Jesus Crucified

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Jesus Christ have mercy on us

Holy Tridentine Mass - Santa Missa Tridentina.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMORIA-Fioretti de Fátima

MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMORIA
14. Fioretti de Fátima
Dos passarinhos gostava muito; não podia ver que lhes roubassem
os ninhos. Migava sempre parte do pão que levava para a
merenda, no cimo das pedras, para que eles o comessem; e,
afastando-se, chamava por eles, como se o entendessem, e não
queria que ninguém se aproximasse, para não lhes meter medo.
– Coitadinhos! Estão cheios de fome – dizia Francisco, falando com eles.
– Venham, venham comer!
E eles, com o olho vivo que têm, não se faziam rogar; e lá
vinham em grandes ranchos. Era, então, a sua alegria, vê-los voar
para o cimo das árvores, com o papinho cheio, a cantar, numa
chilreada medonha que ele imitava com arte, fazendo coro com
eles.
Um dia encontramos um pequeno que trazia na mão um passarinho
que tinha apanhado. Cheio de pena, o Francisco prometeu-lhe dois vinténs, se o deitasse a voar. O rapaz aceitou o contrato, mas, antes, queria o dinheiro na mão. O Francisco voltou, então, a casa, da Lagoa da Carreira, que fica um pouco abaixo da Cova da Iria, a buscar os dois vinténs, para dar liberdade ao prisioneiro. Quando, depois, o viu voar, batia as palmas de contente e dizia:
– Tem cautela! não te tornem a apanhar.
Havia aí uma velhinha, a quem chamávamos Ti Mari’ Carreira,
a quem os filhos, às vezes, mandavam pastorear um rebanho de
cabras e ovelhas. Estas, pouco domesticadas, às vezes tresmalhavam-se-lhe umas para cada lado.
Quando a encontrávamos assim aflita, o Francisco era o primeiro
a correr em seu auxílio. Ajudava-a a conduzir o rebanho à
pastagem, juntando-Ihe as que se tinham tresmalhado. A pobre
velhinha desfazia-se em mil agradecimentos e chamava-lhe o seu
Anjinho da guarda.
Quando por aí iam doentes, ele ficava cheio de pena e dizia:
– Eu não posso ver assim esta gente. Faz-me tanta pena!
Quando nos chamavam, para falar a algumas pessoas que
nos procuravam, ele perguntava se eram doentes e dizia:
– Se são doentes, não vou! Não os posso ver, que me fazem
muita pena! Digam-lhes que peço por eles.

Quiseram levar-nos, um dia, ao Montelo, a casa dum homem
chamado Joaquim Chapeleta. O Francisco não quis ir.
– Eu não vou. Não posso ver essa gente a querer falar sem
poder
. (Este homem tinha a mãe muda).
Quando voltei, à noitinha, com a Jacinta, perguntei a minha tia
por ele.
Eu sei lá! Cansei-me de o procurar esta tarde. Vieram aí
umas senhoras que vos queriam ver. Vocês não estavam. Ele
sumiu-se; não foi capaz de aparecer. Agora procurem-no vocês.

 
Sentámo-nos um pouco, num banco da cozinha, pensando ir
depois à Loca do Cabeço, não duvidando que lá estaria. Mas, mal
minha tia sai de casa, fala-nos por um buraquito que tinha o forro
do sótão. Tinha subido para lá, quando sentiu que vinha gente. Daí
tinha presenciado tudo que se tinha passado e dizia-nos depois:
– Era tanta gente! Deus me livre, se me apanhavam cá sozinho!
O que é que eu lhes havia de dizer?

(Havia na cozinha um alçapão por onde, de cima duma mesa
e uma cadeira, era fácil subir para o sótão).