960. Tal e qual como o Arcebispo Capovilla disse: há dois envelopes diferentes. E o Cardeal Bertone queria que acreditássemos que a Irmã Lúcia tinha posto um envelope lacrado dentro de outro envelope lacrado, com avisos idênticos em ambos.
Mas perguntemos a nós próprios: Faz sentido por do lado de fora de um envelope: “Só pode ser aberto em 1960,” lacrá-lo e depois pô-lo dentro de outro envelope que diz do lado de fora: “Só pode ser aberto em 1960”, e lacrá-lo também?
Não me parece que a Irmã Lúcia tivesse uma doença obsessiva-compulsiva. Acho que ela usou dois envelopes porque havia dois textos diferentes. Foi o que disse o Arcebispo Capovilla, e o Cardeal Bertone finalmente revelou-o na televisão para todo o mundo.
E ele tinha que nos mostrar aqueles dois envelopes porque agora toda a gente sabe que há dois envelopes. Assim, o que havia ele de fazer? Se não mostra agora ambos os envelopes, as perguntas nunca hão-de desaparecer. Por isso, mostrou-nos ambos os envelopes. Só pôs um dentro do outro. Esta, pelo menos, é a minha teoria, e parece-me que é a única explicação possível. Não faz sentido ela ter arranjado dois envelopes lacrados, com o mesmo aviso, para um só documento, assim como não faz sentido o Vaticano não ter mencionado isto uma só vez durante o programa de televisão.
Bertone está a usar
de reserva mental
Vou concluir com uma pergunta. Há muito mais a que me podia referir. Gastaria umas três ou quatro horas só para dar uma ideia geral. E a pergunta é: Estou a dizer que o Arcebispo, hoje Cardeal, Bertone é um mentiroso? Estará ele simplesmente a mentir acerca disto?
Socci acha que não, e é isto que vou propor. Não se conclui necessariamente que isto implica mentir deliberadamente. O que Socci diz é que se trata de reserva mental. Decidiram no ano 2000 que iriam revelar a visão do bispo vestido de branco, mas que mantinham o texto oculto. E deixariam o Papa falar deste texto no seu sermão em Fátima em Maio de 2000, quando ele disse que a Mensagem de Fátima é um aviso sobre a cauda do dragão varrer do Céu a terça parte das estrelas, ou seja, dos padres e dos religiosos. E que nós devíamos ter cuidado, devíamos ter medo da cauda do dragão e evitá-la. A referência apocalíptica do Papa não faz sentido em relação às duas primeiras partes da Mensagem de Fátima, mas encaixa perfeitamente em relação ao texto omisso do Terceiro Segredo.
Assim, Socci conclui que podem ter feito um acordo com o Papa: Santo Padre, não podemos revelar tudo. Vamos revelar a visão. Podeis falar do texto no vosso sermão e as pessoas ficam com a ideia de que é uma referência ao Capítulo 12, versículos 3 e 4, do Apocalipse.
O “texto autêntico”
E concluímos, Santo Padre, que este texto que ela escreveu, este texto de uma só página com aquelas coisas horríveis, não é realmente autêntico. Não podemos verificá-lo, e, segundo Capovilla, João XXIII disse mais ou menos a mesma coisa. Não sabemos se é mesmo sobrenatural, Portanto, não podemos afirmar que é autêntico. O melhor é fazer como se não existisse. E por isso, quando dizemos que revelámos todo o Terceiro Segredo de Fátima, estamos a referir-nos ao texto autêntico.
De facto, se virem o programa de televisão, o Cardeal fala várias vezes do texto “autêntico”. E diz, muito elucidativamente, que esteve presente numa reunião em 2000 em que foi decidido revelar — ouçam com atenção — “tudo o que existia de facto nos arquivos do Santo Ofício.” Mas, de facto, não era tudo. Por exemplo, o envelope com a escrita da Irmã Lúcia.
Porque é que o Cardeal disse “tudo o que existia de facto nos arquivos do Santo Ofício”, em vez de dizer simplesmente que se decidira revelar todo o Terceiro Segredo? Ele sabe que há uma referência a um texto nos aposentos papais, mas fala do que revelaram do arquivo do Santo Ofício.
