Para a Sexta-Feira
Da crucifixão e morte de Jesus
Eis-nos no Calvário, feito palco do divino amor, onde um Deus morre por nós num mar de dores.
Apenas Jesus ali chegou, arrancaram-lhe com violência os vestidos, que estavam colados as suas carnes despedaçadas, e deitaram-no sobre a cruz. Ò Cordeiro divino estende-se sobre aquele leito de morte, apresenta as mãos aos algozes, e ao Eterno Pai oferece o grande sacrifício de sua vida pela salvação dos homens. Eis que o pregaram e o levantaram na cruz. Contempla, minha alma, o teu Senhor, que suspenso por três duros cravos, está pendente naquele madeiro, onde não acha descanso nem repouso.Ora se apóia sobre as mãos, ora sobre os pés, mas onde firma ai aumenta a dor. Ai meu Jesus, e que amarga morte é essa que sofreis! Eu vejo escrito sobre a cruz: Jesus Nazareno, rei dos Judeus. Mas além deste título de escárnio, que sinal apresentais vós pelo qual vos conheçam como rei?
Ah! Que o vosso trono de dores, as vossas mãos encravadas, a vossa cabeça coroada de espinhos, as vossas carnes despedaçadas bem nos dão a conhecer que sois rei, mas rei de amor. Eu me aproximo, portanto, enternecido a beijar estes vossos pés chagados. Eu me abraço a essa cruz, onde quisestes morrer vítima do amor, sacrificado por mim. Ai de mim, se por mim não tivésseis satisfeito à divina justiça! Eu vos dou graças e vos amo. E não há quem console a Jesus tão cheio de dores. Dos que estão em torno dele, uns blasfema, outros o escarnecem; estes lhes dizem: ”Se és o Filho de Deus, desce da cruz”; aqueles exclamam:
“Salvou os outros e não pode salvar-se a si”. E nem sequer dele se compadecem os companheiros de suplício, e até um destes, fazendo coro com os outros blasfema. Estava é verdade, Maria aos pés da cruz, assistindo com amor ao Filho moribundo; mas a vista desta
Mãe dolorosa, em vez de consolar Jesus, mais o afligia, vendo as penas que ela sofria por seu amor. E deste modo o Redentor não achando conforto na terra, ergue os olhos ao céu e se volta para o Eterno Pai que está no céu, mas o Pai, vendo-o coberto de todos os pecados dos homens, pelos quais estava satisfazendo, lhe responde: Não, não posso consolar-te. È justo que eu também te abandone no meio de tuas penas e te deixe morrer sem conforto. E foi então que Jesus exclamou:” Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?”.
Ah! Meu Jesus, como vos contemplo, cheio de dores e triste! Sim, como deveis entristecer - vos ao pensar que sofreis tanto só para serdes amado dos homens, e quão poucos vos hão de amar! Oh! bela chama de amor! Tu que consomes a vida de um Deus, ah! Consome em mim todos os afetos terrenos, e faze-me arder de amor por Aquele que por teu amor quis sacrificar a vida num patíbulo infame. Mas vós ó Senhor, como pudestes morrer por mim, prevendo as injúrias que depois vos haveria de fazer? Morreste por meus pecados, derramaste teu Sangue Precioso como preço de resgate pela minha alma, instituístes vossa Igreja que renova vosso sacrifício no altar, e estais presente dia e noite nos sacrários do mundo todo, quantas vezes sozinho, quantas vezes ignorado, ultrajado e ofendido esperando apenas um ato de amor, de adoração. Oh! Jesus, concedei-me uma profunda dor,
que sempre me faça sentir os desgostos que vos causei por meus pecados. Eu vos amo, ó sumo Bem, pelos merecimentos de vossa morte, fazei-me morrer para todas as afeições terrenas, afim de que eu só a vós ame. Maria minha esperança, rogai a Deus por mim.
Fruto: Por amor de Jesus crucifica tuas paixões e afetos desordenados: crucifica teu coração na cruz. Faze quando for possível muitos atos de mortificação interior e exterior
em honra do amorosíssimo Jesus crucificado, para que copiando suas virtudes, possas dizer como o apóstolo: Vivo eu, mas não sou eu, é Jesus que vive em mim.