MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA
APÊNDICE IIIA parte mais bem guardada do «segredo» de Fátima, acompanhada
de um comentário adequado da Congregação para a Doutrina da Fé, foi publicada em 26 de Junho de 2000. Com esta divulgação a Mensagem de Fátima alcança uma actualidade e um valor extraordinários.
Transcrevemos aqui, na íntegra, o texto do referido documento.
A MENSAGEM DE FÁTIMA
APRESENTAÇÃO
Na passagem do segundo para o terceiro milénio, o Papa João
Paulo II decidiu tornar público o texto da terceira parte do «segredo
de Fátima».
Depois dos acontecimentos dramáticos e cruéis do século XX,
um dos mais tormentosos da história do homem, com o ponto culminante no cruento atentado ao «doce Cristo na terra», abre-se
assim o véu sobre uma realidade que faz história e a interpreta na
sua profundidade segundo uma dimensão espiritual, a que é refractária a mentalidade actual, frequentemente eivada de
racionalismo.
A história está constelada de aparições e sinais sobrenaturais,
que influenciam o desenrolar dos acontecimentos humanos e
acompanham o caminho do mundo, surpreendendo crentes e descrentes.
Estas manifestações, que não podem contradizer o conteúdo
da fé, devem convergir para o objecto central do anúncio de
Cristo: o amor do Pai que suscita nos homens a conversão e dá a
graça para se abandonarem a Ele com devoção filial. Tal é a mensagem de Fátima, com o seu veemente apelo à conversão e à
penitência, que leva realmente ao coração do Evangelho.
Fátima é, sem dúvida, a mais profética das aparições modernas.
A primeira e a segunda parte do «segredo», que são publicadas
em seguida para ficar completa a documentação, dizem respeito
antes de mais à pavorosa visão do inferno, à devoção ao Imaculado
Coração de Maria, à segunda guerra mundial, e depois ao prenúncio dos danos imensos que a Rússia, com a sua defecção da fé cristã e adesão ao totalitarismo comunista, haveria de causar à
humanidade.
Em 1917, ninguém poderia ter imaginado tudo isto: os três
pastorinhos de Fátima vêem, ouvem, memorizam, e Lúcia, a testemunha sobrevivente, quando recebe a ordem do Bispo de Leiria e a autorização de Nossa Senhora, põe por escrito.
Para a exposição das primeiras duas partes do «segredo»,
aliás já publicadas e conhecidas, foi escolhido o texto escrito pela
Irmã Lúcia na terceira memória, de 31 de Agosto de 1941; na quarta memória, de 8 de Dezembro de 1941, ela acrescentará qualquer observação.
A terceira parte do «segredo» foi escrita «por ordem de Sua
Ex.cia Rev.ma o Senhor Bispo de Leiria e da (...) Santíssima Mãe»,
no dia 3 de Janeiro de 1944.
O envelope selado foi guardado primeiramente pelo Bispo de Leiria. Para se tutelar melhor o «segredo», no dia 4 de Abril de 1957 o envelope foi entregue ao Arquivo Secreto do Santo Ofício.
Disto mesmo, foi avisada a Irmã Lúcia pelo Bispo de Leiria.
Segundo apontamentos do Arquivo, no dia 17 de Agosto de 1959 e de acordo com Sua Eminência o Cardeal Alfredo Ottaviani,
o Comissário do Santo Ofício, Padre Pierre Paul Philippe OP, levou
a João XXIII o envelope com a terceira parte do «segredo de Fátima». Sua Santidade, «depois de alguma hesitação», disse: «Aguardemos. Rezarei. Far-lhe-ei saber o que decidi»
Lê-se no diário de João XXIII, a 17 de Agosto de 1959: «Audiências: P. Philippe,
Comissário do S.O., que me traz a carta que contém a terceira parte dos segredos de Fátima. Reservo-me de a ler com o meu Confessor».
O «SEGREDO» DE FÁTIMA
Primeira e segunda parte do «Segredo» segundo a redacção feita pela Irmã Lúcia na «Terceira Memória», de 31 de Agosto de 1941, destinada ao Bispo de Leiria-Fátima.
(texto original)
"Terei para isso que falar algo do segredo e responder ao primeiro
ponto de interrogação.
O que é o segredo?
Parece-me que o posso dizer, pois que do Céu tenho já a licença.
Os representantes de Deus na terra, têm-me autorizado a
isso várias vezes, e em várias cartas, uma das quais, julgo que
conserva V. Ex.cia Rev.ma do Senhor Padre José Bernardo Gonçalves, na em que me manda escrever ao Santo Padre. Um dos pontos que me indica é a revelação do segredo. Algo disse, mas para não alongar mais esse escrito que devia ser breve, limitei-me ao indispensável, deixando a Deus a oportunidade d’um momento mais favorável.
Expus já no segundo escrito a dúvida que de 13 de Junho a 13
de Julho me atormentou e que n’essa aparição tudo se desvaneceu.
Bem o segredo consta de três coisas distintas, duas das quais
vou revelar.
A primeira foi pois a vista do inferno!
Nossa Senhora mostrou-nos um grande mar de fôgo que parcia
estar debaixo da terra. Mergulhados em êsse fôgo os demónios e
as almas, como se fossem brasas transparentes e negras, ou
bronziadas com forma humana, que flutuavam no incêndio levadas
pelas chamas que d’elas mesmas saiam, juntamente com nuvens
de fumo, caindo para todos os lados, semelhante ao cair das
faulhas em os grandes incêndios sem peso nem equilíbrio, entre
gritos e gemidos de dôr e desespero que horrorizava e fazia estremecer de pavor. Os demónios destinguiam-se por formas horríveis e ascrosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes e negros. Esta vista foi um momento, e graças à nossa bôa Mãe do Céu; que antes nos tinha prevenido com a promeça de nos levar para o Céu (na primeira aparição) se assim não fosse, creio que teríamos morrido de susto e pavor.
Em seguida, levantámos os olhos para Nossa Senhora que
nos disse com bondade e tristeza:
– Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres
pecadores, para as salvar, Deus quer establecer no mundo a
devoção a meu Imaculado Coração. Se fizerem o que eu disser
salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar, mas
se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará
outra peor. Quando virdes uma noite, alumiada por uma luz
desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que
vai a punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e
de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir virei
pedir a consagração da Rússia a meu Imaculado Coração e a
comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem a
meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz, se não,
espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e
perseguições à Igreja, os bons serão martirizados, o Santo Padre
terá muito que sufrer, várias nações serão aniquiladas, por fim o
meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á
a Rússia, que se converterá, e será consedido ao mundo algum
tempo de paz."
Na «quarta memória», de 8 de Dezembro de 1941, a Irmã Lúcia escreve: «Começo pois a minha nova tarefa, e cumprirei as ordens de V. Ex.cia Rev.ma e os desejos do Senhor Dr. Galamba. Exceptuando a parte do segredo que por agora não me é permitido revelar, direi tudo; advertidamente não deixarei nada.
Suponho que poderão esquecer-me apenas alguns pequenos detalhes de mínima importância».
Na citada «quarta memória», a Irmã Lúcia acrescenta: «Em Portugal se conservará sempre o dogma da fé etc.».
TERCEIRA PARTE DO «SEGREDO»
(texto original)
«J.M.J.
A terceira parte do segredo revelado a 13 de Julho de 1917 na
Cova da Iria-Fátima.
Escrevo em acto de obediência a Vós Deus meu, que mo
mandais por meio de sua Ex.cia Rev.ma o Senhor Bispo de Leiria e
da Vossa e minha Santíssima Mãe.
Depois das duas partes que já expus, vimos ao lado esquerdo
de Nossa Senhora um pouco mais alto um Anjo com uma espada
de fôgo em a mão esquerda; ao centilar, despedia chamas que
parecia iam encendiar o mundo; mas apagavam-se com o contacto
do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu
encontro: O Anjo apontando com a mão direita para a terra, com
voz forte disse: Penitência, Penitência, Penitência! E vimos n’uma
luz emensa que é Deus: “algo semelhante a como se vêem as
pessoas n’um espelho quando lhe passam por diante” um Bispo
vestido de Branco “tivemos o pressentimento de que era o Santo
Padre”. Varios outros Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas
subir uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande Cruz de troncos toscos como se fôra de sobreiro com a casca;
o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade
meia em ruínas, e meio trémulo com andar vacilante, acabrunhado
de dôr e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho; chegado ao cimo do monte, prostrado de juelhos aos pés da grande Cruz foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam varios tiros e setas, e assim mesmo foram morrendo uns trás outros os Bispos Sacerdotes, religiosos e religiosas e varias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de varias classes e posições. Sob os dois braços da Cruz estavam dois Anjos cada um com um regador de cristal em a mão, n’êles recolhiam o sangue dos Martires e com êle regavam as almas que se aproximavam de Deus.
Tuy-3-1-1944 ».
Este blogue é tradicional e também fiel á verdadeira Religião Una, Católica, Apostólica, Romana e tem por objectivo a divulgação da Missa Tridentina em Portugal e no Brasil,e preservar a sua Doutrina original. Dedico este blog á Virgem Santíssima, ao Sagrado Coração de Jesus,a São José e as Almas do Purgatório,como reconhecimento e gratidão por me terem tirado do Paganismo. Evangelização Tradicional e Apostolado de Oração no Porto.
Jesus Crucified
Holy Tridentine Mass - Santa Missa Tridentina.
quarta-feira, 28 de janeiro de 2015
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA-TEXTO DO PEDIDO DA CONSAGRAÇÃO DA RÚSSIA
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA
TEXTO DO PEDIDO DA CONSAGRAÇÃO DA RÚSSIA
«Veio algumas vezes confessar à nossa Capela o Sr. P. Gonçalves.
Confessei-me com Sua Rev.a e, como me entendia bem com Sua Rev.a, continuei por espaço de 3 anos que aqui esteve de Sócio.
Foi nesta época que Nossa Senhora me avisou de que era chegado o momento em que queria participasse à Santa Igreja o Seu desejo da consagração da Rússia e a Sua promessa de a converter... A comunicação foi assim:
13-6-1929 – Eu tinha pedido e obtido licença das minhas Superioras e Confessor para fazer a Hora-Santa das 11 à meia-noite, de quintas para sextas-feiras. Estando uma noite só, ajoelhei-me entre a balaustrada, no meio da capela, a rezar, prostrada, as Orações do Anjo. Sentindo-me cansada, ergui-me e continuei a rezá-las com os braços em cruz. A única luz era a da lâmpada. De repente iluminou-se toda a Capela com uma luz sobrenatural e sobre o Altar apareceu uma Cruz de luz que chegava até ao tecto. Em uma luz mais clara via-se, na parte superior da cruz, uma face de homem com corpo até à cinta, sobre o peito uma pomba também de luz e, pregado na cruz, o corpo de outro homem. Um pouco abaixo da cinta, suspenso no ar, via-se um cálix e uma hóstia grande, sobre a qual caíam algumas gotas de sangue que corriam pelas faces do Crucificado e duma ferida do peito. Escorregando pela Hóstia, essas gotas caíam dentro do Cálix. Sob o braço direito da cruz estava Nossa Senhora («era Nossa Senhora de Fátima com o Seu Imaculado Coração... na mão esquerda, ... sem espada, nem rosas, mas com uma Coroa de espinhos e chamas...»), com o Seu Imaculado Coração na mão... Sob o braço esquerdo, umas letras grandes, como se fossem de água cristalina que corresse para cima do Altar, formavam estas palavras: «Graça e Misericórdia».
Compreendi que me era mostrado o mistério da Santíssima
Trindade e recebi luzes sobre este mistério que não me é permitido
revelar.
Depois Nossa Senhora disse-me:
– É chegado o momento em que Deus pede para o Santo Padre fazer, em união com todos os Bispos do Mundo, a Consagração da Rússia ao Meu Imaculado Coração, prometendo salvá-la por este meio. São tantas as almas que a Justiça de Deus condena por pecados contra Mim cometidos que venho pedir reparação:
sacrifica-te por esta intenção e ora.
Dei conta disto ao Confessor que me mandou escrever o que
Nossa Senhora queria se fizesse.
Mais tarde, por meio duma comunicação íntima, Nossa Senhora
disse-me, queixando-se:
– Não quiseram atender ao Meu pedido!... Como o rei de França*,
arrepender-se-ão e fá-la-ão, mas será tarde. A Rússia terá já espalhado os seus erros pelo mundo, provocando guerras, perseguições à igreja: O Santo Padre terá muito que sofrer.
Nota: * Em 1689, um ano antes de morrer, Santa Margarida Maria tentou, por vários meios e iniciativas, fazer chegar ao «Rei Sol», Luís XIV da França, uma mensagem do Sagrado Coração de Jesus, com quatro pedidos: gravar o Sagrado Coração de Jesus nas bandeiras reais;
construir um templo em Sua honra, onde devia receber as homenagens da Corte; o Rei deveria fazer a sua consagração ao Sagrado Coração; e deveria empenhar a sua autoridade perante a Santa Sé
para obter uma missa em honra do Sagrado Coração de Jesus.
No entanto, nada se conseguiu. Parece mesmo que esta mensagem nem sequer chegou ao conhecimento do Rei.
Só um século mais tarde, a família real responderia, na medida do possível, a esta mensagem. Luís XVI, em 1792, concebe a ideia do seu voto ao Coração de Jesus, mas já só o realiza na prisão do Templo, prometendo cumprir, após a sua libertação, todos os pedidos comunicados por Santa Margarida Maria.
Mas, para a Providência Divina, era já tarde: Luís XVI foi guilhotinado em 21 de Janeiro de 1793.
TEXTO DO PEDIDO DA CONSAGRAÇÃO DA RÚSSIA
«Veio algumas vezes confessar à nossa Capela o Sr. P. Gonçalves.
Confessei-me com Sua Rev.a e, como me entendia bem com Sua Rev.a, continuei por espaço de 3 anos que aqui esteve de Sócio.
Foi nesta época que Nossa Senhora me avisou de que era chegado o momento em que queria participasse à Santa Igreja o Seu desejo da consagração da Rússia e a Sua promessa de a converter... A comunicação foi assim:
13-6-1929 – Eu tinha pedido e obtido licença das minhas Superioras e Confessor para fazer a Hora-Santa das 11 à meia-noite, de quintas para sextas-feiras. Estando uma noite só, ajoelhei-me entre a balaustrada, no meio da capela, a rezar, prostrada, as Orações do Anjo. Sentindo-me cansada, ergui-me e continuei a rezá-las com os braços em cruz. A única luz era a da lâmpada. De repente iluminou-se toda a Capela com uma luz sobrenatural e sobre o Altar apareceu uma Cruz de luz que chegava até ao tecto. Em uma luz mais clara via-se, na parte superior da cruz, uma face de homem com corpo até à cinta, sobre o peito uma pomba também de luz e, pregado na cruz, o corpo de outro homem. Um pouco abaixo da cinta, suspenso no ar, via-se um cálix e uma hóstia grande, sobre a qual caíam algumas gotas de sangue que corriam pelas faces do Crucificado e duma ferida do peito. Escorregando pela Hóstia, essas gotas caíam dentro do Cálix. Sob o braço direito da cruz estava Nossa Senhora («era Nossa Senhora de Fátima com o Seu Imaculado Coração... na mão esquerda, ... sem espada, nem rosas, mas com uma Coroa de espinhos e chamas...»), com o Seu Imaculado Coração na mão... Sob o braço esquerdo, umas letras grandes, como se fossem de água cristalina que corresse para cima do Altar, formavam estas palavras: «Graça e Misericórdia».
Compreendi que me era mostrado o mistério da Santíssima
Trindade e recebi luzes sobre este mistério que não me é permitido
revelar.
Depois Nossa Senhora disse-me:
– É chegado o momento em que Deus pede para o Santo Padre fazer, em união com todos os Bispos do Mundo, a Consagração da Rússia ao Meu Imaculado Coração, prometendo salvá-la por este meio. São tantas as almas que a Justiça de Deus condena por pecados contra Mim cometidos que venho pedir reparação:
sacrifica-te por esta intenção e ora.
Dei conta disto ao Confessor que me mandou escrever o que
Nossa Senhora queria se fizesse.
Mais tarde, por meio duma comunicação íntima, Nossa Senhora
disse-me, queixando-se:
– Não quiseram atender ao Meu pedido!... Como o rei de França*,
arrepender-se-ão e fá-la-ão, mas será tarde. A Rússia terá já espalhado os seus erros pelo mundo, provocando guerras, perseguições à igreja: O Santo Padre terá muito que sofrer.
Nota: * Em 1689, um ano antes de morrer, Santa Margarida Maria tentou, por vários meios e iniciativas, fazer chegar ao «Rei Sol», Luís XIV da França, uma mensagem do Sagrado Coração de Jesus, com quatro pedidos: gravar o Sagrado Coração de Jesus nas bandeiras reais;
construir um templo em Sua honra, onde devia receber as homenagens da Corte; o Rei deveria fazer a sua consagração ao Sagrado Coração; e deveria empenhar a sua autoridade perante a Santa Sé
para obter uma missa em honra do Sagrado Coração de Jesus.
No entanto, nada se conseguiu. Parece mesmo que esta mensagem nem sequer chegou ao conhecimento do Rei.
Só um século mais tarde, a família real responderia, na medida do possível, a esta mensagem. Luís XVI, em 1792, concebe a ideia do seu voto ao Coração de Jesus, mas já só o realiza na prisão do Templo, prometendo cumprir, após a sua libertação, todos os pedidos comunicados por Santa Margarida Maria.
Mas, para a Providência Divina, era já tarde: Luís XVI foi guilhotinado em 21 de Janeiro de 1793.
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA- APÊNDICE II
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA
APÊNDICE II
IntroduçãoO texto deste Apêndice não é um documento manuscrito pela Irmã
Lúcia, mas tem todas as garantias de autenticidade, visto que foi o próprio director espiritual, nessa altura o Rev. P. José Bernardo Gonçalves, S. J. que o transcreveu directa e literalmente dos apontamentos da Vidente.
A visão a que se refere o texto tem-na a Irmã Lúcia no dia 13 de
Junho de 1929, na capela da casa de Tuy (Espanha).
Começa por narrar a visão da Santíssima Trindade que acompanha
a da presença da Virgem Maria, mostrando o Seu Coração, como nas aparições de Junho e Julho de 1917. A promessa feita então torna-se agora realidade. E a Irmã Lúcia ouve a Virgem Maria que pede a consagração da Rússia ao Seu Coração Imaculado em circunstâncias bem determinadas.
APÊNDICE II
IntroduçãoO texto deste Apêndice não é um documento manuscrito pela Irmã
Lúcia, mas tem todas as garantias de autenticidade, visto que foi o próprio director espiritual, nessa altura o Rev. P. José Bernardo Gonçalves, S. J. que o transcreveu directa e literalmente dos apontamentos da Vidente.
A visão a que se refere o texto tem-na a Irmã Lúcia no dia 13 de
Junho de 1929, na capela da casa de Tuy (Espanha).
Começa por narrar a visão da Santíssima Trindade que acompanha
a da presença da Virgem Maria, mostrando o Seu Coração, como nas aparições de Junho e Julho de 1917. A promessa feita então torna-se agora realidade. E a Irmã Lúcia ouve a Virgem Maria que pede a consagração da Rússia ao Seu Coração Imaculado em circunstâncias bem determinadas.
