Sirvamos de motivação para introdução o seguinte trecho da conclusão do livreto “Por que ajoelhar-se?” do teólogo Enrico Zoffoli (Ed. Diákonos, Anápolis-GO):
“Portanto, constitui verdadeira e grave ameaça de laicização do culto e de supressão do “sagrado”, o projeto da construção de novas igrejas, que impede aos fiéis de exprimirem a mais intensa participação do SACRIFÍCIO EUCARÍSTICO, que é o ápice e a fonte de todo culto e da vida cristã.” É um plano, continua o P. Zoffoli, de obrigar os fiéis a ficarem de pé ou sentados (eliminando os bancos genuflexórios), o qual obedece à mesma lógica com a qual, já há tantos anos, foram retiradas as mesas da comunhão, permitiu-se receber o Santíssimo de pé e nas mãos, e estar sentados depois da Comunhão.
A Comunhão na mão está pois, na mesmo lógica de todas as inovações apontadas pelo P. Zoffoli, que agem sempre no sentido de dessacralizar aquilo que tem de mais sagrado na Igreja, a Santa Missa e a Sagrada Comunhão.
COMUNHÃO NA MÃO NA ANTIGUIDADE CRISTÃ?
Falsamente se pretendeu justificar essa prática alegando que Nosso Senhor assim o fez com os Apóstolos, e estes num sentido de imitação A deram a outros do mesmo modo. Estas razões não valem: - 1) porque os Apóstolos já eram sacerdotes, e mais ainda, bispos. – 2) porque, assim como o dogma, também na liturgia ocorreu um desenvolvimento orgânico, conduzido pelo Espírito Santo, visando atingir a uma sempre mais precisa expressão da verdade, e a mais digna expressão do culto. E isso se deu tanto nas formulações da Fé (no dogma), como as manifestações externas de maior respeito às coisas sagradas (na liturgia). Com a nova liturgia e Missa aconteceu, porém, um incrível retrocesso.
Na Encíclica Mediator Dei o papa Pio XII condenou como reprovável o “arcaísmo”, a simples volta de práticas dos começos do cristianismo. Continua Sua Santidade dando como exemplo o altar voltado para o povo. Na época do Concílio Vaticano II levantou-se novamente essa bandeira. Mas, anos depois o Cardeal Ratzinger que essa prática “FOI UM ERRO DE INTERPRETAÇÃO HISTÓRICA”. Assim como ele, Mons. Gamber também afirma: “Podemos provar, com certeza, que jamais houve celebração versus populum, tanto na Igreja do Ocidente, como na do Oriente (30 Dias, p.67, jun., 1993).
O QUE DIZ A HISTÓRIA ECLESIÁSTICA
O costume da comunhão na mão foi gradativamente sendo restringido até a sua completa supressão, pelos inconvenientes que acarretava e acarreta.
Podemos um decreto do Papa Santo Eutiquiano (275-283):
“Que ninguém ouse entregar a Comunhão a um homem leigo ou a uma mulher, para levá-la a um doente”. E S. Basílio nos assegura que, somente em casos de necessidade, de podia abrogar tal proibição.
Logo adiante, no ano de 380 no Concilio de Saragoza, lançava excomunhão a quem tratasse a Santa Comunhão como em tempos de perseguição (onde sua distribuição por leigos era permitida). Reforçando que na Igreja a prática sempre foi do sacerdote dar ele próprio a Hóstia consagrada S. Gregório conta um milagre de S. Agapito (535-536) que curou um surdo-mudo no momento em que colocou-lhe na boca o Corpo do Senhor. E consta que era assim que o próprio S. Gregório distribuía a Comunhão.
Santo Tomás na Summa Theologica III, q. 32, a. 3, expõe os motivos muito sérios que interditam aos leigos tocar as sagradas Espécies. Assim também o faz Paulo VI na Memoriale Domini, de 29.05.1969, na sua primeira parte. O Concilio de Trento só o fez reafirmar e manter essa prática contra os erros protestantes que, no século XVI, a reintroduziram, antecipando-se aos atuais modernistas.
TRADIÇÃO FALSA
Para adotar a comunhão na mão recorre-se, freqüentemente às Catequeses Mistagógicas de S. Cirilo de Jerusalém (séc. IV) – mas, sabe-se que não são todas autênticas -, e cita-se a passagem: “Aproximando se, pois, [o fiel] não com as palmas das mãos abertas, nem com os dedos separados, mas pondo a mão esquerda debaixo da direita a modo de trono, porque ela é destinada a receber o rei, e com a mão direita côncava, recebe o Corpo de Cristo, respondendo Amém”.
Os que citam esse texto, já tão romântico, para justificar a adoção da comunhão na mão, não passam desse Amém. Por conveniência? Assim continua o texto: “Depois de teres santificado os teus olhos pela vista do Corpo de Cristo, aproxima-se também do cálice de seu Sangue sem estender as mãos, mas ajoelhado em sinal de adoração e de veneração, dizendo Amém, tu te santificas tomando também do sangue de Cristo. E enquanto tens ainda os lábios úmidos com ele, toca-o com as mãos e depois por elas, santifica os olhos, a testa e todos os outros sentidos... Não vos separeis da Comunhão, nem vos priveis destes mistérios sagrados e espirituais, mesmo se estiverdes corrompido pelos pecados”. (P. G. XXXIII, col. 1123-1126)
Quem poderá sustentar que um tão extravagante rito tenha sido, mesmo por pouco tempo, habitual na Igreja católica? Além de práticas ridículas, ela incita à comunhão sacrílega. Para lembrar a seriedade e respeito que a Igreja sempre tratou a Sagrada Eucaristia basta lembrar a advertência de S. Paulo na 1.ª Carta aos Coríntios: “Por isso, aquele que comer deste pão e beber deste cálice do Senhor indignamente, será réu do Corpo e do Sangue do Senhor. Que cada um examine a si mesmo e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque quem come e bebe, sem discernir o Corpo, come e bebe a sua condenação” (11, 27-29).
Sabe-se que esses ritos extravagantes e até sacrílegos foram introduzidos nas Catequeses de S. Cirilo na gestão de seu sucessor. Muitos pensam no bispo João, um cripto-ariano que foi combatido por S. Epifânio, S. Jerônimo e S. Agostinho. De fato, os arianos, porque negavam a divindade de Jesus Cristo, e pois, a sua presença na Eucaristia, davam a comunhão na mão para significar a sua heresia. Desse rito atribuído a S. Cirilo, diz Leclerq no "Dicionário de Arqueologia Cristã e Liturgia" ser “uma liturgia de fantasia”.Quem a reintroduziu na Igreja não só cometeram um “erro de interpretação histórica”, mas de completa falta de senso pastoral. E tornaram-se responsáveis diante de Deus, por todos os inconvenientes que levaram a Igreja a suprimir tal prática. E por muitos outros que a tendência dessacralizante de nossa época acarreta no sentido de banalizar as coisas sagradas. São, pois, os responsáveis por todos os sacrilégios e profanações daí decorrentes.
Nosso agradecimento sincero a quem colocou este texto na internet. Que Deus o abençoe!