Porquê? Parece que o Cardeal está a fazer uma distinção mental entre o que ele considera agora ser o texto “autêntico”, e chama-lhe isso — o texto “autêntico” no arquivo do Santo Ofício — e aquilo a que se convencionou chamar o texto “não autêntico”, que está nos aposentos papais.
A ginástica mental
de Bertone explicada
Isto explica porque é que o Cardeal não quer falar do texto que o Papa leu em 1978 ou do texto a que se refere o Arcebispo Capovilla. Ele está a tomar a posição de que este outro texto não existe porque, segundo a versão “oficial”, pensam que não é “autêntico.” Assim, não estão realmente a mentir se dizem: “demos-lhes o texto autêntico no arquivo do Santo Ofício”, porque, de facto, deram-nos esse texto. E ficaram por aí. Porque, segundo o seu ponto de vista, isso é tudo o que é “autêntico.” Estamos perante uma reserva mental.
Todavia, depois desse programa de televisão, o Cardeal falou na rádio em Junho e fez uma declaração curiosa. Disse: “Estou firmemente convencido” de que não há nada mais no Segredo. Isto é espantoso! Como podia ele dizer “Estou firmemente convencido”? Isto agora é um assunto de opinião? Está a sugerir, no caso de se vir a saber mais tarde, que poderá haver mais alguma coisa que algumas pessoas virão depois a dizer que é o resto do Terceiro Segredo, embora eu, pessoalmente, esteja “firmemente convencido” de que não há mais nada? Ele não estaria “firmemente convencido” se soubesse de certeza que não há mais nada. Diria simplesmente que não há mais nada. Com esta declaração, difundida em Junho na rádio, está a construir um espaço de manobra para ele próprio.
Ainda há muita gente às escuras!
Em que ficamos? Bem, basicamente já conhecemos o Terceiro Segredo, É bastante claro, a partir do que já esbocei. Mas o problema é que nem toda a gente o conhece. Há muitas pessoas que estão na ignorância e que têm obrigação de o conhecer. E o Vaticano tem o deever de lhes dizer o que contém o Segredo.
Porque, como Socci indica no seu livro, trata-se de palavras da Bem-Aventurada Virgem Maria. São um aviso vindo do Céu. E deve ser um aviso de coisas tão terríveis que o resultado de ignorar este aviso será a perda de milhões de almas para toda a eternidade e a destruição de grande parte da humanidade.
Como se atrevem!
Podem ter grande autoridade na Igreja, mas como se atrevem a esconder-nos estas palavras — a escondê-las num cofre nos aposentos papais e a dizer depois que não são autênticas? O mínimo que podiam fazer era revelar-nos estas palavras e dizer-nos por que é que pensam que não são autênticas. Mas nem isso eles fazem.
Ajude a libertar o Terceiro Segredo
E assim dir-vos-ei, acrescentando ao que disse ontem sobre regressardes às vossas dioceses para iniciar um movimento por toda a Igreja a favor da Consagração da Rússia, que deveis também iniciar um movimento nas vossas dioceses a favor da revelação do Terceiro Segredo na sua totalidade. Porque, como disse Frère Michel em 1985, a Consagração da Rússia não se dará, na sua opinião, sem primeiro se desagravar o insulto a Deus que é a censura do Terceiro Segredo. E a única maneira de desagravar essa censura é revelar o resto do Segredo.
E assim, numa altura em que o destino do mundo e da Igreja no nosso tempo dependem da Consagração da Rússia, a Consagração da Rússia depende da revelação total e completa do Terceiro Segredo de Fátima.
Imploro-vos que volteis às vossas dioceses e continueis o que Socci começou com tanta coragem na Itália, e o que Solideo Paolini começou na Itália e o que o Padre Gruner tem feito no Canadá e por todo o mundo com o seu apostolado. Sede apóstolos pela Consagração da Rússia e pela revelação do Terceiro Segredo de Fátima – para bem da Igreja e de todo o mundo.