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- TEXTO DA GRANDE PROMESSA DO CORAÇÃO DE MARIA
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA
TEXTO DA GRANDE PROMESSA
DO CORAÇÃO DE MARIA,
NA APARIÇÃO DE PONTEVEDRA (ESPANHA)
J. M. J.
No dia 17-12-1927, foi junto do Sacrário perguntar a Jesus
como satisfaria o pedido que Ihe era feito, se a origem da devoção
ao Imaculado Coração de Maria estava encerrada no segredo que
a SS. Virgem Ihe tinha confiado.
Jesus, com voz clara, fez-lhe ouvir estas palavras:
– Minha filha, escreve o que te pedem; e tudo que te revelou a
SS. Virgem, na aparição em que falou desta devoção, escreve-o
também; quanto ao resto do segredo, continua o silêncio.
O que em 1917 foi confiado a este respeito é o seguinte: ela
pediu para os levar para o Céu. A SS. Virgem respondeu:
– Sim; a Jacinta e o Francisco levo-os em breve, mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-se de ti para Me fazer
conhecer e amar. Ele quer estabelecer no Mundo a devoção
ao Meu Imaculado Coração. A quem a abraçar, prometo a salvação, e serão queridas de Deus estas almas, como flores postas
por Mim a adornar o Seu trono.
– Fico cá sozinha? – disse, com tristeza.
– Não, filha. Eu nunca te deixarei. O Meu Imaculado Coração
será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus.
Dia 10-12-1925, apareceu-lhe a SS. Virgem e, ao lado, suspenso
em uma nuvem luminosa, um Menino. A SS. Virgem, pondo-lhe no ombro a mão e mostrando, ao mesmo tempo, um coração que tinha na outra mão, cercado de espinhos.
Ao mesmo tempo, disse o Menino:
– Tem pena do Coração de tua SS. Mãe que está coberto de
espinhos que os homens ingratos a todos os momentos Lhe cravam
sem haver quem faça um acto de reparação para os tirar.
Em seguida, disse a SS. Virgem:
– Olha, minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que
os homens ingratos a todos os momentos Me cravam, com blasfémias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que todos aqueles que durante 5 meses, ao 1.° sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 mistérios do Rosário, com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes, na hora da morte, com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas.
No dia 15-2-1926, apareceu-lhe, de novo, o Menino Jesus.
Perguntou se já tinha espalhado a devoção a Sua SS. Mãe. Ela
expôs-Lhe as dificuldades que tinha o Confessor e que a Madre
Superiora estava pronta a propagá-la, mas que o Confessor tinha
dito que ela, só, nada podia. Jesus respondeu:
– É verdade que a tua Superiora, só nada pode; mas, com a
Minha graça, pode tudo.
Apresentou a Jesus a dificuldade que tinham algumas almas
em se confessar ao sábado e pediu para ser válida a confissão de
8 dias. Jesus respondeu:
– Sim, pode ser de muitos mais ainda, contanto que, quando
Me receberem, estejam em graça e que tenham a intenção de desagravar o Imaculado Coração de Maria.
Ela perguntou:
– Meu Jesus, as que se esquecerem de formar essa intenção?
Jesus respondeu:
– Podem formá-la na outra confissão seguinte, aproveitando a
1.ª ocasião que tiverem de se confessar.
Uns dias depois, a Irmã Lúcia escrevia o seu relato, o qual foi
enviado a Mons. Manuel Pereira Lopes, mais tarde Vigário Geral
da Diocese do Porto, e que tinha sido confessor de Lúcia durante a
sua permanência no Asilo de Vilar, da cidade do Porto. Este documento inédito foi publicado pelo Rev. Dr. Sebastião Martins dos Reis no livro: “Uma Vida ao Serviço de Fátima» A/d págs. 336-357.
No dia 15 (de Fevereiro de 1926), andava eu muito ocupada
com o meu oficio e quase nem disso me lembrava. E indo eu deitar
um apanhador de lixo fora do quintal, onde, alguns meses atrasados, tinha encontrado uma criança, à qual tinha perguntado se ela sabia a Avé-Maria e, respondendo-me que sim, lhe mandei que a dissesse, para eu ouvir. Mas, como ela não se resolvia a dizê-la
só, disse(-a) eu, com ela, três vezes; e ao fim das três Avé-Marias
pedi-lhe que (a) dissesse só. Mas, como ela se calou e não foi
capaz de dizer, só, a Avé-Maria, perguntei-lhe se ela sabia qual
era a Igreja de Santa Maria. Respondeu-me que sim. Disse-lhe
que fosse lá todos os dias e que dissesse assim: Ó minha Mãe do
Céu, dai-me o Vosso Menino Jesus! Ensinei-lhe isto e vim-me
embora.
No dia 15-2-1926, voltando eu lá, como é de costume, encontrei
ali uma criança que me parecia ser a mesma e perguntei-lhe, então:
– Tens pedido o Menino Jesus à Mãe do Céu?
A criança volta-se para mim e diz:
– E tu tens espalhado, pelo mundo, aquilo que a Mãe do Céu
te pediu?
E, nisto, transforma-se num Menino resplandecente. Conhecendo,
então, que era Jesus disse:
– Meu Jesus! Vós bem sabeis o que o meu Confessor me
disse na carta que Vos li. Dizia que era preciso que aquela visão se
repetisse, que houvesse factos para que ela fosse acreditada, e a
Madre Superiora, só, a espalhar este facto, nada podia.
– É verdade que a Madre Superiora só, nada pode; mas, com
a Minha graça, pode tudo. E basta que o teu Confessor te dê licença e a tua Superiora o diga, para que seja acreditado, até sem se saber a quem foi revelado.
– Mas o meu Confessor dizia na carta que esta devoção não
fazia falta no mundo, porque já havia muitas almas que Vos recebiam, aos 1.os Sábados, em honra de Nossa Senhora e dos 15 Mistérios do Rosário.
– É verdade, minha filha, que muitas almas os começam, mas
poucas os acabam e as que os terminam é com o fim de receberem
as graças que aí estão prometidas; e me agradam mais as
que fizerem os 5 com fervor e com o fim de desagravar o Coração
da Tua Mãe do Céu, que as que fizerem os 15, tíbios e indiferentes...
TEXTO DA GRANDE PROMESSA
DO CORAÇÃO DE MARIA,
NA APARIÇÃO DE PONTEVEDRA (ESPANHA)
J. M. J.
No dia 17-12-1927, foi junto do Sacrário perguntar a Jesus
como satisfaria o pedido que Ihe era feito, se a origem da devoção
ao Imaculado Coração de Maria estava encerrada no segredo que
a SS. Virgem Ihe tinha confiado.
Jesus, com voz clara, fez-lhe ouvir estas palavras:
– Minha filha, escreve o que te pedem; e tudo que te revelou a
SS. Virgem, na aparição em que falou desta devoção, escreve-o
também; quanto ao resto do segredo, continua o silêncio.
O que em 1917 foi confiado a este respeito é o seguinte: ela
pediu para os levar para o Céu. A SS. Virgem respondeu:
– Sim; a Jacinta e o Francisco levo-os em breve, mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-se de ti para Me fazer
conhecer e amar. Ele quer estabelecer no Mundo a devoção
ao Meu Imaculado Coração. A quem a abraçar, prometo a salvação, e serão queridas de Deus estas almas, como flores postas
por Mim a adornar o Seu trono.
– Fico cá sozinha? – disse, com tristeza.
– Não, filha. Eu nunca te deixarei. O Meu Imaculado Coração
será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus.
Dia 10-12-1925, apareceu-lhe a SS. Virgem e, ao lado, suspenso
em uma nuvem luminosa, um Menino. A SS. Virgem, pondo-lhe no ombro a mão e mostrando, ao mesmo tempo, um coração que tinha na outra mão, cercado de espinhos.
Ao mesmo tempo, disse o Menino:
– Tem pena do Coração de tua SS. Mãe que está coberto de
espinhos que os homens ingratos a todos os momentos Lhe cravam
sem haver quem faça um acto de reparação para os tirar.
Em seguida, disse a SS. Virgem:
– Olha, minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que
os homens ingratos a todos os momentos Me cravam, com blasfémias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que todos aqueles que durante 5 meses, ao 1.° sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 mistérios do Rosário, com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes, na hora da morte, com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas.
No dia 15-2-1926, apareceu-lhe, de novo, o Menino Jesus.
Perguntou se já tinha espalhado a devoção a Sua SS. Mãe. Ela
expôs-Lhe as dificuldades que tinha o Confessor e que a Madre
Superiora estava pronta a propagá-la, mas que o Confessor tinha
dito que ela, só, nada podia. Jesus respondeu:
– É verdade que a tua Superiora, só nada pode; mas, com a
Minha graça, pode tudo.
Apresentou a Jesus a dificuldade que tinham algumas almas
em se confessar ao sábado e pediu para ser válida a confissão de
8 dias. Jesus respondeu:
– Sim, pode ser de muitos mais ainda, contanto que, quando
Me receberem, estejam em graça e que tenham a intenção de desagravar o Imaculado Coração de Maria.
Ela perguntou:
– Meu Jesus, as que se esquecerem de formar essa intenção?
Jesus respondeu:
– Podem formá-la na outra confissão seguinte, aproveitando a
1.ª ocasião que tiverem de se confessar.
Uns dias depois, a Irmã Lúcia escrevia o seu relato, o qual foi
enviado a Mons. Manuel Pereira Lopes, mais tarde Vigário Geral
da Diocese do Porto, e que tinha sido confessor de Lúcia durante a
sua permanência no Asilo de Vilar, da cidade do Porto. Este documento inédito foi publicado pelo Rev. Dr. Sebastião Martins dos Reis no livro: “Uma Vida ao Serviço de Fátima» A/d págs. 336-357.
No dia 15 (de Fevereiro de 1926), andava eu muito ocupada
com o meu oficio e quase nem disso me lembrava. E indo eu deitar
um apanhador de lixo fora do quintal, onde, alguns meses atrasados, tinha encontrado uma criança, à qual tinha perguntado se ela sabia a Avé-Maria e, respondendo-me que sim, lhe mandei que a dissesse, para eu ouvir. Mas, como ela não se resolvia a dizê-la
só, disse(-a) eu, com ela, três vezes; e ao fim das três Avé-Marias
pedi-lhe que (a) dissesse só. Mas, como ela se calou e não foi
capaz de dizer, só, a Avé-Maria, perguntei-lhe se ela sabia qual
era a Igreja de Santa Maria. Respondeu-me que sim. Disse-lhe
que fosse lá todos os dias e que dissesse assim: Ó minha Mãe do
Céu, dai-me o Vosso Menino Jesus! Ensinei-lhe isto e vim-me
embora.
No dia 15-2-1926, voltando eu lá, como é de costume, encontrei
ali uma criança que me parecia ser a mesma e perguntei-lhe, então:
– Tens pedido o Menino Jesus à Mãe do Céu?
A criança volta-se para mim e diz:
– E tu tens espalhado, pelo mundo, aquilo que a Mãe do Céu
te pediu?
E, nisto, transforma-se num Menino resplandecente. Conhecendo,
então, que era Jesus disse:
– Meu Jesus! Vós bem sabeis o que o meu Confessor me
disse na carta que Vos li. Dizia que era preciso que aquela visão se
repetisse, que houvesse factos para que ela fosse acreditada, e a
Madre Superiora, só, a espalhar este facto, nada podia.
– É verdade que a Madre Superiora só, nada pode; mas, com
a Minha graça, pode tudo. E basta que o teu Confessor te dê licença e a tua Superiora o diga, para que seja acreditado, até sem se saber a quem foi revelado.
– Mas o meu Confessor dizia na carta que esta devoção não
fazia falta no mundo, porque já havia muitas almas que Vos recebiam, aos 1.os Sábados, em honra de Nossa Senhora e dos 15 Mistérios do Rosário.
– É verdade, minha filha, que muitas almas os começam, mas
poucas os acabam e as que os terminam é com o fim de receberem
as graças que aí estão prometidas; e me agradam mais as
que fizerem os 5 com fervor e com o fim de desagravar o Coração
da Tua Mãe do Céu, que as que fizerem os 15, tíbios e indiferentes...
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA-APÊNDICE I
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA
APÊNDICE I
Introdução
O texto que se segue é um documento escrito pela Irmã Lúcia, em
fins de 1927, por ordem do seu director espiritual, o Rev. P.e Aparício, S. J.
Pouco tempo depois de ter tido esta aparição, no dia 10 de Dezembro de 1925, na sua cela, redigiu um primeiro escrito que foi destruído pela própria Irmã Lúcia. Este documento constitui, portanto, a segunda redacção, exactamente igual à primeira; apenas Ihe acrescentou o parágrafo introdutório referente à data de 17 de Dezembro de 1927. Nele, a Vidente explica como recebeu autorização do Céu, para dar a conhecer parte do segredo.
A este documento chamamos: « Testo da grande promessa do Coração de Maria ». Efectivamente, é expressão da misericordiosa e gratuita Vontade Divina, dando-nos um meio de salvação fácil e seguro, visto que se apoia na tradição católica mais sã, sobre a eficácia salvadora da Intercessão Mariana.
Neste texto podem ler-se as condições necessárias para corresponder ao apelo dos Cinco Primeiros Sábados do mês, em reparação das injúrias feitas ao Coração de Maria. E não pode esquecer-se nunca a sua intenção mais profunda: a reparação ao Coração de Maria.
APÊNDICE I
Introdução
O texto que se segue é um documento escrito pela Irmã Lúcia, em
fins de 1927, por ordem do seu director espiritual, o Rev. P.e Aparício, S. J.
Pouco tempo depois de ter tido esta aparição, no dia 10 de Dezembro de 1925, na sua cela, redigiu um primeiro escrito que foi destruído pela própria Irmã Lúcia. Este documento constitui, portanto, a segunda redacção, exactamente igual à primeira; apenas Ihe acrescentou o parágrafo introdutório referente à data de 17 de Dezembro de 1927. Nele, a Vidente explica como recebeu autorização do Céu, para dar a conhecer parte do segredo.
A este documento chamamos: « Testo da grande promessa do Coração de Maria ». Efectivamente, é expressão da misericordiosa e gratuita Vontade Divina, dando-nos um meio de salvação fácil e seguro, visto que se apoia na tradição católica mais sã, sobre a eficácia salvadora da Intercessão Mariana.
Neste texto podem ler-se as condições necessárias para corresponder ao apelo dos Cinco Primeiros Sábados do mês, em reparação das injúrias feitas ao Coração de Maria. E não pode esquecer-se nunca a sua intenção mais profunda: a reparação ao Coração de Maria.
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA-EPÍLOGO
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA
EPÍLOGO
Parece-me, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, ter escrito tudo que,
por agora, V. Ex.cia Rev.ma me mandou. Até aqui, fiz quanto pude
para ocultar o que as aparições de Nossa Senhora, na Cova de
Iria, tinham de mais íntimo. Sempre que delas me vi obrigada a
falar, procurei tocar-lhe ao de leve, para não descobrir o que tanto
desejava reservar. Mas, agora, que a obediência a isso me obrigou,
aí vai! E eu fico, como o esqueleto despojado de tudo e até da
mesma vida, posto no Museu Nacional, a recordar aos visitantes a
miséria e o nada de tudo que passa. Assim despojada, ficarei no
Museu do Mundo, lembrando, aos que passam, não a miséria e o
nada, mas a grandeza das Divinas Misericórdias.
Que o bom Deus e o Imaculado Coração de Maria se dignem
aceitar os pobres sacrifícios que se têm dignado pedir-me, para
avivar nas almas o espírito de fé, de confiança e de amor!
Tuy, 8 de Dezembro (de) 1941.
EPÍLOGO
Parece-me, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, ter escrito tudo que,
por agora, V. Ex.cia Rev.ma me mandou. Até aqui, fiz quanto pude
para ocultar o que as aparições de Nossa Senhora, na Cova de
Iria, tinham de mais íntimo. Sempre que delas me vi obrigada a
falar, procurei tocar-lhe ao de leve, para não descobrir o que tanto
desejava reservar. Mas, agora, que a obediência a isso me obrigou,
aí vai! E eu fico, como o esqueleto despojado de tudo e até da
mesma vida, posto no Museu Nacional, a recordar aos visitantes a
miséria e o nada de tudo que passa. Assim despojada, ficarei no
Museu do Mundo, lembrando, aos que passam, não a miséria e o
nada, mas a grandeza das Divinas Misericórdias.
Que o bom Deus e o Imaculado Coração de Maria se dignem
aceitar os pobres sacrifícios que se têm dignado pedir-me, para
avivar nas almas o espírito de fé, de confiança e de amor!
Tuy, 8 de Dezembro (de) 1941.
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA-JACINTA COM FAMA DE SANTIDADE
IV. JACINTA COM FAMA DE SANTIDADE
1. Indicação
Falta-me ainda responder a uma outra pergunta do Senhor Dr.
Galamba:
– Que sentiam as pessoas junto da Jacinta?
É difícil a resposta, porque, de ordinário, eu não sei o que se
passa no interior dos outros; e por isso não conheço os seus sentimentos.
Posso, pois, apenas dizer alguma coisa do que eu mesma
sentia e descrever alguma manifestação exterior do sentimento
das outras pessoas.
2. Jacinta, espelho de Deus
O que eu sentia era o que, de ordinário, se sente junto duma
pessoa santa que em tudo parece comunicar a Deus.
A Jacinta tinha um porte sempre sério, modesto e amável, que
parecia traduzir a presença de Deus em todos os seus actos, próprio
de pessoas já avançadas em idade e de grande virtude. Não
Ihe vi nunca aquela demasiada leviandade ou entusiasmo próprio
das crianças, pelos enfeites e brincadeiras. (Isto, depois das aparições, que, antes, era o número um de entusiasmo e capricho).
Não posso dizer que as outras crianças corressem para junto
dela, como o faziam para junto de mim. E isto, talvez, porque ela
não sabia tanta cantiga e historieta para Ihes ensinar e as entreter;
ou, então, porque a seriedade do seu porte era demasiado superior
à sua idade. Se, na sua presença, alguma criança ou mesmo
pessoas grandes diziam alguma coisa ou faziam qualquer acção
menos conveniente, repreendia-as, dizendo:
– Não façam isso, que ofendem a Deus Nosso Senhor; e Ele
já está tão ofendido!
Se a pessoa ou criança retorquia, chamando-lhe beata falsa
ou santinha de pau carunchento, ou coisa semelhante, o que acontecia várias vezes, ela olhava-as com uma certa severidade e, sem dizer palavra, afastava-se. Talvez fosse este um dos motivos pelo qual não gozava de mais simpatia. Se eu estava junto dela, depressa aí se juntavam dezenas de crianças; mas, se me ia embora,
depressa ficava só. No entanto, quando estavam junto dela,
parecia gostarem da sua companhia. Abraçavam-na com os abraços
próprios do carinho inocente; gostavam de cantar e jogar com
ela. Por vezes pediam-me para a ir buscar, quando não estava; e
se eu lhes dizia que ela não queria ir, por elas serem más, prometiam ser boas, se ela fosse.
– Vai buscá-la e diz-lhe que vamos a ser boas, se ela vier.
Na doença, quando, às vezes, a ia visitar, encontrava, fora da
porta, um bom grupo, esperando por mim para entrar a vê-la. Parecia que um certo respeito as detinha. Antes de me vir embora, às vezes, perguntava-lhe:
– Jacinta, queres que diga a algumas que fiquem aqui ao pé
de ti, a fazer-te companhia?
– Pois sim. Mas dessas mais pequeninas que eu.
