MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA-SEGUNDA MEMÓRIA
3. Primeira Comunhão
Aproximava-se, pois, o dia em que o Senhor Prior tinha
destinado fizessem a sua primeira comunhão solene as crianças
da freguesia. Minha mãe pensou, pois, que em vistas da sua filhinha saber a doutrina e de ter já completado os 6 anos, poderia talvez fazer já a sua primeira comunhão. Com este intento, mandou-me, com minha irmã Carolina, assistir à explicação da doutrina que, como preparação para esse dia, fazia o Senhor Prior às crianças.
Lá ia, pois, radiante de alegria, na esperança de em breve receber,
pela primeira vez, o meu Deus. Sua Rev.cia fazia as suas explicações sentado em uma cadeira que estava sobre um estrado. Chamava-me para junto de si e quando alguma criança não sabia responder às suas perguntas, para as envergonhar, mandava-me dizer a mim.
Chegou, pois, a véspera do grande dia e Sua Rev.cia mandou ir
à Igreja todas as crianças, da parte da manhã, para dizer definitivamente quais as que comungavam. Qual não foi o meu desgosto, quando Sua Rev.cia me chama para junto de si e, acariciando-me, me diz que tinha de esperar pelos 7 anos! Comecei logo a chorar; e, como se estivesse junto de minha mãe, reclinei a cabeça, soluçando, nos seus joelhos. Estava em esta atitude, quando entra na Igreja um Sacerdote que Sua Rev.cia havia mandado vir de fora, para o ajudar nas confissões. Sua Rev.cia perguntou o motivo das minhas lágrimas e, ao ser informado, levou-me para a sacristia, examinou-me a respeito da doutrina e do mistério da Eucaristia e depois trouxe-me pela mão junto do Senhor Prior e diz:
– Padre Pena, V. Rev.cia pode deixar esta pequena comungar.
Ela entende melhor o que faz que muitos desses.
– Mas só tem 6 anos! – retorquiu o bom Pároco.
– Não importa! Essa responsabilidade, se V. Rev.cia quer, tomo-a eu.
– Pois bem – me disse o bom Pároco –, vai dizer a tua mãe que sim, que fazes amanhã a tua primeira comunhão.
A minha alegria não tem explicação. Lá fui, batendo as palmas de contente, correndo todo o caminho, dar a boa nova a minha mãe que começou logo a preparar-me para, de tarde, me levar a confessar-me. Ao chegar à Igreja, disse a minha mãe que me queria
confessar a esse sacerdote de fora. Sua Rev.cia estava confessando
na sacristia, sentado em uma cadeira. Minha mãe ajoelhou-se, pois,
ao pé da porta, no altar-mor, junto das outras mulheres que estavam
esperando a vez dos seus filhinhos. Aí, diante do Santíssimo, foi-
-me fazendo as suas últimas recomendações.
4. Sorriso da Mãe de Deus
E quando chegou a minha vez, lá fui ajoelhar aos pés do nosso bom Deus, ali representado pelo Seu ministro, a implorar o perdão dos meus pecados. Quando terminei, vi que toda a gente se ria. Minha mãe chama-me e diz:
– Minha filha, não sabes que a confissão se faz baixinho, que
é um segredo? Toda a gente te ouviu! Só no fim disseste uma
coisa que ninguém soube o que foi.
No caminho para casa, minha mãe fez várias tentativas para ver se descobria o que ela chamava o segredo da minha confissão; mas não obteve mais que um profundo silêncio. Vou, pois, descobrir agora o segredo da minha primeira confissão. O bom Sacerdote, depois de me ter ouvido, disse-me estas breves palavras:
– Minha filha, a sua alma é o templo do Espírito Santo. Guarde-a para sempre pura, para que Ele possa continuar nela a Sua
acção divina.
Ao ouvir estas palavras, senti-me penetrada de respeito pelo
meu íntimo e perguntei ao bom confessor como devia fazer.
– De joelhos, aí, aos pés de Nossa Senhora, peça-Lhe, com muita confiança, que tome conta do seu coração, que o prepare para receber amanhã dignamente o Seu querido Filho e que o guarde para Ele só.
Havia na Igreja mais que uma imagem de Nossa Senhora.
Mas, como minhas irmãs arranjavam o altar de Nossa Senhora do
Rosário, estava por isso habituada a rezar diante dessa e por isso lá fui também dessa vez. Pedi-Lhe, pois, com todo o ardor de que fui capaz, que guardasse, para Deus só, o meu pobre coração.
