MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA-SEGUNDA MEMÓRIA
17. Interrogatórios de sacerdotes
Já disse a V. Ex.cia Rev.ma, no escrito sobre a minha prima,
como foram dois veneráveis Sacerdotes que nos falaram de Sua
Santidade e da necessidade que tinha de orações. Desde então,
não oferecemos a Deus oração ou sacrifício algum, em que não
dirigíssemos uma súplica por Sua Santidade. E concebemos um
amor tão grande ao Santo Padre que, quando, um dia, o Senhor
Prior disse a minha mãe que provavelmente eu vinha a ter que ir a
Roma, para ser interrogada por Sua Santidade, batia as palmas de
contente, e dizia a meus primos:
– Que bom, se vou ver o Santo Padre!
E a eles caíam as lágrimas e diziam:
– Nós não vamos, mas oferecemos este sacrifício por Ele.
O Senhor Prior fez-me também o seu último interrogatório. O
tempo determinado para os factos tinha acabado e Sua Rev.cia não
sabia que dizer a tudo isto. Começou também por mostrar o seu
descontentamento:
– Para que vai essa quantidade de gente prostrar-se em oração
em um descampado, enquanto que o Deus vivo, o Deus dos
nossos altares, Sacramentado, permanece solitário, abandonado
no Tabernáculo? Para quê esse dinheiro que deixam ficar, sem fim
algum, debaixo dessa carrasqueira, enquanto que a Igreja em obras não há maneira de se acabar, por falta de meios ?
Eu compreendia perfeitamente a razão das suas reflexões;
mas, que Ihe havia de fazer? Se eu fosse senhora dos corações
destas pessoas, inclinava-os, por certo, para a Igreja. Mas, como
não era, oferecia a Deus mais este sacrifício.
Como a Jacinta tinha o costume de, nos interrogatórios, baixar
a cabeça, pôr os olhos no chão e não dizer quase palavra, eu
era a chamada quase sempre para satisfazer a curiosidade dos
Peregrinos. Era, por isso, continuamente chamada a casa do Senhor
Prior, para ser interrogada por esta ou aquela pessoa, por
este ou aquele Sacerdote. Veio, em uma ocasião, interrogar-me
um Sacerdote de Torres Novas. Fez-me um interrogatório tão
minucioso, tão cheio de enredos, que fiquei com algum escrúpulo,
por Ihe haver ocultado algumas coisas. Consultei meus primos
sobre o caso:
– Não sei – Ihes disse – se estamos fazendo mal em não dizer
tudo. Quando nos perguntam se Nossa Senhora nos disse alguma
coisa mais, não sei se, com dizer que nos disse o segredo, não
mentimos, calando o resto.
– Não sei – respondeu a Jacinta. – Vê lá! Tu é que não queres
que se diga.
– Já se vê que não quero, não – Ihe respondi. – Para nos
começarem a perguntar que mortificações fazemos? Não nos faltava mais nada! Olha: se tu te tens calado e não tens dito nada,
agora ninguém sabia se tínhamos visto a Senhora, falado com Ela,
como com o Anjo e ninguém precisava de o saber.
A pobre criança, ao ouvir as minhas razões, começou a chorar
e, como em Maio, segundo o que já escrevi na sua história, pediu-
-me perdão. Fiquei, pois, com o meu escrúpulo, sem saber como
resolver a minha dúvida. Passado pouco, apareceu outro sacerdote,
de Santarém. Parecia irmão do primeiro ou, pelo menos, que se
tinham ensaiado juntos: as mesmas perguntas e enredos, os mesmos
modos de rir e fazer troça, até a estatura e feições pareciam
quase as mesmas. Depois deste interrogatório, a minha dúvida
aumentou e não sabia verdadeiramente que fazer. Pedia constantemente a Nosso Senhor e a Nossa Senhora que me dissessem como havia de fazer:
– Ó meu Deus e minha Mãezinha do Céu, Vós sabeis que não
Vos quero ofender com mentiras, mas bem vedes que não é bem
dizer o mais que me dissestes!
Em meio desta perplexidade, tive a felicidade de falar com o
Senhor Vigário do Olival, Padre Faustino,. Não sei porquê, Sua Rev.cia inspirou-me confiança e expus a Sua Rev.cia a minha dúvida. Já escrevi, no
escrito sobre a Jacinta, como Sua Rev.cia nos ensinou a guardar o
nosso segredo. Deu-nos ainda algumas instruções mais sobre a
vida espiritual. Sobretudo, ensinou-nos o modo de dar gosto a Nosso Senhor em tudo e a maneira de Lhe oferecer um sem número de pequenos sacrifícios:
– Se vos apetecer comer uma coisa, meus filhinhos, deixai-a
e, em seu lugar, comeis outra e ofereceis a Deus um sacrifício; se
vos apetece brincar, não brincais e ofereceis a Deus outro sacrifício; se vos interrogam e não vos podeis escusar, é Deus que assim o quer; ofereceis-Lhe mais este sacrifício.
Compreendi, verdadeiramente, a linguagem do venerável Sacerdote
e como fiquei a gostar dele! Sua Rev.cia não perdeu mais
de vista a minha alma e, de vez em quando, dignava-se, ou passar
por ali, ou se servia duma piedosa viúva que vivia em um lugarzito
perto do Olival; chamava-se Senhora Emília. Esta piedosa
mulher ia várias vezes à Cova de Iria rezar. Depois, passava por
minha casa, pedia para me deixarem ir passar uns dias com ela e
depois levava-me a casa do Senhor Vigário. Sua Rev.cia tinha a
bondade de me mandar ficar dois ou três dias em sua casa, dizendo
que era para fazer companhia a uma sua irmã. Tinha, então,
a paciência de passar a sós comigo largas horas, ensinando-me a
praticar a virtude e guiando-me com os seus sábios conselhos.
Sem eu, então, compreender nada de direcção espiritual, posso
dizer que foi o meu primeiro director. Conservo, pois, deste venerável Sacerdote gratas e santas recordações.
Este blogue é tradicional e também fiel á verdadeira Religião Una, Católica, Apostólica, Romana e tem por objectivo a divulgação da Missa Tridentina em Portugal e no Brasil,e preservar a sua Doutrina original. Dedico este blog á Virgem Santíssima, ao Sagrado Coração de Jesus,a São José e as Almas do Purgatório,como reconhecimento e gratidão por me terem tirado do Paganismo. Evangelização Tradicional e Apostolado de Oração no Porto.