Então, todas porfiavam, dizendo:
– Fico eu! Fico eu!
Depois, entretinha-se com elas, ensinando-lhes o Padre-Nosso,
a Ave-Maria, a benzer-se, a cantar e, sobre a cama dela ou sentadas
no chão, no meio da casa, se estava levantada, jogavam as
pedrinhas, servindo-se, para isso, das pequeninas maçãs, castanhas,
bolota doce, figos secos, etc., com que minha tia não lhes faltava, para que fizessem companhia a sua filhinha.
Rezava com elas o terço, aconselhava-as a não fazerem pecados,
para não ofenderem a Deus Nosso Senhor e não irem para
o inferno.
Algumas passavam aí manhãs e tardes quase inteiras, parecendo
sentirem-se felizes junto dela. Mas, depois de se terem ido
embora, não se atreviam a voltar com aquela confiança que parecia
ser natural entre crianças. Umas vezes, iam procurar-me e
pedir-me para entrar com elas; outras, esperavam-me junto da casa
ou, então, esperavam, fora da porta, que minha tia ou a própria
Jacinta as chamasse e convidasse a entrar e a ir para junto dela.
Parecia gostarem dela e da sua companhia, mas sentirem-se retidas
por um certo acanhamento ou respeito que as mantinha a uma
certa distância.
3. Jacinta, exemplo de virtudes
As pessoas grandes iam também visitá-la; mostravam admiração
pelo seu porte, sempre igual, paciente, sem a menor queixa
ou exigência. Na posição em que a mãe a deixava, assim permanecia.
Se Ihe perguntavam se estava melhor, respondia:
– Estou na mesma.
Ou,
– Parece que estou pior. Muito obrigada.
Com um ar mais bem triste, mantinha-se em silêncio diante de
quem a visitava. As pessoas sentavam-se aí junto dela, às vezes
longo tempo, parecendo sentirem-se aí felizes. Aí tinham também
lugar minuciosos e fatigantes interrogatórios, e ela sem mostrar
nunca a mínima impaciência ou aborrecimento. Apenas me dizia,
depois:
– Já me doía tanto a cabeça de ouvir aquela gente! Agora, que
não posso fugir para me esconder, ofereço mais sacrifícios destes
a Nosso Senhor.
As vizinhas, às vezes, iam coser a roupa para junto dela e
diziam:
– Vou trabalhar um pouco para o pé da Jacinta. Não sei o que
é que ela tem. A gente gosta de estar ao pé dela.
Levavam os filhinhos que com ela se entretinham a brincar e
as mães ficavam assim mais livres para coser. Às perguntas que
lhe faziam, respondia com palavras amáveis, mas breves. Se diziam
alguma coisa que não Ihe parecesse bem, acudia logo:
– Não digam isso, que ofendem a Deus Nosso Senhor.
Se contavam alguma coisa de suas famílias, que não fosse
boa, respondia-lhes:
– Não deixem os seus filhinhos fazer pecados, que Ihes podem
ir para o inferno.
Se eram pessoas maiores:
– Digam-lhes que não façam isso, que é pecado; que ofendem
a Deus Nosso Senhor e depois podem condenar-se.
As pessoas de longe, que por curiosidade ou devoção nos
visitavam, parecia sentirem algo de sobrenatural junto dela. Às
vezes, ao chegar a minha casa para falar comigo, diziam:
– Vimos de falar com a Jacinta e Francisco; junto deles, sente-se um não sei quê de sobrenatural.
Por vezes, queriam até que eu Ihes explicasse de que provinha
esse sentimento. Como não sabia, encolhia os ombros e
guardava silêncio. Não poucas vezes, ouvi comentar isto.
Um dia, chegaram a minha casa dois sacerdotes e um cavalheiro.
Enquanto minha mãe Ihes abriu a porta e os mandou sentar-se, subi para o sótão a esconder-me. Minha mãe, depois de os ter recebido, deixou-os sós, para me ir chamar ao pátio, onde acabava de me deixar. Não me encontrando, demorou-se à minha procura. Entretanto, os bons Senhores iam comentando o caso:
– Vamos a ver o que nos diz esta – dizia o cavalheiro. – A mim
impressionou-me a inocência e sinceridade da Jacinta e do
irmãozito. Se esta se não desdiz, eu acredito.
– Não sei que senti junto dos dois pequenos! Parece que se
sente ali algo de sobrenatural – acrescentou um dos Sacerdotes. –
A mim fez-me bem à alma falar com eles.
Minha mãe não me encontrou, e os bons Senhores tiveram
que resignar-se a partir sem me falar.
– Às vezes – dizia-lhes minha mãe –, vai-se por aí a brincar
com as outras crianças e não há quem na encontre.
– Temos muita pena! Gostámos muito de falar com os dois
pequenitos e queríamos também falar com a sua; mas voltaremos
noutra ocasião.
Um Domingo, minhas amigas da Moita, Maria, Rosa e Ana
Caetano, e Maria e Ana Brogueira, depois da Missa, foram pedir a
minha mãe para me deixar ir passar o dia com elas. Obtida a licença, pediram-me para levar comigo a Jacinta e Francisco. Obtida a licença de minha tia, lá fomos para a Moita. Depois do jantar, a Jacinta começou a deixar cair a cabecita com sono. O Senhor José Alves mandou uma das sobrinhas ir deitá-la na sua cama. Daí a pouco, dormia a sono solto. Começou a juntar-se a gente do lugarejo, para passar a tarde connosco; e, na ansiedade de a ver, foram espreitar, a ver se já estava acordada. Ficaram admiradas de vê-la dormir um pesadíssimo sono com um sorriso nos lábios, um ar angelical, as mãozinhas postas e levantadas para o Céu. O quarto encheu-se depressa de curiosos. Todos queriam vê-la, e a custo uns saíam para deixarem entrar os outros. A mulher do Senhor José Alves e as sobrinhas diziam:
– Isto deve ser um Anjo.
E tomadas dum certo respeito, permaneceram de joelhos junto
da cama, até que eu, perto das quatro e meia, a fui chamar, para
irmos rezar o terço à Cova de Iria e depois irmos para casa. As
sobrinhas do Senhor José Alves são as atrás apelidadas Caetano.
4. O Francisco era diferente
O Francisco era, também, neste ponto, um pouco diferente:
sempre a sorrir, sempre amável e condescendente, brincava com
todas as crianças indistintamente. Não repreendia a ninguém. Apenas, às vezes, se retirava, quando via alguma coisa que não estava bem. Se se Ihe perguntava por que se ia embora, respondia:
– Porque vocês não são bons.
ou
– Porque não quero brincar mais.
Na doença, as crianças entravam e saíam do seu quarto com
a maior liberdade, falavam-lhe da janela do quarto, perguntavam-lhe se estava melhor, etc. Se se Ihe perguntava se queria que algumas crianças ficassem junto dele a fazer-lhe companhia, respondia que não, que queria antes estar só.
– Só gosto – dizia às vezes – que estejas aqui tu e mais a
Jacinta.
Diante das pessoas grandes que o visitavam, mantinha-se em
silêncio e respondia, ao que Ihe perguntavam, em poucas palavras.
As pessoas que o visitavam, tanto da terra como de fora,
sentavam-se junto da cama dele, às vezes longo tempo, e diziam:
– Não sei que tem o Francisco! A gente sente-se aqui bem.
Algumas vizinhas comentavam, um dia, com minha tia e minha
mãe, depois de haverem estado um bom bocado de tempo no
quarto de Francisco:
– É um mistério que a gente não entende. São crianças como
as outras, não nos dizem nada, e junto delas sente-se um não sei
quê diferente das demais.
– Parece que se sente, ao entrar no quarto do Francisco, o
que sentimos ao entrar na Igreja – dizia uma mulher vizinha de
minha tia, de nome Romana, e que não mostrava acreditar nada
nos factos.
Nesse grupo estavam ainda mais três: uma era mulher de
Manuel Faustino, outra de José Marto, outra de José Silva.
Não me admira que as pessoas experimentassem estes sentimentos,
habituadas a encontrar, em todos, somente a materialidade
da vida caduca e perecedoura. Agora, a só vista destas
eleva-lhes o pensamento para a Mãe do Céu, com Quem se diz
que têm relações; para a eternidade, para onde os vêem tão prestes
a partir, tão alegres e felizes; para Deus, a Quem eles dizem
que amam mais que os próprios pais; e também para o inferno,
para onde eles lhes dizem que vão, se continuam a fazer pecados.
Materialmente são, como dizem, crianças como as outras. Mas se
essa boa gente, tão habituada só ao material da vida, soubesse
elevar um pouco o espírito, veria sem dificuldade, que nelas havia
algo que bastante as distinguia.
Veio-me agora à mente um outro facto que teve relação com o
Francisco e vou apontá-lo.
Entrou, um dia, no quarto de Francisco, uma mulher da Casa
Velha, chamada Mariana, que, aflita por o marido ter expulsado um
filho de casa, pedia a graça da reconciliação do filho com o pai. O
Francisco respondeu-lhe:
– Fique descansada. Vou em breve para o Céu e, quando lá
chegar, peço essa graça a Nossa Senhora.
Não me lembro bem os dias que tardou ainda a ir para o Céu;
mas o que recordo é que, na tarde do dia em que Francisco morreu,
o filho pediu pela segunda vez perdão ao pai que já Iho tinha
negado uma vez, por ele se não querer sujeitar às condições impostas. Sujeitou-se a tudo o que o pai lhe impunha e restabeleceu-se a paz naquela casa.
Uma irmã deste rapaz, de nome Leocádia, casou depois com
um irmão da Jacinta e Francisco e é agora a mãe daquela sobrinha
da Jacinta e Francisco que V. Ex.cia Rev.ma há tempo viu entrar,
na Cova de Iria, para religiosa Doroteia.
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA-SOBRE A JACINTA
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA
III. MAIS APONTAMENTOS SOBRE A JACINTA
1. Uma cura milagrosa
Pede-me ainda, o Senhor Dr. Galamba, para escrever alguma
graça mais que tenha sido alcançada por meio da Jacinta. Pensei
um pouco e lembro-me de duas apenas.
A primeira vez que a boa Senhora Emília, de quem falo no
segundo escrito sobre a Jacinta, me foi buscar, para me levar ao
Olival, a casa do Senhor Vigário, a Jacinta foi comigo. Quando
chegámos à aldeia onde vivia essa boa viúva, era noite. Apesar
disso, a notícia da nossa chegada não tardou a divulgar-se e a
casa da Senhora Emília achou-se logo cercada de inúmeras pessoas.
Queriam ver-nos, interrogar-nos, pedir graças, etc.
Havia aí uma piedosa mulher que costumava rezar em sua casa o terço, com as pessoas da pequena aldeia que se queriam juntar a ela. Veio, pois, pedir para lá irmos a sua casa rezar o terço.
Quisemos escusar-nos, dizendo que o rezávamos com a Senhora
Emília, mas as instâncias foram tantas que não houve outro remédio senão ceder. À notícia de que íamos, o povo correu em massa para a casa da boa mulher, com o fim de apanhar lugar; e ainda bem que assim nos deixaram o caminho mais livre. Quando íamos a caminho, saiu-nos ao encontro uma rapariga, talvez dos seus vinte anos, a chorar. Prostra-se de joelhos e pede para entrarmos em sua casa a rezar sequer uma Ave-Maria pelas melhoras de seu pai, que havia mais de três anos não podia descansar, com um contínuo soluço.
Impossível resistir a umas cenas destas. Ajudei a pobre rapariga a levantar-se; e, como a noite era já bastante adiantada
(caminhávamos à luz dumas lanternas), disse à Jacinta que ficasse
ela ali, enquanto eu ia rezar o terço com o povo, que na volta a
chamava. Ela aceitou. Quando voltei, entrei também nessa casa.
Encontrei a Jacinta sentada numa cadeira, em frente dum homem
também sentado, de aspecto não muito velho, mas mirrado, e a
chorar de comoção. Rodeavam-no algumas pessoas mais, que julgo
serem da família. Ao ver-me, levantou-se, despediu-se prometendo
não o esquecer nas suas orações, e lá viemos para a casa da
Senhora Emília.
No dia seguinte, saímos de manhãzinha cedo para o Olival, e
voltámos só passados uns três dias. Ao chegar a casa da Senhora
Emília, lá nos apareceu a ditosa rapariga, acompanhada já de seu
pai, de aspecto bastante melhor, sem aquela aparência de tanto
nervosismo e de tão extremada fraqueza. Vinham agradecer a graça
recebida, porque, diziam, não tinha tornado mais a sentir o importuno soluço. Todas as vezes que ainda por aí passei, sempre essa boa família me vinha mostrar o seu agradecimento, dizendo que estava completamente curado, que não tinha sentido mais o menor assomo de soluços.
2. Regresso dum filho pródigo
A outra era uma tia minha, casada na Fátima, de nome Vitória,
que tinha um filho que era um verdadeiro pródigo. Não sei
porquê, havia tempo que tinha abandonado a casa paterna, sem
se saber que feito era dele. Aflita, minha tia veio um dia a Aljustrel,
para me pedir que pedisse a Nossa Senhora por aquele seu filho.
Não me encontrando, fez o pedido à Jacinta. Esta prometeu pedir por ele. Passados alguns dias, apareceu em casa a pedir perdão
aos pais e depois foi a Aljustrel a contar a sua desventurada sorte.
Depois (contava ele) de haver gastado tudo que tinha roubado
aos pais, andou vário tempo por lá, feito vadio, até que, não
recordo o motivo, foi metido na cadeia de Torres Novas. Algum
tempo depois de estar aí, conseguiu, uma noite, escapar-se; e,
fugitivo, de noite, meteu-se por entre montes e pinhais desconhecidos.
Julgando-se completamente perdido, entre o susto de ser apanhado
e a escuridão da noite cerrada e tempestuosa, encontrou-se
com o único recurso da oração. Caiu de joelhos e começou a rezar.
Passados alguns minutos, afirmava ele, aparece-lhe a Jacinta,
pega-lhe por a mão e condu-lo à estrada (de) macadame que
vem do Alqueidão ao Reguengo, fazendo-lhe sinal que continuasse
por ali. Quando amanheceu, achou-se a caminho de Boleiros,
reconheceu o ponto onde estava e, comovido, dirigiu-se a casa
dos pais.
Ora bem, ele afirmava que a Jacinta lhe tinha aparecido, que
a tinha reconhecido perfeitamente. Eu perguntei à Jacinta se era
verdade ela lá ter ido ter com ele. Respondeu-me que não, que
nem sabia onde eram esses pinhais e montes onde ele se perdeu.
– Eu só rezei e pedi muito a Nossa Senhora por ele, com pena
da tia Vitória – foi o que me respondeu.
– Como foi então isto?
– Não sei; sabe-o Deus.
III. MAIS APONTAMENTOS SOBRE A JACINTA
1. Uma cura milagrosa
Pede-me ainda, o Senhor Dr. Galamba, para escrever alguma
graça mais que tenha sido alcançada por meio da Jacinta. Pensei
um pouco e lembro-me de duas apenas.
A primeira vez que a boa Senhora Emília, de quem falo no
segundo escrito sobre a Jacinta, me foi buscar, para me levar ao
Olival, a casa do Senhor Vigário, a Jacinta foi comigo. Quando
chegámos à aldeia onde vivia essa boa viúva, era noite. Apesar
disso, a notícia da nossa chegada não tardou a divulgar-se e a
casa da Senhora Emília achou-se logo cercada de inúmeras pessoas.
Queriam ver-nos, interrogar-nos, pedir graças, etc.
Havia aí uma piedosa mulher que costumava rezar em sua casa o terço, com as pessoas da pequena aldeia que se queriam juntar a ela. Veio, pois, pedir para lá irmos a sua casa rezar o terço.
Quisemos escusar-nos, dizendo que o rezávamos com a Senhora
Emília, mas as instâncias foram tantas que não houve outro remédio senão ceder. À notícia de que íamos, o povo correu em massa para a casa da boa mulher, com o fim de apanhar lugar; e ainda bem que assim nos deixaram o caminho mais livre. Quando íamos a caminho, saiu-nos ao encontro uma rapariga, talvez dos seus vinte anos, a chorar. Prostra-se de joelhos e pede para entrarmos em sua casa a rezar sequer uma Ave-Maria pelas melhoras de seu pai, que havia mais de três anos não podia descansar, com um contínuo soluço.
Impossível resistir a umas cenas destas. Ajudei a pobre rapariga a levantar-se; e, como a noite era já bastante adiantada
(caminhávamos à luz dumas lanternas), disse à Jacinta que ficasse
ela ali, enquanto eu ia rezar o terço com o povo, que na volta a
chamava. Ela aceitou. Quando voltei, entrei também nessa casa.
Encontrei a Jacinta sentada numa cadeira, em frente dum homem
também sentado, de aspecto não muito velho, mas mirrado, e a
chorar de comoção. Rodeavam-no algumas pessoas mais, que julgo
serem da família. Ao ver-me, levantou-se, despediu-se prometendo
não o esquecer nas suas orações, e lá viemos para a casa da
Senhora Emília.
No dia seguinte, saímos de manhãzinha cedo para o Olival, e
voltámos só passados uns três dias. Ao chegar a casa da Senhora
Emília, lá nos apareceu a ditosa rapariga, acompanhada já de seu
pai, de aspecto bastante melhor, sem aquela aparência de tanto
nervosismo e de tão extremada fraqueza. Vinham agradecer a graça
recebida, porque, diziam, não tinha tornado mais a sentir o importuno soluço. Todas as vezes que ainda por aí passei, sempre essa boa família me vinha mostrar o seu agradecimento, dizendo que estava completamente curado, que não tinha sentido mais o menor assomo de soluços.
2. Regresso dum filho pródigo
A outra era uma tia minha, casada na Fátima, de nome Vitória,
que tinha um filho que era um verdadeiro pródigo. Não sei
porquê, havia tempo que tinha abandonado a casa paterna, sem
se saber que feito era dele. Aflita, minha tia veio um dia a Aljustrel,
para me pedir que pedisse a Nossa Senhora por aquele seu filho.
Não me encontrando, fez o pedido à Jacinta. Esta prometeu pedir por ele. Passados alguns dias, apareceu em casa a pedir perdão
aos pais e depois foi a Aljustrel a contar a sua desventurada sorte.
Depois (contava ele) de haver gastado tudo que tinha roubado
aos pais, andou vário tempo por lá, feito vadio, até que, não
recordo o motivo, foi metido na cadeia de Torres Novas. Algum
tempo depois de estar aí, conseguiu, uma noite, escapar-se; e,
fugitivo, de noite, meteu-se por entre montes e pinhais desconhecidos.
Julgando-se completamente perdido, entre o susto de ser apanhado
e a escuridão da noite cerrada e tempestuosa, encontrou-se
com o único recurso da oração. Caiu de joelhos e começou a rezar.
Passados alguns minutos, afirmava ele, aparece-lhe a Jacinta,
pega-lhe por a mão e condu-lo à estrada (de) macadame que
vem do Alqueidão ao Reguengo, fazendo-lhe sinal que continuasse
por ali. Quando amanheceu, achou-se a caminho de Boleiros,
reconheceu o ponto onde estava e, comovido, dirigiu-se a casa
dos pais.
Ora bem, ele afirmava que a Jacinta lhe tinha aparecido, que
a tinha reconhecido perfeitamente. Eu perguntei à Jacinta se era
verdade ela lá ter ido ter com ele. Respondeu-me que não, que
nem sabia onde eram esses pinhais e montes onde ele se perdeu.