Ao repetir várias vezes esta humilde súplica, com os olhos
fitos na imagem, pareceu-me que ela se sorria e que, com um olhar
e gesto de bondade, me dizia que sim. Fiquei tão inundada de
gozo, que a custo conseguia articular palavra.
Nota:
Mais tarde foi identificado como o «santo» Padre Cruz († 1948)
5. Vigília de esperança
Minhas irmãs ficaram essa noite trabalhando para me fazer o
vestido branco e a grinalda de flores. Eu, com a alegria, não podia
dormir; e as horas não havia maneira de passarem. Levantava-
-me, pois, constantemente, para ir junto delas perguntar-Ihes se
ainda não era dia, se me queriam provar o vestido, a grinalda, etc.
Amanheceu, por fim, o feliz dia, mas as nove horas, quanto
tardaram! Já vestida com o meu vestido branco, minha irmã Maria
levou-me à cozinha para eu pedir perdão a meus pais, beijar-lhes
a mão e pedir-lhes a bênção. Terminada a cerimónia, minha mãe
fez-me as últimas recomendações. Disse-me o que queria que eu
pedisse a Nosso Senhor quando O tivesse em meu peito e despediu-
me com estas palavras: – Sobretudo, pede a Nosso Senhor que te faça uma santa – palavras que se me gravaram tão indeléveis,
no coração, que foram as primeiras que disse a Nosso Senhor logo que O recebi. E ainda hoje me parece ouvir o eco da voz de minha mãe a repetir-mas.
Lá fui, caminho da Igreja, com minhas irmãs; e para não me
manchar com o pó do caminho, levou-me ao colo meu irmão. Logo
que cheguei à Igreja, corri aos pés do altar de Nossa Senhora a
renovar o meu pedido. Aí me fiquei, na contemplação do sorriso de
ontem, até que minhas irmãs me foram buscar para me colocar no
lugar que me estava destinado. As crianças eram muitas. Formavam
quatro filas desde o fundo da Igreja até à balaustrada, 2 de meninos e 2 de meninas. Como eu era a mais pequenina, calhou-me ficar junto dos anjos, no degrau da balaustrada.
6. O grande dia
Começou a Missa cantada e à maneira que o momento se aproximava, o coração batia mais apressado, na expectativa da visita dum grande Deus que ia descer do Céu para Se unir à minha pobre alma. O Senhor Prior desceu por entre as filas a distribuir o Pão dos Anjos. Tive a sorte de ser a primeira. Quando o Sacerdote
descia os degraus do altar, o coração parecia querer sair-me do
peito. Mas logo que pousou em meus lábios a Hóstia Divina, senti
uma serenidade e uma paz inalterável; senti que me invadia uma
atmosfera tão sobrenatural, que a presença do nosso bom Deus
se me tornava tão sensível, como se O visse e ouvisse com os
sentidos corporais. Dirigi-Lhe então as minhas súplicas:
– Senhor, fazei-me uma santa, guardai o meu coração sempre puro, para Ti só.
Aqui, pareceu-me que o nosso bom Deus me disse, no fundo do meu coração, estas distintas palavras:
– A graça que hoje te é concedida permanecerá viva em tua
alma, produzindo frutos de vida eterna.
Sentia-me de tal forma transformada em Deus!
Quando terminou a função religiosa, que era quase a uma hora
da tarde, por os Sacerdotes de fora terem tardado em vir, e com o
sermão e renovação das promessas do baptismo, minha mãe foi,
pois, buscar-me, aflita, julgando-me a cair de fraqueza. Mas eu
sentia-me tão saciada com o Pão dos Anjos, que me foi impossível,
por então, tomar alimento algum. Perdi, desde então, o gosto e
atractivo que começava a sentir pelas coisas do mundo e só me sentia bem em algum lugar solitário, onde pudesse, só, recordar
as delícias da minha primeira comunhão.
Este blogue é tradicional e também fiel á verdadeira Religião Una, Católica, Apostólica, Romana e tem por objectivo a divulgação da Missa Tridentina em Portugal e no Brasil,e preservar a sua Doutrina original. Dedico este blog á Virgem Santíssima, ao Sagrado Coração de Jesus,a São José e as Almas do Purgatório,como reconhecimento e gratidão por me terem tirado do Paganismo. Evangelização Tradicional e Apostolado de Oração no Porto.