Jesus Crucified

Jesus Crucified
Jesus Christ have mercy on us

Holy Tridentine Mass - Santa Missa Tridentina.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA -PRIMEIRA MEMÓRIA-Na cadeia de Ourém

MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA -PRIMEIRA MEMÓRIA
 Na cadeia de Ourém
Quando, passado algum tempo, estivemos presos, a Jacinta,
o que mais Ihe custava era o abandono dos pais; e dizia, com as
lágrimas a correrem-lhe pelas faces:
– Nem os teus pais nem os meus nos vieram ver. Não se importaram mais de nós!
– Não chores – Ihe disse o Francisco. – Oferecemos a Jesus,
pelos pecadores.
E levantando os olhos e mãozinhas ao Céu, fez ele o oferecimento:
– Ó meu Jesus, é por Vosso amor e pela conversão dos pecadores.
A Jacinta acrescentou:
– É também pelo Santo Padre e em reparação dos pecados
cometidos contra o Imaculado Coração de Maria.
Quando, depois de nos terem separado, voltaram a juntar-nos
em uma sala da cadeia, dizendo que dentro em pouco nos vinham
buscar para nos fritar, a Jacinta afastou-se para junto duma janela
que dava para a feira do gado. Julguei, a princípio, que se estaria a
distrair com as vistas; mas não tardei a reconhecer que chorava.
Fui buscá-la para junto de mim e perguntei-Ihe por que chorava:
– Porque – respondeu – vamos morrer sem tornar a ver nem
os nossos pais, nem as nossas mães!
E com as lágrimas as correr-lhe pelas faces:
– Eu queria sequer, ver a minha mãe!
– Então tu não queres oferecer este sacrifício pela conversão
dos pecadores?
– Quero, quero.
E com as lágrimas a banhar-lhe as faces, as mãos e os olhos
levantados ao Céu, faz o oferecimento:
– Ó meu Jesus, é por Vosso amor, pela conversão dos pecadores,
pelo Santo Padre e em reparação dos pecados cometidos
contra o Imaculado Coração de Maria.
Os presos que presenciaram esta cena quiseram consolar-nos:
– Mas vocês – diziam eles – digam ao Senhor Administrador
lá esse segredo. Que Ihes importa que essa Senhora não queira?
– Isso não! – respondeu a Jacinta com vivacidade. – Antes
quero morrer.

Terço na prisão
Determinámos, então, rezar o nosso Terço. A Jacinta tira uma
medalha que tinha ao pescoço, pede a um preso que Ihe pendure
em um prego que havia na parede e, de joelhos diante dessa medalha, começamos a rezar. Os presos rezaram connosco, se é que
sabiam rezar; pelo menos estiveram de joelhos. Terminado o Terço,
a Jacinta voltou para junto da janela a chorar.
– Jacinta, então tu não queres oferecer este sacrifício a Nosso
Senhor? – Ihe perguntei.
– Quero; mas lembro-me de minha mãe e choro sem querer.
Então, como a Santíssima Virgem nos tinha dito que oferecêssemos
também as nossas orações e sacrifícios para reparar os
pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria, quisemos combinar a oferecer cada um pela sua intenção. Oferecia um pelos pecadores, outro pelo Santo Padre e outro em reparação pelos pecados contra o Imaculado Coração de Maria. Feita a combinação, disse à Jacinta que escolhesse qual a intenção por que queria oferecer.
– Eu ofereço por todas, porque gosto muito de todas.

 Afeiçãozinha pelo baile
Havia entre os presos um que tocava harmónio (harmónica).
Começaram, então, para distrair-nos, a tocar e a cantar.
Perguntaram-nos se não sabíamos bailar. Dissemos que sabíamos
o fandango e o vira. A Jacinta foi então o par dum pobre ladrão que, vendo-a tão pequenina, terminou por bailar com ela ao colo! Oxalá Nossa Senhora tenha tido compaixão da sua alma e o
tenha convertido.
Agora dirá V. Ex.cia: Que belas disposições para o martírio!... É
verdade! Mas éramos crianças; não pensávamos mais. A Jacinta
tinha para o baile uma afeiçãozinha especial e muita arte. Lembro-
-me que chorava, um dia, por um seu irmão que andava na guerra
e que julgavam morto no campo da batalha. Para a distrair, com
dois seus irmãos, arranjei um baile; e a pobre criança andava a
bailar e a limpar as lágrimas que Ihe corriam pelas faces. Não
obstante esta afeiçãozinha que tinha pelo baile, que bastava às
vezes ouvir qualquer instrumento que tocavam os pastores para
começar a bailar, mesmo sozinha, quando se aproximou o S. João
e o Carnaval, disse-me:
– Eu, agora, já não bailo mais.
– E porquê?
– Porque quero oferecer este sacrifício a Nosso Senhor. E como
éramos as cabeças, na brincadeira, entre as crianças, acabaram
os bailes que se costumavam fazer nestas ocasiões.