– Eu só rezei e pedi muito a Nossa Senhora por ele, com pena
da tia Vitória – foi o que me respondeu.
– Como foi então isto?
– Não sei; sabe-o Deus.
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA-EPÍLOGO
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA
EPÍLOGO
Eis, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, a história das aparições de
Nossa Senhora na Cova de Iria, em 1917. Sempre que por algum
motivo tinha que falar delas, procurava fazê-lo com as mínimas
palavras, na ambição de guardar, para mim só, essas partes mais
íntimas que tanto me custava manifestar. Mas, como elas são de
Deus e não minhas, e Ele, agora, por meio de V. Ex.cia Rev.ma, mas reclama, aí vão. Restituo o que me não pertence. Advertidamente, não reservo nada. Parece-me que devem faltar apenas alguns pequenos detalhes referentes aos pedidos que eu fazia. Como eram coisas meramente materiais, não lhes ligava tanta importância, e talvez por isso se me não gravaram tão vivamente no espírito. E depois, elas eram tantas, tantas! Devido, talvez, a preocupar-me com a recordação das inúmeras graças que tinha para pedir a Nossa Senhora, houve o engano de entender que a guerra acabava no próprio dia 13.
Não poucas pessoas se têm mostrado bastante admiradas com a memória que Deus se dignou dar-me. Por uma bondade infinita, ela é em mim bastante privilegiada, em todo o sentido. Mas, nestas coisas sobrenaturais, não é de admirar, porque elas gravam-se no espírito, de tal forma, que é quase impossível esquecê-las. Pelo menos, o sentido das coisas que elas indicam nunca se esquece, a não ser que Deus o queira também fazer esquecer.
EPÍLOGO
Eis, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, a história das aparições de
Nossa Senhora na Cova de Iria, em 1917. Sempre que por algum
motivo tinha que falar delas, procurava fazê-lo com as mínimas
palavras, na ambição de guardar, para mim só, essas partes mais
íntimas que tanto me custava manifestar. Mas, como elas são de
Deus e não minhas, e Ele, agora, por meio de V. Ex.cia Rev.ma, mas reclama, aí vão. Restituo o que me não pertence. Advertidamente, não reservo nada. Parece-me que devem faltar apenas alguns pequenos detalhes referentes aos pedidos que eu fazia. Como eram coisas meramente materiais, não lhes ligava tanta importância, e talvez por isso se me não gravaram tão vivamente no espírito. E depois, elas eram tantas, tantas! Devido, talvez, a preocupar-me com a recordação das inúmeras graças que tinha para pedir a Nossa Senhora, houve o engano de entender que a guerra acabava no próprio dia 13.
Não poucas pessoas se têm mostrado bastante admiradas com a memória que Deus se dignou dar-me. Por uma bondade infinita, ela é em mim bastante privilegiada, em todo o sentido. Mas, nestas coisas sobrenaturais, não é de admirar, porque elas gravam-se no espírito, de tal forma, que é quase impossível esquecê-las. Pelo menos, o sentido das coisas que elas indicam nunca se esquece, a não ser que Deus o queira também fazer esquecer.
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA-Treze de Outubro
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA
8. Treze de Outubro
Dia 13 de Outubro de 1917 – Saímos de casa bastante cedo,
contando com as demoras do caminho. O povo era em massa. A
chuva, torrencial. Minha mãe, temendo que fosse aquele o último
dia da minha vida, com o coração retalhado pela incerteza do que
iria acontecer, quis acompanhar-me. Pelo caminho, as cenas do
mês passado, mais numerosas e comovedoras. Nem a lamaceira
dos caminhos impedia essa gente de se ajoelhar na atitude mais
humilde e suplicante. Chegados à Cova de Iria, junto da
carrasqueira, levada por um movimento interior, pedi ao povo que
fechasse os guarda-chuvas para rezarmos o terço. Pouco depois,
vimos o reflexo da luz e, em seguida, Nossa Senhora sobre a
carrasqueira.
– Que é que Vossemecê me quer?
– Quero dizer-te que façam aqui uma capela em Minha honra,
que sou a Senhora do Rosário, que continuem sempre a rezar o
terço todos os dias. A guerra vai acabar e os militares voltarão em
breve para suas casas.
– Eu tinha muitas coisas para Lhe pedir: se curava uns doentes
e se convertia uns pecadores, etc.
– Uns, sim; outros, não. É preciso que se emendem, que peçam
perdão dos seus pecados.
E tomando um aspecto mais triste:
– Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor que já está muito
ofendido.
E abrindo as mãos, fê-las reflectir no sol. E enquanto que se
elevava, continuava o reflexo da Sua própria luz a projectar (-se)
no sol.
Eis, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, o motivo pelo qual exclamei
que olhassem para o sol. O meu fim não era chamar para aí a
atenção do povo, pois que nem sequer me dava conta da sua presença.
Fi-lo apenas levada por um movimento interior que a isso
me impeliu.
Desaparecida Nossa Senhora, na imensa distância do firmamento,
vimos, ao lado do sol, S. José com o Menino e Nossa Senhora vestida de branco, com um manto azul. S. José com o Menino pareciam abençoar o Mundo com uns gestos que faziam com a mão em forma de cruz. Pouco depois, desvanecida esta aparição, vi Nosso Senhor e Nossa Senhora que me dava a ideia
de ser Nossa Senhora das Dores. Nosso Senhor parecia abençoar
o Mundo da mesma forma que S. José. Desvaneceu-se esta aparição e pareceu-me ver ainda Nossa Senhora em forma semelhante a Nossa Senhora do Carmo.
8. Treze de Outubro
Dia 13 de Outubro de 1917 – Saímos de casa bastante cedo,
contando com as demoras do caminho. O povo era em massa. A
chuva, torrencial. Minha mãe, temendo que fosse aquele o último
dia da minha vida, com o coração retalhado pela incerteza do que
iria acontecer, quis acompanhar-me. Pelo caminho, as cenas do
mês passado, mais numerosas e comovedoras. Nem a lamaceira
dos caminhos impedia essa gente de se ajoelhar na atitude mais
humilde e suplicante. Chegados à Cova de Iria, junto da
carrasqueira, levada por um movimento interior, pedi ao povo que
fechasse os guarda-chuvas para rezarmos o terço. Pouco depois,
vimos o reflexo da luz e, em seguida, Nossa Senhora sobre a
carrasqueira.
– Que é que Vossemecê me quer?
– Quero dizer-te que façam aqui uma capela em Minha honra,
que sou a Senhora do Rosário, que continuem sempre a rezar o
terço todos os dias. A guerra vai acabar e os militares voltarão em
breve para suas casas.
– Eu tinha muitas coisas para Lhe pedir: se curava uns doentes
e se convertia uns pecadores, etc.
– Uns, sim; outros, não. É preciso que se emendem, que peçam
perdão dos seus pecados.
E tomando um aspecto mais triste:
– Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor que já está muito
ofendido.
E abrindo as mãos, fê-las reflectir no sol. E enquanto que se
elevava, continuava o reflexo da Sua própria luz a projectar (-se)
no sol.
Eis, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, o motivo pelo qual exclamei
que olhassem para o sol. O meu fim não era chamar para aí a
atenção do povo, pois que nem sequer me dava conta da sua presença.
Fi-lo apenas levada por um movimento interior que a isso
me impeliu.
Desaparecida Nossa Senhora, na imensa distância do firmamento,
vimos, ao lado do sol, S. José com o Menino e Nossa Senhora vestida de branco, com um manto azul. S. José com o Menino pareciam abençoar o Mundo com uns gestos que faziam com a mão em forma de cruz. Pouco depois, desvanecida esta aparição, vi Nosso Senhor e Nossa Senhora que me dava a ideia
de ser Nossa Senhora das Dores. Nosso Senhor parecia abençoar
o Mundo da mesma forma que S. José. Desvaneceu-se esta aparição e pareceu-me ver ainda Nossa Senhora em forma semelhante a Nossa Senhora do Carmo.
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA-Treze de Setembro
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA
7. Treze de Setembro
Dia 13 de Setembro de 1917 – Ao aproximar-se a hora, lá fui,
com a Jacinta e o Francisco, entre numerosas pessoas que a custo
nos deixavam andar. As estradas estavam apinhadas de gente.
Todos nos queriam ver e falar. Ali não havia respeito humano.
Numerosas pessoas, e até senhoras e cavalheiros, conseguindo
romper por entre a multidão que à nossa volta se apinhava, vinham
prostrar-se, de joelhos, diante de nós, pedindo que apresentássemos
a Nossa Senhora as suas necessidades. Outros, não conseguindo
chegar junto de nós, chamavam de longe:
– Pelo amor de Deus! peçam a Nossa Senhora que me cure
meu filho, que é aleijadinho!
Outro:
– Que me cure o meu, que é cego!
Outro:
– O meu, que é surdo!
– Que me traga meu marido...
– ... meu filho, que anda na guerra!
– Que me converta um pecador!
– Que me dê saúde, que estou tuberculoso!
Etc., etc.
Ali apareciam todas (as) misérias da pobre humanidade. E alguns gritavam até do cimo das árvores e paredes, para onde subiam, com o fim de nos ver passar. Dizendo a uns que sim, dando a mão a outros para os ajudar a levantar do pó da terra, lá fomos andando, graças a alguns cavalheiros que nos iam abrindo passagem por entre a multidão.
Quando agora leio, no Novo Testamento, essas cenas tão
encantadoras da passagem de Nosso Senhor pela Palestina,
recordo estas que, tão criança ainda, Nosso Senhor me fez
presenciar, nesses pobres caminhos e estradas de Aljustrel a Fátima
e à Cova de Iria, e dou graças a Deus, oferecendo-Lhe a fé do
nosso bom Povo português. E penso: se esta gente se abate assim
diante de três pobres crianças, só porque a elas é concebida
misericordiosamente a graça de falar com (a) Mãe de Deus, que
não fariam, se vissem diante de si o próprio Jesus Cristo?
Bem; mas isto não era nada chamado para aqui. Foi mais uma
distracção da pena que me escapou para onde eu não queria.
Paciência! Mais uma coisa inútil; não na tiro, para não inutilizar o
caderno.
Chegámos, por fim, à Cova de Iria, junto da carrasqueira e
começamos a rezar o terço com o povo. Pouco depois, vimos o
reflexo da luz e a seguir Nossa Senhora sobre a azinheira.
– Continuem a rezar o terço, para alcançarem o fim da guerra.
Em Outubro virá também Nosso Senhor, Nossa Senhora das Dores
e do Carmo, S. José com o Menino Jesus para abençoarem o
Mundo. Deus está contente com os vossos sacrifícios, mas não
quer que durmais com a corda; trazei-a só durante o dia.
– Têm-me pedido para Lhe pedir muitas coisas: a cura de alguns
doentes, dum surdo-mudo.
– Sim, alguns curarei; outros não. Em Outubro farei o milagre,
para que todos acreditem.
E começando a elevar-se, desapareceu como de costume.
7. Treze de Setembro
Dia 13 de Setembro de 1917 – Ao aproximar-se a hora, lá fui,
com a Jacinta e o Francisco, entre numerosas pessoas que a custo
nos deixavam andar. As estradas estavam apinhadas de gente.
Todos nos queriam ver e falar. Ali não havia respeito humano.
Numerosas pessoas, e até senhoras e cavalheiros, conseguindo
romper por entre a multidão que à nossa volta se apinhava, vinham
prostrar-se, de joelhos, diante de nós, pedindo que apresentássemos
a Nossa Senhora as suas necessidades. Outros, não conseguindo
chegar junto de nós, chamavam de longe:
– Pelo amor de Deus! peçam a Nossa Senhora que me cure
meu filho, que é aleijadinho!
Outro:
– Que me cure o meu, que é cego!
Outro:
– O meu, que é surdo!
– Que me traga meu marido...
– ... meu filho, que anda na guerra!
– Que me converta um pecador!
– Que me dê saúde, que estou tuberculoso!
Etc., etc.
Ali apareciam todas (as) misérias da pobre humanidade. E alguns gritavam até do cimo das árvores e paredes, para onde subiam, com o fim de nos ver passar. Dizendo a uns que sim, dando a mão a outros para os ajudar a levantar do pó da terra, lá fomos andando, graças a alguns cavalheiros que nos iam abrindo passagem por entre a multidão.
Quando agora leio, no Novo Testamento, essas cenas tão
encantadoras da passagem de Nosso Senhor pela Palestina,
recordo estas que, tão criança ainda, Nosso Senhor me fez
presenciar, nesses pobres caminhos e estradas de Aljustrel a Fátima
e à Cova de Iria, e dou graças a Deus, oferecendo-Lhe a fé do
nosso bom Povo português. E penso: se esta gente se abate assim
diante de três pobres crianças, só porque a elas é concebida
misericordiosamente a graça de falar com (a) Mãe de Deus, que
não fariam, se vissem diante de si o próprio Jesus Cristo?
Bem; mas isto não era nada chamado para aqui. Foi mais uma
distracção da pena que me escapou para onde eu não queria.
Paciência! Mais uma coisa inútil; não na tiro, para não inutilizar o
caderno.
Chegámos, por fim, à Cova de Iria, junto da carrasqueira e
começamos a rezar o terço com o povo. Pouco depois, vimos o
reflexo da luz e a seguir Nossa Senhora sobre a azinheira.
– Continuem a rezar o terço, para alcançarem o fim da guerra.
Em Outubro virá também Nosso Senhor, Nossa Senhora das Dores
e do Carmo, S. José com o Menino Jesus para abençoarem o
Mundo. Deus está contente com os vossos sacrifícios, mas não
quer que durmais com a corda; trazei-a só durante o dia.
– Têm-me pedido para Lhe pedir muitas coisas: a cura de alguns
doentes, dum surdo-mudo.
– Sim, alguns curarei; outros não. Em Outubro farei o milagre,
para que todos acreditem.
E começando a elevar-se, desapareceu como de costume.
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA- em Agosto
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA
6. Dezenove de Agosto
Dia 13 de Agosto de 1917 – Como já está dito o que neste dia
se passou, não me detenho nisso e passo à aparição, a meu ver
no dia 15, ao cair da tarde. Como ainda então não sabia contar
os dias do mês, pode ser que seja eu a que esteja enganada; mas
conservo a ideia que foi no mesmo dia em que chegamos de Vila
Nova de Ourém.
Andando com as ovelhas, na companhia de Francisco e seu
irmão João, num lugar chamado Valinhos, e sentindo que alguma
coisa de sobrenatural se aproximava e nos envolvia, suspeitando
que Nossa Senhora nos viesse a aparecer e tendo pena que a
Jacinta ficasse sem A ver, pedimos a seu irmão João que a fosse a
chamar. Como ele não queria ir, ofereci-lhe, para isso, dois vinténs
e lá foi a correr.
Entretanto, vi, com o Francisco, o reflexo da luz a que chamávamos
relâmpago; e chegada a Jacinta, um instante depois,
vimos Nossa Senhora sobre uma carrasqueira.
– Que é que Vossemecê me quer?
– Quero que continueis a ir à Cova de Iria no dia 13, que
continueis a rezar o terço todos os dias. No último mês, farei o
milagre, para que todos acreditem.
– Que é que Vossemecê quer que se faça ao dinheiro que o
povo deixa na Cova de Iria?
– Façam dois andores: um, leva-o tu com a Jacinta e mais
duas meninas vestidas de branco; o outro, que o leve o Francisco
com mais três meninos. O dinheiro dos andores é para a festa de
Nossa Senhora do Rosário e o que sobrar é para a ajuda duma
capela que hão-de mandar fazer.
– Queria pedir-Lhe a cura dalguns doentes.
– Sim; alguns curarei durante o ano.
E tomando um aspecto mais triste:
– Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios por os pecadores, que
vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique
e peça por elas.
E, como de costume, começou a elevar-se em direcção ao
nascente.
6. Dezenove de Agosto
Dia 13 de Agosto de 1917 – Como já está dito o que neste dia
se passou, não me detenho nisso e passo à aparição, a meu ver
no dia 15, ao cair da tarde. Como ainda então não sabia contar
os dias do mês, pode ser que seja eu a que esteja enganada; mas
conservo a ideia que foi no mesmo dia em que chegamos de Vila
Nova de Ourém.
Andando com as ovelhas, na companhia de Francisco e seu
irmão João, num lugar chamado Valinhos, e sentindo que alguma
coisa de sobrenatural se aproximava e nos envolvia, suspeitando
que Nossa Senhora nos viesse a aparecer e tendo pena que a
Jacinta ficasse sem A ver, pedimos a seu irmão João que a fosse a
chamar. Como ele não queria ir, ofereci-lhe, para isso, dois vinténs
e lá foi a correr.
Entretanto, vi, com o Francisco, o reflexo da luz a que chamávamos
relâmpago; e chegada a Jacinta, um instante depois,
vimos Nossa Senhora sobre uma carrasqueira.
– Que é que Vossemecê me quer?
– Quero que continueis a ir à Cova de Iria no dia 13, que
continueis a rezar o terço todos os dias. No último mês, farei o
milagre, para que todos acreditem.
– Que é que Vossemecê quer que se faça ao dinheiro que o
povo deixa na Cova de Iria?
– Façam dois andores: um, leva-o tu com a Jacinta e mais
duas meninas vestidas de branco; o outro, que o leve o Francisco
com mais três meninos. O dinheiro dos andores é para a festa de
Nossa Senhora do Rosário e o que sobrar é para a ajuda duma
capela que hão-de mandar fazer.
– Queria pedir-Lhe a cura dalguns doentes.
– Sim; alguns curarei durante o ano.
E tomando um aspecto mais triste:
– Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios por os pecadores, que
vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique
e peça por elas.
E, como de costume, começou a elevar-se em direcção ao
nascente.
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA-Treze de Julho
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA
5. Treze de Julho
Dia 13 de Julho de 1917 – Momentos depois de termos
chegado à Cova de Iria, junto da carrasqueira, entre numerosa
multidão de povo, estando a rezar o terço, vimos o reflexo da
costumada luz e, em seguida, Nossa Senhora sobre a carrasqueira.
– Vossemecê que me quer? – perguntei.
– Quero que venham aqui no dia 13 do mês que vem, que
continuem a rezar o terço todos os dias, em honra de Nossa Senhora do Rosário, para obter a paz do mundo e o fim da guerra,
porque só Ela lhes poderá valer.
– Queria pedir-Lhe para nos dizer Quem é, para fazer um milagre
com que todos acreditem que Vossemecê nos aparece.
– Continuem a vir aqui todos os meses. Em Outubro direi Quem
sou, o que quero e farei um milagre que todos hão-de ver, para
acreditar.
Aqui, fiz alguns pedidos que não recordo bem quais foram. O
que me lembro é que Nossa Senhora disse que era preciso rezarem
o terço para alcançarem as graças durante o ano. E continuou:
– Sacrificai-vos pelos pecadores e dizei muitas vezes, em especial
sempre que fizerdes algum sacrifício: Ó Jesus, é por Vosso
amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados
cometidos contra o Imaculado Coração de Maria.
Ao dizer estas últimas palavras, abriu de novo as mãos, como
nos dois meses passados.
O reflexo pareceu penetrar a terra e vimos como que um mar
de fogo. Mergulhados em esse fogo, os demónios e as almas, como
se fossem brasas transparentes e negras ou bronzeadas, com forma
humana, que flutuavam no incêndio, levadas pelas chamas que
delas mesmas saíam juntamente com nuvens de fumo, caindo para
todos os lados, semelhante ao cair das faúlhas em os grandes
(incêndios), sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizava e fazia estremecer de pavor (deveu
ser ao deparar-me com esta vista que dei esse ai! que dizem
ter-me ouvido). Os demónios distinguiam-se por formas horríveis e
asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes como negros carvões em brasa. Assustados e como que a pedir socorro, levantámos a vista para Nossa Senhora que nos
disse, com bondade e tristeza:
– Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores;
para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção
a Meu Imaculado Coração. Se fizerem o que Eu vos disser,
salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar. Mas,
se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio Xl começará
outra pior. Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que
vai a punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e
de perseguições à Igreja e ao Santo Padre.
Para a impedir, virei pedir a consagração da Rússia a Meu
Imaculado Coração e a Comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem a Meus pedidos, a Rússia se converterá
e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo
guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o
Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas.
Por fim, o Meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre
consagrar-Me-á a Rússia que se converterá e será concedido ao
mundo algum tempo de paz. Em Portugal se conservará sempre
o dogma da Fé, etc. Isto não o digais a ninguém. Ao Francisco,
sim, podeis dizê-lo.
Quando rezais o terço, dizei, depois de cada mistério: Ó meu
Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno; levai as alminhas
todas para o Céu, principalmente aquelas que mais precisarem.
Seguiu-se um instante de silêncio e perguntei:
– Vossemecê não me quer mais nada?
– Não. Hoje não te quero mais nada.
E, como de costume, começou a elevar-se em direcção ao
nascente até desaparecer na imensa distância do firmamento.
5. Treze de Julho
Dia 13 de Julho de 1917 – Momentos depois de termos
chegado à Cova de Iria, junto da carrasqueira, entre numerosa
multidão de povo, estando a rezar o terço, vimos o reflexo da
costumada luz e, em seguida, Nossa Senhora sobre a carrasqueira.
– Vossemecê que me quer? – perguntei.
– Quero que venham aqui no dia 13 do mês que vem, que
continuem a rezar o terço todos os dias, em honra de Nossa Senhora do Rosário, para obter a paz do mundo e o fim da guerra,
porque só Ela lhes poderá valer.
– Queria pedir-Lhe para nos dizer Quem é, para fazer um milagre
com que todos acreditem que Vossemecê nos aparece.
– Continuem a vir aqui todos os meses. Em Outubro direi Quem
sou, o que quero e farei um milagre que todos hão-de ver, para
acreditar.
Aqui, fiz alguns pedidos que não recordo bem quais foram. O
que me lembro é que Nossa Senhora disse que era preciso rezarem
o terço para alcançarem as graças durante o ano. E continuou:
– Sacrificai-vos pelos pecadores e dizei muitas vezes, em especial
sempre que fizerdes algum sacrifício: Ó Jesus, é por Vosso
amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados
cometidos contra o Imaculado Coração de Maria.
Ao dizer estas últimas palavras, abriu de novo as mãos, como
nos dois meses passados.
O reflexo pareceu penetrar a terra e vimos como que um mar
de fogo. Mergulhados em esse fogo, os demónios e as almas, como
se fossem brasas transparentes e negras ou bronzeadas, com forma
humana, que flutuavam no incêndio, levadas pelas chamas que
delas mesmas saíam juntamente com nuvens de fumo, caindo para
todos os lados, semelhante ao cair das faúlhas em os grandes
(incêndios), sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizava e fazia estremecer de pavor (deveu
ser ao deparar-me com esta vista que dei esse ai! que dizem
ter-me ouvido). Os demónios distinguiam-se por formas horríveis e
asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes como negros carvões em brasa. Assustados e como que a pedir socorro, levantámos a vista para Nossa Senhora que nos
disse, com bondade e tristeza:
– Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores;
para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção
a Meu Imaculado Coração. Se fizerem o que Eu vos disser,
salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar. Mas,
se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio Xl começará
outra pior. Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que
vai a punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e
de perseguições à Igreja e ao Santo Padre.
Para a impedir, virei pedir a consagração da Rússia a Meu
Imaculado Coração e a Comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem a Meus pedidos, a Rússia se converterá
e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo
guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o
Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas.
Por fim, o Meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre
consagrar-Me-á a Rússia que se converterá e será concedido ao
mundo algum tempo de paz. Em Portugal se conservará sempre
o dogma da Fé, etc. Isto não o digais a ninguém. Ao Francisco,
sim, podeis dizê-lo.
Quando rezais o terço, dizei, depois de cada mistério: Ó meu
Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno; levai as alminhas
todas para o Céu, principalmente aquelas que mais precisarem.
Seguiu-se um instante de silêncio e perguntei:
– Vossemecê não me quer mais nada?
– Não. Hoje não te quero mais nada.
E, como de costume, começou a elevar-se em direcção ao
nascente até desaparecer na imensa distância do firmamento.
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA- Treze de Junho
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA
4. Treze de Junho
Dia 13 de Junho (de) 1917 – Depois de rezar o terço com a
Jacinta e o Francisco e mais pessoas que estavam presentes, vimos
de novo o reflexo da luz que se aproximava (a que chamávamos
relâmpago) e, em seguida, Nossa Senhora sobre a carrasqueira, em tudo igual a Maio.
– Vossemecê que me quer? – perguntei.
– Quero que venhais aqui no dia 13 do mês que vem, que rezeis o terço todos os dias e que aprendam a ler. Depois direi o que quero.
Pedi a cura dum doente.
– Se se converter, curar-se-á durante o ano.
– Queria pedir-Lhe para nos levar para o Céu.
– Sim; a Jacinta e o Francisco levo-os em breve. Mas tu ficas
cá mais algum tempo. Jesus quer servir-Se de ti para Me fazer
conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção a Meu
Imaculado Coração.
– Fico cá sozinha? – perguntei, com pena.
– Não, filha. E tu sofres muito? Não desanimes. Eu nunca te
deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho
que te conduzirá até Deus.
Foi no momento em que disse estas últimas palavras que abriu
as mãos e nos comunicou, pela segunda vez, o reflexo dessa luz
imensa. Nela nos víamos como que submergidos em Deus. A Jacinta e o Francisco parecia estarem na parte dessa luz que se
elevava para o Céu e eu na que se espargia sobre a terra. À frente
da palma da mão direita de Nossa Senhora, estava um coração
cercado de espinhos que parecia estarem-lhe cravados. Compreendemos que era o Imaculado Coração de Maria, ultrajado pelos pecados da humanidade, que queria reparação.
Eis, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, ao que nos referíamos,
quando dizíamos que Nossa Senhora nos tinha revelado um segredo
em Junho. Nossa Senhora não nos mandou, ainda desta vez,
guardar segredo, mas sentíamos que Deus a isso nos movia.
4. Treze de Junho
Dia 13 de Junho (de) 1917 – Depois de rezar o terço com a
Jacinta e o Francisco e mais pessoas que estavam presentes, vimos
de novo o reflexo da luz que se aproximava (a que chamávamos
relâmpago) e, em seguida, Nossa Senhora sobre a carrasqueira, em tudo igual a Maio.
– Vossemecê que me quer? – perguntei.
– Quero que venhais aqui no dia 13 do mês que vem, que rezeis o terço todos os dias e que aprendam a ler. Depois direi o que quero.
Pedi a cura dum doente.
– Se se converter, curar-se-á durante o ano.
– Queria pedir-Lhe para nos levar para o Céu.
– Sim; a Jacinta e o Francisco levo-os em breve. Mas tu ficas
cá mais algum tempo. Jesus quer servir-Se de ti para Me fazer
conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção a Meu
Imaculado Coração.
– Fico cá sozinha? – perguntei, com pena.
– Não, filha. E tu sofres muito? Não desanimes. Eu nunca te
deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho
que te conduzirá até Deus.
Foi no momento em que disse estas últimas palavras que abriu
as mãos e nos comunicou, pela segunda vez, o reflexo dessa luz
imensa. Nela nos víamos como que submergidos em Deus. A Jacinta e o Francisco parecia estarem na parte dessa luz que se
elevava para o Céu e eu na que se espargia sobre a terra. À frente
da palma da mão direita de Nossa Senhora, estava um coração
cercado de espinhos que parecia estarem-lhe cravados. Compreendemos que era o Imaculado Coração de Maria, ultrajado pelos pecados da humanidade, que queria reparação.
Eis, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, ao que nos referíamos,
quando dizíamos que Nossa Senhora nos tinha revelado um segredo
em Junho. Nossa Senhora não nos mandou, ainda desta vez,
guardar segredo, mas sentíamos que Deus a isso nos movia.
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA-Treze de Maio
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA
3. Treze de Maio
Dia 13 de Maio (de) 1917 – Andando a brincar com a Jacinta e
o Francisco, no cimo da encosta da Cova da Iria, a fazer uma
paredita em volta duma moita, vimos, de repente, como que um
relâmpago.
– É melhor irmos embora para casa, – disse a meus primos –
que estão a fazer relâmpagos; pode vir trovoada.
– Pois sim.
E começamos a descer a encosta, tocando as ovelhas em direcção à estrada. Ao chegar, mais ou menos a meio da encosta, quase junto duma azinheira grande que aí havia, vimos outro relâmpago
e, dados alguns passos mais adiante, vimos, sobre uma
carrasqueira, uma Senhora, vestida toda de branco, mais brilhante
que o Sol, espargindo luz, mais clara e intensa que um copo de
cristal, cheio d’água cristalina, atravessado pelos raios do sol mais
ardente. Parámos surpreendidos pela aparição. Estávamos tão
perto, que ficávamos dentro da luz que A cercava ou que Ela espargia, talvez a metro e meio de distância, mais ou menos.
Então Nossa Senhora disse-nos:
– Não tenhais medo. Eu não vos faço mal.
– De onde é Vossemecê? – lhe perguntei.
– Sou do Céu.
– E que é que Vossemecê me quer?
– Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos,
no dia 13 a esta mesma hora. Depois vos direi quem sou e o que
quero. Depois voltarei ainda aqui uma sétima vez.
– E eu também vou para o Céu?
– Sim, vais.
– E a Jacinta?
– Também.
– E o Francisco?
– Também, mas tem que rezar muitos terços.
Lembrei-me então de perguntar por duas raparigas que tinham
morrido há pouco. Eram minhas amigas e estavam em minha casa
a aprender a tecedeiras com minha irmã mais velha.
– A Maria das Neves já está no Céu?
– Sim, está.
Parece-me que devia ter uns 16 anos.
– E a Amélia?
– Estará no purgatório até ao fim do mundo.
Parece-me que devia ter de 18 a 20 anos.
– Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos
que Ele quiser enviar-vos, em acto de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?
– Sim, queremos.
– Ides, pois, ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o
vosso conforto.
Foi ao pronunciar estas últimas palavras (a graça de Deus,
etc.) que abriu pela primeira vez as mãos, comunicando-nos uma
luz tão intensa, como que reflexo que delas expedia, que penetrando-nos no peito e no mais íntimo da alma, fazendo-nos ver a nós mesmos em Deus, que era essa luz, mais claramente que nos
vemos no melhor dos espelhos. Então, por um impulso íntimo também comunicado, caímos de joelhos e repetíamos intimamente:
– Ó Santíssima Trindade, eu Vos adoro. Meu Deus, meu Deus,
eu Vos amo no Santíssimo Sacramento.
Passados os primeiros momentos, Nossa Senhora acrescentou:
– Rezem o terço todos os dias, para alcançarem a paz para o
mundo e o fim da guerra.
Em seguida, começou-Se a elevar serenamente, subindo em
direcção ao nascente, até desaparecer na imensidade da distância.
A luz que A circundava ia como que abrindo um caminho no
cerrado dos astros, motivo por que alguma vez dissemos que vimos
abrir-se o Céu.
Parece-me que já expus, no escrito sobre a Jacinta ou numa
carta, que o medo que sentimos não foi propriamente de Nossa
Senhora, mas sim da trovoada que supúnhamos lá vir; e dela, da
trovoada, é que queríamos fugir. As aparições de Nossa Senhora
não infundem medo ou temor, mas sim surpresa. Quando me perguntavam se tinha sentido e dizia que sim, referia-me ao medo que tinha tido dos relâmpagos e da trovoada que supunha vir próxima; e disto foi do que quisemos fugir, pois estávamos habituados a ver relâmpagos só quando trovejava.
Os relâmpagos também não eram propriamente relâmpagos,
mas sim o reflexo duma luz que se aproximava. Por vermos esta
luz, é que dizíamos, às vezes, que víamos vir Nossa Senhora; mas,
propriamente, Nossa Senhora só A distinguíamos nessa luz, quando
já estava sobre a azinheira. O não sabermos explicar e querer evitar
perguntas foi que deu lugar a que umas vezes disséssemos
que A víamos vir, outras que não. Quando dizíamos que sim, que
A víamos vir, referíamo-nos a que víamos aproximar essa luz que,
afinal, era Ela. E quando dizíamos que A não víamos vir, referíamos a que, propriamente Nossa Senhora, só A víamos quando já estava sobre a azinheira.
3. Treze de Maio
Dia 13 de Maio (de) 1917 – Andando a brincar com a Jacinta e
o Francisco, no cimo da encosta da Cova da Iria, a fazer uma
paredita em volta duma moita, vimos, de repente, como que um
relâmpago.
– É melhor irmos embora para casa, – disse a meus primos –
que estão a fazer relâmpagos; pode vir trovoada.
– Pois sim.
E começamos a descer a encosta, tocando as ovelhas em direcção à estrada. Ao chegar, mais ou menos a meio da encosta, quase junto duma azinheira grande que aí havia, vimos outro relâmpago
e, dados alguns passos mais adiante, vimos, sobre uma
carrasqueira, uma Senhora, vestida toda de branco, mais brilhante
que o Sol, espargindo luz, mais clara e intensa que um copo de
cristal, cheio d’água cristalina, atravessado pelos raios do sol mais
ardente. Parámos surpreendidos pela aparição. Estávamos tão
perto, que ficávamos dentro da luz que A cercava ou que Ela espargia, talvez a metro e meio de distância, mais ou menos.
Então Nossa Senhora disse-nos:
– Não tenhais medo. Eu não vos faço mal.
– De onde é Vossemecê? – lhe perguntei.
– Sou do Céu.
– E que é que Vossemecê me quer?
– Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos,
no dia 13 a esta mesma hora. Depois vos direi quem sou e o que
quero. Depois voltarei ainda aqui uma sétima vez.
– E eu também vou para o Céu?
– Sim, vais.
– E a Jacinta?
– Também.
– E o Francisco?
– Também, mas tem que rezar muitos terços.
Lembrei-me então de perguntar por duas raparigas que tinham
morrido há pouco. Eram minhas amigas e estavam em minha casa
a aprender a tecedeiras com minha irmã mais velha.
– A Maria das Neves já está no Céu?
– Sim, está.
Parece-me que devia ter uns 16 anos.
– E a Amélia?
– Estará no purgatório até ao fim do mundo.
Parece-me que devia ter de 18 a 20 anos.
– Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos
que Ele quiser enviar-vos, em acto de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?
– Sim, queremos.
– Ides, pois, ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o
vosso conforto.
Foi ao pronunciar estas últimas palavras (a graça de Deus,
etc.) que abriu pela primeira vez as mãos, comunicando-nos uma
luz tão intensa, como que reflexo que delas expedia, que penetrando-nos no peito e no mais íntimo da alma, fazendo-nos ver a nós mesmos em Deus, que era essa luz, mais claramente que nos
vemos no melhor dos espelhos. Então, por um impulso íntimo também comunicado, caímos de joelhos e repetíamos intimamente:
– Ó Santíssima Trindade, eu Vos adoro. Meu Deus, meu Deus,
eu Vos amo no Santíssimo Sacramento.
Passados os primeiros momentos, Nossa Senhora acrescentou:
– Rezem o terço todos os dias, para alcançarem a paz para o
mundo e o fim da guerra.
Em seguida, começou-Se a elevar serenamente, subindo em
direcção ao nascente, até desaparecer na imensidade da distância.
A luz que A circundava ia como que abrindo um caminho no
cerrado dos astros, motivo por que alguma vez dissemos que vimos
abrir-se o Céu.
Parece-me que já expus, no escrito sobre a Jacinta ou numa
carta, que o medo que sentimos não foi propriamente de Nossa
Senhora, mas sim da trovoada que supúnhamos lá vir; e dela, da
trovoada, é que queríamos fugir. As aparições de Nossa Senhora
não infundem medo ou temor, mas sim surpresa. Quando me perguntavam se tinha sentido e dizia que sim, referia-me ao medo que tinha tido dos relâmpagos e da trovoada que supunha vir próxima; e disto foi do que quisemos fugir, pois estávamos habituados a ver relâmpagos só quando trovejava.
Os relâmpagos também não eram propriamente relâmpagos,
mas sim o reflexo duma luz que se aproximava. Por vermos esta
luz, é que dizíamos, às vezes, que víamos vir Nossa Senhora; mas,
propriamente, Nossa Senhora só A distinguíamos nessa luz, quando
já estava sobre a azinheira. O não sabermos explicar e querer evitar
perguntas foi que deu lugar a que umas vezes disséssemos
que A víamos vir, outras que não. Quando dizíamos que sim, que
A víamos vir, referíamo-nos a que víamos aproximar essa luz que,
afinal, era Ela. E quando dizíamos que A não víamos vir, referíamos a que, propriamente Nossa Senhora, só A víamos quando já estava sobre a azinheira.
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA-Silêncio da Lúcia
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA
2. Silêncio da Lúcia
Não sei porquê, as aparições de Nossa Senhora produziam
em nós efeitos bem diferentes. A mesma alegria íntima, a mesma
paz e felicidade, mas, em vez desse abatimento físico, uma certa
agilidade expansiva; em vez desse aniquilamento na Divina presença, um exultar de alegria; em vez dessa dificuldade no falar, um certo entusiasmo comunicativo. Mas apesar destes sentimentos,
sentia a inspiração para calar, sobretudo algumas coisas. Nos interrogatórios, sentia a inspiração íntima que me indicava as respostas que, sem faltar à verdade, não descobrissem o que devia,
por então, ocultar. Neste sentido, resta-me apenas uma dúvida: se
não deveria ter dito tudo no interrogatório canónico. Mas não sinto
escrúpulo de ter calado, porque, nessa altura, eu não tinha ainda
conhecimento da importância desse interrogatório. Tomei-o, pois,
como um de tantos a que estava habituada. Apenas estranhei a
ordem de jurar; mas, como era o confessor que mo mandava e
jurava a verdade, fi-lo sem dificuldade. Mal eu suspeitava, nesse
momento, o que o demónio daí ia tirar, para mais tarde me atormentar com um sem fim de escrúpulos. Mas, graças a Deus, já
tudo passou.
Há ainda outra razão que me confirma no pensamento de que fiz bem, calando. No decurso do interrogatório canónico, um
dos interrogantes, Senhor Dr. Marques dos Santos, achou que podia
alongar a lista das suas perguntas e começou por descer um pouco
mais fundo. Antes de responder, com um simples olhar, interroguei
o confessor. Sua Rev.cia tirou-me do embaraço, respondendo por
mim. Lembrou ao interlocutor que ultrapassava os direitos que lhe
eram dados.
Quase o mesmo me aconteceu no interrogatório do senhor
Dr. Fischer. Autorizado por V. Ex.cia Rev.ma e pela Rev.da Madre Provincial, parecia ter direito a perguntar-me tudo. Mas graças a Deus que veio acompanhado pelo confessor. A um dado momento, uma estudada pergunta sobre o segredo. Senti-me perplexa, sem saber que responder. Um olhar: o confessor tinha-me entendido e
respondia por mim. O interrogante entendeu também e limitou-se
a tapar-me a cara com umas revistas que tinha diante.
Assim Deus me ia mostrando que ainda não era chegado o
momento por Ele designado.
Passo, então, a escrever as aparições de Nossa Senhora. Não
me detenho a escrever as circunstâncias que as precederam, nem
as que se lhe seguiram, visto o Senhor Dr. Galamba ter feito o
favor de me dispensar disso.
2. Silêncio da Lúcia
Não sei porquê, as aparições de Nossa Senhora produziam
em nós efeitos bem diferentes. A mesma alegria íntima, a mesma
paz e felicidade, mas, em vez desse abatimento físico, uma certa
agilidade expansiva; em vez desse aniquilamento na Divina presença, um exultar de alegria; em vez dessa dificuldade no falar, um certo entusiasmo comunicativo. Mas apesar destes sentimentos,
sentia a inspiração para calar, sobretudo algumas coisas. Nos interrogatórios, sentia a inspiração íntima que me indicava as respostas que, sem faltar à verdade, não descobrissem o que devia,
por então, ocultar. Neste sentido, resta-me apenas uma dúvida: se
não deveria ter dito tudo no interrogatório canónico. Mas não sinto
escrúpulo de ter calado, porque, nessa altura, eu não tinha ainda
conhecimento da importância desse interrogatório. Tomei-o, pois,
como um de tantos a que estava habituada. Apenas estranhei a
ordem de jurar; mas, como era o confessor que mo mandava e
jurava a verdade, fi-lo sem dificuldade. Mal eu suspeitava, nesse
momento, o que o demónio daí ia tirar, para mais tarde me atormentar com um sem fim de escrúpulos. Mas, graças a Deus, já
tudo passou.
Há ainda outra razão que me confirma no pensamento de que fiz bem, calando. No decurso do interrogatório canónico, um
dos interrogantes, Senhor Dr. Marques dos Santos, achou que podia
alongar a lista das suas perguntas e começou por descer um pouco
mais fundo. Antes de responder, com um simples olhar, interroguei
o confessor. Sua Rev.cia tirou-me do embaraço, respondendo por
mim. Lembrou ao interlocutor que ultrapassava os direitos que lhe
eram dados.
Quase o mesmo me aconteceu no interrogatório do senhor
Dr. Fischer. Autorizado por V. Ex.cia Rev.ma e pela Rev.da Madre Provincial, parecia ter direito a perguntar-me tudo. Mas graças a Deus que veio acompanhado pelo confessor. A um dado momento, uma estudada pergunta sobre o segredo. Senti-me perplexa, sem saber que responder. Um olhar: o confessor tinha-me entendido e
respondia por mim. O interrogante entendeu também e limitou-se
a tapar-me a cara com umas revistas que tinha diante.
Assim Deus me ia mostrando que ainda não era chegado o
momento por Ele designado.
Passo, então, a escrever as aparições de Nossa Senhora. Não
me detenho a escrever as circunstâncias que as precederam, nem
as que se lhe seguiram, visto o Senhor Dr. Galamba ter feito o
favor de me dispensar disso.
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA-Aparições do Anjo
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA
1. Aparições do Anjo
Pelo que posso mais ou menos calcular, parece-me que foi
em 1915 que se deu essa primeira aparição do que julgo ser o
Anjo, que não ousou, por então, manifestar-se de todo. Pelo aspecto
do tempo, penso que se deveram dar nos meses de Abril até
Outubro – 1915.
Na encosta do cabeço que fica voltada para o Sul, ao tempo
de rezar o terço na companhia de três companheiras, de nome
Teresa Matias, Maria Rosa Matias, sua irmã e Maria Justino, do
lugar da Casa Velha, vi que sobre o arvoredo do vale que se estendia a nossos pés pairava uma como que nuvem, mais branca que neve, algo transparente, com forma humana. As minhas companheiras perguntaram-me o que era. Respondi que não sabia. Em dias diferentes, repetiu-se mais duas vezes.
Esta aparição deixou-me no espírito uma certa impressão que
não sei explicar. Pouco e pouco, essa impressão ia-se desvanecendo; e creio que, se não são os factos que se lhe seguiram, com o tempo a viria a esquecer por completo.
As datas não posso precisá-las com certeza, porque, nesse tempo, eu não sabia ainda contar os anos, nem os meses, nem mesmo os dias da semana. Parece-me, no entanto, que deveu ser na Primavera de 1916 que o Anjo nos apareceu a primeira vez na nossa Loca do Cabeço.
Já disse, no escrito sobre a Jacinta, como subimos a encosta
em procura dum abrigo e como foi, depois de aí merendar e rezar,
que começámos a ver, a alguma distância, sobre as árvores que
se estendiam em direcção ao Nascente, uma luz mais branca que
a neve, com a forma dum jovem, transparente, mais brilhante que
um cristal atravessado pelos raios do Sol. À medida que se aproximava, íamos-lhe distinguindo as feições. Estávamos surpreendidos e meios absortos. Não dizíamos palavra.
Ao chegar junto de nós, disse:
– Não temais. Sou o Anjo da Paz. Orai comigo.
E ajoelhando em terra, curvou a fronte até ao chão. Levados
por um movimento sobrenatural, imitámo-lo e repetimos as palavras que lhe ouvimos pronunciar:
– Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos
perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e não
Vos amam.
Depois de repetir isto três vezes, ergueu-se e disse:
– Orai assim. Os Corações de Jesus e Maria estão atentos à
voz das vossas súplicas.
E desapareceu.
A atmosfera do sobrenatural que nos envolveu era tão intensa,
que quase não nos dávamos conta da própria existência, por um
grande espaço de tempo, permanecendo na posição em que nos
tinha deixado, repetindo sempre a mesma oração. A presença de
Deus sentia-se tão intensa e íntima que nem mesmo entre nós nos
atrevíamos a falar. No dia seguinte, sentíamos o espírito ainda
envolvido por essa atmosfera que só muito lentamente foi desaparecendo.
Nesta aparição, nenhum pensou em falar nem em recomendar
o segredo. Ela de si o impôs. Era tão íntima que não era fácil
pronunciar sobre ela a menor palavra. Fez-nos, talvez, também,
maior impressão, por ser a primeira assim manifesta.
A segunda deveu ser no pino do Verão, nesses dias de maior
calor, em que íamos com (os) rebanhos para casa, no meio da
manhã, para os tornar a abrir só à tardinha.
Fomos, pois passar as horas da sesta à sombra das árvores
que cercavam o poço já várias vezes mencionado. De repente,
vimos o mesmo Anjo junto de nós.
– Que fazeis? Orai! Orai muito! Os Corações de Jesus e Maria
têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente
ao Altíssimo orações e sacrifícios.
– Como nos havemos de sacrificar? – perguntei.
– De tudo que puderdes, oferecei um sacrifício em acto de
reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela
conversão dos pecadores. Atraí, assim, sobre a vossa Pátria, a
paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo,
aceitai e suportai com submissão o sofrimento que o Senhor vos
enviar.
Estas palavras do Anjo gravaram-se em nosso espírito, como
uma luz que nos fazia compreender quem era Deus, como nos
amava e queria ser amado, o valor do sacrifício e como ele Lhe era
agradável, como, por atenção a ele, convertia os pecadores. Por
isso, desde esse momento, começamos a oferecer ao Senhor tudo
que nos mortificava, mas sem discorrermos a procurar outras mortificações ou penitências, excepto a de passarmos horas seguidas prostrados por terra, repetindo a oração que o Anjo nos tinha ensinado.
A terceira aparição parece-me que deveu ser em Outubro ou
fins de Setembro, porque já não íamos passar as horas da sesta a
casa.
Como já disse no escrito sobre a Jacinta, passámos da
Prégueira (é um pequeno olival pertencente a meus pais) para a
Lapa, dando a volta à encosta do monte pelo lado de Aljustrel e
Casa Velha. Rezámos aí o terço e (a) oração que na primeira aparição nos tinha ensinado. Estando, pois, aí, apareceu-nos pela terceira vez, trazendo na mão um cálix e sobre ele uma Hóstia, da
qual caíam, dentro do cálix, algumas gotas de sangue. Deixando o
cálix e a Hóstia suspensos no ar, prostrou-se em terra e repetiu
três vezes a oração:
– Santíssima Trindade, Padre, Filho, Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue,
Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças
com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos
do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria,
peço-Vos a conversão dos pobres pecadores.
Depois, levantando-se, tomou de novo na mão o cálix e a Hóstia
e deu-me a Hóstia a mim e o que continha o cálix deu-o a beber à
Jacinta e ao Francisco, dizendo, ao mesmo tempo:
– Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo horrivelmente
ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes
e consolei o vosso Deus.
De novo se prostrou em terra e repetiu connosco a mais três
vezes a mesma oração:
– Santíssima Trindade... etc.
E desapareceu.
Levados pela força do sobrenatural que nos envolvia, imitávamos
o Anjo em tudo, isto é, prostrando-nos como Ele e repetindo
as orações que Ele dizia. A força da presença de Deus era
tão intensa que nos absorvia e aniquilava quase por completo.
Parecia privar-nos até do uso dos sentidos corporais por um grande
espaço de tempo. Nesses dias, fazíamos as acções materiais
como que levados por esse mesmo ser sobrenatural que a isso
nos impelia. A paz e felicidade que sentíamos era grande, mas só
íntima, completamente concentrada a alma em Deus. O abatimento
físico, que nos prostrava, também era grande.
1. Aparições do Anjo
Pelo que posso mais ou menos calcular, parece-me que foi
em 1915 que se deu essa primeira aparição do que julgo ser o
Anjo, que não ousou, por então, manifestar-se de todo. Pelo aspecto
do tempo, penso que se deveram dar nos meses de Abril até
Outubro – 1915.
Na encosta do cabeço que fica voltada para o Sul, ao tempo
de rezar o terço na companhia de três companheiras, de nome
Teresa Matias, Maria Rosa Matias, sua irmã e Maria Justino, do
lugar da Casa Velha, vi que sobre o arvoredo do vale que se estendia a nossos pés pairava uma como que nuvem, mais branca que neve, algo transparente, com forma humana. As minhas companheiras perguntaram-me o que era. Respondi que não sabia. Em dias diferentes, repetiu-se mais duas vezes.
Esta aparição deixou-me no espírito uma certa impressão que
não sei explicar. Pouco e pouco, essa impressão ia-se desvanecendo; e creio que, se não são os factos que se lhe seguiram, com o tempo a viria a esquecer por completo.
As datas não posso precisá-las com certeza, porque, nesse tempo, eu não sabia ainda contar os anos, nem os meses, nem mesmo os dias da semana. Parece-me, no entanto, que deveu ser na Primavera de 1916 que o Anjo nos apareceu a primeira vez na nossa Loca do Cabeço.
Já disse, no escrito sobre a Jacinta, como subimos a encosta
em procura dum abrigo e como foi, depois de aí merendar e rezar,
que começámos a ver, a alguma distância, sobre as árvores que
se estendiam em direcção ao Nascente, uma luz mais branca que
a neve, com a forma dum jovem, transparente, mais brilhante que
um cristal atravessado pelos raios do Sol. À medida que se aproximava, íamos-lhe distinguindo as feições. Estávamos surpreendidos e meios absortos. Não dizíamos palavra.
Ao chegar junto de nós, disse:
– Não temais. Sou o Anjo da Paz. Orai comigo.
E ajoelhando em terra, curvou a fronte até ao chão. Levados
por um movimento sobrenatural, imitámo-lo e repetimos as palavras que lhe ouvimos pronunciar:
– Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos
perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e não
Vos amam.
Depois de repetir isto três vezes, ergueu-se e disse:
– Orai assim. Os Corações de Jesus e Maria estão atentos à
voz das vossas súplicas.
E desapareceu.
A atmosfera do sobrenatural que nos envolveu era tão intensa,
que quase não nos dávamos conta da própria existência, por um
grande espaço de tempo, permanecendo na posição em que nos
tinha deixado, repetindo sempre a mesma oração. A presença de
Deus sentia-se tão intensa e íntima que nem mesmo entre nós nos
atrevíamos a falar. No dia seguinte, sentíamos o espírito ainda
envolvido por essa atmosfera que só muito lentamente foi desaparecendo.
Nesta aparição, nenhum pensou em falar nem em recomendar
o segredo. Ela de si o impôs. Era tão íntima que não era fácil
pronunciar sobre ela a menor palavra. Fez-nos, talvez, também,
maior impressão, por ser a primeira assim manifesta.
A segunda deveu ser no pino do Verão, nesses dias de maior
calor, em que íamos com (os) rebanhos para casa, no meio da
manhã, para os tornar a abrir só à tardinha.
Fomos, pois passar as horas da sesta à sombra das árvores
que cercavam o poço já várias vezes mencionado. De repente,
vimos o mesmo Anjo junto de nós.
– Que fazeis? Orai! Orai muito! Os Corações de Jesus e Maria
têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente
ao Altíssimo orações e sacrifícios.
– Como nos havemos de sacrificar? – perguntei.
– De tudo que puderdes, oferecei um sacrifício em acto de
reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela
conversão dos pecadores. Atraí, assim, sobre a vossa Pátria, a
paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo,
aceitai e suportai com submissão o sofrimento que o Senhor vos
enviar.
Estas palavras do Anjo gravaram-se em nosso espírito, como
uma luz que nos fazia compreender quem era Deus, como nos
amava e queria ser amado, o valor do sacrifício e como ele Lhe era
agradável, como, por atenção a ele, convertia os pecadores. Por
isso, desde esse momento, começamos a oferecer ao Senhor tudo
que nos mortificava, mas sem discorrermos a procurar outras mortificações ou penitências, excepto a de passarmos horas seguidas prostrados por terra, repetindo a oração que o Anjo nos tinha ensinado.
A terceira aparição parece-me que deveu ser em Outubro ou
fins de Setembro, porque já não íamos passar as horas da sesta a
casa.
Como já disse no escrito sobre a Jacinta, passámos da
Prégueira (é um pequeno olival pertencente a meus pais) para a
Lapa, dando a volta à encosta do monte pelo lado de Aljustrel e
Casa Velha. Rezámos aí o terço e (a) oração que na primeira aparição nos tinha ensinado. Estando, pois, aí, apareceu-nos pela terceira vez, trazendo na mão um cálix e sobre ele uma Hóstia, da
qual caíam, dentro do cálix, algumas gotas de sangue. Deixando o
cálix e a Hóstia suspensos no ar, prostrou-se em terra e repetiu
três vezes a oração:
– Santíssima Trindade, Padre, Filho, Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue,
Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças
com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos
do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria,
peço-Vos a conversão dos pobres pecadores.
Depois, levantando-se, tomou de novo na mão o cálix e a Hóstia
e deu-me a Hóstia a mim e o que continha o cálix deu-o a beber à
Jacinta e ao Francisco, dizendo, ao mesmo tempo:
– Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo horrivelmente
ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes
e consolei o vosso Deus.
De novo se prostrou em terra e repetiu connosco a mais três
vezes a mesma oração:
– Santíssima Trindade... etc.
E desapareceu.
Levados pela força do sobrenatural que nos envolvia, imitávamos
o Anjo em tudo, isto é, prostrando-nos como Ele e repetindo
as orações que Ele dizia. A força da presença de Deus era
tão intensa que nos absorvia e aniquilava quase por completo.
Parecia privar-nos até do uso dos sentidos corporais por um grande
espaço de tempo. Nesses dias, fazíamos as acções materiais
como que levados por esse mesmo ser sobrenatural que a isso
nos impelia. A paz e felicidade que sentíamos era grande, mas só
íntima, completamente concentrada a alma em Deus. O abatimento
físico, que nos prostrava, também era grande.
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA-HISTÓRIA DAS APARIÇÕES
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA
II. HISTÓRIA DAS APARIÇÕES
PREFÁCIO
Agora, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, será a página mais custosa
de quantas V. Ex.cia Rev.ma me tem mandado escrever. Depois
de V. Ex.cia Rev.ma, em particular, me ter mandado escrever as aparições do Anjo, com todos os seus detalhes e pormenores e, quanto me seja possível, até com os próprios efeitos íntimos, vem o
Senhor Dr. Galamba a pedir também a ordem de me mandar escrever as aparições de Nossa Senhora.
– Mande-lhe, Senhor Bispo – dizia, há pouco, em Valença,
Sua Rev.cia. – Ó Senhor Bispo, mande-lhe que escreva tudo, mas
tudo. Que há-de dar muitas voltas no purgatório por ter calado tanta coisa!
Do purgatório, nesse sentido, não tenho o menor receio. Obedeci
sempre. E a obediência não tem pena nem castigo. Primeiro,
obedeci aos movimentos íntimos do Espírito Santo; depois, às ordens dos que em Seu nome me falavam. Foi esta mesma a primeira ordem e conselho que, por meio de V. Ex.cia Rev.ma, o bom Deus Se dignou dar-me.
E contente e feliz recordava as palavras dos tempos passados,
do venerável sacerdote, Senhor Vigário de Torres Novas:
– O segredo da filha do Rei está todo no seu interior.
E começando a penetrar-lhe o sentido, dizia:
– O meu segredo é para mim.
Agora, já não digo assim! Imolada no altar da obediência,
digo:
– O meu segredo pertence a Deus. Depu-lo nas Suas mãos;
que faça dele o que mais Lhe agradar.
Dizia, pois, o Senhor Dr. Galamba:
– Senhor Bispo, mande-lhe que diga tudo, tudo; que não oculte
nada. E V. Ex.cia Rev.ma, assistido, com certeza, pelo Divino Espírito Santo, pronunciou a sentença:
– Isso não mando. Em assuntos de segredos, não me meto.
Graças a Deus! Qualquer outra ordem ter-me-ia sido uma fonte
de perplexidades e escrúpulos. Com uma ordem contrária,
perguntar-me-ia a mim mesma, milhares de vezes, a quem devia
obedecer: a Deus ou ao Seu representante? E talvez sem encontrar
a decisão, permaneceria numa verdadeira tortura íntima.
Depois, V. Ex.cia Rev.ma continuou a falar em nome de Deus:
– A Irmã escreva as aparições do Anjo e de Nossa Senhora
porque, minha irmã, é para glória de Deus e de Nossa Senhora.
Como Deus é bom! Ele é o Deus da paz e por esse caminho
conduz os que em Ele confiam.
Começo, pois, a minha nova tarefa e cumprirei as ordens de
V. Ex.cia Rev.ma e os desejos do Senhor Dr. Galamba. Exceptuando a parte do segredo que, por agora, não me é permitido revelar, direi tudo; advertidamente não deixarei nada. Suponho que poderão esquecer-me apenas alguns pequenos detalhes de mínima
importância.
II. HISTÓRIA DAS APARIÇÕES
PREFÁCIO
Agora, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, será a página mais custosa
de quantas V. Ex.cia Rev.ma me tem mandado escrever. Depois
de V. Ex.cia Rev.ma, em particular, me ter mandado escrever as aparições do Anjo, com todos os seus detalhes e pormenores e, quanto me seja possível, até com os próprios efeitos íntimos, vem o
Senhor Dr. Galamba a pedir também a ordem de me mandar escrever as aparições de Nossa Senhora.
– Mande-lhe, Senhor Bispo – dizia, há pouco, em Valença,
Sua Rev.cia. – Ó Senhor Bispo, mande-lhe que escreva tudo, mas
tudo. Que há-de dar muitas voltas no purgatório por ter calado tanta coisa!
Do purgatório, nesse sentido, não tenho o menor receio. Obedeci
sempre. E a obediência não tem pena nem castigo. Primeiro,
obedeci aos movimentos íntimos do Espírito Santo; depois, às ordens dos que em Seu nome me falavam. Foi esta mesma a primeira ordem e conselho que, por meio de V. Ex.cia Rev.ma, o bom Deus Se dignou dar-me.
E contente e feliz recordava as palavras dos tempos passados,
do venerável sacerdote, Senhor Vigário de Torres Novas:
– O segredo da filha do Rei está todo no seu interior.
E começando a penetrar-lhe o sentido, dizia:
– O meu segredo é para mim.
Agora, já não digo assim! Imolada no altar da obediência,
digo:
– O meu segredo pertence a Deus. Depu-lo nas Suas mãos;
que faça dele o que mais Lhe agradar.
Dizia, pois, o Senhor Dr. Galamba:
– Senhor Bispo, mande-lhe que diga tudo, tudo; que não oculte
nada. E V. Ex.cia Rev.ma, assistido, com certeza, pelo Divino Espírito Santo, pronunciou a sentença:
– Isso não mando. Em assuntos de segredos, não me meto.
Graças a Deus! Qualquer outra ordem ter-me-ia sido uma fonte
de perplexidades e escrúpulos. Com uma ordem contrária,
perguntar-me-ia a mim mesma, milhares de vezes, a quem devia
obedecer: a Deus ou ao Seu representante? E talvez sem encontrar
a decisão, permaneceria numa verdadeira tortura íntima.
Depois, V. Ex.cia Rev.ma continuou a falar em nome de Deus:
– A Irmã escreva as aparições do Anjo e de Nossa Senhora
porque, minha irmã, é para glória de Deus e de Nossa Senhora.
Como Deus é bom! Ele é o Deus da paz e por esse caminho
conduz os que em Ele confiam.
Começo, pois, a minha nova tarefa e cumprirei as ordens de
V. Ex.cia Rev.ma e os desejos do Senhor Dr. Galamba. Exceptuando a parte do segredo que, por agora, não me é permitido revelar, direi tudo; advertidamente não deixarei nada. Suponho que poderão esquecer-me apenas alguns pequenos detalhes de mínima
importância.
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA-Mais canções
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA
18. Mais canções
Como o Senhor Dr. Galamba deseja os versos profanos, e já
escrevi alguns no decorrer da história do Francisco, antes de começar com outro assunto, vou pôr aqui mais alguns, para que Sua
Rev.cia possa escolher, se por acaso algum se puder aproveitar
para alguma coisa.
A Serrana
Serrana, Serrana,
De olhos castanhos!
Quem te deu, Serrana,
Encantos tamanhos?...
Encantos tamanhos!
Nunca vi assim!!!
Serrana, Serrana,
Tem pena de mim.
Tem pena de mim.
Serrana, Serrana,
Tem pena de mim!!!
Serrana, Serrana,
De saia volante,
Quem te deu, Serrana,
Ser tão elegante?
Ser tão elegante!
Nunca vi assim!!! etc.
(o final de todos como o primeiro)
Serrana, Serrana,
Peito cor de rosa!
Quem te deu, Serrana,
Uma cor tão mimosa?
Uma cor tão mimosa!
Nunca vi assim!!! etc.
Serrana, Serrana,
D’ouro enfeitada!
Quem te deu, Serrana,
Saia tão rodada?
Saia tão rodada!
Nunca vi assim!!! etc.
Tem cautela
Se fores à Serra,
Vai devagarinho.
Olha lá: não caias
N’algum barroquinho!
N’algum barroquinho,
Não hei-de eu cair,
Que as Serranitas
Me hão-de acudir.
Me hão-de acudir,
Queiram ou não.
Serranitas, meu coração!!!
Me hão-de acudir.
Me hão-de tratar.
São as Serranitas
Boas para amar!
Boas para amar,
Queiram ou não.
Serranitas, meu coração!!!
18. Mais canções
Como o Senhor Dr. Galamba deseja os versos profanos, e já
escrevi alguns no decorrer da história do Francisco, antes de começar com outro assunto, vou pôr aqui mais alguns, para que Sua
Rev.cia possa escolher, se por acaso algum se puder aproveitar
para alguma coisa.
A Serrana
Serrana, Serrana,
De olhos castanhos!
Quem te deu, Serrana,
Encantos tamanhos?...
Encantos tamanhos!
Nunca vi assim!!!
Serrana, Serrana,
Tem pena de mim.
Tem pena de mim.
Serrana, Serrana,
Tem pena de mim!!!
Serrana, Serrana,
De saia volante,
Quem te deu, Serrana,
Ser tão elegante?
Ser tão elegante!
Nunca vi assim!!! etc.
(o final de todos como o primeiro)
Serrana, Serrana,
Peito cor de rosa!
Quem te deu, Serrana,
Uma cor tão mimosa?
Uma cor tão mimosa!
Nunca vi assim!!! etc.
Serrana, Serrana,
D’ouro enfeitada!
Quem te deu, Serrana,
Saia tão rodada?
Saia tão rodada!
Nunca vi assim!!! etc.
Tem cautela
Se fores à Serra,
Vai devagarinho.
Olha lá: não caias
N’algum barroquinho!
N’algum barroquinho,
Não hei-de eu cair,
Que as Serranitas
Me hão-de acudir.
Me hão-de acudir,
Queiram ou não.
Serranitas, meu coração!!!
Me hão-de acudir.
Me hão-de tratar.
São as Serranitas
Boas para amar!
Boas para amar,
Queiram ou não.
Serranitas, meu coração!!!
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA-Morte santa do Francisco
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA
17. Morte santa 4 de Abril de 1919.
Já de noite, despedi-me dele.
– Francisco, adeus! Se fores para o Céu esta noite, não te
esqueças lá de mim, ouviste?
– Não te esqueço, não; fica descansada.
E agarrando-me a mão direita, apertou-ma com força, por um
bom bocado, olhando para mim com as lágrimas nos olhos.
– Queres mais alguma coisa? – lhe perguntei, com as lágrimas
a correr-me também já pelas faces.
– Não – me respondeu com voz sumida.
Como a cena se estava a tornar demasiado comovedora, minha
tia mandou-me sair do quarto.
– Então adeus, Francisco! Até ao Céu!
– Adeus, até ao Céu!...
E o Céu aproximava-se. Para lá voou no dia seguinte, nos
braços da Mãe celeste.
A saudade não se descreve; é um espinho triste a pungir o
coração pelos anos além! é a lembrança do passado ecoando sempre na eternidade.
Era de noite... e eu, plácida, sonhava
Que em tão festivo, suspirado dia,
Celestial enlace, em grã porfia,
Entre nós com os Anjos se agitava!
Que áurea coroa – ninguém ideava
Das florinhas que a terra produzia!
Que igualasse a que o Céu lhe oferecia
No angélico primor que a saudade deixava!
De lábios maternos... gozo, sorriso!
No celeste paraíso... vive em Deus!
D’amor encantado, de gozos sob’ranos,
Passou estes anos... tão breves... Adeus!!!
17. Morte santa 4 de Abril de 1919.
Já de noite, despedi-me dele.
– Francisco, adeus! Se fores para o Céu esta noite, não te
esqueças lá de mim, ouviste?
– Não te esqueço, não; fica descansada.
E agarrando-me a mão direita, apertou-ma com força, por um
bom bocado, olhando para mim com as lágrimas nos olhos.
– Queres mais alguma coisa? – lhe perguntei, com as lágrimas
a correr-me também já pelas faces.
– Não – me respondeu com voz sumida.
Como a cena se estava a tornar demasiado comovedora, minha
tia mandou-me sair do quarto.
– Então adeus, Francisco! Até ao Céu!
– Adeus, até ao Céu!...
E o Céu aproximava-se. Para lá voou no dia seguinte, nos
braços da Mãe celeste.
A saudade não se descreve; é um espinho triste a pungir o
coração pelos anos além! é a lembrança do passado ecoando sempre na eternidade.
Era de noite... e eu, plácida, sonhava
Que em tão festivo, suspirado dia,
Celestial enlace, em grã porfia,
Entre nós com os Anjos se agitava!
Que áurea coroa – ninguém ideava
Das florinhas que a terra produzia!
Que igualasse a que o Céu lhe oferecia
No angélico primor que a saudade deixava!
De lábios maternos... gozo, sorriso!
No celeste paraíso... vive em Deus!
D’amor encantado, de gozos sob’ranos,
Passou estes anos... tão breves... Adeus!!!
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA-Francisco adoece
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA
16. Francisco adoece
Na doença, o Francisco mostrou-se sempre alegre e contente.
Às vezes, perguntava-lhe:
– Sofres muito, Francisco?
– Bastante; mas não importa. Sofro para consolar a Nosso
Senhor; e depois, daqui a pouco, vou para o Céu!
– Lá, não te esqueças de pedir a Nossa Senhora que me leve
para lá também depressa.
– Isso não peço! Tu bem sabes que Ela não te quer lá ainda.
Nas vésperas de morrer, disse-me:
– Olha: estou muito mal; já me falta pouco para ir para o Céu.
– Então vê lá: não te esqueças de lá pedir muito por os pecadores,
por o Santo Padre, por mim e pela Jacinta.
– Sim, eu peço. Mas olha: essas coisas pede-as à Jacinta,
que eu tenho medo de me esquecer, quando vir a Nosso Senhor! E
depois antes O quero consolar.
Um dia de madrugada, cedo, sua irmã Teresa vai chamar-me:
– Vem cá depressa. O Francisco está muito mal e diz que te
quer dizer uma coisa!
Vesti-me à pressa e lá fui. Pediu à mãe e irmãos que saíssem do
quarto, que era segredo o que me queria. Saíram e ele disse-me:
– É que me vou a confessar para comungar e morrer depois.
Queria que me dissesses se me viste fazer algum pecado e que
fosses perguntar à Jacinta se me viu ela fazer algum.
– Desobedeceste algumas vezes a tua mãe, – lhe respondi –
quando ela te dizia que te deixasses estar em casa e tu te escapavas
para o pé de mim e para te ires esconder.
– É verdade! tenho esse. Agora vai perguntar à Jacinta se ela
se lembra de mais algum.
Lá fui, e a Jacinta, depois de pensar um pouco, respondeu-me:
– Olha: diz-lhe que, ainda antes de Nossa Senhora nos aparecer,
roubou um tostão ao pai, para comprar o realejo ao José Marto,
da Casa Velha; e que, quando os rapazes de Aljustrel atiraram
pedras aos de Boleiros, ele também atirou algumas.
Quando lhe dei este recado da Irmã, respondeu:
– Esses já os confessei, mas torno a confessá-los. Se calhar,
é por causa destes pecados que eu fiz que Nosso Senhor está tão
triste! Mas eu, ainda que não morresse, nunca mais os tornava a
fazer. Agora estou arrependido.
E pondo as mãos, rezou a oração:
– Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai
as alminhas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem.
Olha: pede tu também a Nosso Senhor que me perdoe os meus
pecados.
– Peço, sim; está descansado. Se Nosso Senhor não tivesse já te perdoado, não dizia Nossa Senhora, ainda outro dia, à Jacinta, que te vinha buscar muito em breve para o Céu. Agora, eu vou à Missa e lá peço a Jesus escondido por ti.
– Olha: pede-Lhe para o Senhor Prior me dar a Sagrada Comunhão.
– Pois sim.
Quando voltei da Igreja, já a Jacinta se tinha levantado e estava
sentada na sua cama. Logo que me viu, perguntou-me:
– Pediste a Jesus escondido para o Senhor Prior me dar a
Sagrada Comunhão?
– Pedi.
– Depois, no Céu, peço eu por ti.
– Pedes?! Ainda outro dia disseste que não pedias!
– Isso era para te levar para lá breve; mas, se tu queres, eu
peço, e depois Nossa Senhora faz como quiser.
– Pois quero; tu, pede.
– Pois sim; fica descansada, que eu peço.
Deixei-os ficar e fui para as minhas ocupações diárias de trabalho e escola. Quando voltei, à noitinha, estava já radiante de alegria.
Tinha-se confessado e o Senhor Prior tinha prometido trazer-lhe, no dia seguinte, a Sagrada Comunhão. Depois de comungar, no dia seguinte, dizia para a irmãzinha:
– Hoje sou mais feliz que tu, porque tenho dentro do meu peito
a Jesus escondido. Eu vou para o Céu; mas lá vou pedir muito a
Nosso Senhor e a Nossa Senhora que vos levem também para lá
depressa.
Este dia passei-o quase todo com a Jacinta, junto de sua cama.
Como já não podia rezar, pediu-nos que rezássemos nós o terço
por ele. Depois, disse-me:
– Decerto, no Céu, vou ter muitas saudades tuas! Quem dera
que Nossa Senhora te levasse também para lá breve!
– Não tens, não. Imagine-se! Ao pé de Nosso Senhor e de
Nossa Senhora que são tão bons!
– Pois é! Se calhar, nem me lembro.
E agora acrescento eu:
– Se calhar, nem mais se lembrou !!! Paciência! !!
16. Francisco adoece
Na doença, o Francisco mostrou-se sempre alegre e contente.
Às vezes, perguntava-lhe:
– Sofres muito, Francisco?
– Bastante; mas não importa. Sofro para consolar a Nosso
Senhor; e depois, daqui a pouco, vou para o Céu!
– Lá, não te esqueças de pedir a Nossa Senhora que me leve
para lá também depressa.
– Isso não peço! Tu bem sabes que Ela não te quer lá ainda.
Nas vésperas de morrer, disse-me:
– Olha: estou muito mal; já me falta pouco para ir para o Céu.
– Então vê lá: não te esqueças de lá pedir muito por os pecadores,
por o Santo Padre, por mim e pela Jacinta.
– Sim, eu peço. Mas olha: essas coisas pede-as à Jacinta,
que eu tenho medo de me esquecer, quando vir a Nosso Senhor! E
depois antes O quero consolar.
Um dia de madrugada, cedo, sua irmã Teresa vai chamar-me:
– Vem cá depressa. O Francisco está muito mal e diz que te
quer dizer uma coisa!
Vesti-me à pressa e lá fui. Pediu à mãe e irmãos que saíssem do
quarto, que era segredo o que me queria. Saíram e ele disse-me:
– É que me vou a confessar para comungar e morrer depois.
Queria que me dissesses se me viste fazer algum pecado e que
fosses perguntar à Jacinta se me viu ela fazer algum.
– Desobedeceste algumas vezes a tua mãe, – lhe respondi –
quando ela te dizia que te deixasses estar em casa e tu te escapavas
para o pé de mim e para te ires esconder.
– É verdade! tenho esse. Agora vai perguntar à Jacinta se ela
se lembra de mais algum.
Lá fui, e a Jacinta, depois de pensar um pouco, respondeu-me:
– Olha: diz-lhe que, ainda antes de Nossa Senhora nos aparecer,
roubou um tostão ao pai, para comprar o realejo ao José Marto,
da Casa Velha; e que, quando os rapazes de Aljustrel atiraram
pedras aos de Boleiros, ele também atirou algumas.
Quando lhe dei este recado da Irmã, respondeu:
– Esses já os confessei, mas torno a confessá-los. Se calhar,
é por causa destes pecados que eu fiz que Nosso Senhor está tão
triste! Mas eu, ainda que não morresse, nunca mais os tornava a
fazer. Agora estou arrependido.
E pondo as mãos, rezou a oração:
– Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai
as alminhas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem.
Olha: pede tu também a Nosso Senhor que me perdoe os meus
pecados.
– Peço, sim; está descansado. Se Nosso Senhor não tivesse já te perdoado, não dizia Nossa Senhora, ainda outro dia, à Jacinta, que te vinha buscar muito em breve para o Céu. Agora, eu vou à Missa e lá peço a Jesus escondido por ti.
– Olha: pede-Lhe para o Senhor Prior me dar a Sagrada Comunhão.
– Pois sim.
Quando voltei da Igreja, já a Jacinta se tinha levantado e estava
sentada na sua cama. Logo que me viu, perguntou-me:
– Pediste a Jesus escondido para o Senhor Prior me dar a
Sagrada Comunhão?
– Pedi.
– Depois, no Céu, peço eu por ti.
– Pedes?! Ainda outro dia disseste que não pedias!
– Isso era para te levar para lá breve; mas, se tu queres, eu
peço, e depois Nossa Senhora faz como quiser.
– Pois quero; tu, pede.
– Pois sim; fica descansada, que eu peço.
Deixei-os ficar e fui para as minhas ocupações diárias de trabalho e escola. Quando voltei, à noitinha, estava já radiante de alegria.
Tinha-se confessado e o Senhor Prior tinha prometido trazer-lhe, no dia seguinte, a Sagrada Comunhão. Depois de comungar, no dia seguinte, dizia para a irmãzinha:
– Hoje sou mais feliz que tu, porque tenho dentro do meu peito
a Jesus escondido. Eu vou para o Céu; mas lá vou pedir muito a
Nosso Senhor e a Nossa Senhora que vos levem também para lá
depressa.
Este dia passei-o quase todo com a Jacinta, junto de sua cama.
Como já não podia rezar, pediu-nos que rezássemos nós o terço
por ele. Depois, disse-me:
– Decerto, no Céu, vou ter muitas saudades tuas! Quem dera
que Nossa Senhora te levasse também para lá breve!
– Não tens, não. Imagine-se! Ao pé de Nosso Senhor e de
Nossa Senhora que são tão bons!
– Pois é! Se calhar, nem me lembro.
E agora acrescento eu:
– Se calhar, nem mais se lembrou !!! Paciência! !!
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA-Outros casos
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMÓRIA
15. Outros casos
Como já disse, minha tia vendeu o seu rebanho primeiro que
minha mãe. Desde aí, pela manhã, antes de sair, avisava a Jacinta
e o Francisco do lugar da pastagem para onde ia, e eles, logo que
se podiam escapar, lá iam ter.
Um dia, quando cheguei, já lá estavam à minha espera.
– Ah! Como viestes tão cedo?
– Vim – respondeu o Francisco –, porque não sei como é:
antes, não me importava muito de ti, vinha por causa da Jacinta
mas agora, pela manhã, já nem posso dormir com a pressa de vir
para o pé de ti.
Passados os dias 13 das aparições, nas vésperas dos outros
dias 13, dizia-nos:
– Olhem: amanhã, logo pela manhãzinha, escapo-me pelo quintal
para a Lapa do Cabeço e vocês, logo que possam, vão lá ter.
Ai, meu Deus! Eu estava já a escrever as coisas da sua doença,
tão próxima à morte, e agora vejo que voltei aos alegres tempos da
Serra, entre o meigo chilrear dos passarinhos. Peço desculpa.
Escrevo para aqui o que me vai lembrando, à maneira do caranguejo que anda para trás e para diante, sem se preocupar com o termo da jornada. O trabalho deixo-o para o Senhor Dr. Galamba, se por acaso quiser daqui aproveitar alguma coisa. Suponho que pouco ou nada será.
Volto, pois, à sua doença. Mas, antes, ainda uma outra coisa
do seu breve tempo de escola.
Saio, um dia, de casa, e encontro-me com minha irmã Teresa,
casada, então, havia pouco tempo, na Lomba. Vinha a pedido duma
outra mulher, dum lugarejo vizinho, a quem tinham prendido um
filho, acusando-o não me lembro de que crime, pelo qual, se não
se justificava a sua inocência, seria condenado ao desterro ou,
pelo menos, a um considerável número de anos de prisão.
Pedia-me, pois, com insistência, em nome da pobre mulher a quem
ela desejava comprazer, que lhe alcançasse esta graça de Nossa
Senhora. Recebido o recado, parti para a escola e, pelo caminho,
contei a meus primos o que se passava. Ao chegar a Fátima, diz-me
o Francisco:
– Olha: enquanto que vais à escola, eu fico com Jesus escondido
e cá Lhe peço isso.
Ao sair da escola, fui chamá-lo e perguntei-lhe:
– Pediste aquela graça a Nosso Senhor?
– Pedi. Diz à tua Teresa que daqui a poucos dias ele vem para
casa.
Efectivamente, daí a alguns dias, o pobre rapaz estava em casa e, no dia 13, estava, com toda a família, a agradecer a Nossa
Senhora a graça recebida.
Um outro dia, ao sair de casa, notei que o Francisco andava
muito devagar.
– Que tens? – lhe perguntei – Parece que não podes andar!
– Dói-me muito a cabeça e parece que vou a cair.
– Então não venhas; fica em casa.
– Não fico! Quero antes ficar na Igreja, com Jesus escondido,
enquanto que tu vais à escola.
Num desses dias que o Francisco, já doente, conseguiu ainda
dar os seus passeios, fui com ele à Lapa do Cabeço e aos Valinhos.
Na volta, ao chegar a casa, encontramo-la cheia de gente e uma
pobre mulher que, junto duma mesa, fingia que benzia inúmeros
objectos de piedade: terços, medalhas, crucifixos, etc. A Jacinta
comigo fomos logo cercadas por numerosas pessoas que nos queriam interrogar. O Francisco foi apanhado por essa benzadeira que o convidou a ajudá-la.
– Eu não posso benzer – lhe respondeu com seriedade – e
vossemecê também não! São só os Senhores Padres.
A frase do pequeno espalhou-se imediatamente por entre a
multidão, como se ecoasse por meio dalgum porta-voz e a pobre
mulher teve que se retirar imediatamente, entre os insultos dos
que Ihe exigiam os objectos que acabavam de Ihe entregar.
Já disse, no escrito da Jacinta, como ele conseguiu ainda ir
alguma vez à Cova de Iria, como usou e entregou a corda, como,
num sufocante dia de calor, foi o primeiro a oferecer o sacrifício de
não beber e como, por vezes, recordava à irmã a ideia de sofrer
por os pecadores, etc. Suponho que não é por isso necessário
repeti-lo aqui.
Estava um dia a fazer-lhe um pouco de companhia, junto de
sua cama, com a Jacinta que se tinha levantado um pouco. De
repente, vem sua irmã Teresa avisar que, pela estrada, vem uma
multidão de gente que decerto vem à nossa procura. Logo que ela
saiu, digo-lhes:
– Bem! Vocês atendam-nos cá; eu vou a esconder-me.
A Jacinta conseguiu ainda correr atrás de mim, e lá nos fomos
meter dentro duma dorna que estava tombada junto da porta que
dá para o quintal. Não tardamos a ouvir o ruído das pessoas que,
andando a ver a casa, saíram para o quintal e estiveram mesmo
encostadas à dita dorna que nos salvou, por ter a boca voltada
para o lado oposto.
Quando sentimos que tinham ido embora, saímos do nosso
esconderijo e lá fomos ter com o Francisco que nos informou do
que se tinha passado.
– Era muita gente e queriam que eu lhes dissesse onde vocês
estavam, mas eu também o não sabia. Queriam ver-nos e pedir-nos
muitas coisas. Era também uma mulher do Alqueidão que queria
a cura dum doente e a conversão dum pecador. Por esta
mulher peço eu; vocês peçam lá por os outros que são muitos.
Esta mulher apareceu pouco depois da morte do Francisco.
Pediu-me para Ihe ir dizer qual era a sua campa, pois queria ir lá
agradecer-lhe as duas graças que Ihe tinha pedido.
Íamos, um dia, a caminho da Cova de Iria e, ao sair um pouco
de Aljustrel, fomos surpreendidos por um grupo de gente, em uma
curva da estrada, que, para nos verem e ouvirem melhor, puseram
a Jacinta comigo em cima duma parede. O Francisco recusou
deixar-se colocar lá em cima, como se tivesse medo de cair. Depois,
foi-se escapando, pouco e pouco, e encostou-se a um velho
muro que estava em frente. Uma pobre mulher e um rapaz, ao
verem que não conseguiam falar-nos em particular, como desejavam, foram ajoelhar-se diante dele, a pedir-lhe que alcançasse de Nossa Senhora a cura do pai e a graça de não ir para a guerra (era mãe e filho). O Francisco ajoelha também, tira o carapuço e pergunta se (querem) rezar com ele o terço. Dizem que sim e começam a rezar; dentro em pouco, toda aquela gente, deixando-se de perguntas curiosas, está também de joelhos a rezar. Depois, acompanham-nos à Cova de Iria. Pelo caminho, rezam connosco outro terço e, lá no local, outro e despedem-se satisfeitos. A pobre mulher promete voltar ali a agradecer a Nossa Senhora as graças que pede, se as alcança. E voltou várias vezes, acompanhada não só do filho, mas também do marido, já bem de saúde. (Eram da
freguesia de S. Mamede e chamávamo-lhes os Casaleiros).
15. Outros casos
Como já disse, minha tia vendeu o seu rebanho primeiro que
minha mãe. Desde aí, pela manhã, antes de sair, avisava a Jacinta
e o Francisco do lugar da pastagem para onde ia, e eles, logo que
se podiam escapar, lá iam ter.
Um dia, quando cheguei, já lá estavam à minha espera.
– Ah! Como viestes tão cedo?
– Vim – respondeu o Francisco –, porque não sei como é:
antes, não me importava muito de ti, vinha por causa da Jacinta
mas agora, pela manhã, já nem posso dormir com a pressa de vir
para o pé de ti.
Passados os dias 13 das aparições, nas vésperas dos outros
dias 13, dizia-nos:
– Olhem: amanhã, logo pela manhãzinha, escapo-me pelo quintal
para a Lapa do Cabeço e vocês, logo que possam, vão lá ter.
Ai, meu Deus! Eu estava já a escrever as coisas da sua doença,
tão próxima à morte, e agora vejo que voltei aos alegres tempos da
Serra, entre o meigo chilrear dos passarinhos. Peço desculpa.
Escrevo para aqui o que me vai lembrando, à maneira do caranguejo que anda para trás e para diante, sem se preocupar com o termo da jornada. O trabalho deixo-o para o Senhor Dr. Galamba, se por acaso quiser daqui aproveitar alguma coisa. Suponho que pouco ou nada será.
Volto, pois, à sua doença. Mas, antes, ainda uma outra coisa
do seu breve tempo de escola.
Saio, um dia, de casa, e encontro-me com minha irmã Teresa,
casada, então, havia pouco tempo, na Lomba. Vinha a pedido duma
outra mulher, dum lugarejo vizinho, a quem tinham prendido um
filho, acusando-o não me lembro de que crime, pelo qual, se não
se justificava a sua inocência, seria condenado ao desterro ou,
pelo menos, a um considerável número de anos de prisão.
Pedia-me, pois, com insistência, em nome da pobre mulher a quem
ela desejava comprazer, que lhe alcançasse esta graça de Nossa
Senhora. Recebido o recado, parti para a escola e, pelo caminho,
contei a meus primos o que se passava. Ao chegar a Fátima, diz-me
o Francisco:
– Olha: enquanto que vais à escola, eu fico com Jesus escondido
e cá Lhe peço isso.
Ao sair da escola, fui chamá-lo e perguntei-lhe:
– Pediste aquela graça a Nosso Senhor?
– Pedi. Diz à tua Teresa que daqui a poucos dias ele vem para
casa.
Efectivamente, daí a alguns dias, o pobre rapaz estava em casa e, no dia 13, estava, com toda a família, a agradecer a Nossa
Senhora a graça recebida.
Um outro dia, ao sair de casa, notei que o Francisco andava
muito devagar.
– Que tens? – lhe perguntei – Parece que não podes andar!
– Dói-me muito a cabeça e parece que vou a cair.
– Então não venhas; fica em casa.
– Não fico! Quero antes ficar na Igreja, com Jesus escondido,
enquanto que tu vais à escola.
Num desses dias que o Francisco, já doente, conseguiu ainda
dar os seus passeios, fui com ele à Lapa do Cabeço e aos Valinhos.
Na volta, ao chegar a casa, encontramo-la cheia de gente e uma
pobre mulher que, junto duma mesa, fingia que benzia inúmeros
objectos de piedade: terços, medalhas, crucifixos, etc. A Jacinta
comigo fomos logo cercadas por numerosas pessoas que nos queriam interrogar. O Francisco foi apanhado por essa benzadeira que o convidou a ajudá-la.
– Eu não posso benzer – lhe respondeu com seriedade – e
vossemecê também não! São só os Senhores Padres.
A frase do pequeno espalhou-se imediatamente por entre a
multidão, como se ecoasse por meio dalgum porta-voz e a pobre
mulher teve que se retirar imediatamente, entre os insultos dos
que Ihe exigiam os objectos que acabavam de Ihe entregar.
Já disse, no escrito da Jacinta, como ele conseguiu ainda ir
alguma vez à Cova de Iria, como usou e entregou a corda, como,
num sufocante dia de calor, foi o primeiro a oferecer o sacrifício de
não beber e como, por vezes, recordava à irmã a ideia de sofrer
por os pecadores, etc. Suponho que não é por isso necessário
repeti-lo aqui.
Estava um dia a fazer-lhe um pouco de companhia, junto de
sua cama, com a Jacinta que se tinha levantado um pouco. De
repente, vem sua irmã Teresa avisar que, pela estrada, vem uma
multidão de gente que decerto vem à nossa procura. Logo que ela
saiu, digo-lhes:
– Bem! Vocês atendam-nos cá; eu vou a esconder-me.
A Jacinta conseguiu ainda correr atrás de mim, e lá nos fomos
meter dentro duma dorna que estava tombada junto da porta que
dá para o quintal. Não tardamos a ouvir o ruído das pessoas que,
andando a ver a casa, saíram para o quintal e estiveram mesmo
encostadas à dita dorna que nos salvou, por ter a boca voltada
para o lado oposto.
Quando sentimos que tinham ido embora, saímos do nosso
esconderijo e lá fomos ter com o Francisco que nos informou do
que se tinha passado.
– Era muita gente e queriam que eu lhes dissesse onde vocês
estavam, mas eu também o não sabia. Queriam ver-nos e pedir-nos
muitas coisas. Era também uma mulher do Alqueidão que queria
a cura dum doente e a conversão dum pecador. Por esta
mulher peço eu; vocês peçam lá por os outros que são muitos.
Esta mulher apareceu pouco depois da morte do Francisco.
Pediu-me para Ihe ir dizer qual era a sua campa, pois queria ir lá
agradecer-lhe as duas graças que Ihe tinha pedido.
Íamos, um dia, a caminho da Cova de Iria e, ao sair um pouco
de Aljustrel, fomos surpreendidos por um grupo de gente, em uma
curva da estrada, que, para nos verem e ouvirem melhor, puseram
a Jacinta comigo em cima duma parede. O Francisco recusou
deixar-se colocar lá em cima, como se tivesse medo de cair. Depois,
foi-se escapando, pouco e pouco, e encostou-se a um velho
muro que estava em frente. Uma pobre mulher e um rapaz, ao
verem que não conseguiam falar-nos em particular, como desejavam, foram ajoelhar-se diante dele, a pedir-lhe que alcançasse de Nossa Senhora a cura do pai e a graça de não ir para a guerra (era mãe e filho). O Francisco ajoelha também, tira o carapuço e pergunta se (querem) rezar com ele o terço. Dizem que sim e começam a rezar; dentro em pouco, toda aquela gente, deixando-se de perguntas curiosas, está também de joelhos a rezar. Depois, acompanham-nos à Cova de Iria. Pelo caminho, rezam connosco outro terço e, lá no local, outro e despedem-se satisfeitos. A pobre mulher promete voltar ali a agradecer a Nossa Senhora as graças que pede, se as alcança. E voltou várias vezes, acompanhada não só do filho, mas também do marido, já bem de saúde. (Eram da
freguesia de S. Mamede e chamávamo-lhes os Casaleiros).
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMORIA-Fioretti de Fátima
MEMÓRIAS DA IRMÃ LÚCIA- QUARTA MEMORIA
14. Fioretti de Fátima
Dos passarinhos gostava muito; não podia ver que lhes roubassem
os ninhos. Migava sempre parte do pão que levava para a
merenda, no cimo das pedras, para que eles o comessem; e,
afastando-se, chamava por eles, como se o entendessem, e não
queria que ninguém se aproximasse, para não lhes meter medo.
– Coitadinhos! Estão cheios de fome – dizia Francisco, falando com eles.
– Venham, venham comer!
E eles, com o olho vivo que têm, não se faziam rogar; e lá
vinham em grandes ranchos. Era, então, a sua alegria, vê-los voar
para o cimo das árvores, com o papinho cheio, a cantar, numa
chilreada medonha que ele imitava com arte, fazendo coro com
eles.
Um dia encontramos um pequeno que trazia na mão um passarinho
que tinha apanhado. Cheio de pena, o Francisco prometeu-lhe dois vinténs, se o deitasse a voar. O rapaz aceitou o contrato, mas, antes, queria o dinheiro na mão. O Francisco voltou, então, a casa, da Lagoa da Carreira, que fica um pouco abaixo da Cova da Iria, a buscar os dois vinténs, para dar liberdade ao prisioneiro. Quando, depois, o viu voar, batia as palmas de contente e dizia:
– Tem cautela! não te tornem a apanhar.
Havia aí uma velhinha, a quem chamávamos Ti Mari’ Carreira,
a quem os filhos, às vezes, mandavam pastorear um rebanho de
cabras e ovelhas. Estas, pouco domesticadas, às vezes tresmalhavam-se-lhe umas para cada lado.
Quando a encontrávamos assim aflita, o Francisco era o primeiro
a correr em seu auxílio. Ajudava-a a conduzir o rebanho à
pastagem, juntando-Ihe as que se tinham tresmalhado. A pobre
velhinha desfazia-se em mil agradecimentos e chamava-lhe o seu
Anjinho da guarda.
Quando por aí iam doentes, ele ficava cheio de pena e dizia:
– Eu não posso ver assim esta gente. Faz-me tanta pena!
Quando nos chamavam, para falar a algumas pessoas que
nos procuravam, ele perguntava se eram doentes e dizia:
– Se são doentes, não vou! Não os posso ver, que me fazem
muita pena! Digam-lhes que peço por eles.
Quiseram levar-nos, um dia, ao Montelo, a casa dum homem
chamado Joaquim Chapeleta. O Francisco não quis ir.
– Eu não vou. Não posso ver essa gente a querer falar sem
poder. (Este homem tinha a mãe muda).
Quando voltei, à noitinha, com a Jacinta, perguntei a minha tia
por ele.
– Eu sei lá! Cansei-me de o procurar esta tarde. Vieram aí
umas senhoras que vos queriam ver. Vocês não estavam. Ele
sumiu-se; não foi capaz de aparecer. Agora procurem-no vocês.
Sentámo-nos um pouco, num banco da cozinha, pensando ir
depois à Loca do Cabeço, não duvidando que lá estaria. Mas, mal
minha tia sai de casa, fala-nos por um buraquito que tinha o forro
do sótão. Tinha subido para lá, quando sentiu que vinha gente. Daí
tinha presenciado tudo que se tinha passado e dizia-nos depois:
– Era tanta gente! Deus me livre, se me apanhavam cá sozinho!
O que é que eu lhes havia de dizer?
(Havia na cozinha um alçapão por onde, de cima duma mesa
e uma cadeira, era fácil subir para o sótão).
14. Fioretti de Fátima
Dos passarinhos gostava muito; não podia ver que lhes roubassem
os ninhos. Migava sempre parte do pão que levava para a
merenda, no cimo das pedras, para que eles o comessem; e,
afastando-se, chamava por eles, como se o entendessem, e não
queria que ninguém se aproximasse, para não lhes meter medo.
– Coitadinhos! Estão cheios de fome – dizia Francisco, falando com eles.
– Venham, venham comer!
E eles, com o olho vivo que têm, não se faziam rogar; e lá
vinham em grandes ranchos. Era, então, a sua alegria, vê-los voar
para o cimo das árvores, com o papinho cheio, a cantar, numa
chilreada medonha que ele imitava com arte, fazendo coro com
eles.
Um dia encontramos um pequeno que trazia na mão um passarinho
que tinha apanhado. Cheio de pena, o Francisco prometeu-lhe dois vinténs, se o deitasse a voar. O rapaz aceitou o contrato, mas, antes, queria o dinheiro na mão. O Francisco voltou, então, a casa, da Lagoa da Carreira, que fica um pouco abaixo da Cova da Iria, a buscar os dois vinténs, para dar liberdade ao prisioneiro. Quando, depois, o viu voar, batia as palmas de contente e dizia:
– Tem cautela! não te tornem a apanhar.
Havia aí uma velhinha, a quem chamávamos Ti Mari’ Carreira,
a quem os filhos, às vezes, mandavam pastorear um rebanho de
cabras e ovelhas. Estas, pouco domesticadas, às vezes tresmalhavam-se-lhe umas para cada lado.
Quando a encontrávamos assim aflita, o Francisco era o primeiro
a correr em seu auxílio. Ajudava-a a conduzir o rebanho à
pastagem, juntando-Ihe as que se tinham tresmalhado. A pobre
velhinha desfazia-se em mil agradecimentos e chamava-lhe o seu
Anjinho da guarda.
Quando por aí iam doentes, ele ficava cheio de pena e dizia:
– Eu não posso ver assim esta gente. Faz-me tanta pena!
Quando nos chamavam, para falar a algumas pessoas que
nos procuravam, ele perguntava se eram doentes e dizia:
– Se são doentes, não vou! Não os posso ver, que me fazem
muita pena! Digam-lhes que peço por eles.
Quiseram levar-nos, um dia, ao Montelo, a casa dum homem
chamado Joaquim Chapeleta. O Francisco não quis ir.
– Eu não vou. Não posso ver essa gente a querer falar sem
poder. (Este homem tinha a mãe muda).
Quando voltei, à noitinha, com a Jacinta, perguntei a minha tia
por ele.
– Eu sei lá! Cansei-me de o procurar esta tarde. Vieram aí
umas senhoras que vos queriam ver. Vocês não estavam. Ele
sumiu-se; não foi capaz de aparecer. Agora procurem-no vocês.
Sentámo-nos um pouco, num banco da cozinha, pensando ir
depois à Loca do Cabeço, não duvidando que lá estaria. Mas, mal
minha tia sai de casa, fala-nos por um buraquito que tinha o forro
do sótão. Tinha subido para lá, quando sentiu que vinha gente. Daí
tinha presenciado tudo que se tinha passado e dizia-nos depois:
– Era tanta gente! Deus me livre, se me apanhavam cá sozinho!
O que é que eu lhes havia de dizer?
(Havia na cozinha um alçapão por onde, de cima duma mesa
e uma cadeira, era fácil subir para o sótão).
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